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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

DEUS É MASCULINO? REFLEXÕES FILOSÓFICAS, ANTROPOLÓGICAS E TEOLÓGICAS.

A Controvertida figura "masculina" de Deus.

Por M.´.I.´. Luis Genaro L. Figoli (Moshe)

G.´. 33°


 

A ideia de Deus como uma figura masculina tem sido predominante em muitas tradições religiosas ao longo da história. Essa representação não é simplesmente fruto de uma visão casual, mas o resultado de um complexo entrelaçamento de fatores culturais, históricos e teológicos. Este artigo investiga por que, em diversas tradições religiosas, Deus é concebido como masculino, usando perspectivas filosóficas, antropológicas e teológicas, com o suporte de citações e referências bibliográficas.

 

1. Origens Históricas e Antropológicas

Historicamente, a predominância de sociedades patriarcais foi um fator determinante para a masculinização da figura divina. Em culturas antigas, o poder e a autoridade eram frequentemente associados ao homem, enquanto a mulher era vinculada a funções reprodutivas e domésticas. Essa divisão de papéis foi refletida nas mitologias e nas religiões.

Segundo o antropólogo Clifford Geertz[1], a religião é "um sistema de símbolos que atua para estabelecer estados de ânimo e motivações poderosas e duradouras nos homens" (Geertz, 1973). Em sociedades patriarcais, os símbolos religiosos frequentemente reforçam a estrutura hierárquica existente, incluindo a associação da divindade suprema com características masculinas, como força, autoridade e racionalidade.

Além disso, em muitas civilizações antigas, os deuses masculinos eram retratados como guerreiros ou criadores, enquanto as deusas femininas eram associadas à fertilidade e à natureza. O filósofo e historiador Mircea Eliade [2]argumenta que "as representações de divindades masculinas como criadores e legisladores refletem as estruturas sociais e políticas de suas respectivas culturas" (Eliade, 1957).

 

2. A Teologia e a Masculinidade de Deus

Teologicamente, a masculinização de Deus é evidente em tradições monoteístas como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Nessas religiões, Deus é frequentemente referido como "Pai". No cristianismo, por exemplo, Jesus Cristo chama Deus de "Pai" em diversas passagens do Novo Testamento, como em Mateus 6:9: "Pai nosso, que estás nos céus". Essa linguagem reflete não apenas uma relação de proximidade e cuidado, mas também a autoridade patriarcal.

Segundo o teólogo Karl Barth[3], "a masculinidade de Deus nas Escrituras não implica que Ele seja literalmente homem ou masculino, mas reflete a relação de Deus com a humanidade em termos de autoridade e iniciativa" (Barth, 1956). Para Barth, o uso de termos masculinos como "Pai" e "Senhor" é mais simbólico do que ontológico, significando o papel de Deus como criador e governante.

No entanto, a teóloga feminista Elizabeth Johnson[4] critica essa visão, argumentando que "a linguagem exclusivamente masculina para Deus limita a compreensão humana da divindade e perpetua estruturas patriarcais" (Johnson, 1992). Johnson propõe a inclusão de metáforas femininas e neutras para Deus, a fim de refletir a totalidade do mistério divino.

 

3. A Filosofia e as Representações de Gênero em Deus

Do ponto de vista filosófico, a questão da masculinidade de Deus está ligada à linguagem e aos conceitos humanos de transcendência. Como apontado por Ludwig Feuerbach,[5] "Deus é a projeção das qualidades humanas idealizadas" (Feuerbach, 1841). Em sociedades patriarcais, é natural que essas qualidades idealizadas sejam associadas ao masculino.

A filósofa Simone de Beauvoir[6], em sua obra O Segundo Sexo, argumenta que "o homem foi historicamente elevado à posição de sujeito universal, enquanto a mulher é relegada ao 'outro'" (Beauvoir, 1949). Essa percepção se reflete na representação masculina de Deus, que é visto como o sujeito criador e transcendental.

Já o filósofo Paul Tillich [7]aborda a questão de maneira mais simbólica. Para Tillich, Deus está "além do gênero", mas a linguagem humana é limitada e recorre a metáforas masculinas porque elas foram historicamente associadas ao poder e à autoridade (Tillich, 1951).

 

4. Questionamentos e Reformulações Contemporâneas

Nos últimos séculos, teólogos, filósofos e antropólogos têm questionado a exclusividade da masculinidade de Deus. Movimentos feministas dentro da teologia, como o trabalho de Rosemary Radford Ruether[8], defendem que "uma verdadeira teologia deve incluir imagens femininas de Deus" (Ruether, 1983). Ruether argumenta que a predominância de imagens masculinas reflete mais as estruturas sociais do que a realidade divina.

Além disso, algumas tradições religiosas não ocidentais oferecem uma perspectiva diferente. No hinduísmo, por exemplo, o divino é frequentemente representado tanto em formas masculinas quanto femininas, como Shiva e Shakti, que simbolizam a complementaridade entre os gêneros.

 

5. Onde se encontra a mulher na trindade cristã?

Na teologia cristã tradicional, a Trindade é composta por três pessoas divinas: Pai, Filho e Espírito Santo. Esses são geralmente descritos em termos de uma relação espiritual, e não biológica ou de gênero humano. Contudo, a questão de onde a mulher é representada ou se encontra na Trindade tem sido objeto de reflexão teológica, espiritual e cultural ao longo dos séculos.

 

a. A Trindade não é propriamente "masculina"

Embora o cristianismo frequentemente use termos masculinos para descrever as pessoas da Trindade (Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo, que muitas vezes é referido com pronomes masculinos em línguas como o português), Deus não é limitado por gênero humano. Teologicamente, Deus transcende categorias como masculino ou feminino, sendo "espírito" (João 4:24).

 

Deus Pai: A linguagem de "Pai" é simbólica e relacional, indicando proximidade e cuidado paternal, mas não implica gênero biológico.

Jesus Cristo: Como a encarnação do Filho, Jesus foi historicamente homem, mas em sua divindade, Ele também transcende o gênero.

Espírito Santo: Em algumas tradições cristãs, o Espírito Santo é associado a qualidades tradicionalmente consideradas "femininas", como consolo, nutrição e sabedoria.

 

b. Representações femininas de Deus e o surgimento da mulher na tradição bíblica

A Bíblia tem passagens que associam características divinas a imagens femininas, especialmente no que diz respeito ao cuidado e ao amor maternal. Alguns exemplos incluem:

Isaías 66:13: "Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu os consolarei."

Deuteronômio 32:18: Deus é descrito como aquele que "dá à luz" o povo de Israel.

Mateus 23:37: Jesus compara seu desejo de proteger Jerusalém à ação de uma galinha que reúne seus pintinhos debaixo das asas.

Esses textos mostram que Deus é compreendido tanto em termos paternais quanto maternais, o que sugere que a plenitude de Deus inclui aspectos tradicionalmente atribuídos a ambos os gêneros.

A origem da mulher, de acordo com a Bíblia, foi extraordinária e sobrenatural. O relato bíblico, que se passa no Jardim do Éden, declara que Deus criou o primeiro homem, Adão, a partir da terra, após soprar em suas narinas o espírito, isto é, o fôlego divino; em seguida, planejando criar a primeira mulher, o Criador ordenou que Adão desse nome aos animais. Ao atender à ordem, Adão percebeu que cada em espécie de animal havia pares, pois de cada animal havia macho e fêmea, e então sentiu falta de não haver nada na criação que lhe correspondesse inteiramente, nenhum ser semelhante que lhe fizesse companhia.[9]

O texto bíblico é claro em dizer que a mulher foi criada como equivalente e semelhante ao homem: "Disse o Senhor Deus: não é bom que o homem esteja só. Farei para ele uma auxiliadora que lhe seja idônea”. O termo "idônea" pode ser traduzido também como "correspondente", "semelhante", "complementar", 'equivalente", "à sua altura" e "companheira". O fato de Eva ter sido criada por Deus a partir de uma costela do corpo de Adão significa que a mulher tem a mesma natureza e essência dele, tanto espiritualmente quanto materialmente, como sugere o próprio texto; além disso, significa que a mulher foi criada como sua companheira, ou seja, está a seu lado, assim como, simbolicamente, estão as costelas.[10]

Nesse sentido, interpreta-se que o osso da costela aludiria à igualdade entre homem e mulher, dado que não foi utilizado um osso inferior (um osso do pé, por exemplo), nem um osso superior (do crânio, por exemplo), mas sim um osso do lado. Outra interpretação, em sintonia com a primeira, lembra que a mulher é protetora da vida e do que há de mais precioso no ser humano, dado que os ossos da costela protegem o coração. Vale notar que o coração, enquanto órgão central do organismo, é utilizado quase como sinônimo de "alma" na linguagem bíblica, abrangendo emoções, sentimentos, pensamentos, consciência, vontade e todos os outros aspectos imateriais do ser humano, como se percebe em muitas passagens do Antigo Testamento.[11]

c. Maria e a representação feminina no cristianismo

No cristianismo, especialmente nas tradições católica e ortodoxa, Maria, mãe de Jesus, ocupa um papel central como a figura feminina mais exaltada. Embora não faça parte da Trindade, Maria é frequentemente vista como uma ponte simbólica para a experiência feminina na fé cristã.

