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sábado, 9 de junho de 2012

A Coluna da Harmonia Na Maçonaria - A Música e suas influências simbólicas e filosóficas - PARTE II


Parte II – Aspectos Filosófico-Místico no uso da Harmonia em Loja


Como vimos na parte um deste trabalho, a harmonia maçônica (ou uso de música durante os rituais maçônicos) revestem-se de dois aspectos: O histórico-simbólico e o filosófico-místico. Examinamos a origem do uso da música, nas antigas civilizações, e como esta prática chegou até a maçonaria, possivelmente a partir de influencias múltiplas (não unitárias). Todavia, devemos considerar que a influência mais importante parece ter sido da Escola Pitagórica, já que temos entendimentos comuns entre a forma como usamos a música (e suas finalidades) na maçonaria e na referida Escola.

Precisamos lembrar que Pitágoras usava a música para fortalecer a união entre os seus discípulos, por entender que a música instruía e purificava a sua mente. Em sua Escola, a música era entendida como disciplina moral por atuar como freio aos ímpetos agressivos dos ser humanos[1]. Importante são os conceitos de Harmonia Cósmica que segundo os gregos representava a qualidade de relação, ordenação e organização dessas dimensões inerentes ao "kosmos". Outros conceitos importantes para os gregos clássicos (e que devemos levar em consideração em nosso estudo pela proximidade com o que a maçonaria apregoa) é o princípio de “arque” (o princípio invisível da Unidade) e a “physis” (principio visível da Unidade) ou o UNO, que se torna o “cosmos” ou o Múltiplo, se articulando através de duas dimensões, ordem e caos. De outra forma, a Harmonia (ou música) serviria (fisicamente) para “colocar ordem no caos”. Se isto for correto, nossa intenção em Loja, ritualisticamente, seria colocar ordem no caos, ou seja, reorganizar as energias do templo de forma a harmonizar o ambiente e, com isso, elevar a níveis superiores a nossa consciência e nosso espírito. Traduzindo, regularizando a “Egrégora” da Loja.

Vamos examinar conceitualmente o que é a Egrégora.

Embora seu exato entendimento ainda esteja longe de um consenso, há um ponto comum: Egrégora é energia. Absurdos neste campo foram produzidos (e hoje rechaçados) como observa Robson Rodrigues da Silva em seu livro “Reflexos da Senda Maçônica”[2]. É o caso, por exemplo, de Eliphas Levi[3] que no século XIX produziu um texto dizendo que “As Egrégoras são deuses...As Egrégoras são espíritos motores e criadores de formas. Nascem da respiração de Deus. Deus dorme na Natureza e o mundo é seu sonho. Dormindo, ele inspira e expira. Sua respiração cria Egrégoras, e há Egrégoras da inspiração e Egrégoras da expiração..[4]. Um primor de abstração, em que pese defendermos que na Maçonaria a Verdade é de livre pensamento.

Como disse impossível falar em Egrégora sem haver referência à energia. Mesmo quando fizermos uma abstração esotérica ou ocultista, no fundo o que sentimos e queremos exprimir é um “estado”, uma “sutil força” que nos direciona para o bem estar ou mal estar, ou seja, uma energia “boa” ou “má”. Quantas vezes sentimos isso ao adentrarmos em um ambiente, nos sentimos confortáveis ou desconfortáveis, mesmo que não tenhamos trocado sequer uma palavra com ninguém que esteja no mesmo ambiente. Mais, quantas vezes nos sentimos confortáveis ou desconfortáveis num ambiente, mesmo não tendo ninguém nele? E quando passamos por um lugar fúnebre (como um cemitério), qual o “estado” que recolhemos?. Apesar de sermos mais ou menos sensitivos (uns em relação aos outros), com certeza meu leitor sabe do que estou falando, mesmo que não tenha nunca estudado nada em relação às ciências ocultas.

Pois bem, no mesmo diapasão, mas em direção oposta, já notaram qual a “energia” que “percebemos” quando nos adentramos numa Igreja? E num Templo Maçônico?. Normalmente sentimos uma coisa “boa”, uma “energia positiva”, um “estado de bem-estar” que nos satisfaz. Mas o que seria exatamente este “estado de bem-estar” de “agradável convivência”?. Entendo que é a Egrégora, ou a energia circundante no ambiente que vibra numa determinada frequência que nos faz “estabilizar” a nossa própria energia corporal. Sentimos isto através dos sentidos sutis e, porque não, em nosso espírito. É o que chamamos de Maçonaria Invisível.

