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sexta-feira, 25 de abril de 2025

Ética e a Metafísica dos Costumes: Contrastes entre a Filosofia Moderna e a Filosofia Clássica




Por: Luis Genaro Ladereche Fígoli (Mestre Moshe 33°)

A discussão sobre ética e a metafísica dos costumes é um dos pilares centrais da filosofia em todas as suas épocas. Enquanto a filosofia clássica estabeleceu as bases do pensamento ético a partir de uma perspectiva teleológica e essencialista, a filosofia moderna propôs um rompimento com essas abordagens, inaugurando uma visão mais subjetiva, racionalista e universalista. Este artigo analisa os principais contrastes entre essas duas abordagens, destacando como a visão moderna, especialmente em Kant, se diferencia da visão clássica representada por filósofos como Platão e Aristóteles.

 

A Ética Clássica: Virtude e Finalidade

Na filosofia clássica, ética e metafísica estavam intimamente conectadas a uma visão teleológica do mundo. Para Platão[1], a ética estava alicerçada na ideia do “Bem” como a realidade suprema. No mito da caverna[2], por exemplo, o filósofo sugere que o caminho ético é o da ascensão do mundo sensível ao mundo inteligível, culminando na contemplação do Bem em si. Nesse contexto, a virtude é a adequação da alma humana à ordem universal, guiada pela razão.

Aristóteles[3], por sua vez, desenvolve uma ética da virtude fundamentada na ideia de que todo ser possui uma finalidade intrínseca (telos). Para ele, o fim último da vida humana é a eudaimonia (felicidade ou florescimento), alcançada por meio da prática das virtudes. Essas virtudes, como a coragem, a prudência e a justiça, são hábitos que permitem ao indivíduo viver de acordo com sua natureza racional. Na visão aristotélica, a ética está profundamente ligada à metafísica, pois compreender a essência e o propósito de algo é essencial para determinar como ele deve agir.

Em suma, na filosofia clássica, a ética é objetiva, baseada na ideia de que há uma ordem universal e natural que define o bem e o mal. O ser humano ético é aquele que harmoniza suas ações com essa ordem, guiado pela razão e pela busca da virtude.

 

A Revolução da Filosofia Moderna: Kant e a Metafísica dos Costumes

Com a modernidade, especialmente a partir de Descartes[4], há uma ruptura com a metafísica clássica. A filosofia moderna desloca o foco da essência das coisas para o sujeito cognoscente. No campo ético, Immanuel Kant[5] representa a culminação desse movimento ao propor uma ética fundamentada na razão prática e na autonomia do sujeito.

Na obra "Fundamentação da Metafísica dos Costumes", Kant rejeita a ética teleológica e qualquer sistema ético baseado em consequências ou inclinações. Em vez disso, ele apresenta o conceito de imperativo categórico, que estabelece que uma ação é moralmente correta se puder ser universalizada, ou seja, se a máxima que a orienta puder valer como uma lei universal.

A principal inovação kantiana é a separação entre ética e qualquer forma de interesse subjetivo ou metafísico tradicional. Para Kant, a moralidade não deriva de uma ordem cósmica ou de uma finalidade natural, mas da própria capacidade racional do sujeito de legislar para si mesmo. A autonomia da vontade é o fundamento da moralidade, e a liberdade é vista como a capacidade de agir de acordo com a razão, e não com as inclinações.

Essa abordagem também redefine a metafísica dos costumes: em vez de buscar um fundamento metafísico na ordem do cosmos, Kant busca na estrutura da razão humana o princípio universal da moralidade. Assim, a ética moderna kantiana é formal, universalista e deontológica, em contraste com a ética substancial e teleológica da filosofia clássica.

 

Contrastes Fundamentais

1. Teleologia versus Universalismo Formal

Na filosofia clássica, a ética é teleológica, ou seja, está orientada para um fim último (o Bem, no caso de Platão, ou a eudaimonia, no caso de Aristóteles). Já na filosofia moderna, especialmente em Kant, a ética não se baseia em uma finalidade externa, mas em princípios formais e universais da razão.

2. Objetividade Metafísica versus Subjetividade Racional

Enquanto a ética clássica fundamenta-se em uma ordem objetiva da realidade (a metafísica do ser), a ética moderna desloca essa fundamentação para a subjetividade racional. Em Kant, a moralidade não depende do que "é" (ser), mas do que "deve ser" (dever), conforme determinado pela razão prática.

3. Virtude versus Dever

Na ética clássica, a ênfase está na formação do caráter virtuoso, desenvolvido ao longo do tempo por meio de hábitos. Na ética kantiana, o foco está na ação conforme o dever, independentemente das inclinações ou do caráter do agente.

4. Harmonia com a Natureza versus Autonomia da Vontade

Para os clássicos, o ser humano é ético quando vive em harmonia com sua natureza e com a ordem cósmica. Para Kant, a moralidade é uma questão de autonomia: o indivíduo é ético quando age de acordo com a lei que ele próprio, enquanto ser racional, legisla.

 

Conexões e Limites

Apesar das diferenças marcantes, é possível traçar alguns pontos de continuidade entre as duas abordagens. Ambas reconhecem a centralidade da razão na ética: enquanto os clássicos veem a razão como o guia para a virtude, os modernos a veem como o fundamento da moralidade. Além disso, ambos os paradigmas compartilham a busca por um fundamento universal para a ética, ainda que divirjam quanto à sua natureza.

Por outro lado, as críticas a ambas as perspectivas também são significativas. A ética clássica foi criticada por sua dependência de uma visão metafísica que nem sempre é compatível com a ciência moderna. Já a ética kantiana é frequentemente acusada de ser excessivamente formal e desconectada das complexidades da experiência humana e das relações sociais.

 

Considerações Finais

A transição da ética clássica para a moderna representa uma mudança profunda no modo como os filósofos entendem a relação entre o homem, a moralidade e o cosmos. Enquanto a filosofia clássica busca na ordem natural e na finalidade do ser humano o fundamento da ética, a filosofia moderna encontra esse fundamento na racionalidade e na autonomia do sujeito.

Esses contrastes não apenas revelam as transformações do pensamento filosófico ao longo da história, mas também lançam luz sobre os desafios contemporâneos da ética, que continuam a oscilar entre visões universalistas e subjetivistas, entre a busca por fundamentos objetivos e a valorização da liberdade individual. A reflexão sobre ética e a metafísica dos costumes, portanto, permanece tão relevante hoje quanto era nos tempos de Platão, Aristóteles e Kant.



