A ASTROBIOLOGIA, A
CIÊNCIA E AS CONCEPÇÕES TEOLÓGICAS SOBRE O SURGIMENTO DA VIDA
Escrito por
M.´.I.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)
Grau 33°
“Em ciência, a gente tem que ver para crer.
Você observa a
natureza, você observa o mundo,
obtém dados sobre como o mundo funciona,
analisa esses dados e entende
Pela fé, você crê para ver.
A crença vem
antes da visão.”
Marcelo Gleiser
A busca por respostas sobre a origem da vida é um
empreendimento que tem intrigado tanto cientistas quanto filósofos e teólogos
ao longo dos séculos. A disciplina da astrobiologia surge como um campo
interdisciplinar que procura investigar a possibilidade de vida além da Terra
e, por consequência, impacta diretamente nas concepções teológicas sobre o
surgimento da vida.
A astrobiologia explora diversos aspectos, desde a
compreensão das condições necessárias para a existência de vida até a busca por
sinais de vida em outros planetas. A descoberta de exoplanetas em zonas
habitáveis tem suscitado debates sobre a probabilidade de vida extraterrestre e
suas implicações. Enquanto alguns argumentam que a existência de vida em outros
mundos seria uma evidência da diversidade da criação divina, outros questionam
se tal descoberta contradiz as narrativas religiosas tradicionais sobre a Terra
ser o centro da criação divina.
Nas concepções teológicas, diferentes religiões e tradições
têm abordado o tema de maneiras variadas. Algumas interpretações literais de
textos sagrados podem entrar em conflito com a ideia de vida extraterrestre,
enquanto abordagens mais simbólicas podem permitir uma maior flexibilidade na
reconciliação entre fé e ciência. A descoberta de microrganismos extremófilos
em ambientes inóspitos na Terra também levanta questões sobre a definição de
vida e como ela se relaciona com as crenças religiosas.
É interessante notar que a astrobiologia e as concepções
teológicas não precisam ser mutuamente excludentes. Muitos teólogos argumentam
que a busca por vida além da Terra pode enriquecer a compreensão da criação
divina, destacando a magnitude da obra divina em todo o universo. Além disso, a
possibilidade de vida extraterrestre pode desafiar as religiões a repensar suas
visões antropocêntricas, promovendo uma reflexão sobre o lugar da humanidade no
cosmos.
A interação entre astrobiologia e concepções teológicas
sobre o surgimento da vida reflete a constante busca da humanidade por respostas
profundas e significativas sobre sua existência. Enquanto a ciência explora o
universo físico em busca de pistas, a religião busca dar sentido a essas
descobertas à luz de suas crenças espirituais. Em vez de um conflito
inevitável, essa interação pode conduzir a diálogos enriquecedores que
enriquecem tanto nosso conhecimento científico quanto nossa compreensão
espiritual.
I - A ORIGEM DA VIDA (CONCEPÇÕES)
A origem da vida no planeta Terra é, sem dúvidas, um assunto
que intriga toda a humanidade. Várias já foram as hipóteses criadas para
explicar tal evento, porém até os dias atuais nenhuma foi completamente
comprovada. Neste texto abordaremos algumas das principais ideias de gênese da
vida.
a. Criacionismo
De acordo com o Criacionismo, todos os seres vivos
surgiram na Terra por meio de uma Criação Divina. Segundo essa ideia, Deus
criou todos os seres vivos, incluindo os seres humanos, como está relatado na
Bíblia. Essa ideia de origem da vida é uma das mais antigas e até hoje é aceita
por muitos fiéis em torno de todo o planeta
Ao contrário do que muitos pensam, as diferentes religiões
do mundo elaboraram uma versão própria da teoria criacionista.
a.1 Mitologia grega: A mitologia
grega atribui a origem do homem ao feito dos titãs Epimeteu e Prometeu.
Epimeteu teria criado os homens sem vida, imperfeitos e feitos a partir de um
molde de barro. Por compaixão, seu irmão Prometeu resolveu roubar o fogo do
deus Vulcano para dar vida à raça humana.
a.2 Mitologia chinesa: atribui a
criação da raça humana à solidão da deusa Nu Wa, que, ao perceber sua
sombra sob as ondas de um rio, resolveu criar seres à sua semelhança.
a.3 Criacionismo no cristianismo:
O cristianismo adota a Bíblia como fonte explicativa sobre a criação do homem.
