Por MI Luis Genaro Ladereche Fígoli
Grau 33°
REAA
Resumo: Este artigo busca explorar a
presença e o significado das virtudes teológicas dentro da Maçonaria, uma
sociedade fraternal que remonta a séculos de tradição e mistério. As virtudes
teológicas - Fé, Esperança e Caridade - são conceitos centrais em várias
tradições religiosas (em especial da Igreja Católica), e a sua interpretação na
Maçonaria reflete a rica herança filosófica que permeia essa organização.
Introdução:
A Maçonaria é conhecida por suas tradições ritualísticas e
valores éticos que remontam aos tempos antigos. Entre esses valores, as
virtudes teológicas têm um papel central na formação da perspectiva maçônica
sobre a moralidade e a espiritualidade. A base filosófica da Maçonaria
incorpora elementos de várias tradições religiosas, e as virtudes teológicas
desempenham um papel crucial na orientação dos membros da Maçonaria em sua
busca por autoaperfeiçoamento e serviço à humanidade.
Não há dúvida que a Maçonaria sofreu grandes influências de
várias religiões e pensamentos filosóficos. De forma eclética, foi incorporando
princípios morais e éticos, dogmas, símbolos e interpretações que marcaram
várias sociedades ao longo de milênios. De todas as sociedades às quais a
Maçonaria sofreu influência, a civilização Hebraica e seu livro sagrado
(Bíblia) foi a que mais imprimiu marcas na formação da Ordem. Talvez em função
da importância da Igreja Católica na época de sua formação como Ordem organizada
e multinacional (lembrando que as sessões das Lojas ocorriam dentro dos átrios
das grandes Catedrais da Europa), foi incorporando conceitos que se fusionaram
na estrutura de sua filosofia. É o caso das Virtudes Cardeais: elas estão
presentes no ”Compêndio do Catecismo da Igreja Católica”[1], onde as virtudes
teologais "têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus.
São infundidas no homem com a graça santificante, tornam-nos capazes de viver
em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão,
vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da ação do
Espírito Santo nas faculdades do ser humano".
No excerto bíblico 1ª Coríntios 13:13, apresenta-nos a
seguinte citação: "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor,
estes três, mas o maior destes é o amor". Num outro excerto bíblico
"Gálatas 5:6", cita o seguinte: "a Fé atua pelo amor".
As virtudes teologais existem como complemento às virtudes
cardinais e são três:
Fé: através dela, os
cristãos creem em Deus, nas suas verdades reveladas e nos ensinamentos da
Igreja, visto que Deus é a própria Verdade. Pela fé, "o homem
entrega-se a Deus livremente. Por isso, o crente procura conhecer e fazer a
vontade de Deus, porque «a fé opera pela caridade» (Gal 5,6)".
Esperança: por meio dela,
os crentes, por ajuda da graça do Espírito Santo, esperam a vida eterna e o
Reino de Deus, colocando a sua confiança perseverante nas promessas de Cristo.
Caridade (ou amor): por
meio dela, "amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós
mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da
lei". Para os Católicos, a caridade é «o vínculo da perfeição» (Col
3,14), logo a mais importante e o fundamento das virtudes. O Amor é também
visto como uma "dádiva de si mesmo" e "o oposto de
usar".[2]
Na Maçonaria
Encontramos as Virtudes Cardeais nas primeiras Instr.´. do
Gr.´. de A.´. M.´.. Há no Rit.´. do Gr.´. uma explicação detalhada das
Virtudes, que não são as únicas (também existem as Cardeais) mas são as
primeiras que o A.´.M.´. têm acesso e explicação. A razão é óbvia: nelas se
resume todo o processo de crescimento do Maçom, crescimento este representado
pela “Escada de Jacó”[3], um dos principais
Símbolos do Pain.´. do Gr.´. de A.´. M.´. (ver figura). De forma geral, a volta
à Luz Primordial, ao Paraíso, se dá através da prática permanente da Virtude,
representada, em sua expressão máxima pela Fé, pela Esperança e pelo Amor Ágape
(Caridade).