Maria é chamada de "Mãe de Deus" (Theotokos) por ser a mãe de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Sua humildade, obediência e maternidade são exaltadas como virtudes, e ela é vista como intercessora e modelo para os cristãos.

 

d. O Espírito Santo e a Sabedoria (Sophia)

Em algumas tradições cristãs, especialmente na mística e na teologia oriental, o Espírito Santo[12] é associado à Sabedoria Divina (em grego, "Sophia"). A Sabedoria é, em alguns textos bíblicos, personificada no feminino, como em Provérbios 8:

"A Sabedoria clama em alta voz; nas ruas levanta a sua voz" (Provérbios 8:1).

Essa personificação feminina tem sido interpretada por alguns teólogos como uma representação do aspecto feminino de Deus.

 

e. A mulher e a Imago Dei

Na teologia cristã, homens e mulheres são igualmente criados à imagem e semelhança de Deus (Imago Dei), conforme Gênesis 1:27:

"Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou."

Isso implica que, em Deus, tanto o masculino quanto o feminino têm sua origem e reflexo. Portanto, a mulher está plenamente incluída na essência divina e na relação com Deus.

Embora a Trindade cristã não seja explicitamente associada ao feminino, Deus é entendido como transcendente ao gênero, e atributos tradicionalmente femininos (como cuidado, compaixão e sabedoria) são aplicados a Ele em várias passagens bíblicas. Além disso, figuras como Maria e a Sabedoria Divina (Sophia) desempenham papéis significativos para representar aspectos femininos da fé cristã. Assim, a mulher encontra-se plenamente integrada na relação com Deus e na reflexão teológica cristã.

 

6. E o G.´.A.`.D.´.U.´.?

 

a.    O Grande Arquiteto do Universo como gênero

Todo iniciado na Maçonaria sabe que uns dos principais requisitos para ingresso na Ord.´. é a crença num Criador Incriado. Além disso, de acordo com os Landmaks[13]é necessário que o candidato à iniciação também acredite na “vida eterna”, chamada pelo lendário Maçom Albert Pike[14] como “vida futura”. Na verdade, na Ord.´., a crença é num Criador, que pode ser Deus para o Cristão, Yahweh para os Judeus, Allah para a religião Islâmica. Não se entra no mérito do dogma, até porque a Maçonaria não professa nenhuma religião em especial, embora muito influenciada pela religião judaica e cristã.

Mas ainda assim persiste alguma polêmica: o uso da Bíblia como Liv.´. da L.´. em alguns Ritos, pode chegar a constranger àqueles que não professam este livro como sendo o de sua Religião, segundo a tradição, escrito por inspiração divina. Outros Ritos, como o Moderno, utiliza um Livro em branco, com o objetivo de eliminar a questão dogmática das religiões, que se baseiam na Bíblia.

Não há referências de Deus como Geômetra, ou como Arquiteto dos Mundos, na Bíblia, mas o Deus cristão é referido como "Arquiteto do Universo" em algumas obras: 

  • Em Institutas da Religião Cristã (1536)[15], João Calvino refere-se repetidamente ao Deus cristão como "Arquiteto do Universo". 
  • Na epístola aos hebreus, em Hb 11,9-11, diz-se: "pois esperava a cidade que tem fundamentos; cujo arquiteto e construtor é o próprio Deus". 

O conceito de "Grande Arquiteto do Universo" também aparece na Gnose ou Gnosticismo. Na Gnose, o Grande Arquiteto do Universo é o Demiurgo, o Deus do Antigo Testamento.

O M.´. M.`. Eduardo Neves, em artigo intitulado “O Grande Arquiteto do Universo”[16], escreve e esclarece:

A imagem eternizada por Michelangelo na Capela Sistina – a de um ancião de cabelos brancos, adotada como representação costumeira de Deus por grande parcela da civilização ocidental – ainda que enquanto obra de arte seja belíssima, não é suficiente para a compreensão da onipotência, onipresença e onisciência divinas. Em verdade, ousaríamos dizer que é, de fato, inapropriada. Ora, qualquer que seja o ser, se este for limitado por uma forma, não pode ter tais características. Portanto, seguindo este raciocínio, concluímos que a imagem de Deus como um velho senhor sentado em um trono de nuvens é apenas o retrato humanizado do pensamento de uma época, não devendo ser levado em conta para uma reflexão mais aprofundada. Deus é o amor infinito, a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, é aquele que não tem começo nem fim, e não pode ser conhecido através dos esforços intelectuais de uma mente humana que, por mais avançada ou capaz que seja, está sujeita a limitações. Deus, portanto, é uma força que não pode ser analisada ou mensurada, só podendo ser sentida e contemplada através de suas manifestações. Esta força é o que os maçons chamam de Grande Arquiteto, gerador do universo, do homem e da vida em todas as suas formas.

Assim, entendo, que o GADU é uma manifestação atemporal, assexuada, onipresente, onisciente. Uma energia manifestada. Quem É, sempre FOI e sempre SERÁ. Insondável na sua natureza. Inteligível em seu propósito, de “fazer feliz a humanidade”, com sua infinita bondade com a Criação.

Em toda a caminhada Maçônica, é quase impossível distinguir no Rito o gênero, embora a tradição judeu/hebraica/cristã, em especial as pinturas realizadas desde a Idade Média, mostre-o como um “velhinho de barba branca e do gênero masculino”, talvez influenciado por uma geração humana dominada pelo patriarcado, e o indevido uso da palavra “Pai” que dá uma conotação masculinizada do termo. Aliás é importante repor que, na origem, Deus era Yahweh, uma tradução forçada do hebraico tetragrama hebraico יהוה, que é o nome de Deus na Bíblia hebraica, é que composto por quatro consoantes hebraicas: י (yod), ה (he), ו (vav), ה (he). 

A transliteração do tetragrama para o português é YHWH, mas também pode ser escrita como YHVH. O tetragrama é o nome pessoal de Deus que mais aparece na Bíblia, aparecendo cerca de 7 mil vezes. No entanto, a pronúncia original do tetragrama é desconhecida, pois a língua hebraica é quase extinta. O termo Jeová é uma transliteração do tetragrama, resultante da adição dos pontos vocálicos de Adonai ao tetragrama. Adonai é uma palavra que significa "meu Senhor". Outra transliteração do tetragrama é Javé, que vem de YaHVeH. Lembrando, entretanto, que originalmente o nome de Javé (outra forma) era impronunciável, ou seja, o nome completo não poderia ser pronunciado, apenas soletrado, em forma de respeito. O iniciado na Ord.´. sabe a importância das palavras soletradas, do qual não vou entrar para respeitar nossos segredos.

Por outro lado, A palavra "Deus" aparece na Bíblia no livro de Gênesis, no capítulo 1, versículo 1, quando diz "No princípio criou Deus os céus e a terra". 

Na Bíblia, Deus tem vários nomes, entre eles: 

·     El Shaddai: Significa "Todo-poderoso" e foi revelado a Abraão em Gênesis 17,1

·     Elohim: Um nome genérico para Deus

·     Adonai: Um nome genérico para Senhor

·     Javé: O nome próprio do Deus dos hebreus, que significa "Ele é"

·     Tetragrama: O nome sagrado de Deus, escrito em hebraico com as quatro letras YHWH

·     Emanuel: Significa "Deus conosco" e aparece em Is 7,14

Interessante lembrar que o tetragrama hebraico יהוה tem sua origem no hebraico antigo, o nome YHWH significa em português algo como “Eu sou o que sou” ou “Eu serei quem serei”. A primeira referência a este nome foi quando Deus se revelou a Moisés no Monte Sinai: “Respondeu Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU.”

Fazendo um análise livre (somos livres pensadores e percutores da Verdade) quando o Criador (ou seria a Criadora) diz “eu sou o que sou”, em que momento ele se apresenta com gênero? Ele ou Ela podem ser o que “São”. O próprio tetragrama não responde essa pergunta, que talvez não tenha resposta.

b. Os elementos “femininos” encontrados nos templos maçônicos

Já que quase impossível identificar se há gênero no GADU (eu entendo que não, em especial porque compreendo que é uma energia vital, incriada, que não se identifica com as nossas vidas mortais), podemos verificar elementos masculinos e femininos em nosso Templo e em nossos Ritos.

Vejamos. A própria Iniciação é um processo de volta ao útero da mãe. Neste caso o Temp.´. seria uma mulher. As Col.´. poderiam ser as pernas, o portal teria a equivalência à entrada do útero. Lembramos que a Inic.´. é uma mor.´. à vida prof.´.. Poderia ser à volta ao útero inviolável, protegido, e “alimentado” pela  Grande Mãe? Devemos pensar. Os nossos órgãos estariam representados pelos carg.´. em Loj.´.. Col.´. vestibulares, pernas. Col.´. de sustentação do Temp.´. (marcadas pelos 12 Sig.`. do Zod.´.) seriam as costelas? Coração, Pulmões, Sistema Nervoso, Sistema Circulatório (M.´. de Cer.´.?), Cérebro representado pelo trio V.´. M.´., Ora.´. e Sec.´. com suas funções específicas.