Segundo a narrativa bíblica, o homem foi concebido depois que Deus criou céus e
terra. Também feito a partir do barro, o homem teria ganhado vida quando Deus
assoprou o fôlego da vida em suas narinas. Outras religiões contemporâneas e
antigas formulam outras explicações, e algumas chegam a ter pontos de
explicação bastante semelhantes.
b. Panspermia
Panspermia é uma hipótese que afirma que a vida no planeta
pode ter sido iniciada com base em partículas da vida que chegaram à Terra
através do espaço. De acordo com o filósofo grego Anaxágoras, existiam sementes
da vida em todo o Universo. Desse modo, a vida pode não ter sido originada
aqui, e sim ter chegado ao planeta depois.
Essa ideia criou força no século XIX, quando os químicos
Thenard, Vauquelin e Berzelius descobriram compostos orgânicos em amostras de
um meteorito. Em 1871, o físico William Thomson propôs que meteoros ou
asteroides, ao colidirem com planetas que continham vida, poderiam ter ejetado
rochas contendo seres vivos. Assim, rochas contendo vida podem ter trazido ou
colaborado com a origem da vida na Terra. De acordo com a teoria da panspermia,
a vida pode ter chegado ao planeta por meio de um meteorito.
Fragmentos do meteorito Murchison, por exemplo,
contêm mais de 80 aminoácidos diferentes. Além disso, esses fragmentos, que
caíram na Austrália em 1969, contêm, além de aminoácidos, outras moléculas
orgânicas fundamentais. Caso tenha maior interesse no assunto, leia nosso
texto: Panspermia.
c. Teoria
de Oparin e Haldane
De forma independente, os cientistas Oparin e Haldane
levantaram uma hipótese que é hoje considerada a mais aceita de origem da vida.
Eles propuseram que a atmosfera primitiva da Terra apresentava compostos que
sofreram a ação de raios e da radiação ultravioleta, dando origem a moléculas
simples. Essas moléculas orgânicas ficavam nos oceanos primitivos, formando uma
espécie de “sopa primitiva”.
De acordo com os pesquisadores, a atmosfera primitiva
terrestre era composta basicamente por amônia, hidrogênio, metano e vapor
d'água. O vapor d'água da atmosfera condensava-se e dava origem a chuvas. A
água, ao cair no solo, evaporava-se rapidamente, uma vez que a superfície
terrestre ainda era quente, dando início, desse modo, a um ciclo de chuvas.
Nesse cenário observava-se ainda descargas elétricas e a radiação ultravioleta
do Sol, que fazia com que os elementos atmosféricos reagissem e formassem
compostos, os aminoácidos.
A água das chuvas levou esses aminoácidos à superfície
terrestre. Esses, ao encontrarem condições favoráveis, começaram a formar estruturas
semelhantes a proteínas. Com a formação dos oceanos, essas “proteínas
primitivas” foram arrastadas para esses locais e formaram os coacervados,
os quais podem ser definidos como agregados de proteínas rodeados por água.
Após algum tempo, esses coacervados tornaram-se estáveis e mais complexos.
A ideia de Oparin-Haldane foi posteriormente testada pelos
pesquisadores Miller e Urey, em 1953. Eles criaram um experimento em que foi
possível simular as condições da Terra primitiva. O resultado foi impressionante,
tendo sido eles capazes de produzir aminoácidos e outros compostos orgânicos.
Desse modo, ambos concluíram que moléculas orgânicas podiam ser geradas de
maneira espontânea em condições equivalentes às da Terra primitiva.
Entretanto, posteriormente, descobriu-se que a atmosfera
primitiva provavelmente não era um ambiente como o sugerido por Oparin e
Haldane. Ainda assim, mesmo considerando as novas descobertas para as
características da atmosfera da Terra primitiva, foi possível produzir
moléculas orgânicas.
Vale salientar também que a atmosfera primitiva poderia ser
redutora em pequenas porções, como aquelas perto de aberturas de vulcões.