[1] Platão (Atenas 428/427– Atenas, 348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Ele é amplamente considerado a figura central na história do grego antigo e da filosofia ocidental, juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles. Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental, e também tem sido frequentemente citado como um dos fundadores da religião ocidental, da ciência e da espiritualidade.

[2]alegoria da caverna, também conhecida como parábola da cavernamito da caverna ou prisioneiros da caverna, é uma alegoria de intenção filósofo-pedagógica, escrita pelo filósofo grego Platão. Encontra-se na obra intitulada A República (Livro VII), e pretende exemplificar como o ser humano pode se libertar da condição de escuridão, que o aprisiona, por meio da luz da verdade, em que o filósofo discute sobre teoria do conhecimento, linguagem, educação e sobre um estado hipotético.

[3] Aristóteles (Estagira384 a.C. – Atenas322 a.C.) foi um filósofo e polímata da Grécia Antiga. Ao lado de Platão, de quem foi discípulo na Academia, foi um dos pensadores mais influentes da história da civilização ocidental. Aristóteles abordou quase todos os campos do conhecimento de sua época: biologiafísicametafísicalógicapoéticapolíticaretóricaética e, de forma mais marginal, a economia. A filosofia, definida como "amor à sabedoria", passou a ser compreendida por Aristóteles em sentido mais amplo, buscando se tornar uma ciência das ciências. Embora o estagira tenha escrito muitos tratados e diálogos formatados para a publicação, apenas cerca de um terço de sua produção original sobreviveu.

[4] René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de 1596 – Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650) foi um filósofo, físico e matemático francês.[1] Durante a Idade Moderna, também era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, foi também uma das figuras-chave na Revolução Científica.

[5] Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 – 12 de fevereiro de 1804) ou Emanuel Kant foi um filósofo alemão (nativo do Reino da Prússia) e um dos principais pensadores do Iluminismo. Seus abrangentes e sistemáticos trabalhos em epistemologia, metafísica, ética e estética tornaram-no uma das figuras mais influentes da filosofia ocidental moderna. Em sua doutrina do idealismo transcendental, Kant argumentou que o espaço e o tempo são meras "formas de intuição" que estruturam toda a experiência e que os objetos da experiência são meras "aparências". A natureza das coisas como elas é em si mesmas é incognoscível para nós. Em uma tentativa de contrariar o ceticismo, ele escreveu a Crítica da Razão Pura (1781/1787), sua obra mais conhecida. Kant traçou um paralelo com a revolução copernicana em sua proposta de pensar os objetos dos sentidos em conformidade com nossas formas espaciais e temporais de intuição e as categorias de nosso entendimento, de modo que tenhamos conhecimento a priori desses objetos.

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sábado, 7 de dezembro de 2024

O SONHO NA FILOSOFIA E NA CIÊNCIA - Uma Perspectiva Interdisciplinar

 


O SONHO NA FILOSOFIA E NA CIÊNCIA - Uma Perspectiva Interdisciplinar

Por M.´. I.´. Luis Genaro Ladereche Figoli (Moshe)

G.´. 33°

Estaria a consciência e a subconsciência confinada dentro do cérebro físico, e o sonho um subproduto dela???

Resumo

O sonho é um fenômeno que intriga a humanidade desde tempos imemoriais. Na filosofia, ele foi frequentemente abordado como um tema epistemológico e metafísico, enquanto na ciência, especialmente a partir do século XIX, ele passou a ser estudado sob uma perspectiva neurocientífica e psicológica. Este artigo explora o conceito de sonho na filosofia, destacando contribuições de pensadores como Platão, Aristóteles, Descartes e Freud, e analisa as descobertas científicas que moldaram nossa compreensão moderna do tema, como os estudos sobre o sono REM. Por fim, reflete-se sobre os esforços contemporâneos para integrar as abordagens filosóficas e científicas no entendimento dos sonhos.

Introdução

Os sonhos têm sido objeto de reflexão desde a antiguidade, levantando questões sobre a natureza da mente, a realidade e a imaginação. Na filosofia, os sonhos frequentemente desafiaram os limites do conhecimento, servindo como ponto de partida para questionamentos sobre a verdade e a existência. Paralelamente, a ciência tem buscado descrever os mecanismos neurobiológicos que geram os sonhos. Este artigo propõe uma análise interdisciplinar do sonho, considerando perspectivas filosóficas e científicas de forma integrada.

A influência da cultura na interpretação dos sonhos é um tema amplamente discutido na literatura sobre o fenômeno onírico.

Ao longo da história, diferentes culturas e tradições desenvolveram distintas abordagens e significados para os sonhos, refletindo suas visões de mundo, crenças e valores sociais.

Por exemplo:

Na tradição xamânica de diversos povos indígenas, os sonhos são vistos como uma forma de comunicação com o mundo espiritual e sobrenatural, muitas vezes possuindo um caráter premonitório ou de revelação.

Na cultura chinesa tradicional, os sonhos são interpretados com base no sistema de cosmologia yin-yang e nos princípios da medicina tradicional chinesa, relacionando-os ao equilíbrio de energias no corpo e no universo.

Na psicanálise freudiana, oriunda da cultura ocidental, os sonhos são vistos como a realização disfarçada de desejos inconscientes, refletindo a dinâmica psicológica do indivíduo.

Já na tradição budista, os sonhos são considerados manifestações da mente ilusória e da natureza impermanente da realidade, servindo como um meio de alcançar a iluminação.

Essas diferenças culturais na interpretação dos sonhos refletem não apenas as cosmologias e os sistemas de crenças de cada sociedade, mas também as formas de perceber e organizar a experiência humana. Assim, a cultura desempenha um papel fundamental na atribuição de significados aos fenômenos oníricos.

 

 

O SONHO NA FILOSOFIA

A filosofia explorou os sonhos sob diferentes óticas, principalmente no que diz respeito à epistemologia e à ontologia.

Platão e Aristóteles

Para Platão, os sonhos eram manifestações da alma, frequentemente relacionadas à irracionalidade. Na "República", ele argumenta que, durante os sonhos, as paixões e os desejos reprimidos emergem, revelando aspectos ocultos da nossa psique (Platão, 2007). Por outro lado, Aristóteles, em "Sobre os Sonhos", abordou o tema de forma mais naturalista, sugerindo que os sonhos eram produtos da atividade sensorial residual no cérebro durante o sono (Aristóteles, 2006). Ele foi um dos primeiros a propor uma explicação fisiológica para os sonhos, separando-os do campo meramente espiritual.