Nesta tese, a mulher estaria representada pelo Temp.´. Maç.´.. Precisamos lembrar que a Deusa que comanda o V.´.M.´. é Minerva, que está postada à esquerda do mesmo. O 1 Vig.´, é secundado por Hércules, o deus da Força, e o 2 Vig.´. secundado pela deusa Vênus, a deusa da Beleza, das Artes e do Amor. Como vemos, apenas Hércules estaria representando o lado masculino do Temp.´., pelas razões óbvias.

Eis, talvez a razão pela qual a Maçonaria é uma instituição masculina. A egrégora que é formada pelos II.´. que participam das sessões é completada pela energia emanada pelo Temp.´. cuja energia é essencialmente feminina, e assim complementar, em busca da Perf.´..



Conclusão

A masculinidade de Deus é um reflexo das estruturas sociais, linguísticas e culturais que moldaram as tradições religiosas ao longo da história. Embora a representação masculina de Deus tenha sido predominante em muitas culturas, é importante reconhecer que essa visão não é universal nem imutável. O debate contemporâneo sobre o gênero de Deus desafia as noções tradicionais e busca desenvolver uma compreensão mais inclusiva e abrangente do divino.

 

Referências

Barth, Karl. Church Dogmatics. T&T Clark, 1956.

Beauvoir, Simone de. O Segundo Sexo. Gallimard, 1949.

Eliade, Mircea. The Sacred and the Profane. Harcourt, 1957.

Feuerbach, Ludwig. The Essence of Christianity. Harper, 1841.

Geertz, Clifford. The Interpretation of Cultures. Basic Books, 1973.

Johnson, Elizabeth A. She Who Is: The Mystery of God in Feminist Theological Discourse. Crossroad, 1992.

Ruether, Rosemary Radford. Sexism and God-Talk: Toward a Feminist Theology. Beacon Press, 1983.

Tillich, Paul. Systematic Theology. University of Chicago Press, 1951.



[1] Clifford James Geertz (São Francisco, 23 de agosto de 1926 — Filadélfia, 30 de outubro de 2006) foi um antropólogo estadunidense, professor emérito da Universidade de Princeton, em Nova Jérsei, nos Estados Unidos. Seu trabalho no Institute for Advanced Study de Princeton se destacou pela análise da prática simbólica no fato antropológico. Foi considerado, por três décadas, o antropólogo mais influente nos Estados Unidos.

[2] Mircea Eliade (Bucareste, 9 de março de 1907 – Chicago, 22 de abril de 1986) foi um professor, cientista das religiões, mitólogo, filósofo e romancista romeno, naturalizado norte-americano em 1970.

[3] Karl Barth (10 de maio de 1886 - 10 de dezembro de 1968) foi um teólogo reformado suíço que é muitas vezes considerado o maior teólogo protestante do século XX. Sua influência expandiu-se muito além do domínio acadêmico, chegando a incorporar a cultura, o que levou a Barth ser apresentado na capa da revista Time em 20 de abril de 1962

[4] Elizabeth A. Johnson CSJ (nascida em 7 de dezembro de 1941) é uma teóloga feminista católica romana . Ela é uma distinta professora emérita de teologia na Fordham University , uma instituição jesuíta na cidade de Nova York e membro das Irmãs de São José de Brentwood. O National Catholic Report”

[5] Ludwig Andreas Feuerbach (Landshut, 28 de julho de 1804 – Rechenberg, Nuremberg, 13 de setembro de 1872) foi um filósofo alemão.[1] Feuerbach é reconhecido pelo ateísmo humanista antropológico e pela influência que o seu pensamento exerce sobre Karl Marx e Sigmund Freud.

[6] Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, mais conhecida como Simone de Beauvoir (Paris, 9 de janeiro de 1908 – Paris, 14 de abril de 1986), foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa. Embora não se considerasse uma filósofa, De Beauvoir teve uma influência significativa tanto no existencialismo feminista quanto na teoria feminista.

[7] Paul Johannes Oskar Tillich (Starzeddel, 20 de agosto de 1886 — Chicago, 22 de outubro de 1965) foi um teólogo alemão-estadounidense e filósofo da religião. Seu trabalho abordou as implicações cruciais para o cristianismo levantadas pelos filósofos existencialistas do século XX e explorou a relação entre teologia e cultura.

[8] Rosemary Radford Ruether (2 de novembro de 1936 - 21 de maio de 2022) foi uma teóloga feminista católica americana conhecida por suas contribuições significativas aos campos da teologia feminista e da teologia ecofeminista . Seus ensinamentos e seus escritos ajudaram a estabelecer essas áreas da teologia como campos distintos de estudo; ela é reconhecida como uma das primeiras acadêmicas a trazer as perspectivas das mulheres sobre a teologia cristã para o discurso acadêmico convencional

[9] Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_na_B%C3%ADblia

[10] Idem

[11] Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_na_Biblia

[12] No cristianismo, o Espírito Santo é a terceira prosopon da Santíssima Trindade - juntamente com Deus Pai e Deus Filho - e é o Deus onipotente. Ele é visto como sendo uma das pessoas do Deus Triúno, que revelou seu Santo Nome YHWH ao seu povo em Israel, enviou seu Filho Eternamente Gerado Jesus para salvá-los do pecado e da morte e enviou o Espírito Santo para santificar e dar vida à sua Igreja. O Deus Triúno se manifesta como três "pessoas" de uma única substância divina (grego antigo: ousia) chamada Deus.

[13] Os landmarks são princípios antigos e inalteráveis da Maçonaria, que representam a base da fraternidade e são a espinha dorsal das suas tradições e regulamentos. A palavra "landmark" é de origem inglesa e significa "ponto de referência" ou "marcos". Os landmarks são preceitos que visam manter a unidade maçônica mundial, como a obrigatoriedade dos maçons se filiarem a uma Loja e crerem num ser superior, o Grande Arquiteto do Universo. A primeira menção maçônica à palavra "landmark" foi em 1723, na Constituição de Anderson. A Constituição estabelece que as Grandes Lojas podem introduzir novos regulamentos, mas desde que não violem os antigos Landmarks.

[14] Albert Pike (29 de dezembro de 1809, Boston — 2 de Abril de 1891, Washington) foi um advogado, militar, maçom e escritor dos Estados Unidos.

[15] As Institutas da Religião Cristã, em latim Christianae religionis institutio, ou simplesmente As Institutas é a obra principal da teologia de João Calvino.

[16] https://www.recantodasletras.com.br/artigos/2823588

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sábado, 18 de novembro de 2023

Virtudes Teologais na Maçonaria: Uma Análise Profunda das Raízes Filosóficas

 Por MI Luis Genaro Ladereche Fígoli

Grau 33° REAA

Resumo: Este artigo busca explorar a presença e o significado das virtudes teológicas dentro da Maçonaria, uma sociedade fraternal que remonta a séculos de tradição e mistério. As virtudes teológicas - Fé, Esperança e Caridade - são conceitos centrais em várias tradições religiosas (em especial da Igreja Católica), e a sua interpretação na Maçonaria reflete a rica herança filosófica que permeia essa organização.

Introdução:

A Maçonaria é conhecida por suas tradições ritualísticas e valores éticos que remontam aos tempos antigos. Entre esses valores, as virtudes teológicas têm um papel central na formação da perspectiva maçônica sobre a moralidade e a espiritualidade. A base filosófica da Maçonaria incorpora elementos de várias tradições religiosas, e as virtudes teológicas desempenham um papel crucial na orientação dos membros da Maçonaria em sua busca por autoaperfeiçoamento e serviço à humanidade.

Não há dúvida que a Maçonaria sofreu grandes influências de várias religiões e pensamentos filosóficos. De forma eclética, foi incorporando princípios morais e éticos, dogmas, símbolos e interpretações que marcaram várias sociedades ao longo de milênios. De todas as sociedades às quais a Maçonaria sofreu influência, a civilização Hebraica e seu livro sagrado (Bíblia) foi a que mais imprimiu marcas na formação da Ordem. Talvez em função da importância da Igreja Católica na época de sua formação como Ordem organizada e multinacional (lembrando que as sessões das Lojas ocorriam dentro dos átrios das grandes Catedrais da Europa), foi incorporando conceitos que se fusionaram na estrutura de sua filosofia. É o caso das Virtudes Cardeais: elas estão presentes no ”Compêndio do Catecismo da Igreja Católica[1], onde as virtudes teologais "têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. São infundidas no homem com a graça santificante, tornam-nos capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano".

No excerto bíblico 1ª Coríntios 13:13, apresenta-nos a seguinte citação: "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor". Num outro excerto bíblico "Gálatas 5:6", cita o seguinte: "a Fé atua pelo amor".