1.
Fé: Uma Fundamentação Espiritual:
A virtude da Fé na Maçonaria não está limitada a uma única
tradição religiosa. Ao contrário, ela abrange a crença em algo maior do que o
eu individual, seja essa crença expressa em termos religiosos tradicionais ou
em uma força cósmica universal. A busca pela verdade e a compreensão do papel
do homem no cosmos são aspectos centrais dessa virtude, influenciando os
rituais e ensinamentos maçônicos.
"A fé é o fundamento das coisas que se esperam e a
prova das coisas que não se veem." - Epístola aos Hebreus, Bíblia
Sagrada.
Fé na Maçonaria: Uma Jornada Além das Fronteiras
Religiosas
A virtude da Fé na Maçonaria transcende as barreiras dogmáticas
e se estende a um entendimento mais amplo e inclusivo. Dentro do contexto
maçônico, a Fé não é simplesmente a adesão a um conjunto específico de crenças
religiosas, mas uma jornada individual em direção ao entendimento do divino,
seja este concebido como um ser supremo, força cósmica ou princípio
transcendental.
a. Busca pela Verdade Interior: Na Maçonaria, a Fé é
frequentemente associada à busca incessante pela verdade interior. Os rituais
maçônicos são projetados para incentivar a reflexão pessoal e a exploração das
crenças individuais em relação ao divino e ao propósito da existência. A crença
na existência de verdades transcendentais e universais é fundamental para a
formação da perspectiva maçônica sobre a espiritualidade.
"Conhece-te a ti mesmo." - Inscrição no
Templo de Apolo em Delfos.
b. Unidade na Diversidade Religiosa: A Maçonaria, ao
aceitar membros de diversas tradições religiosas, promove a ideia de que a Fé
não precisa ser uniforme para ser valiosa. Em uma loja maçônica, cristãos,
muçulmanos, judeus e membros de outras religiões compartilham espaços sagrados,
reconhecendo a importância da busca comum por algo além do tangível. A Fé na
Maçonaria é, assim, uma força unificadora que transcende as divisões
religiosas.
"A Maçonaria não é uma religião. Ela exige que você
acredite em Deus e ensina que a maneira como você escolhe adorar a Deus é uma
questão de consciência individual." - Albert Pike, líder maçônico.
c. Simbolismo Maçônico: Os rituais e símbolos
maçônicos desempenham um papel crucial na expressão da Fé. A abertura dos
trabalhos maçônicos com a invocação ao "Grande Arquiteto do Universo"
reflete a compreensão maçônica de uma divindade universal que transcende as concepções
religiosas específicas. A utilização de ferramentas de construção, como o
esquadro e o compasso, simboliza a busca por uma vida reta e a construção de
uma base ética e espiritual sólida.
"Nada existe de mais espiritual que o simbolismo. É
a linguagem primitiva e universal." - Albert Mackey, maçom e escritor.
2.
Esperança: A Luz no Caminho:
A Esperança na Maçonaria é frequentemente simbolizada pela
luz, que guia os maçons em sua jornada espiritual e moral. Esta virtude inspira
os membros a olhar para o futuro com otimismo e a trabalhar para a construção
de uma sociedade mais justa e compassiva. A ênfase na esperança na Maçonaria
também está associada à busca contínua por conhecimento e iluminação.
"A Esperança na Maçonaria: A Luz que Guia
a Jornada Espiritual
A virtude da Esperança na Maçonaria é simbolizada pela
luz que ilumina o caminho do maçom em sua jornada espiritual e moral. Vinculada
à busca constante por conhecimento e iluminação, a Esperança na Maçonaria vai
além de uma mera expectativa otimista; ela representa um compromisso ativo com
a evolução pessoal e a construção de um futuro mais justo e compassivo.
a. A Luz como Símbolo de Esperança: A
utilização simbólica da luz na Maçonaria tem raízes profundas em seus rituais e
ensinamentos. A abertura e o encerramento dos trabalhos maçônicos envolvem a
manipulação da luz como uma representação da busca pela verdade e da superação
das trevas da ignorância. A luz maçônica é, portanto, um símbolo de esperança
que guia os maçons em direção ao entendimento mais profundo de si mesmos e do
universo.