Experimentos realizados nessas condições também geraram aminoácidos.
d. Alimentação
do primeiro ser vivo: hipóteses autotrófica e heterotrófica
Além de compreender como os seres vivos surgiram, os
cientistas também buscam saber como esses sobreviveram em um ambiente tão
remoto. Muito se discute ainda se o primeiro ser vivo era autotrófico ou
heterotrófico, sendo possível observar muita discordância entre os autores de
livros didáticos nesse sentido. Veja a seguir essas duas hipóteses:
Hipótese heterotrófica: afirma que o primeiro ser
vivo não era capaz de produzir seu próprio alimento. Desse modo, esses
primeiros seres alimentavam-se de moléculas orgânicas que estavam presentes no
meio. Os que defendem essa ideia afirmam que os seres vivos primitivos seriam
muito simples e incapazes de produzir seu próprio alimento. Provavelmente esses
organismos extraiam energia dos alimentos por meio da realização da
fermentação.
Hipótese autotrófica: afirma que os primeiros seres
vivos eram capazes de produzir seu próprio alimento. Os autores que sustentam
essa ideia acreditam que a Terra não possuía moléculas orgânicas suficientes
para alimentar esses primeiros seres. Entretanto, vale destacar que
provavelmente os primeiros organismos conseguiram obter seu alimento pelo
processo de quimiossíntese, que não necessita de energia luminosa, como a
fotossíntese. Na quimiossíntese os seres vivos produzem moléculas orgânicas
utilizando a energia química.
II - EXPLOREMOS MAIS OS CONCEITOS:
1. Astrobiologia:
A astrobiologia é uma disciplina científica que explora a
possibilidade de vida em outras partes do universo, além da Terra. Ela engloba
várias áreas, como a astronomia, biologia, química e geologia, para entender as
condições necessárias para a existência de vida e procurar por sinais de vida
em outros planetas, luas e exoplanetas. A astrobiologia também explora
ambientes extremos na Terra, como fontes termais e ambientes subterrâneos, para
entender a diversidade da vida e como ela poderia se manifestar em condições
diferentes das encontradas em nosso planeta.
Um dos mais influentes Astrofísicos brasileiros, que atua
nos EUA, explica que sim, existe uma fronteira entre ciência e religião, mas
não, não é necessário haver um conflito entre ambas, conhecido por seu trabalho
de divulgação da ciê Gleiser sustenta uma postura de demarcação entre ciência e
religião sem que por isso haja conflito entre ambas.
O método científico, propõe Gleiser, caracteriza-se pelas
evidências empíricas sobre as quais ele se apoia. O cientista não pode
acreditar em algo simplesmente porque ele deseja — ele deve fundamentar sua
opinião em dados empíricos.
Gleiser ainda argumenta que a “guerra” entre ciência e
religião é fabricada: nos EUA, aproximadamente 40% dos cientistas dizem
acreditar em Deus de alguma maneira. Portanto, a crença religiosa não entra
necessariamente em conflito com a atividade científica: para esses cientistas,
a ciência ajuda a revelar a beleza da Criação. Essa complementaridade é
perturbada apenas quando esquecemos do propósito de cada uma dessas atividades.
2. Concepções
Teológicas:
As concepções teológicas sobre o surgimento da vida variam
de acordo com as diferentes religiões e interpretações de textos sagrados. Para
algumas tradições religiosas, como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, a
criação da vida é vista como um ato divino, geralmente retratado em narrativas
religiosas como o Livro do Gênesis. Essas interpretações literais podem entrar
em conflito com as descobertas científicas, como a evolução das espécies
proposta por Charles Darwin.
No entanto, muitos teólogos adotaram uma abordagem mais
simbólica e metafórica para a criação, permitindo uma conciliação entre a fé e
a ciência. Eles veem as narrativas religiosas como expressões profundas da
relação entre a humanidade e o divino, em vez de descrições literais de eventos
históricos. Isso abre espaço para interpretar as descobertas científicas, como
a evolução, como parte do plano divino.
3. A Astrobiologia e a Teologia:
O diálogo entre astrobiologia e concepções teológicas é uma
área em constante evolução. Enquanto algumas pessoas veem a ciência e a
religião como duas perspectivas inconciliáveis, muitos especialistas e
pensadores argumentam que esses campos podem se complementar e enriquecer
mutuamente. A busca por vida extraterrestre pode inspirar novas reflexões sobre
o propósito da criação, a diversidade da vida e a posição da humanidade no
cosmos.