Descartes e o Ceticismo

No racionalismo cartesiano, os sonhos desempenham um papel crucial no questionamento da certeza do conhecimento. Em suas "Meditações Metafísicas", Descartes utiliza o sonho como exemplo para argumentar que os sentidos podem ser enganosos, levando-o a duvidar de toda a experiência sensorial (Descartes, 2001). O famoso "argumento do sonho" levanta a possibilidade de que toda a nossa percepção da realidade possa ser um sonho, destacando a fragilidade da confiança nos sentidos.

Freud e o Inconsciente

Com Sigmund Freud, os sonhos ganharam uma nova dimensão no campo da psicanálise. Em "A Interpretação dos Sonhos", Freud (1996) argumenta que os sonhos são a via régia para o inconsciente, revelando desejos reprimidos e conflitos internos. Ele propôs que os sonhos possuem um conteúdo manifesto (aquilo que é lembrado) e um conteúdo latente (os desejos inconscientes). Essa abordagem marcou uma ruptura com explicações filosóficas e científicas anteriores, introduzindo o sonho como ferramenta terapêutica e objeto de análise psicológica.

 

O SONHO NA CIÊNCIA

Com o avanço das neurociências, os sonhos passaram a ser estudados como fenômenos biológicos e psicológicos.

A Descoberta do Sono REM

A descoberta do sono REM (Rapid Eye Movement) na década de 1950, por Eugene Aserinsky e Nathaniel Kleitman, revolucionou o estudo dos sonhos (Aserinsky & Kleitman, 1953). Durante o sono REM, o cérebro apresenta uma intensa atividade elétrica, semelhante à da vigília, e é nesse estágio que a maior parte dos sonhos vívidos ocorre. Essa descoberta permitiu correlacionar os sonhos com processos neurofisiológicos, deslocando as explicações puramente psicológicas.

A Neurociência dos Sonhos

Pesquisadores como Allan Hobson e Robert McCarley propuseram teorias baseadas na atividade cerebral. A "hipótese da ativação-síntese", de Hobson e McCarley (1977), sugere que os sonhos são produtos da tentativa do cérebro de dar sentido à atividade neural aleatória durante o sono REM. Por outro lado, Mark Solms (1997) defendeu a importância do córtex pré-frontal na geração de sonhos, enfatizando o papel das emoções e da motivação.

Psicologia Cognitiva

Além da neurociência, a psicologia cognitiva também contribuiu para o estudo dos sonhos. Pesquisadores como Rosalind Cartwright (2010) destacaram o papel dos sonhos na regulação emocional, sugerindo que eles ajudam a processar experiências traumáticas e a consolidar memórias.

 

FILOSOFIA E CIÊNCIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL

Embora a filosofia e a ciência muitas vezes adotem abordagens distintas, o estudo dos sonhos revela pontos de convergência. Questões levantadas por filósofos, como a relação entre sonhos e realidade, continuam sendo relevantes para cientistas que investigam os mecanismos neurais e psicológicos dos sonhos. Além disso, a ideia freudiana de que os sonhos têm significados ocultos encontra ressonância em estudos contemporâneos sobre a relação entre sonhos e emoções.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sonho permanece como um campo fértil para o diálogo entre filosofia e ciência. Enquanto a filosofia levanta questões fundamentais sobre a natureza da mente e da realidade, a ciência oferece ferramentas para investigar os mecanismos subjacentes aos sonhos. No futuro, a integração entre essas abordagens poderá ampliar nossa compreensão sobre a mente humana e suas manifestações oníricas.

 

Referências

Aristóteles. (2006). Sobre os Sonhos. São Paulo: Editora Martin Claret.

Aserinsky, E., & Kleitman, N. (1953). "Regularly occurring periods of eye motility, and concomitant phenomena, during sleep". Science, 118(3062), 273-274.

Cartwright, R. (2010). The Twenty-four Hour Mind: The Role of Sleep and Dreaming in Our Emotional Lives. Oxford: Oxford University Press.

Descartes, R. (2001). Meditações Metafísicas. São Paulo: Editora Martins Fontes.

Freud, S. (1996). A Interpretação dos Sonhos. Rio de Janeiro: Imago.

Hobson, J. A., & McCarley, R. W. (1977). "The Brain as a Dream State Generator: An Activation-Synthesis Hypothesis of the Dream Process". American Journal of Psychiatry, 134(12), 1335-1348.

Platão. (2007). A República. São Paulo: Editora Martins Fontes.

Solms, M. (1997). The Neuropsychology of Dreams: A Clinico-Anatomical Study. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates.

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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

A BUSCA PELA FELICIDADE: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA E MAÇÔNICA

 

A BUSCA PELA FELICIDADE: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA E MAÇÔNICA

"A felicidade é a aceitação corajosa da vida,

 com todas as suas tristezas, surpresas e prazeres."

 Viktor Frankl[1]

 

Por M.´.I.´. Luis Genaro L. Fígoli (Moshe)

Grau 33° REAA

 


 Introdução

Desde os primórdios da humanidade, a busca pela felicidade tem sido um objetivo central na vida das pessoas. No entanto, o conceito de felicidade é multifacetado e complexo, variando ao longo das diferentes épocas e culturas. Desde a Grécia Antiga até os dias atuais, muitos pensadores têm se dedicado a refletir sobre o que é a felicidade, como alcançá-la e como mantê-la. Neste artigo, iremos explorar a noção de felicidade sob a ótica dos filósofos clássicos e modernos, analisando suas perspectivas e contribuições para a compreensão desse tema tão relevante.

 

1. A Visão Clássica da Felicidade

Os filósofos clássicos gregos tiveram um papel fundamental na discussão sobre a felicidade. Para Sócrates, por exemplo, a verdadeira felicidade estava intimamente ligada à virtude. Ele afirmava que apenas aqueles que viviam uma vida virtuosa poderiam alcançar uma verdadeira sensação de bem-estar.

Platão expandiu essa ideia ao defender que a felicidade era alcançada através do conhecimento das formas ideais e da contemplação do Bem em si mesmo. Aristóteles concordou com Platão quanto à importância da virtude, mas argumentou que ela deveria ser praticada como um hábito diário para se obter a felicidade. O filósofo grego Aristóteles considerava a felicidade como o fim último da vida humana. Para ele, a busca pela felicidade envolve o desenvolvimento das virtudes morais e intelectuais. Através do exercício dessas virtudes, uma pessoa pode alcançar a sua plenitude e realizar-se como ser humano.