Examinemos o que Einstein[5] conclui sobre energia. Segundo o sábio físico (e provou isto) matéria e energia são a mesma coisa. Na realidade são manifestações de uma mesma substância, só se diferenciando pela frequência vibratória de cada uma. Matéria é energia, apenas condensada e tornada visível. Apesar de Einstein nunca ter professado nenhuma religião (era Judeu), e como cientista ter professado mais o método do que o dogma, no final de sua vida em sua obra “Como Vejo o Mundo” no tema religiosidade, procura enfatizar seu ponto de vista do mundo e suas concepções em temas fundamentais à formação do homem, tais como o sentido da vida, o lugar do dinheiro, o fundamento da moral e a liberdade individual. O Estado, a educação, o senso de responsabilidade social, a guerra e a paz, o respeito às minorias, o trabalho, a produção e a distribuição de riquezas, o desarmamento, a convivência pacífica entre as nações são alguns dos temas que ele trata, entre outros.

Interessante é um breve discurso de Albert Einstein:

“O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade e do qual temem o castigo - uma espécie de sentimento exaltado da mesma natureza que os laços do filho com o pai, um ser com quem também estabelecem relações pessoais, por respeitosas que sejam. Mas o sábio, bem convencido, da lei de causalidade de qualquer acontecimento, decifra o futuro e o passado submetidos às mesmas regras de necessidade e determinismo. A moral não lhe suscita problemas com os deuses, mas simplesmente com os homens. Sua religiosidade consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório. Este sentimento desenvolve a regra dominante de sua vida, de sua coragem, na medida em que supera a servidão dos desejos egoístas. Indubitavelmente, este sentimento se compara àquele que animou os espíritos criadores religiosos em todos os tempos”.

Retomando, Egrégora origina-se da palavra grega egregorós que significa vigilante, ou ainda, egregorien que significa vigiar, zelar é como se denomina a entidade criada a partir do coletivo pertencente a uma assembleia.

Segundo as doutrinas que aceitam a existência de egrégoros, estes estão presentes em todas as coletividades, sejam nas mais simples associações, ou mesmo nas assembleias religiosas, gerado pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade.

Assim, todos os agrupamentos humanos possuem seus egrégoros característicos: as empresas, clubes, igrejas, famílias, partidos etc., onde as energias dos indivíduos se unem formando uma entidade (espírito) autônomo e mais poderoso (o egrégoro), capaz de realizar no mundo visível as suas aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade geradora. Em miúdos, um egrégoro participa ativamente de qualquer meio, físico ou abstrato.

Quando a energia é deliberadamente gerada, ela forma um padrão, ou seja, tem a tendência de se manter como está e de influenciar o meio ao seu redor. No mais, os egrégoros são esferas (concentrações) de energia comum. Quando várias pessoas tem um mesmo objetivo comum, sua energia se agrupa e se "arranja" num egrégoro. Esse é um conceito místico-filosófico com vínculos muito próximos à teoria das formas-pensamento, onde todo pensamento e energia gerada têm existência, podendo circular livremente pelo cosmo.

Essa formação se origina por cadeias de pensamento. Partindo da premissa que tudo é composto por “átomos” que são divididos em partículas subatômicas, que o homem sabe existir, seria lógico acreditar que o “pensamento” também pode ser constituído por estas partículas, pois tudo o que existe no Universo é formado por elas. A Física Quântica e mais recentemente a Química Quântica consideram a existência de outras forças no Universo ainda desconhecido pelo homem, mas que agem diretamente sobre ele, e nesse ambiente de convicções e fundamentos científicos, acredita-se na viabilidade da afirmação do “aspecto físico molecular do pensamento” até porque não se conhecem as suas propriedades, mas sim seus efeitos.[6]

Segundo Freud[7], o pensamento sobre si próprio, a construção interior sobre o certo e o errado, configura-se num elemento determinante para a saúde do corpo, e o pensamento agindo diretamente sobre o corpo físico imporá a cura, ou até mesmo a doença, motivo pelo qual é mister conhecer profundamente a força do pensamento.

O pensamento possui uma força real e poderosa que pode condensar a matéria astral solta no ambiente, originando o ser coletivo. As pessoas reunidas num local emitem vibrações idênticas e pensamentos de uma mesma natureza, resultando em um ser verdadeiro que possui vida. A Egrégora acaba recebendo energias e o conhecimento acumulado das pessoas que o formam, passando a ser mais forte que cada um dos membros individualmente. É o que chamamos de força sinérgica do pensamento[8].