Além disso, a descoberta de exoplanetas em zonas habitáveis
e a pesquisa de ambientes extremos na Terra podem lançar luz sobre a
resiliência da vida e a variedade de formas que ela poderia assumir. Essas
descobertas podem levar a uma compreensão mais ampla da complexidade da
existência e da maravilha do universo, tanto do ponto de vista científico
quanto espiritual.
Em última análise, a interação entre a astrobiologia e as
concepções teológicas sobre o surgimento da vida é um lembrete poderoso de que
a busca pelo conhecimento e a exploração da espiritualidade podem coexistir de
maneira harmoniosa, enriquecendo nossa compreensão do mundo ao nosso redor e do
nosso lugar nele.
4. O
Diálogo entre a Ciência e a Religião
O diálogo entre ciência e religião é uma questão complexa
que tem uma história longa e diversificada, e continua a evoluir à medida que
avançamos para o futuro.
a. História
do Diálogo:
A história do diálogo entre ciência e religião é repleta de
momentos de tensão e cooperação. Na Idade Média, por exemplo, a Igreja Católica
desempenhou um papel fundamental na preservação e tradução de textos
científicos clássicos. No entanto, também houve episódios de conflito, como o
julgamento de Galileu Galilei no século XVII, quando suas descobertas
astronômicas foram consideradas heréticas pela Igreja.
No século XIX, com o advento da teoria da evolução de
Charles Darwin, houve um novo conflito entre ciência e religião. Alguns setores
religiosos se opuseram vigorosamente à ideia de evolução, enquanto outros
buscaram integrar a teoria da evolução em suas crenças, argumentando que a
evolução era o método divino de criação.
b. Tendências
Atuais:
Hoje em dia, o diálogo entre ciência e religião continua,
mas de maneira mais complexa e matizada. Muitos cientistas e religiosos procuram
encontrar maneiras de reconciliar suas crenças religiosas com as descobertas
científicas. Por exemplo, teólogos e filósofos da religião exploram como a
teoria do Big Bang se relaciona com a ideia de criação divina.
Além disso, algumas religiões, como o judaísmo, o
cristianismo e o islamismo, têm tradições teológicas que acomodam bem a
ciência, enquanto outras, como o criacionismo literal, ainda estão em conflito
direto com certas áreas da ciência.
c. O
Futuro do Diálogo:
O futuro do diálogo entre ciência e religião é incerto, mas
parece que a tendência é para uma maior compreensão e colaboração. À medida que
a ciência avança e desvenda mais mistérios do universo, as religiões podem
continuar a adaptar suas interpretações para acomodar essas descobertas.
Por outro lado, a ética e os valores também desempenham um
papel importante nesse diálogo. À medida que a tecnologia avança, questões
éticas relacionadas à engenharia genética, inteligência artificial e outras
áreas da ciência emergem, e as religiões podem fornecer orientação moral nesses
debates.
O diálogo entre ciência e religião, enfim, é uma questão em
constante evolução, que reflete as mudanças na sociedade, na ciência e nas
crenças religiosas. O futuro desse diálogo dependerá de como as partes
envolvidas abordam questões complexas e desafiadoras à medida que avançamos no
entendimento do mundo que nos rodeia.
5. Visão
Filosófica:
A relação entre ciência e religião tem sido um tema central
na filosofia da religião e na filosofia da ciência. Os filósofos buscam
entender como essas duas áreas do conhecimento se relacionam e se complementam,
ou se entram em conflito.
a. Agostinho
de Hipona (354-430): Agostinho, também conhecido como Santo Agostinho, teve uma
influência significativa na filosofia da religião. Ele argumentou que a fé e a
razão podem coexistir, mas a fé deve estar acima da razão. Para ele, a razão é
importante para compreender o mundo material, enquanto a fé é necessária para
compreender as verdades espirituais.
b. Tomás
de Aquino (1225-1274): Aquino, um teólogo e filósofo, desenvolveu a ideia de
que a razão e a fé não estão em conflito, mas podem complementar-se mutuamente.