As virtudes teologais existem como complemento às virtudes cardinais e são três:

: através dela, os cristãos creem em Deus, nas suas verdades reveladas e nos ensinamentos da Igreja, visto que Deus é a própria Verdade. Pela fé, "o homem entrega-se a Deus livremente. Por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus, porque «a fé opera pela caridade» (Gal 5,6)".

Esperança: por meio dela, os crentes, por ajuda da graça do Espírito Santo, esperam a vida eterna e o Reino de Deus, colocando a sua confiança perseverante nas promessas de Cristo.

Caridade (ou amor): por meio dela, "amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da lei". Para os Católicos, a caridade é «o vínculo da perfeição» (Col 3,14), logo a mais importante e o fundamento das virtudes. O Amor é também visto como uma "dádiva de si mesmo" e "o oposto de usar".[2]

Na Maçonaria

Encontramos as Virtudes Cardeais nas primeiras Instr.´. do Gr.´. de A.´. M.´.. Há no Rit.´. do Gr.´. uma explicação detalhada das Virtudes, que não são as únicas (também existem as Cardeais) mas são as primeiras que o A.´.M.´. têm acesso e explicação. A razão é óbvia: nelas se resume todo o processo de crescimento do Maçom, crescimento este representado pela “Escada de Jacó”[3], um dos principais Símbolos do Pain.´. do Gr.´. de A.´. M.´. (ver figura). De forma geral, a volta à Luz Primordial, ao Paraíso, se dá através da prática permanente da Virtude, representada, em sua expressão máxima pela Fé, pela Esperança e pelo Amor Ágape (Caridade).

1.     Fé: Uma Fundamentação Espiritual:

A virtude da Fé na Maçonaria não está limitada a uma única tradição religiosa. Ao contrário, ela abrange a crença em algo maior do que o eu individual, seja essa crença expressa em termos religiosos tradicionais ou em uma força cósmica universal. A busca pela verdade e a compreensão do papel do homem no cosmos são aspectos centrais dessa virtude, influenciando os rituais e ensinamentos maçônicos.

"A fé é o fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem." - Epístola aos Hebreus, Bíblia Sagrada.

Fé na Maçonaria: Uma Jornada Além das Fronteiras Religiosas

A virtude da Fé na Maçonaria transcende as barreiras dogmáticas e se estende a um entendimento mais amplo e inclusivo. Dentro do contexto maçônico, a Fé não é simplesmente a adesão a um conjunto específico de crenças religiosas, mas uma jornada individual em direção ao entendimento do divino, seja este concebido como um ser supremo, força cósmica ou princípio transcendental.

a. Busca pela Verdade Interior: Na Maçonaria, a Fé é frequentemente associada à busca incessante pela verdade interior. Os rituais maçônicos são projetados para incentivar a reflexão pessoal e a exploração das crenças individuais em relação ao divino e ao propósito da existência. A crença na existência de verdades transcendentais e universais é fundamental para a formação da perspectiva maçônica sobre a espiritualidade.

"Conhece-te a ti mesmo." - Inscrição no Templo de Apolo em Delfos.

b. Unidade na Diversidade Religiosa: A Maçonaria, ao aceitar membros de diversas tradições religiosas, promove a ideia de que a Fé não precisa ser uniforme para ser valiosa. Em uma loja maçônica, cristãos, muçulmanos, judeus e membros de outras religiões compartilham espaços sagrados, reconhecendo a importância da busca comum por algo além do tangível. A Fé na Maçonaria é, assim, uma força unificadora que transcende as divisões religiosas.

"A Maçonaria não é uma religião. Ela exige que você acredite em Deus e ensina que a maneira como você escolhe adorar a Deus é uma questão de consciência individual." - Albert Pike, líder maçônico.

c. Simbolismo Maçônico: Os rituais e símbolos maçônicos desempenham um papel crucial na expressão da Fé. A abertura dos trabalhos maçônicos com a invocação ao "Grande Arquiteto do Universo" reflete a compreensão maçônica de uma divindade universal que transcende as concepções religiosas específicas. A utilização de ferramentas de construção, como o esquadro e o compasso, simboliza a busca por uma vida reta e a construção de uma base ética e espiritual sólida.

"Nada existe de mais espiritual que o simbolismo. É a linguagem primitiva e universal." - Albert Mackey, maçom e escritor.

A Fé na Maçonaria é uma jornada pessoal e coletiva, uma busca constante por verdades interiores que transcende as limitações de doutrinas religiosas específicas. Essa compreensão da Fé como uma força unificadora, capaz de coexistir harmoniosamente com a diversidade religiosa, destaca a abordagem única da Maçonaria em relação à espiritualidade. A Maçonaria não busca impor uma fé específica, mas encoraja seus membros a explorarem, questionarem e, acima de tudo, acreditarem em algo maior do que eles próprios.

 

2.     Esperança: A Luz no Caminho:

A Esperança na Maçonaria é frequentemente simbolizada pela luz, que guia os maçons em sua jornada espiritual e moral. Esta virtude inspira os membros a olhar para o futuro com otimismo e a trabalhar para a construção de uma sociedade mais justa e compassiva. A ênfase na esperança na Maçonaria também está associada à busca contínua por conhecimento e iluminação.

"A Esperança na Maçonaria: A Luz que Guia a Jornada Espiritual

A virtude da Esperança na Maçonaria é simbolizada pela luz que ilumina o caminho do maçom em sua jornada espiritual e moral. Vinculada à busca constante por conhecimento e iluminação, a Esperança na Maçonaria vai além de uma mera expectativa otimista; ela representa um compromisso ativo com a evolução pessoal e a construção de um futuro mais justo e compassivo.

a. A Luz como Símbolo de Esperança: A utilização simbólica da luz na Maçonaria tem raízes profundas em seus rituais e ensinamentos. A abertura e o encerramento dos trabalhos maçônicos envolvem a manipulação da luz como uma representação da busca pela verdade e da superação das trevas da ignorância. A luz maçônica é, portanto, um símbolo de esperança que guia os maçons em direção ao entendimento mais profundo de si mesmos e do universo.

"A esperança é como o sol, que lança as sombras de nossas preocupações para trás de nós." - Samuel Smiles, escritor escocês.

b. Busca por Iluminação Pessoal: A Esperança na Maçonaria está intrinsecamente ligada à busca por iluminação pessoal. Os rituais e símbolos maçônicos enfatizam a importância de adquirir conhecimento, desenvolver virtudes e trabalhar para a construção de uma sociedade mais justa. A Esperança impulsiona o maçom a perseguir a verdade e a sabedoria, iluminando assim não apenas o seu próprio caminho, mas também contribuindo para a iluminação da sociedade como um todo.

"A sabedoria é a luz que ilumina o caminho da esperança." - William Arthur Ward, escritor americano.

c. Contribuição para um Futuro Melhor: A Esperança na Maçonaria vai além do âmbito pessoal e se estende à missão coletiva de construir um futuro mais promissor. Os valores maçônicos, ancorados na esperança, inspiram ações benevolentes e o compromisso com o serviço à humanidade. A filantropia maçônica e os esforços para aliviar o sofrimento humano refletem o desejo de construir um legado de bondade e compaixão para as gerações futuras.

"Esperança é a coisa com penas que pousa na alma." - Emily Dickinson, poetisa americana.

A Esperança na Maçonaria é mais do que uma expectativa passiva; é uma força ativa que impulsiona os maçons a buscarem a luz da verdade e a contribuírem para um mundo melhor. Essa virtude, simbolizada pela luz maçônica, guia não apenas a jornada individual do maçom, mas também orienta a Maçonaria como uma força benevolente que trabalha para a construção de um futuro mais luminoso, baseado na sabedoria, compaixão e justiça.

 

3.     Caridade: A Prática da Solidariedade:

A Caridade na Maçonaria vai além da simples doação material; ela representa a prática do amor fraternal e a busca ativa pelo bem-estar dos outros. A filantropia maçônica é uma extensão da Caridade, demonstrando o compromisso da Maçonaria com o alívio do sofrimento humano e o auxílio aos necessitados.

"A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é arrogante." - 1 Coríntios 13:4, Bíblia Sagrada.

Caridade na Maçonaria: Além da Doação Material, uma Expressão do Amor Fraternal

A virtude da Caridade na Maçonaria vai além da simples doação material e está profundamente enraizada no conceito do amor fraternal. Ela representa a prática ativa de cuidar do bem-estar dos outros, demonstrando compaixão e solidariedade. A abordagem maçônica da Caridade envolve não apenas aliviar o sofrimento material, mas também promover a harmonia e a justiça na sociedade.

a. Amor Fraternal como Base da Caridade: Na Maçonaria, a Caridade é intrinsecamente ligada ao conceito de amor fraternal entre os membros. A ideia de que todos os seres humanos são irmãos e irmãs, independentemente de origem, religião ou posição social, é central para a prática da Caridade maçônica. Esta virtude é expressa através de gestos altruístas e da disposição de ajudar aqueles que enfrentam dificuldades.