Na antiguidade, Epicuro[2] propôs uma visão diferente sobre a felicidade. Para ele, a chave para alcançar a felicidade está na busca pelo prazer moderado e na ausência de dor e sofrimento. Segundo Epicuro, devemos evitar os excessos e buscar uma vida tranquila e equilibrada.

 

2. A Abordagem Moderna da Felicidade

No período moderno, muitos filósofos trouxeram novas perspectivas sobre o conceito de felicidade. Descartes[3] defendeu que a verdadeira felicidade residia na paz interior proveniente do conhecimento próprio e da busca pela verdade. Já Spinoza[4] acreditava que alcançar a felicidade era possível por meio do entendimento das leis que regem o universo e da aceitação de nossa natureza como parte integrante dele.

Outro filósofo importante dessa época foi Kant[5], cuja concepção de felicidade estava relacionada à realização plena dos deveres morais. Para ele, ser feliz significava agir de acordo com a razão prática e cumprir com as obrigações impostas pelo imperativo categórico.

 

3. Perspectivas Contemporâneas sobre a Felicidade

Na contemporaneidade, diversos filósofos continuam a discutir o tema da felicidade, trazendo novas abordagens para sua compreensão. Um exemplo é John Stuart Mill[6], que defendia a ideia de que a felicidade consiste na busca do prazer e na minimização do sofrimento tanto para si mesmo quanto para os outros. Mill, filósofo inglês do século XIX, desenvolveu uma teoria ética conhecida como utilitarismo. Segundo essa perspectiva, a felicidade consiste em maximizar o bem-estar geral da sociedade. Para alcançar a felicidade, devemos agir de forma a produzir o maior benefício possível para o maior número de pessoas.

Por outro lado, Arthur Schopenhauer[7] argumentou que a felicidade era inalcançável devido à existência constante do desejo insaciável humano. Ele propôs uma perspectiva pessimista em relação à busca pela felicidade, afirmando que apenas através da renúncia aos desejos poderíamos encontrar algum tipo de satisfação.

No século XX, o filósofo francês Jean-Paul Sartre[8] trouxe uma abordagem existencialista à questão da felicidade. Para ele, não existe uma essência pré-determinada para o ser humano; cada indivíduo é livre para criar o seu próprio significado e propósito na vida. Assim, a felicidade está ligada à autenticidade e à liberdade de escolha.

 

4. A Abordagem Hedonista

O hedonismo é uma visão que coloca o prazer como o principal objetivo da vida humana. Filósofos como Jeremy Bentham e John Locke defendiam que a busca pela felicidade envolve a maximização dos prazeres sensoriais e emocionais. No entanto, críticos argumentam que essa abordagem pode levar ao egoísmo e à falta de consideração pelos outros.

 

5. Síntese Filosófica: A Busca Pela Felicidade

Após explorar as diferentes visões filosóficas sobre a felicidade ao longo dos séculos, percebemos que há um consenso em relação à importância da virtude e da realização pessoal para alcançá-la. Os filósofos clássicos destacam a necessidade da prática virtuosa e da contemplação do Bem, enquanto os modernos enfatizam a busca pelo conhecimento próprio e pela realização dos deveres morais.

Além disso, as perspectivas contemporâneas destacam a importância do prazer e do entendimento das limitações humanas na busca pela felicidade. Essas diferentes abordagens nos mostram que o conceito de felicidade é complexo e multifacetado, variando de acordo com as experiências individuais e culturais.

 

6. Na Maçonaria

Precisamos lembrar, que o primado da Maçonaria (além da construção do edifício interior – ver artigo publicado por mim no Blog Espaço do Maçom sob o título “A Busca Interior: O Caminho da Verdade”  https://espacodomacom.blogspot.com/2023/10/a-busca-interior-o-caminho-da-verdade.html ) , temos a obrigação de construir o “edifício exterior”, qual seja “fazer feliz a humanidade”. Em cada abertura de Loj.´., o Mestre Chanc.´. é perguntado sobre o que é a Maçonaria:

“É uma instituição que tem objetivo fazer feliz a Humanidade, pelo

amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela

igualdade e pelo respeito à autoridade e à religião”

Esta resposta traria todos os elementos necessários para atingirmos a felicidade, como indivíduo e como sociedade, senão vejamos:

a)    É um objetivo: significa o fim que se deseja atingir, a meta que se pretende alcançar ou o que é relativo ao objeto, que é concreto e existe independentemente do pensamento. Um objetivo é o que move o indivíduo para tomar alguma decisão ou correr atrás de suas aspirações. Ou seja, todos nossos esforços devem ser voltados a esta meta, aplicando toda nossa existência na busca do mesmo. A vida não é fácil. Existem obstáculos maiores ou menores, que via de regra, nos amolecem o espírito e tentam nos retirar do caminho traçado em busca do objetivo. Mas se o mesmo é claro e está incorporado em nossa existência, logo retomamos o caminho ora abandonado em direção ao que traçamos. Os objetivos desempenham um papel fundamental em nossas vidas, orientando nossas ações e decisões em direção ao que desejamos alcançar. Seja na esfera pessoal ou profissional, a definição de metas claras e alcançáveis é a chave para alcançar o sucesso.  Ter objetivos claros fornece motivação e direção. Quando sabemos o que queremos alcançar, é mais provável que nos esforcemos para atingir nossas metas. Os objetivos nos ajudam a manter o foco, concentrando nossa energia em ações que nos aproximam do sucesso. Eles nos impedem de nós perdermos em distrações e nos incentivam a superar obstáculos e desafios.