"A esperança é como o sol, que lança as sombras de
nossas preocupações para trás de nós." - Samuel Smiles, escritor escocês.
b. Busca por Iluminação Pessoal: A
Esperança na Maçonaria está intrinsecamente ligada à busca por iluminação
pessoal. Os rituais e símbolos maçônicos enfatizam a importância de adquirir
conhecimento, desenvolver virtudes e trabalhar para a construção de uma
sociedade mais justa. A Esperança impulsiona o maçom a perseguir a verdade e a
sabedoria, iluminando assim não apenas o seu próprio caminho, mas também
contribuindo para a iluminação da sociedade como um todo.
"A sabedoria é a luz que ilumina o caminho da
esperança." - William Arthur Ward, escritor americano.
c. Contribuição para um Futuro Melhor: A
Esperança na Maçonaria vai além do âmbito pessoal e se estende à missão
coletiva de construir um futuro mais promissor. Os valores maçônicos, ancorados
na esperança, inspiram ações benevolentes e o compromisso com o serviço à
humanidade. A filantropia maçônica e os esforços para aliviar o sofrimento
humano refletem o desejo de construir um legado de bondade e compaixão para as
gerações futuras.
"Esperança é a coisa com penas que pousa na
alma." - Emily Dickinson, poetisa americana.
A Esperança na Maçonaria é mais do que uma expectativa
passiva; é uma força ativa que impulsiona os maçons a buscarem a luz da verdade
e a contribuírem para um mundo melhor. Essa virtude, simbolizada pela luz
maçônica, guia não apenas a jornada individual do maçom, mas também orienta a
Maçonaria como uma força benevolente que trabalha para a construção de um
futuro mais luminoso, baseado na sabedoria, compaixão e justiça.
3.
Caridade: A Prática da Solidariedade:
A Caridade na Maçonaria vai além da simples doação material;
ela representa a prática do amor fraternal e a busca ativa pelo bem-estar dos
outros. A filantropia maçônica é uma extensão da Caridade, demonstrando o
compromisso da Maçonaria com o alívio do sofrimento humano e o auxílio aos
necessitados.
"A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa,
não é arrogante." - 1 Coríntios 13:4, Bíblia Sagrada.
Caridade na Maçonaria: Além da Doação Material, uma
Expressão do Amor Fraternal
A virtude da Caridade na Maçonaria vai além da simples
doação material e está profundamente enraizada no conceito do amor fraternal.
Ela representa a prática ativa de cuidar do bem-estar dos outros, demonstrando
compaixão e solidariedade. A abordagem maçônica da Caridade envolve não apenas
aliviar o sofrimento material, mas também promover a harmonia e a justiça na
sociedade.
a. Amor Fraternal como Base da Caridade: Na
Maçonaria, a Caridade é intrinsecamente ligada ao conceito de amor fraternal
entre os membros. A ideia de que todos os seres humanos são irmãos e irmãs,
independentemente de origem, religião ou posição social, é central para a
prática da Caridade maçônica. Esta virtude é expressa através de gestos
altruístas e da disposição de ajudar aqueles que enfrentam dificuldades.
"A caridade começa em casa, mas não termina
lá." - Thomas Fuller, escritor inglês.
b. Filantropia Maçônica: A Caridade na Maçonaria se
manifesta através de atividades filantrópicas que visam não apenas atender às
necessidades materiais imediatas, mas também promover mudanças duradouras na
vida das pessoas. A Maçonaria é conhecida por suas contribuições para instituições
de caridade, hospitais e programas educacionais, refletindo o compromisso de
seus membros com a construção de comunidades mais fortes e compassivas.