"A caridade começa em casa, mas não termina lá." - Thomas Fuller, escritor inglês.

b. Filantropia Maçônica: A Caridade na Maçonaria se manifesta através de atividades filantrópicas que visam não apenas atender às necessidades materiais imediatas, mas também promover mudanças duradouras na vida das pessoas. A Maçonaria é conhecida por suas contribuições para instituições de caridade, hospitais e programas educacionais, refletindo o compromisso de seus membros com a construção de comunidades mais fortes e compassivas.

"Nenhum ato de bondade, por menor que seja, é desperdiçado." - Esopo, fabulista grego.

c. Justiça Social e Caridade Maçônica: A Caridade na Maçonaria está conectada à busca por justiça social. Os maçons, ao praticarem a Caridade, não apenas fornecem ajuda imediata, mas também trabalham para abordar as causas subjacentes da injustiça e da desigualdade. Esforços para promover a igualdade de oportunidades, a educação e a justiça são vistos como extensões naturais da prática maçônica da Caridade.

"A caridade é injuriosa quando fere aquele que a pratica." - Ralph Waldo Emerson, filósofo americano.

A Caridade na Maçonaria é uma expressão do compromisso maçônico com o amor fraternal e a melhoria da condição humana. Vai além da mera doação material, envolvendo a promoção ativa da justiça social e o alívio do sofrimento humano. A Maçonaria, ao praticar a Caridade, busca não apenas oferecer ajuda imediata, mas também criar um impacto duradouro na construção de uma sociedade mais justa, compassiva e solidária.

 

Em suma, presença e a interpretação das virtudes teológicas na Maçonaria evidenciam a sua natureza inclusiva, que transcende fronteiras religiosas específicas. A Fé, Esperança e Caridade na Maçonaria servem como alicerces éticos que orientam os maçons em sua busca pela verdade, iluminação e serviço à humanidade. Essas virtudes continuam a desempenhar um papel vital na formação do caráter maçônico e na contribuição da Maçonaria para o desenvolvimento espiritual e ético dos seus membros.

 

Referências Bibliográficas:

  1. Pike, Albert. (1871). "Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry." Charleston: Supreme Council of the Southern Jurisdiction.
  2. Mackey, Albert G. (1878). "Encyclopedia of Freemasonry and Its Kindred Sciences." Philadelphia: L.H. Everts & Co.
  3. Coil, Henry Wilson. (1961). "Coil's Masonic Encyclopedia." Richmond, Virginia: Macoy Publishing & Masonic Supply Co.
  4. Robinson, John J. (1989). "Born in Blood: The Lost Secrets of Freemasonry." New York: M. Evans and Company, Inc.
  5. Stevenson, David. (1988). "The Origins of Freemasonry: Scotland's Century, 1590-1710." Cambridge: Cambridge University Press.
  6. Roberts, Allen E. (1979). "The Craft and Its Symbols: Opening the Door to Masonic Symbolism." Richmond, Virginia: Macoy Publishing & Masonic Supply Co.
  7. Waite, Arthur Edward. (2003). "A New Encyclopaedia of Freemasonry." New York: Cosimo Classics.
  8. Bíblia Sagrada.
  9. Ritual do A.´. M.´. do REAA


[1] O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica é um resumo do Catecismo da Igreja Católica, sob a forma de perguntas e respostas, publicado pela Igreja Católica em 2005, e que contém de forma resumida os principais elementos da doutrina e moral católicas.

[2] GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, pág. 101

[3] A Escada de Jacó (em hebraico: Sulam Yaakov) refere-se à escada mencionada na Bíblia (Gênesis 28,11-19), que se caracteriza o meio empregue pelos anjos para subir e descer do céu. Foi imaginada pelo patriarca Jacó num dos seus sonhos, depois de ter fugido da confrontação com o seu irmão Esaú:[1] Quando Jacob teve essa visão durante o sono, de uma escada, cujos pés repousavam sobre a terra, e cujo topo chegava aos céus. Anjos continuamente subiam e desciam através dela prometendo-lhe a bênção de uma numerosa e feliz posteridade. Quando Jacob acordou, ele estava cheio de gratidão, e consagrou o local como a casa de Deus.




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sábado, 23 de setembro de 2023

A ASTROBIOLOGIA, A CIÊNCIA E AS CONCEPÇÕES TEOLÓGICAS SOBRE O SURGIMENTO DA VIDA

 

 



A ASTROBIOLOGIA, A CIÊNCIA E AS CONCEPÇÕES TEOLÓGICAS SOBRE O SURGIMENTO DA VIDA

Escrito por

M.´.I.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)

Grau 33°

 

Em ciência, a gente tem que ver para crer.

 Você observa a natureza, você observa o mundo,

obtém dados sobre como o mundo funciona,

analisa esses dados e entende

Pela fé, você crê para ver.

 A crença vem antes da visão.”

Marcelo Gleiser

 

A busca por respostas sobre a origem da vida é um empreendimento que tem intrigado tanto cientistas quanto filósofos e teólogos ao longo dos séculos. A disciplina da astrobiologia surge como um campo interdisciplinar que procura investigar a possibilidade de vida além da Terra e, por consequência, impacta diretamente nas concepções teológicas sobre o surgimento da vida.

A astrobiologia explora diversos aspectos, desde a compreensão das condições necessárias para a existência de vida até a busca por sinais de vida em outros planetas. A descoberta de exoplanetas em zonas habitáveis tem suscitado debates sobre a probabilidade de vida extraterrestre e suas implicações. Enquanto alguns argumentam que a existência de vida em outros mundos seria uma evidência da diversidade da criação divina, outros questionam se tal descoberta contradiz as narrativas religiosas tradicionais sobre a Terra ser o centro da criação divina.

Nas concepções teológicas, diferentes religiões e tradições têm abordado o tema de maneiras variadas. Algumas interpretações literais de textos sagrados podem entrar em conflito com a ideia de vida extraterrestre, enquanto abordagens mais simbólicas podem permitir uma maior flexibilidade na reconciliação entre fé e ciência. A descoberta de microrganismos extremófilos em ambientes inóspitos na Terra também levanta questões sobre a definição de vida e como ela se relaciona com as crenças religiosas.

É interessante notar que a astrobiologia e as concepções teológicas não precisam ser mutuamente excludentes. Muitos teólogos argumentam que a busca por vida além da Terra pode enriquecer a compreensão da criação divina, destacando a magnitude da obra divina em todo o universo. Além disso, a possibilidade de vida extraterrestre pode desafiar as religiões a repensar suas visões antropocêntricas, promovendo uma reflexão sobre o lugar da humanidade no cosmos.

A interação entre astrobiologia e concepções teológicas sobre o surgimento da vida reflete a constante busca da humanidade por respostas profundas e significativas sobre sua existência. Enquanto a ciência explora o universo físico em busca de pistas, a religião busca dar sentido a essas descobertas à luz de suas crenças espirituais. Em vez de um conflito inevitável, essa interação pode conduzir a diálogos enriquecedores que enriquecem tanto nosso conhecimento científico quanto nossa compreensão espiritual.

I - A ORIGEM DA VIDA (CONCEPÇÕES)

A origem da vida no planeta Terra é, sem dúvidas, um assunto que intriga toda a humanidade. Várias já foram as hipóteses criadas para explicar tal evento, porém até os dias atuais nenhuma foi completamente comprovada. Neste texto abordaremos algumas das principais ideias de gênese da vida.

a.     Criacionismo



De acordo com o Criacionismo, todos os seres vivos surgiram na Terra por meio de uma Criação Divina. Segundo essa ideia, Deus criou todos os seres vivos, incluindo os seres humanos, como está relatado na Bíblia. Essa ideia de origem da vida é uma das mais antigas e até hoje é aceita por muitos fiéis em torno de todo o planeta

Ao contrário do que muitos pensam, as diferentes religiões do mundo elaboraram uma versão própria da teoria criacionista.

a.1 Mitologia grega: A mitologia grega atribui a origem do homem ao feito dos titãs Epimeteu e Prometeu. Epimeteu teria criado os homens sem vida, imperfeitos e feitos a partir de um molde de barro. Por compaixão, seu irmão Prometeu resolveu roubar o fogo do deus Vulcano para dar vida à raça humana.

a.2 Mitologia chinesa: atribui a criação da raça humana à solidão da deusa Nu Wa, que, ao perceber sua sombra sob as ondas de um rio, resolveu criar seres à sua semelhança.

a.3 Criacionismo no cristianismo: O cristianismo adota a Bíblia como fonte explicativa sobre a criação do homem. Segundo a narrativa bíblica, o homem foi concebido depois que Deus criou céus e terra. Também feito a partir do barro, o homem teria ganhado vida quando Deus assoprou o fôlego da vida em suas narinas. Outras religiões contemporâneas e antigas formulam outras explicações, e algumas chegam a ter pontos de explicação bastante semelhantes.

 b. Panspermia



Panspermia é uma hipótese que afirma que a vida no planeta pode ter sido iniciada com base em partículas da vida que chegaram à Terra através do espaço. De acordo com o filósofo grego Anaxágoras, existiam sementes da vida em todo o Universo. Desse modo, a vida pode não ter sido originada aqui, e sim ter chegado ao planeta depois.