b)   Fazendo feliz a Humanidade pelo Amor: Aqui, quando falamos no Amor, não estamos nos referindo nem ao Amor “Eros” (amor apaixonado e romântico), nem ao “Philia” (amizade íntima e autêntica), nem ao “Ludus” (amor lúdico e sedutor), nem ao “Storge” (amor familiar incondicional), nem ao “Philautia” (amor-próprio), nem ao “Pragma” (amor comprometido e companheiro). Quando os Gregos Clássicos se referiam ao Amor Maior, chamavam de “Agápe” que é o amor empático e universal. O Amor desinteressado, fraterno (de “fratellis”) o Amor que de forma egoísta, independe se é correspondido ou não. É o Amor pela humanidade. O Mestre dos Mestres já nos ensinava com seu mandamento (que encerra todos os outros mandamentos); "Um novo mandamento dou a vocês: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros.”[9]. O amor é uma força poderosa que permeia todos os aspectos de nossas vidas. É uma emoção complexa e multifacetada, capaz de trazer alegria, conexão e satisfação a pessoas de todas as idades, culturas e origens. O amor nos ensina empatia e compreensão. Quando amamos alguém, estamos dispostos a ouvir, a nos colocar no lugar do outro e a compreender suas necessidades e desejos. Isso cria uma sociedade mais harmoniosa, pois promove a tolerância, o respeito mútuo e a aceitação das diferenças. Além de seu impacto em nível individual, o amor tem o poder de transformar comunidades e sociedades inteiras. A compaixão e a solidariedade que surgem do amor levam à busca de soluções para problemas sociais, como a pobreza, a discriminação e a desigualdade. Organizações filantrópicas e movimentos sociais (em especial a Maçonaria) muitas vezes são impulsionados pelo desejo de tornar o mundo um lugar melhor, impulsionados pelo amor pela humanidade. O amor é verdadeiramente uma fonte de felicidade universal. Ele enriquece nossas vidas, melhora nossa saúde mental e física, e promove relacionamentos saudáveis e uma sociedade mais empática. À medida que buscamos o amor em nossas vidas, é importante lembrar que ele não é apenas um sentimento, mas uma força que pode moldar nosso mundo para melhor. Portanto, cultivar o amor em nossos relacionamentos, famílias e comunidades é uma das chaves para alcançar a felicidade universal e construir um mundo mais compassivo e harmonioso.

c)  Aperfeiçoamento dos Costumes: Em um mundo em constante evolução, onde as mudanças sociais, culturais e tecnológicas são cada vez mais evidentes, surge a necessidade premente de refletirmos sobre a importância do aperfeiçoamento dos costumes para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e, consequentemente, mais feliz. Os costumes, que são os padrões de comportamento arraigados em nossa cultura, desempenham um papel fundamental na forma como interagimos, nos relacionamos e influenciamos o mundo ao nosso redor. Os costumes são como a cola que mantém os tecidos da sociedade unidos. Eles moldam nossos valores, crenças e a maneira como nos relacionamos com os outros. Desde as normas de cortesia básica até os princípios éticos mais profundos, os costumes desempenham um papel crucial na determinação de como vivemos e convivemos. No entanto, os costumes não são estáticos; eles evoluem com o tempo, refletindo as mudanças nas mentalidades e nas necessidades da sociedade. O aperfeiçoamento dos costumes implica em abandonar práticas discriminatórias, estereótipos prejudiciais e preconceitos enraizados. Ao adotarmos costumes que valorizam a dignidade de todos os indivíduos, independentemente de sua origem étnica, gênero, orientação sexual, religião ou status socioeconômico, estamos pavimentando o caminho para uma sociedade verdadeiramente justa. O aperfeiçoamento dos costumes também está intrinsecamente ligado à promoção da fraternidade e da empatia. Quando os costumes valorizam a compreensão, o respeito mútuo e a solidariedade, a sociedade se torna mais coesa e harmoniosa. A empatia nos permite compreender as experiências dos outros e, assim, trabalhar juntos para superar desafios e alcançar objetivos comuns. Uma sociedade cujos costumes promovem o bem-estar coletivo tende a ser mais feliz. O aperfeiçoamento dos costumes implica em direcionar o foco para a busca de soluções colaborativas em vez de competições predatórias. Isso cria um ambiente onde as pessoas se sentem mais seguras, apoiadas e capacitadas a buscar seus próprios objetivos e sonhos. A transformação dos costumes em direção a uma sociedade mais justa, fraterna e feliz requer educação e diálogo constantes. É crucial que as instituições educacionais, a mídia e as comunidades incentivem a reflexão sobre nossos costumes, questionando práticas ultrapassadas e promovendo valores positivos.

d)   A Igualdade: A igualdade e a equidade são princípios fundamentais que devem nortear o funcionamento de uma sociedade justa e humanitária. Promover a igualdade significa tratar todas as pessoas com respeito, dignidade e justiça, independentemente de suas diferenças. A equidade, por sua vez, implica em proporcionar a cada indivíduo as oportunidades e recursos necessários para alcançar seu potencial máximo. Um dos principais argumentos a favor da promoção da igualdade e da equidade é a redução das disparidades sociais. Em sociedades onde esses princípios são negligenciados, vemos um aumento na desigualdade de renda, educação, acesso a cuidados de saúde e oportunidades econômicas. Isso leva a uma divisão entre os privilegiados e os menos privilegiados, prejudicando o tecido social e gerando tensões e conflitos. Promover a igualdade e a equidade significa garantir que todos tenham acesso igual a oportunidades. Isso implica em eliminar barreiras que prejudicam o acesso a educação de qualidade, emprego digno e cuidados de saúde. Quando todos têm chances iguais de desenvolver seu potencial, a sociedade como um todo se beneficia com um aumento na inovação, na produtividade e na criatividade. A igualdade e a equidade são a base da justiça social. Uma sociedade que valoriza esses princípios busca corrigir desigualdades históricas e estruturais, promovendo a inclusão de grupos marginalizados, como minorias étnicas, LGBTQ+ e pessoas com deficiências. A justiça social não apenas melhora as condições de vida desses grupos, mas também fortalece a coesão social e a estabilidade. Quando a igualdade e a equidade são priorizadas, as sociedades se tornam mais diversas e inclusivas. Isso cria um ambiente onde todas as vozes são ouvidas e valorizadas, independentemente de sua origem, gênero, orientação sexual ou status socioeconômico. A diversidade de perspectivas e experiências enriquece a cultura, impulsiona a criatividade e fortalece a capacidade de resolução de problemas. A promoção da igualdade e da equidade está diretamente ligada ao bem-estar e à felicidade da sociedade como um todo. Quando as pessoas têm igualdade de oportunidades e são tratadas com justiça, elas se sentem mais seguras, valorizadas e realizadas. Isso contribui para uma sociedade mais pacífica, saudável e satisfeita. Enfim, a igualdade e a equidade são os pilares de uma sociedade justa, fraterna e próspera. Promover esses princípios não é apenas um imperativo moral, mas também uma estratégia sensata para o desenvolvimento de qualquer nação. À medida que trabalhamos juntos para eliminar as desigualdades e garantir oportunidades justas para todos, construímos um mundo onde cada indivíduo pode alcançar seu pleno potencial. Esse é o caminho para uma sociedade mais justa, equitativa e verdadeiramente feliz.