O Templo dos Maçons é o berço da Egrégora que uno o corpo presente de todos os Irmãos, sendo o símbolo maior de convergência de seus pensamentos como homens, mas principalmente, como maçons. O maçom precisa estar em segurança (à coberto) e neste instante, começa a brotar em si um sentimento maior, sublime, a mostrar que não é apenas matéria, mas que existe um espírito ligado a uma mente maior, e que pode operar verdadeiras conquistas em seu interior, quando se forma um campo energético que cobre o seu corpo físico, e esse campo energético ou energia vital o une aos demais maçons, formando apenas um único corpo mental, quando a energia mental se funde em pensamentos, em forma de fluxo magnético que circula e atua entre todos os integrantes.

A Harmonia Maçônica, em definitivo, com a aplicação de música adequada a cada fase do ritual, tem por objetivo manter a Egrégora funcionando num fluxo vibratório adequado, mesmo quando cessam as palavras, a circulação e até, os próprios pensamentos.

Para finalizar, devemos considerar que em toda peça musical há três componentes principais: Ritmo, Melodia e Harmonia. O Ritmo liga-se ao Corpo Físico do Homem e influencia a dança e os movimentos. A Melodia liga-se à Alma e induz à emoção e aos sentimentos. A Harmonia conduz à Espiritualidade. Por esse motivo, nos rituais da Maçonaria usamos a música clássica em que predomina a Harmonia sobre a Melodia e o Ritmo[9].

Evite-se música rítmica e compassada nos trabalhos litúrgicos, assim como a música cantada, pois distrai, desvia a atenção, e conduz a pensamentos diversificados e extra templo, ao passo que a música clássica, descompassada, concentra e ajuda a unificar os pensamentos para a constituição da força coletiva que toda Loja possui, pelo conjunto de seus obreiros[10].

É recomendável que se utilize um repertório musical com peças de autores maçônicos, como o foram Mozart, Boieldien, Haydn, Sibelius, Liszt, Cherubini, Carlos Gomes, entre outros.[11]

Bibliografia:
Goulart Jaques, Walnyr – Uma Loja Simbólica REAA;
Da Camino, Rizzardo – O Maçom e a Intuição;
Espósito dos Santos, Amado e outros  - Manual Completo de Lojas Maçônicas;
D´Elia Junior, Raymundo -  Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz;
Queiroz, Álvaro de – Os Símbolos Maçônicos;
Carvalho, Assis – Cargos em Loja;
Guimarães, José Francisco – Aprendiz, Conhecimentos Básicos da Maçonaria
Rodrigues da Silva, Robson – Reflexos da Senda Maçônica;
Dyer, Colin – O Simbolismo na Maçonaria
Wikipédia


[1] - Auto citação - ver Parte I deste trabalho, página 3
[2] - Rodrigues da Silva, Robson – Reflexos da Senda Maçônica Pág. 97
[3] - Eliphas Lévi, nome de baptismo Alphonse Louis Constant, (8 de fevereiro de 1810 - 31 de Maio de 1875) foi um escritor francês, e ocultista. O seu pseudónimo "Eliphas Lévi," sob o qual ele publicava seus livros, resultou de pretender ter neles um pseudónimo de origem hebraica associando-o mais facilmente a outros cabalistas famosos.
[4] - Rodrigues da Silva, Robson – Reflexos da Senda Maçônica Pág. 97 (citação)
[5] - Albert Einstein ([Ulm, 14 de março de 1879 — Princeton, 18 de abril de 1955]) foi um físico teórico alemão radicado nos Estados Unidos. É conhecido por desenvolver a teoria da relatividade. Recebeu o Nobel de Física de 1921, pela correta explicação do efeito fotoelétrico; no entanto, o prémio só foi anunciado em 1922. O seu trabalho teórico possibilitou o desenvolvimento da energia atômica, apesar de não prever tal possibilidade.
[6] - D´Elia Junior, Raymundo – Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz.
[7] - Sigismund Schlomo Freud (Příbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939), mais conhecido como Sigmund Freud, foi um médico neurologista judeu-austríaco, fundador da psicanálise. Freud nasceu em Freiburg, na época pertencente ao Império Austríaco; atualmente a localidade é denominada Příbor, na República Tcheca.
[8] - Sinergia ou sinergismo deriva do grego synergía, cooperação sýn, juntamente com érgon, trabalho. É definida como o efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função. Quando se tem a associação concomitante de vários dispositivos executores de determinadas funções que contribuem para uma ação coordenada, ou seja, o somatório de esforços em prol do mesmo fim, tem-se sinergia. O efeito resultante da ação de vários agentes que atuam de forma coordenada para um objetivo comum pode ter um valor superior ao valor do conjunto desses agentes, se atuassem individualmente sem esse objetivo comum previamente estabelecido. O mesmo que dizer que "o todo supera a soma das partes".
[9] - Espósito dos Santos, Amado e outros – Manual Completo para Lojas Maçônicas.
[10] - Goulart Jaques, Walnyr – Uma Loja Simbólica REEA
[11] - Espósito dos Santos, Amado e outros – Manual Completo para Lojas Maçônicas
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segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Coluna da Harmonia na Maçonaria - A música e suas influências simbólicas e filosóficas. PARTE I