Essa ideia criou força no século XIX, quando os químicos Thenard, Vauquelin e Berzelius descobriram compostos orgânicos em amostras de um meteorito. Em 1871, o físico William Thomson propôs que meteoros ou asteroides, ao colidirem com planetas que continham vida, poderiam ter ejetado rochas contendo seres vivos. Assim, rochas contendo vida podem ter trazido ou colaborado com a origem da vida na Terra. De acordo com a teoria da panspermia, a vida pode ter chegado ao planeta por meio de um meteorito.

Fragmentos do meteorito Murchison, por exemplo, contêm mais de 80 aminoácidos diferentes. Além disso, esses fragmentos, que caíram na Austrália em 1969, contêm, além de aminoácidos, outras moléculas orgânicas fundamentais. Caso tenha maior interesse no assunto, leia nosso texto: Panspermia.

c.     Teoria de Oparin e Haldane



De forma independente, os cientistas Oparin e Haldane levantaram uma hipótese que é hoje considerada a mais aceita de origem da vida. Eles propuseram que a atmosfera primitiva da Terra apresentava compostos que sofreram a ação de raios e da radiação ultravioleta, dando origem a moléculas simples. Essas moléculas orgânicas ficavam nos oceanos primitivos, formando uma espécie de “sopa primitiva”.

De acordo com os pesquisadores, a atmosfera primitiva terrestre era composta basicamente por amônia, hidrogênio, metano e vapor d'água. O vapor d'água da atmosfera condensava-se e dava origem a chuvas. A água, ao cair no solo, evaporava-se rapidamente, uma vez que a superfície terrestre ainda era quente, dando início, desse modo, a um ciclo de chuvas. Nesse cenário observava-se ainda descargas elétricas e a radiação ultravioleta do Sol, que fazia com que os elementos atmosféricos reagissem e formassem compostos, os aminoácidos.

A água das chuvas levou esses aminoácidos à superfície terrestre. Esses, ao encontrarem condições favoráveis, começaram a formar estruturas semelhantes a proteínas. Com a formação dos oceanos, essas “proteínas primitivas” foram arrastadas para esses locais e formaram os coacervados, os quais podem ser definidos como agregados de proteínas rodeados por água. Após algum tempo, esses coacervados tornaram-se estáveis e mais complexos.

A ideia de Oparin-Haldane foi posteriormente testada pelos pesquisadores Miller e Urey, em 1953. Eles criaram um experimento em que foi possível simular as condições da Terra primitiva. O resultado foi impressionante, tendo sido eles capazes de produzir aminoácidos e outros compostos orgânicos. Desse modo, ambos concluíram que moléculas orgânicas podiam ser geradas de maneira espontânea em condições equivalentes às da Terra primitiva.

Entretanto, posteriormente, descobriu-se que a atmosfera primitiva provavelmente não era um ambiente como o sugerido por Oparin e Haldane. Ainda assim, mesmo considerando as novas descobertas para as características da atmosfera da Terra primitiva, foi possível produzir moléculas orgânicas.

Vale salientar também que a atmosfera primitiva poderia ser redutora em pequenas porções, como aquelas perto de aberturas de vulcões. Experimentos realizados nessas condições também geraram aminoácidos.

d.     Alimentação do primeiro ser vivo: hipóteses autotrófica e heterotrófica

Além de compreender como os seres vivos surgiram, os cientistas também buscam saber como esses sobreviveram em um ambiente tão remoto. Muito se discute ainda se o primeiro ser vivo era autotrófico ou heterotrófico, sendo possível observar muita discordância entre os autores de livros didáticos nesse sentido. Veja a seguir essas duas hipóteses:

Hipótese heterotrófica: afirma que o primeiro ser vivo não era capaz de produzir seu próprio alimento. Desse modo, esses primeiros seres alimentavam-se de moléculas orgânicas que estavam presentes no meio. Os que defendem essa ideia afirmam que os seres vivos primitivos seriam muito simples e incapazes de produzir seu próprio alimento. Provavelmente esses organismos extraiam energia dos alimentos por meio da realização da fermentação.

Hipótese autotrófica: afirma que os primeiros seres vivos eram capazes de produzir seu próprio alimento. Os autores que sustentam essa ideia acreditam que a Terra não possuía moléculas orgânicas suficientes para alimentar esses primeiros seres. Entretanto, vale destacar que provavelmente os primeiros organismos conseguiram obter seu alimento pelo processo de quimiossíntese, que não necessita de energia luminosa, como a fotossíntese. Na quimiossíntese os seres vivos produzem moléculas orgânicas utilizando a energia química.

 

II - EXPLOREMOS MAIS OS CONCEITOS:

1.     Astrobiologia:

A astrobiologia é uma disciplina científica que explora a possibilidade de vida em outras partes do universo, além da Terra. Ela engloba várias áreas, como a astronomia, biologia, química e geologia, para entender as condições necessárias para a existência de vida e procurar por sinais de vida em outros planetas, luas e exoplanetas. A astrobiologia também explora ambientes extremos na Terra, como fontes termais e ambientes subterrâneos, para entender a diversidade da vida e como ela poderia se manifestar em condições diferentes das encontradas em nosso planeta.

Um dos mais influentes Astrofísicos brasileiros, que atua nos EUA, explica que sim, existe uma fronteira entre ciência e religião, mas não, não é necessário haver um conflito entre ambas, conhecido por seu trabalho de divulgação da ciê Gleiser sustenta uma postura de demarcação entre ciência e religião sem que por isso haja conflito entre ambas.

O método científico, propõe Gleiser, caracteriza-se pelas evidências empíricas sobre as quais ele se apoia. O cientista não pode acreditar em algo simplesmente porque ele deseja — ele deve fundamentar sua opinião em dados empíricos.

Gleiser ainda argumenta que a “guerra” entre ciência e religião é fabricada: nos EUA, aproximadamente 40% dos cientistas dizem acreditar em Deus de alguma maneira. Portanto, a crença religiosa não entra necessariamente em conflito com a atividade científica: para esses cientistas, a ciência ajuda a revelar a beleza da Criação. Essa complementaridade é perturbada apenas quando esquecemos do propósito de cada uma dessas atividades.

2.     Concepções Teológicas:

As concepções teológicas sobre o surgimento da vida variam de acordo com as diferentes religiões e interpretações de textos sagrados. Para algumas tradições religiosas, como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, a criação da vida é vista como um ato divino, geralmente retratado em narrativas religiosas como o Livro do Gênesis. Essas interpretações literais podem entrar em conflito com as descobertas científicas, como a evolução das espécies proposta por Charles Darwin.

No entanto, muitos teólogos adotaram uma abordagem mais simbólica e metafórica para a criação, permitindo uma conciliação entre a fé e a ciência. Eles veem as narrativas religiosas como expressões profundas da relação entre a humanidade e o divino, em vez de descrições literais de eventos históricos. Isso abre espaço para interpretar as descobertas científicas, como a evolução, como parte do plano divino.

3.     A Astrobiologia e a Teologia:

O diálogo entre astrobiologia e concepções teológicas é uma área em constante evolução. Enquanto algumas pessoas veem a ciência e a religião como duas perspectivas inconciliáveis, muitos especialistas e pensadores argumentam que esses campos podem se complementar e enriquecer mutuamente. A busca por vida extraterrestre pode inspirar novas reflexões sobre o propósito da criação, a diversidade da vida e a posição da humanidade no cosmos.

Além disso, a descoberta de exoplanetas em zonas habitáveis e a pesquisa de ambientes extremos na Terra podem lançar luz sobre a resiliência da vida e a variedade de formas que ela poderia assumir. Essas descobertas podem levar a uma compreensão mais ampla da complexidade da existência e da maravilha do universo, tanto do ponto de vista científico quanto espiritual.

Em última análise, a interação entre a astrobiologia e as concepções teológicas sobre o surgimento da vida é um lembrete poderoso de que a busca pelo conhecimento e a exploração da espiritualidade podem coexistir de maneira harmoniosa, enriquecendo nossa compreensão do mundo ao nosso redor e do nosso lugar nele.

4.     O Diálogo entre a Ciência e a Religião

O diálogo entre ciência e religião é uma questão complexa que tem uma história longa e diversificada, e continua a evoluir à medida que avançamos para o futuro.

a.     História do Diálogo:

A história do diálogo entre ciência e religião é repleta de momentos de tensão e cooperação. Na Idade Média, por exemplo, a Igreja Católica desempenhou um papel fundamental na preservação e tradução de textos científicos clássicos. No entanto, também houve episódios de conflito, como o julgamento de Galileu Galilei no século XVII, quando suas descobertas astronômicas foram consideradas heréticas pela Igreja.

No século XIX, com o advento da teoria da evolução de Charles Darwin, houve um novo conflito entre ciência e religião. Alguns setores religiosos se opuseram vigorosamente à ideia de evolução, enquanto outros buscaram integrar a teoria da evolução em suas crenças, argumentando que a evolução era o método divino de criação.

b.     Tendências Atuais:

Hoje em dia, o diálogo entre ciência e religião continua, mas de maneira mais complexa e matizada. Muitos cientistas e religiosos procuram encontrar maneiras de reconciliar suas crenças religiosas com as descobertas científicas. Por exemplo, teólogos e filósofos da religião exploram como a teoria do Big Bang se relaciona com a ideia de criação divina.