"Nenhum ato de bondade, por menor que seja, é
desperdiçado." - Esopo, fabulista grego.
c. Justiça Social e Caridade Maçônica: A Caridade na
Maçonaria está conectada à busca por justiça social. Os maçons, ao praticarem a
Caridade, não apenas fornecem ajuda imediata, mas também trabalham para abordar
as causas subjacentes da injustiça e da desigualdade. Esforços para promover a igualdade
de oportunidades, a educação e a justiça são vistos como extensões naturais da
prática maçônica da Caridade.
"A caridade é injuriosa quando fere aquele que a pratica."
- Ralph Waldo Emerson, filósofo americano.
A Caridade na Maçonaria é uma expressão do compromisso
maçônico com o amor fraternal e a melhoria da condição humana. Vai além da mera
doação material, envolvendo a promoção ativa da justiça social e o alívio do
sofrimento humano. A Maçonaria, ao praticar a Caridade, busca não apenas
oferecer ajuda imediata, mas também criar um impacto duradouro na construção de
uma sociedade mais justa, compassiva e solidária.
Em suma, presença e a interpretação das virtudes
teológicas na Maçonaria evidenciam a sua natureza inclusiva, que transcende
fronteiras religiosas específicas. A Fé, Esperança e Caridade na Maçonaria
servem como alicerces éticos que orientam os maçons em sua busca pela verdade,
iluminação e serviço à humanidade. Essas virtudes continuam a desempenhar um
papel vital na formação do caráter maçônico e na contribuição da Maçonaria para
o desenvolvimento espiritual e ético dos seus membros.
Referências Bibliográficas:
- Pike,
Albert. (1871). "Morals and Dogma of the Ancient and Accepted
Scottish Rite of Freemasonry." Charleston: Supreme Council of the
Southern Jurisdiction.
- Mackey,
Albert G. (1878). "Encyclopedia of Freemasonry and Its Kindred
Sciences." Philadelphia: L.H. Everts & Co.
- Coil,
Henry Wilson. (1961). "Coil's Masonic Encyclopedia." Richmond,
Virginia: Macoy Publishing & Masonic Supply Co.
- Robinson,
John J. (1989). "Born in Blood: The Lost Secrets of
Freemasonry." New York: M. Evans and Company, Inc.
- Stevenson,
David. (1988). "The Origins of Freemasonry: Scotland's Century,
1590-1710." Cambridge: Cambridge University Press.
- Roberts,
Allen E. (1979). "The Craft and Its Symbols: Opening the Door to
Masonic Symbolism." Richmond, Virginia: Macoy Publishing &
Masonic Supply Co.
- Waite,
Arthur Edward. (2003). "A New Encyclopaedia of Freemasonry." New
York: Cosimo Classics.
- Bíblia
Sagrada.
- Ritual do A.´. M.´. do REAA
[1]
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica é um resumo do Catecismo da Igreja
Católica, sob a forma de perguntas e respostas, publicado pela Igreja Católica
em 2005, e que contém de forma resumida os principais elementos da doutrina e
moral católicas.
[2]
GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, pág. 101
[3]
A Escada de Jacó (em hebraico: Sulam Yaakov) refere-se à escada mencionada na
Bíblia (Gênesis 28,11-19), que se caracteriza o meio empregue pelos anjos para
subir e descer do céu. Foi imaginada pelo patriarca Jacó num dos seus sonhos,
depois de ter fugido da confrontação com o seu irmão Esaú:[1] Quando Jacob teve
essa visão durante o sono, de uma escada, cujos pés repousavam sobre a terra, e
cujo topo chegava aos céus. Anjos continuamente subiam e desciam através dela
prometendo-lhe a bênção de uma numerosa e feliz posteridade. Quando Jacob
acordou, ele estava cheio de gratidão, e consagrou o local como a casa de Deus.
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