Sua obra "Summa Theologica" explora como a filosofia aristotélica
pode ser usada para explicar e compreender os ensinamentos religiosos.
c. Immanuel
Kant (1724-1804): Kant abordou a questão da relação entre ciência e religião de
uma maneira diferente. Ele propôs a ideia de que a religião é uma questão de fé
prática, não de conhecimento teórico. Ele argumentou que a moralidade e a
religião são domínios separados da experiência humana.
d. Ian
Barbour (1923-2013): Barbour, um físico e teólogo, é conhecido por seu trabalho
em ética e religião na era científica. Ele cunhou o termo "diálogo construtivo"
para descrever a interação entre ciência e religião, argumentando que eles
podem se influenciar de maneira positiva.
e. Albert
Einstein (1879-1955), o renomado físico teórico, tinha uma visão complexa sobre
a relação entre ciência e religião. Sua posição geralmente é descrita como
sendo não religiosa ou deísta. Aqui estão alguns pontos chave sobre a posição
de Einstein em relação a esses dois domínios:
Deísmo: Einstein acreditava em um Deus que estava ligado à ordem e
à harmonia do universo, mas sua concepção de Deus era mais impessoal e deísta
do que a de uma divindade pessoal envolvida em assuntos humanos. Ele muitas
vezes se referia a Deus como "o Espírito Superior" ou "o Deus de
Spinoza", em referência ao filósofo Baruch Spinoza, que também tinha uma
visão deísta da divindade.
Religião Organizada: Einstein era crítico em relação à religião
organizada e às instituições religiosas. Ele via muitas formas de religião como
dogmáticas e limitadoras da liberdade de pensamento. No entanto, ele respeitava
a espiritualidade pessoal e a busca individual por significado.
Ciência e Religião: Einstein via a ciência e a religião como duas
abordagens diferentes para compreender o mundo. Ele acreditava que a ciência
lida com questões empíricas e verificáveis, enquanto a religião se concentra
nas questões de significado e moral. Ele argumentava que esses dois domínios
não eram mutuamente excludentes, mas complementares. Para ele, a religião
fornecia um senso de admiração e maravilha que inspirava a investigação
científica.
Ética: Einstein enfatizava a importância da ética e da
responsabilidade humana. Ele acreditava que a ciência deveria ser usada para o
benefício da humanidade e que a moralidade era fundamental para a nossa
sobrevivência.
A posição de Einstein sobre ciência e religião pode ser resumida como uma
crença em um Deus deísta, uma crítica à religião organizada, e a visão de que
ciência e religião abordam diferentes aspectos da experiência humana. Sua
perspectiva influenciou o debate sobre a relação entre esses dois domínios e
continua sendo objeto de discussão e estudo até hoje.
f. Stephen Hawking (1942-2018): O renomado físico teórico e cosmólogo, tinha uma visão claramente secular e
ateísta sobre a relação entre ciência e religião. Ele expressou suas opiniões
em várias ocasiões e em seu livro "Uma Breve História do Tempo". Aqui
estão alguns pontos chave sobre a posição de Hawking em relação a esses dois
domínios:
Ateísmo: Hawking se descreveu como um ateu. Ele argumentava que
não via evidências convincentes para a existência de um Deus ou uma divindade,
e considerava a crença em Deus como uma questão de fé pessoal, não de base
científica. Ele afirmava que a ciência poderia explicar o universo sem a
necessidade de recorrer a uma entidade divina.
Origem do Universo: Hawking fez contribuições significativas para
nossa compreensão da origem do universo, como a teoria do Big Bang e os
conceitos de buracos negros. Ele argumentava que a ciência oferecia explicações
naturalistas para a criação do universo, eliminando a necessidade de uma
criação divina.
Filosofia da Ciência: Hawking era conhecido por sua abordagem
rigorosa e cética em relação à filosofia da ciência. Ele muitas vezes destacava
a importância de testar as teorias científicas por meio de observações e
experimentos, em oposição a especulações filosóficas.
Ética e Responsabilidade Humana: Embora Hawking fosse cético em
relação à religião, ele enfatizava a importância da ética e da responsabilidade
humana. Ele argumentava que, como seres racionais, temos a responsabilidade de
cuidar do planeta e de nossos semelhantes, independentemente de crenças
religiosas.
Em resumo, a posição de Stephen Hawking sobre a relação entre ciência e
religião era claramente ateísta e secular. Ele via a ciência como o meio mais
confiável para compreender o universo e argumentava que a crença em Deus era
uma questão de fé pessoal, não de evidência científica. Suas opiniões
influenciaram o debate sobre ateísmo e religião no contexto da ciência e
continuam sendo objeto de discussão e reflexão.