Por  Irm.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)*

Parte I – Conceitos, Aspectos Histórico-simbólico.

Poucos são os estudos acerca da Coluna de Harmonia em uma Loja Maçônica, em que pese a importância da mesma, para o desenvolvimento do Ritual e a manutenção ou a movimentação adequada da Egrégora da Loja.
Neste pequeno trabalho, procuraremos abordar o aspecto histórico-simbólico e, principalmente, o teor filosófico-místico do uso da harmonia (música) em nossos trabalhos especulativos. Não será abordada a questão envolvida no trabalho do Mestre de Harmonia, responsável pela Coluna, já que desse tema outros artigos já foram escritos e se encontram disponíveis na internet ou em alguns Livros, como o do Irm.´. Assis Carvalho (“Cargos em Loja” – Editora A Trolha – 1988).
Antes de tudo, e para nivelar informações, visitamos o Dicionário Aurélio e encontramos que HARMONIA significa a disposição bem ordenada entre as partes de um todo; concordância, consonância ou sucessão agradável de sons; suavidade e sonoridade do estilo; arte de formar e dispor de acordes; acordo; paz e amizade; proporção, ordem e simetria, entre outras definições[1]
A Harmonia Maçônica, neste caso, não se refere a um sentimento ou uma disposição para o equilíbrio sentimental entre os IIr.´., mas o que resulta da aplicação de sons (músicas) nas sessões maçônicas e seus símbolos para a filosofia da Arte Real. Trataremos, mais adiante, dos aspectos filosófico-místicos da aplicação da harmonia em nossas sessões, no que se respeita aos aspectos “invisíveis”, porém sensitivos do uso da música em Templo.
Em música, a Harmonia é o campo que estuda as relações de encadeamento dos sons simultâneos (acordes). Tradicionalmente, obedece a uma série de normas que se originam nos processos composicionais efetivamente praticados pelos compositores da tradição europeia, entre o período do fim da Renascença ao fim do século XIX[2].

Música, por sua vez, (do grego musiké téchne, a arte das musas) é uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e silêncio seguindo uma pré-organização ao longo do tempo.
É considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias. Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada como uma forma de arte, considerada por muitos como sua principal função.

A criação, o desempenho, o significado e até mesmo a definição de música variam de acordo com a cultura e o contexto social. A música vai desde composições fortemente organizadas (e a sua recriação no desempenho), música improvisada até formas aleatórias. 

A música pode ser dividida em gêneros e subgêneros, contudo as linhas divisórias e as relações entre gêneros musicais são muitas vezes sutis, algumas vezes abertas à interpretação individual e ocasionalmente controversas. Dentro das "artes", a música pode ser classificada como uma arte de representação, uma arte sublime, uma arte de espetáculo.
Para indivíduos de muitas culturas, a música está extremamente ligada à sua vida. A música expandiu-se ao longo dos anos, e atualmente se encontra em diversas utilidades não só como arte, mas também como a militar, educacional ou terapêutica (musicoterapia). Além disso, tem presença central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais.

Há evidências de que a música é conhecida e praticada desde a pré-história.
Provavelmente a observação dos sons da natureza tenha despertado no homem, através do sentido auditivo, a necessidade ou vontade de uma atividade que se baseasse na organização de sons. Embora nenhum critério científico permita estabelecer seu desenvolvimento de forma precisa, a história da música confunde-se, com a própria história do desenvolvimento da inteligência e da cultura humana. As civilizações antigas sempre usaram a musica como energizante e harmonizadora, na teoria dos estudiosos. Acreditava-se que seu emprego bom e benéfico, a música desempenhava um papel de mediação entre o céu e a terra, como um canal de comunicação entre o homem e Deus, e uma chave para liberação das energias do Supremo neste plano[3].