e)   Respeito à autoridade: O respeito à autoridade desempenha um papel fundamental na manutenção da ordem e da estabilidade em uma sociedade. Enquanto muitas vezes enfatizamos a importância da igualdade e dos direitos individuais, é igualmente crucial reconhecer que o respeito à autoridade desempenha um papel vital na criação de um ambiente de respeito mútuo, colaboração e harmonia. A autoridade desempenha um papel essencial na manutenção da ordem social. Sem um respeito básico pela autoridade, a sociedade pode cair no caos, com conflitos e desordem se tornando a norma. A autoridade é necessária para estabelecer leis, regulamentos e normas que garantam a segurança, a justiça e a proteção dos direitos de todos os cidadãos. O respeito à autoridade está intrinsecamente ligado à promoção da justiça. As instituições e figuras de autoridade, como o sistema judiciário e o governo, têm a responsabilidade de garantir que a justiça seja aplicada de maneira imparcial e equitativa. Respeitar a autoridade é um reconhecimento de que essas instituições desempenham um papel vital na proteção dos direitos e liberdades individuais. A autoridade desempenha um papel crucial na manutenção da segurança e da proteção dos cidadãos. Isso inclui a aplicação da lei para prevenir crimes e a proteção contra ameaças internas e externas. O respeito à autoridade é fundamental para a cooperação da sociedade na aplicação das leis e políticas que visam proteger a todos. O respeito à autoridade também contribui para a construção de uma sociedade mais justa, onde os direitos e deveres são equitativamente distribuídos. Ao seguir as leis e regulamentos estabelecidos pelas autoridades competentes, os cidadãos contribuem para a igualdade perante a lei e a promoção da justiça. Uma sociedade que respeita a autoridade tende a ser mais estável e, por consequência, mais feliz. A estabilidade é um elemento-chave para a felicidade, pois permite que as pessoas vivam suas vidas com confiança e previsibilidade. Isso cria um ambiente propício para o crescimento econômico, a educação e a busca de objetivos pessoais. O respeito à autoridade também promove um ambiente de respeito mútuo e colaboração. Quando os cidadãos respeitam as autoridades, as autoridades são mais propensas a ouvir e responder às preocupações e necessidades da sociedade. Isso cria um ciclo virtuoso de comunicação e colaboração que beneficia a todos.

f)    Respeito à Religião: A religião desempenha um papel significativo na vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Independentemente das crenças religiosas individuais, é fundamental reconhecer a importância de respeitar a religião como um meio de construir uma sociedade mais justa e feliz. A religião muitas vezes fornece a base para os valores morais que orientam a conduta das pessoas. Os princípios éticos e morais derivados da religião podem ajudar a orientar as ações individuais e coletivas em direção a um comportamento justo e compassivo. Respeitar a religião é reconhecer a importância desses valores na construção de uma sociedade justa. Respeitar a religião é fundamental para promover a tolerância e a diversidade em uma sociedade. O respeito pela fé e pelas crenças dos outros cria um ambiente onde pessoas de diferentes origens religiosas podem coexistir pacificamente. Ao abraçar essa diversidade, as sociedades têm a oportunidade de aprender com as experiências e perspectivas únicas de cada grupo religioso. Muitos conflitos ao redor do mundo têm raízes religiosas, e, por isso, é ainda mais importante promover o respeito às diferentes religiões. Ao fazer isso, podemos contribuir para a promoção da paz e da unidade. O diálogo inter-religioso e o respeito mútuo podem ajudar a resolver conflitos e a construir uma sociedade mais harmoniosa. A religião frequentemente motiva a solidariedade e a ação social. Muitas instituições religiosas desempenham um papel crucial na prestação de assistência a comunidades carentes e na promoção do bem-estar. Respeitar a religião, como faz a Maçonaria, é reconhecer essas contribuições valiosas e apoiar esforços para ajudar os menos privilegiados. A religião muitas vezes fornece um sentido de propósito e significado na vida das pessoas. A busca espiritual e a conexão com uma fé podem contribuir para o bem-estar emocional e a felicidade. O respeito à religião envolve reconhecer a importância dessa busca espiritual na vida das pessoas e apoiar seu direito de praticar sua religião livremente.

 

Conclusão

A busca pela felicidade é um tema central na filosofia ao longo dos séculos. Através das reflexões dos filósofos clássicos e modernos, compreendemos que a felicidade está relacionada à virtude, ao conhecimento de si mesmo, à realização pessoal e ao cumprimento dos deveres morais.

No entanto, apesar das diferentes visões apresentadas pelos filósofos ao longo da história, percebemos que todos concordam sobre a importância de uma vida bem vivida para alcançar a verdadeira felicidade. Portanto, cabe a cada indivíduo refletir sobre suas próprias experiências e escolhas para buscar sua própria definição de felicidade.

 

Referências:

Aristóteles. Ética a Nicômaco.

Epicuro. Carta a Meneceu.

Sartre, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo.

Mill, John Stuart. Utilitarianism.

Bentham, Jeremy. Introduction to the Principles of Morals and Legislation



[1] Viktor Emil Frankl (Viena, 26 de março de 1905 — Viena, 2 de setembro de 1997) foi um neuropsiquiatra austríaco e fundador da terceira escola vienense de psicoterapia, a Logoterapia e Análise Existencial. O doutor Frankl ficou mundialmente conhecido depois de descrever a sua experiência dramática em quatro campos de concentração nazistas, em seu best-seller internacional: Em Busca de Sentido.

[2] Epicuro de Samos (em grego clássico: Ἐπίκουρος, Epikouros, "aliado, camarada"; 341 a.C., Samos — 271 ou 270 a.C., Atenas) foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido em numerosos centros epicuristas que se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.

[3] René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de 1596 – Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650) foi um filósofo, físico e matemático francês.[1] Durante a Idade Moderna, também era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, foi também uma das figuras-chave na Revolução Científica. Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna.[2] Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britânicas um movimento filosófico que, de certa forma, seria o seu oposto - o empirismo, com John Locke e David Hume.