Além disso, algumas religiões, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, têm tradições teológicas que acomodam bem a ciência, enquanto outras, como o criacionismo literal, ainda estão em conflito direto com certas áreas da ciência.

c.     O Futuro do Diálogo:

O futuro do diálogo entre ciência e religião é incerto, mas parece que a tendência é para uma maior compreensão e colaboração. À medida que a ciência avança e desvenda mais mistérios do universo, as religiões podem continuar a adaptar suas interpretações para acomodar essas descobertas.

Por outro lado, a ética e os valores também desempenham um papel importante nesse diálogo. À medida que a tecnologia avança, questões éticas relacionadas à engenharia genética, inteligência artificial e outras áreas da ciência emergem, e as religiões podem fornecer orientação moral nesses debates.

O diálogo entre ciência e religião, enfim, é uma questão em constante evolução, que reflete as mudanças na sociedade, na ciência e nas crenças religiosas. O futuro desse diálogo dependerá de como as partes envolvidas abordam questões complexas e desafiadoras à medida que avançamos no entendimento do mundo que nos rodeia.

5.     Visão Filosófica:

A relação entre ciência e religião tem sido um tema central na filosofia da religião e na filosofia da ciência. Os filósofos buscam entender como essas duas áreas do conhecimento se relacionam e se complementam, ou se entram em conflito.

a.  Agostinho de Hipona (354-430): Agostinho, também conhecido como Santo Agostinho, teve uma influência significativa na filosofia da religião. Ele argumentou que a fé e a razão podem coexistir, mas a fé deve estar acima da razão. Para ele, a razão é importante para compreender o mundo material, enquanto a fé é necessária para compreender as verdades espirituais.

b.     Tomás de Aquino (1225-1274): Aquino, um teólogo e filósofo, desenvolveu a ideia de que a razão e a fé não estão em conflito, mas podem complementar-se mutuamente. Sua obra "Summa Theologica" explora como a filosofia aristotélica pode ser usada para explicar e compreender os ensinamentos religiosos.

c.     Immanuel Kant (1724-1804): Kant abordou a questão da relação entre ciência e religião de uma maneira diferente. Ele propôs a ideia de que a religião é uma questão de fé prática, não de conhecimento teórico. Ele argumentou que a moralidade e a religião são domínios separados da experiência humana.

d.     Ian Barbour (1923-2013): Barbour, um físico e teólogo, é conhecido por seu trabalho em ética e religião na era científica. Ele cunhou o termo "diálogo construtivo" para descrever a interação entre ciência e religião, argumentando que eles podem se influenciar de maneira positiva.

e.     Albert Einstein (1879-1955), o renomado físico teórico, tinha uma visão complexa sobre a relação entre ciência e religião. Sua posição geralmente é descrita como sendo não religiosa ou deísta. Aqui estão alguns pontos chave sobre a posição de Einstein em relação a esses dois domínios:

Deísmo: Einstein acreditava em um Deus que estava ligado à ordem e à harmonia do universo, mas sua concepção de Deus era mais impessoal e deísta do que a de uma divindade pessoal envolvida em assuntos humanos. Ele muitas vezes se referia a Deus como "o Espírito Superior" ou "o Deus de Spinoza", em referência ao filósofo Baruch Spinoza, que também tinha uma visão deísta da divindade.

Religião Organizada: Einstein era crítico em relação à religião organizada e às instituições religiosas. Ele via muitas formas de religião como dogmáticas e limitadoras da liberdade de pensamento. No entanto, ele respeitava a espiritualidade pessoal e a busca individual por significado.

Ciência e Religião: Einstein via a ciência e a religião como duas abordagens diferentes para compreender o mundo. Ele acreditava que a ciência lida com questões empíricas e verificáveis, enquanto a religião se concentra nas questões de significado e moral. Ele argumentava que esses dois domínios não eram mutuamente excludentes, mas complementares. Para ele, a religião fornecia um senso de admiração e maravilha que inspirava a investigação científica.

Ética: Einstein enfatizava a importância da ética e da responsabilidade humana. Ele acreditava que a ciência deveria ser usada para o benefício da humanidade e que a moralidade era fundamental para a nossa sobrevivência.

A posição de Einstein sobre ciência e religião pode ser resumida como uma crença em um Deus deísta, uma crítica à religião organizada, e a visão de que ciência e religião abordam diferentes aspectos da experiência humana. Sua perspectiva influenciou o debate sobre a relação entre esses dois domínios e continua sendo objeto de discussão e estudo até hoje.

f.   Stephen Hawking (1942-2018): O renomado físico teórico e cosmólogo, tinha uma visão claramente secular e ateísta sobre a relação entre ciência e religião. Ele expressou suas opiniões em várias ocasiões e em seu livro "Uma Breve História do Tempo". Aqui estão alguns pontos chave sobre a posição de Hawking em relação a esses dois domínios:

Ateísmo: Hawking se descreveu como um ateu. Ele argumentava que não via evidências convincentes para a existência de um Deus ou uma divindade, e considerava a crença em Deus como uma questão de fé pessoal, não de base científica. Ele afirmava que a ciência poderia explicar o universo sem a necessidade de recorrer a uma entidade divina.

Origem do Universo: Hawking fez contribuições significativas para nossa compreensão da origem do universo, como a teoria do Big Bang e os conceitos de buracos negros. Ele argumentava que a ciência oferecia explicações naturalistas para a criação do universo, eliminando a necessidade de uma criação divina.

Filosofia da Ciência: Hawking era conhecido por sua abordagem rigorosa e cética em relação à filosofia da ciência. Ele muitas vezes destacava a importância de testar as teorias científicas por meio de observações e experimentos, em oposição a especulações filosóficas.

Ética e Responsabilidade Humana: Embora Hawking fosse cético em relação à religião, ele enfatizava a importância da ética e da responsabilidade humana. Ele argumentava que, como seres racionais, temos a responsabilidade de cuidar do planeta e de nossos semelhantes, independentemente de crenças religiosas.

Em resumo, a posição de Stephen Hawking sobre a relação entre ciência e religião era claramente ateísta e secular. Ele via a ciência como o meio mais confiável para compreender o universo e argumentava que a crença em Deus era uma questão de fé pessoal, não de evidência científica. Suas opiniões influenciaram o debate sobre ateísmo e religião no contexto da ciência e continuam sendo objeto de discussão e reflexão.

Sua análise é decepcionantemente fraca em pontos muito críticos. O Big Bang, ele argumenta, foi a consequência inevitável das leis da física. “Porque existe uma lei como a gravidade, o universo pode e irá criar a si mesmo do nada.” No entanto, Hawking parece confundir lei com a agência (agency) ou força energia. Leis em si não criam nada. Elas são meramente uma descrição do que acontece sob certas condições. A Lei da Gravidade “explica” porque uma bola chutada, faz uma elipse e acaba caindo na terra, atraída por ela (segundo a física uma massa maior, atrai uma massa menor). Mas não explica um passo atrás: por quê existe uma “lei” da gravidade. Fruto do acaso? Aliás, não somente esta lei, mas todas as outras.

g.     Charles Darwin (1809-1882): o renomado naturalista que desenvolveu a teoria da evolução por seleção natural, teve um impacto significativo nas discussões sobre ciência e teologia durante e após sua vida. Sua teoria trouxe desafios consideráveis para as concepções teológicas tradicionais da criação e da origem da vida. Aqui estão alguns pontos importantes sobre Darwin e sua influência na relação entre ciência e teologia:

 

Teoria da Evolução: A teoria da evolução de Darwin, apresentada em sua obra "A Origem das Espécies" em 1859, postulava que as espécies evoluem ao longo do tempo por meio de um processo de seleção natural. Isso implicava que a diversidade da vida na Terra poderia ser explicada sem recorrer a um ato de criação divina. A ideia de que as espécies mudam gradualmente ao longo das gerações desafiou as interpretações literais de textos religiosos que descreviam a criação em um curto período de tempo.

Conflito Inicial: A teoria de Darwin provocou um conflito inicial entre a ciência e a teologia. Muitos líderes religiosos e crentes viram a evolução como uma ameaça às suas crenças religiosas tradicionais. O debate mais notável ocorreu com a Igreja Católica, que inicialmente condenou a teoria, mas posteriormente acomodou a evolução em sua doutrina, argumentando que a evolução era compatível com a ideia de um Deus criador.

Reconciliação Teológica: Com o tempo, algumas interpretações religiosas adaptaram-se à teoria da evolução. A teologia da criação evolucionista, por exemplo, argumenta que Deus utilizou a evolução como meio de criar e diversificar a vida. Isso permitiu que muitas pessoas reconciliassem suas crenças religiosas com as descobertas científicas de Darwin.