A Mitologia Grega nos ensina que as Musas (de onde provêm a palavra música), deusas protetoras das Artes e das Ciências, eram nove irmãs. A mais bela, porém, era Euterpe[4] inspiradora das Artes Sonoras. Na tradição Cristã, a Padroeira dos músicos é Santa Cecília[5]
O conceito de Harmonia como o conhecemos hoje surge, indubitavelmente, com os gregos, especificamente em Pitágoras, mas também em Heráclito, Nicômaco e Platão, dentre outros. Tanto Platão como Aristóteles discutem os efeitos morais da música em suas várias obras. Resgatar essa origem é importante porque é o conceito grego antigo que permeia a noção de Harmonia tal como ela foi compreendida pela tradição musical europeia, em sua práxis e teoria. Para os gregos a "arkhé" (princípio invisível da unidade) e a "phýsis" (princípio visível da unidade) - o Uno, se torna o "kosmos" - o Múltiplo, se articulando através de duas dimensões, ordem e caos. Esse jogo dos opostos é a fonte da Harmonia Cósmica, dado que ela, a Harmonia, representa a qualidade de relação, ordenação e organização dessas dimensões inerentes ao "kosmos". Pitágoras usava a música para fortalecer a união entre os seus discípulos, por entender que a música instruía e purificava a sua mente. Em sua Escola, a música era entendida como disciplina moral por atuar como freio aos ímpetos agressivos dos ser humanos (não é diferente do conceito utilizado na Maçonaria, pressupondo-se assim que há influencia direta da Escola Pitagórica neste sentido). A partir da descoberta tradicionalmente creditada a Pitágoras da relação matemática dos intervalos musicais, a harmonia (e a música como sua principal manifestação) passou a ser considerada como o princípio que organizava a transição do número absoluto, a Unidade, para os números diversos, a Multiplicidade, através da concordância entre os princípios opostos de ordem e caos. É dai que surge o conceito de Harmonia das Esferas, tão característico dos pitagóricos. E este pensamento pode ser rastreado claramente nas praticas composicionais e teóricas da Harmonia europeia. Quando Riemann[6], na definição citada acima, diz "leis" e "logicamente racional", ele reflete claramente essa cosmovisão grega, ainda que possa estar desprovida de seu caráter metafísico mais evidente. Harmonia na visão grega seria a qualidade cósmica que daria ordem e sentido ao jogo entre o caos, as dissonâncias, e a ordem, as consonâncias, vencendo sempre e afirmando-se necessariamente, a ordem ou consonância. Quando começamos a entender a harmonia na sua dimensão técnica e "artesanal", tal como na teoria de Riemann, não podemos nos esquecer de que toda a sua construção reflete esse modo antigo de pensamento, que dá um caráter natural e necessário as construções e normas harmônicas. Arnold Schoenberg[7] foi o primeiro a contestar essa visão de "legal" e "logicamente racional", para ver a Harmonia (enquanto teoria) mais como um compêndio das praticas dos compositores históricos (mas mesmo ele acaba cedendo ao caráter cósmico da ordem harmônica quando postula a conquista dos materiais da série harmônica pela estruturação histórica dos acordes. A diferença nesse caso é sua contestação do principio cósmico da dualidade e sua resolução ao princípio do Um (phýsis) ou série harmônica como repositório de todas as possibilidades harmônicas. Desse modo haveria para Schoenberg apenas "phýsis", sendo que a ordem e caos eram apenas definíveis historicamente e não ontologicamente) [8].

Está historicamente mais do que claro (constam nas Escrituras), que no Templo de Salomão e, anteriormente, na Tenda do Rei Davi, para as cerimônias de Louvor, eram tocados vários instrumentos e, por determinação de Davi, o cântico, seja isolado ou em coral, era acompanhado de música[9]. Ainda alude São Paulo sobre um instrumento musical confeccionado em bronze; é de se supor que esse instrumento seria equiparado a um “sino”, instrumento de percussão de fácil manejo. Também é de se supor que esses sinos se contavam às dezenas, se não milhares[10].
Imaginemos apenas, se todos esses instrumentos fossem acionados ao mesmo tempo, pode-se imaginar a intensidade que ecoaria nos templos. Apesar de as Escrituras não relacionar ou referir o uso desses instrumentos com relação ao Templo de Zorobabel e de Herodes[11], não duvidamos, seguindo a tradição hebraica, que a manifestação musical seria sobejamente empregada.