[4] Baruch de Spinoza: mais tarde assinou como autor e correspondente Benedictus de Spinoza (Amsterdam, 24 de novembro de 1632 – Haia, 21 de fevereiro de 1677 foi um filósofo de origem judaico-portuguesa, nascido nos Países Baixos, filho de refugiados na Sinagoga Portuguesa de Amsterdam que tinham fugido da inquisição lusitana. Um dos primeiros pensadores do Iluminismo e da crítica bíblica moderna, incluindo das modernas concepções de si mesmo e do universo, ele veio a ser considerado um dos grandes racionalistas da filosofia do século XVII. Inspirado pelas ideias inovadoras de René Descartes, Spinoza se tornou uma figura filosófica importante da Idade de Ouro Holandesa. O nome de batismo de Spinoza, que significa "Bem-aventurado", varia entre as diferentes línguas. Em hebraico, seu nome completo é escrito ברוך שפינוזה. Na Holanda ele usou o nome português Bento. Em suas obras em latim e holandês, ele usou a forma em latim.

[5] Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 – 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo alemão (nativo do Reino da Prússia) e um dos principais pensadores do Iluminismo. Seus abrangentes e sistemáticos trabalhos em epistemologia, metafísica, ética e estética fizeram dele uma das figuras mais influentes da filosofia ocidental moderna.

 

Em sua doutrina do idealismo transcendental, Kant argumentou que o espaço e o tempo são meras "formas de intuição" que estruturam toda a experiência e que os objetos da experiência são meras "aparências". A natureza das coisas como elas é em si mesmas é incognoscível para nós. Em uma tentativa de contrariar o ceticismo, ele escreveu a Crítica da Razão Pura (1781/1787), sua obra mais conhecida. Kant traçou um paralelo com a revolução copernicana em sua proposta de pensar os objetos dos sentidos em conformidade com nossas formas espaciais e temporais de intuição e as categorias de nosso entendimento, de modo que tenhamos conhecimento a priori desses objetos. Kant acreditava que a razão também é a fonte da moralidade e que a estética surge de uma faculdade de julgamento desinteressado. Ele foi um expoente da ideia de que a paz perpétua poderia ser assegurada por meio da democracia universal e da cooperação internacional, e que talvez este pudesse ser o estágio culminante da história mundial.

[6] John Stuart Mill (Londres, 20 de maio de 1806 – Avignon, 8 de maio de 1873) foi um filósofo, lógico e economista britânico. É considerado por muitos como o filósofo de língua inglesa mais influente do século XIX. É conhecido principalmente pelos seus trabalhos nos campos da filosofia política, ética, economia política e lógica, além de influenciar inúmeros pensadores e áreas do conhecimento. Defendeu o utilitarismo, a teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho, Jeremy Bentham. Além disso, é um dos mais proeminentes e reconhecidos defensores do liberalismo político e do socialismo liberal, sendo seus livros fontes de discussão e inspiração sobre as liberdades individuais ainda nos tempos atuais. Mill chegou a ser membro do Parlamento Britânico, eleito em 1865, tendo defendido principalmente os direitos das mulheres, chegando a apresentar uma petição para estender o sufrágio às mulheres.

[7] Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de setembro de 1860) foi um filósofo alemão do século XIX. Ele é mais conhecido pela sua obra principal "O Mundo como Vontade e Representação" (1819), em que ele caracteriza o mundo fenomenal como o produto de uma cega, insaciável e maligna vontade metafísica. A partir do idealismo transcendental de Immanuel Kant, Schopenhauer desenvolveu um sistema metafísico ateu e ético que tem sido descrito como uma manifestação exemplar de pessimismo filosófico. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã.[1] Foi fortemente influenciado pela leitura das Upanishads, que foram traduzidas pela primeira vez para o latim por Abraham Hyacinthe Anquetil-Duperron, no início do século XIX.

[8] Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de junho de 1905 – Paris, 15 de abril de 1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra. Repeliu as distinções e as funções problemáticas e, por estes motivos, se recusou a receber o Nobel de Literatura de 1964. Sua filosofia dizia que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter uma "essência" que suceda à existência. Ele também é conhecido por seu relacionamento aberto que durou cerca de 51 anos (até sua morte) com a filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir.

[9] João 13:34



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domingo, 9 de julho de 2023

Moral e Ética: Reflexões na Filosofia e na Maçonaria diante da Erosão do Paradigma Moral

Por:

M.´. I.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli

G.´. 33°


Resumo: A moral e a ética são conceitos fundamentais na filosofia e na Maçonaria, desempenhando papéis essenciais na busca pela construção de sociedades justas e virtuosas. No entanto, nos tempos atuais, esses paradigmas morais têm enfrentado desafios significativos, enfrentando uma erosão gradual. Este artigo explora a natureza da moral e da ética, investiga a erosão do paradigma moral em nossa sociedade contemporânea e destaca a abordagem da Maçonaria na promoção da moralidade e da ética.

 

INTRODUÇÃO

A moral e a ética são conceitos intrinsecamente ligados à natureza humana e têm sido objeto de investigação e reflexão na filosofia há séculos. Ambos se referem a um conjunto de princípios e valores que guiam as ações humanas, buscando estabelecer padrões de conduta e comportamento moralmente aceitáveis. A Maçonaria, por sua vez, é uma antiga fraternidade que enfatiza a importância da moralidade e da ética em suas práticas e ensinamentos. No entanto, atualmente, observamos uma erosão gradual desses paradigmas morais em nossa sociedade contemporânea.

A NATUREZA DA MORAL E DA ÉTICA

Para compreendermos a erosão do paradigma moral, é fundamental explorar a natureza da moral e da ética. A moralidade refere-se a um conjunto de valores e princípios que determinam o que é considerado certo e errado em uma determinada cultura ou sociedade. Já a ética é um campo filosófico que busca fundamentar a moralidade, analisando e refletindo sobre as bases racionais que justificam nossos julgamentos morais.

Na filosofia clássica, a ética não se limita a hábitos ou costumes socialmente definidos, comuns, mas busca uma base teórica para encontrar a melhor forma de vida e convivência, ou seja, na vida privada e privada. publicamente; em público. A ética inclui a maioria das áreas do conhecimento não cobertas pela física, metafísica, estética, lógica, dialética ou mesmo retórica. A ética, portanto, abrange os campos atualmente conhecidos como antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia e, às vezes, até ciência política, e até mesmo esportes e dietética. Em suma, esses campos direta ou indiretamente relacionados a fatores que afetam o estilo de vida ou o estilo de vida. estilo de vida. Um exemplo dessa visão clássica da ética pode ser encontrado na Ética de Spinoza. Os filósofos tendem a dividir a teoria ética em três áreas: metaética, ética normativa e ética aplicada.