Questões Éticas e Morais: Darwin também contribuiu para o pensamento sobre ética e moral. Ele argumentava que a moralidade humana poderia ser compreendida em termos de evolução, como comportamentos que promovem a sobrevivência e o sucesso reprodutivo. Isso influenciou as discussões sobre ética secular, destacando a importância da cooperação e da empatia na sociedade humana.

Charles Darwin e sua teoria da evolução desempenharam um papel central na relação entre ciência e teologia. Sua teoria inicialmente gerou conflitos, mas também levou a esforços para reconciliar a ciência com as crenças religiosas. A evolução continua sendo um tópico importante no diálogo entre a ciência e a teologia, à medida que as interpretações religiosas continuam a se adaptar às descobertas científicas.

6.     E a Maçonaria:

Entre os autores maçônicos o debate também se deu em vários níveis. Albert Pike (1809-1891) , como uma figura proeminente na Maçonaria do século XIX, não é amplamente conhecido por suas opiniões sobre ciência, o surgimento da vida ou religião em um sentido acadêmico ou científico. Em vez disso, seu foco principal estava na Maçonaria e na filosofia maçônica. É importante ressaltar que as opiniões expressas por Albert Pike não representam uma autoridade na ciência ou na teologia, mas refletem suas visões pessoais e filosofia maçônica. Aqui estão algumas ideias gerais que podem ser associadas a Albert Pike em relação a esses temas:

a.     Ciência: Pike, em sua obra "Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry," aborda questões filosóficas e morais, mas não se concentra especificamente na ciência. No entanto, a Maçonaria em geral valoriza a busca pelo conhecimento e pelo entendimento, o que pode ser considerado um paralelo à ênfase na ciência como uma forma de compreender o mundo natural.

b.     Surgimento da Vida: Como um maçom, Albert Pike não tinha um papel central na discussão científica sobre o surgimento da vida. A questão do surgimento da vida é uma área de pesquisa científica que envolve biologia, química e geologia, enquanto Pike estava mais preocupado com questões filosóficas e morais relacionadas à Maçonaria.

c.     Religião: A Maçonaria, em geral, é uma organização que enfatiza a tolerância religiosa e não prescreve uma religião específica aos seus membros. Albert Pike escreveu sobre temas religiosos em sua obra maçônica, enfatizando a ideia de um Ser Supremo ou Grande Arquiteto do Universo, conceito comum na Maçonaria. Essa ideia não está alinhada com nenhuma religião específica, mas reconhece a existência de um princípio divino.

Em resumo, Albert Pike é mais conhecido por suas contribuições para a Maçonaria e a filosofia maçônica do que por suas opiniões sobre ciência, o surgimento da vida ou religião em um contexto estritamente científico ou teológico. Suas visões estavam mais relacionadas à Maçonaria como uma organização que promove princípios morais e filosóficos, com ênfase na tolerância religiosa e no reconhecimento de um princípio divino que não se alinha com nenhuma religião específica.

Um escritor maçônico que abordou a questão da ciência e da teologia em sua obra é Manly P. Hall[1]. Foi um autor, filósofo e maçom americano que desempenhou um papel significativo na divulgação da filosofia e dos ensinamentos maçônicos. Em sua extensa obra, ele explorou temas relacionados à espiritualidade, simbolismo e a interação entre a ciência e a espiritualidade.

Em várias de suas palestras e escritos, Manly P. Hall abordou como a ciência e a espiritualidade podem ser reconciliadas. Ele argumentava que a ciência e a religião, quando adequadamente compreendidas, não precisam estar em conflito, mas podem ser vistas como duas maneiras de explorar a mesma realidade.

Hall também enfatizou a importância do simbolismo na Maçonaria e em outras tradições esotéricas, argumentando que esses símbolos podem conter conhecimentos profundos sobre a natureza do universo e a relação entre o homem e o divino. Ele acreditava que a Maçonaria, em particular, era uma tradição que preservava antigas verdades espirituais por meio de símbolos e rituais.

Embora Manly P. Hall não fosse um cientista ou teólogo no sentido tradicional, suas obras e palestras sobre a relação entre ciência, espiritualidade e simbolismo exerceram uma influência significativa na compreensão maçônica desses temas. Suas contribuições continuam a ser estudadas e debatidas por aqueles interessados na Maçonaria e na filosofia esotérica.

Manly P. Hall não desenvolveu uma teoria científica ou teológica específica, mas em suas obras e palestras, ele explorou princípios filosóficos e espirituais que ele acreditava estarem subjacentes às tradições esotéricas, incluindo a Maçonaria. Seu trabalho foi influenciado por uma variedade de filosofias e correntes de pensamento, incluindo o esoterismo, o hermetismo e a tradição platônica. Aqui estão alguns dos fundamentos filosóficos e espirituais que Manly P. Hall abordou em sua obra:

a.     Simbolismo: Hall enfatizou a importância do simbolismo como uma linguagem que carrega significados profundos e universais. Ele argumentava que os símbolos, como os usados na Maçonaria, continham conhecimento espiritual e filosófico que poderia ser compreendido por aqueles que buscavam a sabedoria esotérica.

b.     Unidade de Todas as Religiões: Hall via uma unidade subjacente em todas as religiões e tradições espirituais. Ele acreditava que, no cerne de todas essas tradições, havia um conjunto comum de verdades espirituais que podiam ser descobertas por meio do estudo e da contemplação.

c.     Busca pela Sabedoria Interior: Ele encorajava as pessoas a procurarem a sabedoria dentro de si mesmas, argumentando que cada indivíduo possui uma centelha divina e a capacidade de compreender as verdades espirituais por meio da introspecção e da meditação.

d.     Compreensão da Natureza e do Universo: Hall acreditava que a compreensão da natureza e do universo era fundamental para a busca da sabedoria. Ele via a ciência como uma ferramenta importante para explorar os mistérios do mundo natural e integrar essa compreensão com a espiritualidade.

e.     Ética e Responsabilidade Pessoal: Ele enfatizava a importância da ética e da responsabilidade pessoal como parte da jornada espiritual. Acreditava que a busca da sabedoria deveria levar a uma vida moral e ao serviço à humanidade.

Em resumo, Manly P. Hall fundamentou seu trabalho em princípios filosóficos e espirituais que enfatizavam a busca da sabedoria, a unidade subjacente a todas as tradições espirituais, o simbolismo como uma linguagem de significado profundo e a importância da ética pessoal. Suas obras continuam sendo lidas e estudadas por aqueles interessados na espiritualidade, na Maçonaria e nas tradições esotéricas.

Nos Graus Superiores da Maçonaria temos algumas explicações mais aprofundadas sobre ciência, teologia, origem da vida e uma explicação particular sobre a origem e objetivo do Universo, que não é objeto deste artigo, porquanto não vamos abordar.

 

Em suma, os debates filosóficos sobre questões éticas relacionadas à ciência, como a engenharia genética, a inteligência artificial e a bioética, provavelmente desempenharão um papel importante no futuro. Os filósofos buscarão fornecer insights sobre como as crenças religiosas e os princípios éticos podem guiar nossas decisões em um mundo cada vez mais científico e tecnológico.

Em última análise, o diálogo filosófico entre ciência e religião enriquece nossa compreensão das complexas interações entre fé, razão e conhecimento, e continuará a ser um campo importante de investigação e reflexão no futuro.

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SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "Origem da vida"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/origem-vida.htm. Acesso em 23 de setembro de 2023.

https://brasilescola.uol.com.br/biologia/origem-vida.htm

Wikipedia

PIKE, Albert – “Moral e Dogma”;

GLEISER, Marcelo – “Poeira das Estrelas”

HAWKING, Stephen – “Uma Breve História do Tempo”;

HALLS, Manly Palmer – “The Secret Teachings of All Ages: An Encyclopedic Outline of Masonic, Hermetic, Qabbalistic and Rosicrucian Symbolical Philosophy”



[1] Manly Palmer Hall (18 de março de 1901 - 29 de agosto de 1990) foi um autor, conferencista, astrólogo, místico e maçom canadense . Ao longo de sua carreira de 70 anos, ele deu milhares de palestras e publicou mais de 150 volumes, dos quais o mais conhecido é Os Ensinamentos Secretos de Todas as Idades (1928). Em 1934 ele fundou a Sociedade de Pesquisa Filosófica em Los Angeles. Após o sucesso de Os Ensinamentos Secretos de Todas as Idades, Hall publicou vários livros, os principais dos quais incluíam Os Artífices Dionisíacos (1936), Maçonaria dos Antigos Egípcios (1937) e Ordens Maçônicas de Fraternidade (1950). Continuando sua carreira até os setenta anos e além, Hall proferiu aproximadamente 8.000 palestras nos Estados Unidos e no exterior, escreveu mais de 150 livros e ensaios e escreveu inúmeros artigos para revistas . Hall aparece na introdução do filme de 1938, When Were You Born, um mistério de assassinato que usa a astrologia como ponto-chave da trama. Hall escreveu a história original do filme (roteiro de Anthony Coldeway) e também é creditado como narrador.

 

 

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