Conhecido é o amor que Salomão dedicava a Jeová, deveriam refletir-se também nos cânticos de louvores, e é muito provável, que a tradição continuou como mostra o Velho Testamento[12].
Mas como pode ter chegado a música, ou a harmonia, na Maçonaria?
Nos primórdios da Maçonaria Especulativa quando os maçons se reuniam em Tabernas, na Inglaterra, não há registro de que se se utiliza fundo musical nas Sessões, mas pode se supor com razoável assertividade que em se tratando de tabernas, deveria haver a disposição algum músico ou cantor, como era comum acontecer naquele então.
A Maçonaria das Tabernas tinha o significado de “encontros dos Irmãos” pois o vocábulo “Taberna” significa “abrigo” ou “oficina[13], ou ainda, mais genericamente, “encontro dos amigos”. É evidente, no dizer de Da Camino, que pelo fato da Maçonaria encontrar-se incipiente, as Tabernas que as acolhiam não apresentavam nenhuma sinalização específica, porém o “Cisne e a Harpa” poderiam ter significado para a Ordem. É de se supor que componentes da “Compagnie des Musiciens” fossem “Free-Massons”, e isso sugere que a harmonia musical, desde o início, fazia parte do cerimonial maçônico.
Existem muitos textos informativos sobre eruditos maçons que, tanto pelo canto quanto pela música, se destacaram na sociedade, sendo eles Maçons, isso nos conduz, não como suposição, mas como certeza, que naquelas reuniões em tabernas existiam lapsos musicais.
Na verdade alguns expoentes da Renascença (até meados de 1700) e, posteriormente no período clássico (1800 a 1900) nos legaram uma série de músicas específicas para uso em Loja, como é o caso de Wolfgang Amadeus Mozart[14]. Mozart escreveu muitas músicas para a Maçonaria que são conhecidas em alemão como “Die Freimaurermusick”. Antes da iniciação e com 11 anos já musicou o poema maçônico An die Freude. A sua maior obra maçônica é a “ Flauta Mágica”, obra repleta de símbolos do ritual maçônico e o seu “Requiem”[15].
Ainda há dezenas de outros autores clássicos maçons, como podemos identificar no excelente livro de Gerard Gefen, “Lês Musiciens et la Franc-Maçonnerie”, autores estes dos séculos XVI e XVIII.
Por tudo isto, podemos concluir que a harmonia ou a música, tem acompanhado as nossas Sessões desde a Maçonaria Operativa e tendo passado para o desenvolvimento dos trabalhos já na Especulativa até nossos dias. Examinaremos na Parte II deste trabalho, as razões filosófico-místicas do uso sonoro em nossas Lojas.
Antes de fecharmos este capítulo, precisamos dizer que a Joia do Mestre de Harmonia é a Lira, instrumento de cordas dos mais antigos que se tem notícia, hoje em desuso, mas continua sendo o símbolo da Música universal.
Segundo Roger Cotté (citado por Walnyr Jaques), ainda que em desuso, este instrumento musical de cordas é o mais carregado de simbolismo. Relato mitológico assevera que a Lira se deve à invenção de Hermes (mercúrio). Tendo furtado os bois de Apolo, ele cobriu com a pele de um deles e carapaça de uma tartaruga, fixou um par de chifres e estendeu algumas cordas sobre a caixa de ressonância. Os chifres foram depois substituídos por montagens de madeira. A Lira de hoje é considerada o símbolo da música e da poesia. No início , montada somente de três cordas, porque exprimia o valor do ternário e do triângulo.
Na Parte II deste trabalho, passaremos a estudar a influência filosófico-mística do uso da Harmonia Maçônica e a formação da Egrégora.
*É M.´.I.´. da Loj.´. Simb.´. Palmares do Sul nº 213 no RS juridicionada à G.´.L.´.M.´.R.´.S.´., Gr.´. 14°, membro da Loj.´. de Estudos e Pesquisas Acácia do Litoral. Publicou mais de 50 artigos sobre Maçonaria.

 Maio 2012

Bibliografia:

Goulart Jaques, Walnyr – Uma Loja Simbólica REAA;
Da Camino, Rizzardo – O Maçom e a Intuição;

Espósito dos Santos, Amado e outros  - Manual Completo de Lojas Maçônicas;
D´Elia Junior, Raymundo -  Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz;

Queiroz, Álvaro de – Os Símbolos Maçônicos;
Carvalho, Assis – Cargos em Loja;

Guimarães, José Francisco – Aprendiz, Conhecimentos Básicos da Maçonaria.