No entanto, com a crescente especialização e especialização do conhecimento após a Revolução Industrial, a maioria dos campos que eram assuntos filosóficos, especialmente a ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas independentes. Assim, a ética hoje é geralmente definida como "o campo da filosofia que estuda as normas morais da sociedade humana” e tenta explicar e justificar os costumes de grupos particulares de humanos. Subsídios estão disponíveis para resolver seus problemas mais comuns. Nesse sentido, a ética pode ser definida como a ciência que estuda o comportamento humano, enquanto a moralidade é o julgamento da qualidade desse comportamento em termos de bem e mal.


A ética preocupa-se essencialmente com a definição da moralidade, com o questionamento e julgamento de bons e maus valores nas relações humanas (axiologia), uma vez que o seu campo de estudo é esclarecer o que pode ou deve ser um comportamento normativo, se é que existe uma definição possível. Embora a moralidade tenha conotações negativas associadas à observância de costumes e costumes, sua definição essencial é a mesma que moralidade e, ao contrário, visa estabelecer racionalmente uma base para o comportamento moral. Embora a lei seja frequentemente baseada em princípios morais, a moralidade não deve ser confundida com a lei. Ao contrário da lei, nenhum indivíduo pode ser compelido pelo Estado ou por outros indivíduos a obedecer ao código de ética, nem deve ser sujeito a qualquer sanção por violar o código de ética; por outro lado, a lei pode ser omissa sobre questões que se enquadram na esfera da moralidade.

No sentido mais amplo, a palavra "ética" conota o exame dos hábitos humanos e suas características gerais, incluindo até mesmo a descrição ou história dos hábitos humanos em sociedades particulares e em diferentes períodos de tempo. Tal campo de estudo é obviamente muito grande para ser estudado com qualquer ciência ou filosofia em particular. Além disso, se considerarmos o pensamento e a realização artística como hábitos humanos normais e elementos de caráter, então parte desse campo foi ocupado pela história, antropologia e certas ciências naturais particulares, como fisiologia, anatomia e biologia. . A própria ética, no entanto, é limitada a áreas específicas do caráter e do comportamento humano, uma vez que se relacionam com certos princípios - muitas vezes chamados de "princípios morais". As pessoas costumam usar adjetivos como "bom", "ruim", "certo" e "errado" para descrever seu próprio comportamento e o de outras pessoas. A ética estuda precisamente a relação desses adjetivos com o comportamento humano e o significado e alcance de seus significados fundamentais e absolutos.

Erosão do paradigma moral

Nos últimos anos, temos testemunhado uma erosão gradual dos valores e princípios morais em diversas esferas da sociedade. A globalização, os avanços tecnológicos e as transformações culturais têm desafiado os fundamentos morais tradicionais, levando a uma diversidade de visões éticas e morais. Além disso, o individualismo exacerbado, a relativização moral e a influência da mídia também têm contribuído para essa erosão.

Fontes da moralidade

Diante da erosão do paradigma moral, é necessário buscar fontes sólidas para fundamentar a moralidade e a ética. Na filosofia, diferentes teorias éticas oferecem fundamentos morais, como o utilitarismo, o deontologismo e a ética das virtudes. Na Maçonaria, os princípios morais são extraídos de seus rituais, símbolos e ensinamentos, que visam promover a virtude, a fraternidade e a busca pelo aperfeiçoamento individual.

A ABORDAGEM DA MAÇONARIA

A Maçonaria, como uma instituição que busca aprimorar seus membros moralmente, desempenha um papel significativo na preservação dos valores éticos e morais em meio à erosão do paradigma moral contemporâneo. Através de seus rituais iniciáticos, a Maçonaria busca instigar a reflexão sobre os princípios éticos e morais, incentivando seus membros a viverem de acordo com esses ideais.

I. Valores Maçônicos:

A Maçonaria é baseada em uma série de valores essenciais, como a liberdade, a igualdade, a fraternidade e a busca pela verdade. Esses valores fornecem a base moral para as ações dos maçons e são incorporados em suas práticas rituais e em suas interações no mundo profano.

II. Ensinos Morais e Éticos:

A Maçonaria utiliza rituais, símbolos e lições para transmitir ensinamentos morais e éticos aos seus membros. Por meio de cerimônias iniciáticas e graus maçônicos, a fraternidade busca despertar a consciência moral dos indivíduos, incentivando a reflexão sobre questões de virtude, justiça e integridade.

III. Filosofia Moral Maçônica:

A filosofia moral da Maçonaria é baseada em princípios universais, como a prática da caridade, a busca pelo conhecimento e a aplicação da sabedoria no agir. A fraternidade incentiva a virtude e a retidão de caráter, procurando moldar seus membros em indivíduos éticos e responsáveis.

IV. Ética na Ação Maçônica:

Além de transmitir ensinamentos morais e éticos, a Maçonaria procura praticar a ética em suas ações. Através de projetos filantrópicos, a fraternidade busca promover o bem-estar social, ajudando aqueles em necessidade e contribuindo para o progresso da sociedade.

V. Ética Maçônica na Vida Profana:

A Maçonaria incentiva seus membros a aplicarem os princípios morais e éticos aprendidos em suas vidas profanas. A fraternidade enfatiza a importância de ser um exemplo de conduta moral e ética em todas as esferas da vida, promovendo a integração desses valores na vida cotidiana.

Conclusão

A Maçonaria desempenha um papel significativo na promoção dos valores morais e éticos em seus membros, bem como na sociedade como um todo. Através de seus ensinamentos, rituais e práticas, a fraternidade busca despertar a consciência moral e incentivar a prática da ética em todas as esferas da vida. Aprofundar o entendimento sobre os conceitos de moral e ética na Maçonaria pode fornecer insights valiosos sobre como a fraternidade contribui para a construção de uma sociedade mais justa e virtuosa.

Fontes de Consulta

Aqui estão algumas fontes que você pode consultar para obter mais informações sobre moral e ética na filosofia e na Maçonaria:

Livros acadêmicos:

"Ética", de Baruch Spinoza

"Fundamentação da Metafísica dos Costumes", de Immanuel Kant

"Ética a Nicômaco", de Aristóteles

"Moral e Metafísica na Maçonaria", de Reginaldo Rodrigues

Artigos acadêmicos:

"Moral e Ética: Uma Perspectiva Filosófica", de Roger Wertheimer

"Ética e Maçonaria: Uma Investigação Filosófica", de David Stevenson








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