[1] - D´Elia Junior, Raymundo - Maçonaria 100 instruções de Aprendiz
[2] - Wikipédia - Harmonia
[3] - Goulart, Jaques – Uma Loja Simbólica REAA;
[4] - Euterpe, a Doadora de Prazeres foi uma das nove musas da mitologia grega, as filhas de Zeus e Mnemósine, filha de Oceano e Tétis. Era a musa da Música. No final do período clássico, foi nomeada a musa da poesia lírica e usava uma flauta. Alguns consideram que tenha inventado a aulos ou flauta-dupla, mas a maioria dos mitólogos dá crédito a Marsyas.
[5] - Espósito dos Santos, Amado e outros – Manual Completo para Lojas Maçônicas.
[6] - Karl Wilhelm Julius Hugo Riemann (18 de julho de 1849, GroßMehlra próximo à Sondershausen – 10 de Julho de 1919, Leipzig) foi um musicólogo, historiador da música e pedagogo musical alemão.
[7] - Arnold Franz Walter Schönberg, ou Schoenberg, (Viena, 13 de setembro de 1874 — Los Angeles, 13 de julho de 1951) foi um compositor austríaco de música erudita e criador do dodecafonismo, um dos mais revolucionários e influentes estilos de composição do século XX.
[8] - Wikipédia - Harmonia
[9] - Da Camino, Rizzardo – O Maçom e a Intuição
[10] - Idem
[11] - Lembrar que o Templo de Zorobabel e de Herodes foram uma reconstrução sucessiva à destruição do Templo original de Salomão. Para maiores informações ler Kevin L. Gest “Os Segredos do Templo de Salomão”.
[12] Ver por exemplo: I Crônicas 15:19 ao 24
[13] - Wikipédia
[14] - Wolfgang Amadeus Mozart, batizado Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart; Salzburgo, 27 de janeiro de 1756 – Viena, 5 de dezembro de 1791) foi um prolífico e influente compositor austríaco do período clássico. Teria iniciado na Maçonaria em Setembro de 1784.
[15] A Música Maçônica de Mozart – pesquisado na Internet
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domingo, 26 de outubro de 2008

Coluna da Harmonia

PEÇA DE ARQUITETURA

Esta é a única Coluna de uma Loja Maçônica constituída por um só Irmão, o Mestre de Harmonia. No passado, a Coluna da Harmonia era composta pelo conjunto dos Irmãos músicos que contribuíam para o brilhantismo dos rituais e dos festejos maçônicos. Com o avanço tecnológico, os músicos foram substituídos pelos aparelhos eletrônicos, operados pelo Mestre de Harmonia.

Em seu sentido mais amplo, a Harmonia é a ciência da combinação dos sons, formando os acordes musicais. A palavra grega MOUSIKE significa não apenas música, mas também todas as formas de expressão que tenham por finalidade a criação da Beleza.

Pitágoras usava a música para fortalecer a união entre os seus discípulos, por entender que a música instruía e purificava a sua mente. Em sua Escola, a música era entendida como disciplina moral por atuar como freio aos ímpetos agressivos dos seres humanos.

O aprendizado empírico, revelado através dos sentidos, pode ser conseguido não só pela contemplação das belas formas e da beleza das figuras que nos rodeiam, mas também pela audição de ritmos e de melodias que acalmam os ímpetos e as paixões. Deste modo, angústia, anseios frustrados, agressões verbais, stress mental, podem ser eliminados pela audição de músicas suaves e agradáveis.

Em uma reunião maçônica deve-se tocar a música que melhor traduza os sentimentos dos Irmãos em cada momento do ritual.

Muitos compositores, nossos Irmãos, produziram belas músicas que merecem - e devem - ser ouvidas em nossos Templos. Entre essa plêiade, podemos citar: Mozart, Beethoven, Haendel, Sibelius, Franz Lizt, John Philipp Souza (de ascendência portuguesa), Luigi Cherubini, Antonio Salieri, Carlos Gomes (brasileiro), etc.

As primeiras composições maçônicas datam de 1723 e foram publicadas junto com a primeira Constituição de Grande Loja de Londres; São elas:
A Canção dos Aprendizes - Matthew Birkhead

A Canção dos Companheiros - Charles Delafaye

A Canção do Vigilante - James Anderson

A Canção do Mestre - James Anderson

Esta última, publicada em 1738 juntamente com a segunda edição das Constituições de Anderson.

No Brasil, foram compostas as seguintes obras:

Hymno do REAA - M.A . Silveira Neto e Jeronimo Pires Missel

Hino Maçons Avante - Jorge Buarque Lira e Mário Vicente Lima

Hino Maçônico - D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal)

Canto Ritualístico Maçônico - Francisco Sabetta e José Bento Abatayguara

Hino Maçonico para Abertura e Fechamento dos Trabalhos - Otaviano Bastos

A Acácia Amarela - Luiz Gonzaga (o rei do baião)

Além destas, existem também composições maçônicas para os Rituais de Iniciação, de Elevação e de Exaltação, de Reconhecimento Conjugal e de Pompas Fúnebres.

Tendo em vista o caráter universalista da nossa Ordem, o Mestre de Harmonia não deve programar a execução de música religiosa de nenhum tipo. Deste modo será evitado o constrangimento que um Irmão não católico poderá sentir ao ouvir, por exemplo, a Avé Maria de Gounod. Solos de música cantada também devem ser evitados. A música coral, como por exemplo o Hino Maçônico de D. Pedro I ou a Ode à Alegria, de Beethoven, poderá ser programada sem problemas, mas, na maioria das vezes, a música mais indicada é sempre a instrumental.

O Mestre de Harmonia previamente preparará o programa a ser executado, de acordo com o tipo de reunião e de acordo com o Ritual. Em uma Iniciação, no Rito Escocês Antigo e Aceito, podem ser destacados os seguintes momentos especiais, para os quais será programada uma música específica, que listamos a título de exemplo:

Entrada dos Candidatos - “A Criação” de Haydn - trechos que descrevem a passagem do Mundo do Caos para a Ordem e das Trevas para a Luz (Ordo ab Chao)

Oração ao GADU - “Cravo Bem Temperado” - Bach - Melodia que convida à concentração e à meditação

Taça Sagrada - “A Criação” - Trechos da abertura do Oratório que simbolizam a purificação e a ilusão profana

A Primeira Viagem - “Tempestade e Chuva” - Efeitos sonoros com ruídos de chuva, ventania e trovões. Coleção Action! Câmera! Music! Gravação do Reader’s Digest – Distribuição da Borges & Damasceno

A Segunda Viagem - “A Vitória de Wellington” - Beethoven - Adequada para acompanhar o toque “descompassado das espadas”.

Purificação Pela Água - “Música Aquática” - Haendel - música cujos efeitos sonoros acentuam o significado do evento

Terceira Viagem - “Romance Para Violino nº 2” - Beethoven - Melodia que transmite a suavidade emocional do evento.

Purificação pelo Fogo - “As Walquírias - Wagner - Cena do Fogo Mágico que reforça o sentido dramático do ritual.

Tronco de Beneficência - “Pannis Angelicus” - Cesar Frank - marca o profundo significado da solidariedade.

Juramento - “Prelúdio nº 1 em dó maior do Cravo Bem Temperado” - Bach - adequada para a meditação e que marca a solenidade do momento ritual.

LUZ - “Assim Falou Zaratustra” - Strauss - Parte inicial do poema sinfônico que descreve o nascer do sol e o sentimento do poder de Deus sobre o homem. Aumenta o deslumbramento do momento culminante da Iniciação

Abraço do Venerável - “Marcha Festiva” - Grieg - ( Suite Sigurd Jorsalfar - Opus 56 ).

Entrada dos Neófitos - “Glória aos Iniciados” (Coro final da Ópera a Flauta Mágica, de Mozart) - Coro de Graças a Ísis e Osíris, e de congratulações aos Iniciados, que pela sua coragem conquistaram o direito à Beleza e à Sabedoria

Proclamações - “Ode à Alegria” - Beethoven - Excerto Orquestral da Nona Sinfonia - deve ser tocada após cada uma das Proclamações. É um hino que traduz a alegria dos Irmãos ao receber os recém Iniciados.

Uma Sessão Econômica, por exemplo, não pode prescindir de dois ou três bons programas para a Harmonia, previamente programados. Isto permitirá variar as músicas executadas, evitando a monotonia da repetição.

A escolha de uma música para uma reunião maçônica exige do Mestre de Harmonia um mínimo de cultura musical, além da necessária sensibilidade para interpretar o significado de cada passagem do Ritual. Repetimos, a música deve estar em perfeita sintonia com cada momento da ritualística, induzindo nos Irmãos presentes a purificação de suas mentes, deixando-os tranqüilos e predispostos à emissão de sentimentos de amor e de fraternidade.

A música promove a exaltação das faculdades intelectuais e espirituais do ser humano. Ela atinge e aperfeiçoa a sensibilidade dos Irmãos, permitindo que eles vibrem em sintonia com os acordes da Harmonia Universal cujas leis tudo governam, e pelas quais a Maçonaria busca o aprimoramento moral e espiritual da Humanidade.

Fonte:

ANTÓNIO ROCHA FADISTAM.'.I.'., Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB – Brasil

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