Sua análise é decepcionantemente fraca em pontos muito críticos. O Big
Bang, ele argumenta, foi a consequência inevitável das leis da física. “Porque
existe uma lei como a gravidade, o universo pode e irá criar a si mesmo do nada.”
No entanto, Hawking parece confundir lei com a agência (agency) ou força
energia. Leis em si não criam nada. Elas são meramente uma descrição do que
acontece sob certas condições. A Lei da Gravidade “explica” porque uma bola chutada,
faz uma elipse e acaba caindo na terra, atraída por ela (segundo a física uma
massa maior, atrai uma massa menor). Mas não explica um passo atrás: por quê
existe uma “lei” da gravidade. Fruto do acaso? Aliás, não somente esta lei, mas
todas as outras.
g. Charles
Darwin (1809-1882): o renomado naturalista que desenvolveu a teoria da evolução
por seleção natural, teve um impacto significativo nas discussões sobre ciência
e teologia durante e após sua vida. Sua teoria trouxe desafios consideráveis
para as concepções teológicas tradicionais da criação e da origem da vida. Aqui
estão alguns pontos importantes sobre Darwin e sua influência na relação entre
ciência e teologia:
Teoria da Evolução: A teoria da evolução de Darwin, apresentada em
sua obra "A Origem das Espécies" em 1859, postulava que as espécies
evoluem ao longo do tempo por meio de um processo de seleção natural. Isso
implicava que a diversidade da vida na Terra poderia ser explicada sem recorrer
a um ato de criação divina. A ideia de que as espécies mudam gradualmente ao
longo das gerações desafiou as interpretações literais de textos religiosos que
descreviam a criação em um curto período de tempo.
Conflito Inicial: A teoria de Darwin provocou um conflito inicial
entre a ciência e a teologia. Muitos líderes religiosos e crentes viram a
evolução como uma ameaça às suas crenças religiosas tradicionais. O debate mais
notável ocorreu com a Igreja Católica, que inicialmente condenou a teoria, mas posteriormente
acomodou a evolução em sua doutrina, argumentando que a evolução era compatível
com a ideia de um Deus criador.
Reconciliação Teológica: Com o tempo, algumas interpretações
religiosas adaptaram-se à teoria da evolução. A teologia da criação
evolucionista, por exemplo, argumenta que Deus utilizou a evolução como meio de
criar e diversificar a vida. Isso permitiu que muitas pessoas reconciliassem
suas crenças religiosas com as descobertas científicas de Darwin.
Questões Éticas e Morais: Darwin também contribuiu para o
pensamento sobre ética e moral. Ele argumentava que a moralidade humana poderia
ser compreendida em termos de evolução, como comportamentos que promovem a
sobrevivência e o sucesso reprodutivo. Isso influenciou as discussões sobre
ética secular, destacando a importância da cooperação e da empatia na sociedade
humana.
Charles Darwin e sua teoria da evolução desempenharam um papel central na
relação entre ciência e teologia. Sua teoria inicialmente gerou conflitos, mas
também levou a esforços para reconciliar a ciência com as crenças religiosas. A
evolução continua sendo um tópico importante no diálogo entre a ciência e a
teologia, à medida que as interpretações religiosas continuam a se adaptar às
descobertas científicas.
6. E
a Maçonaria:
Entre os autores maçônicos o debate também se deu em vários
níveis. Albert Pike (1809-1891) , como uma figura proeminente na Maçonaria do
século XIX, não é amplamente conhecido por suas opiniões sobre ciência, o
surgimento da vida ou religião em um sentido acadêmico ou científico. Em vez
disso, seu foco principal estava na Maçonaria e na filosofia maçônica. É
importante ressaltar que as opiniões expressas por Albert Pike não representam
uma autoridade na ciência ou na teologia, mas refletem suas visões pessoais
e filosofia maçônica. Aqui estão algumas ideias gerais que podem ser
associadas a Albert Pike em relação a esses temas:
a. Ciência:
Pike, em sua obra "Morals and Dogma of the Ancient and Accepted
Scottish Rite of Freemasonry," aborda questões filosóficas e morais,
mas não se concentra especificamente na ciência. No entanto, a Maçonaria em
geral valoriza a busca pelo conhecimento e pelo entendimento, o que pode ser
considerado um paralelo à ênfase na ciência como uma forma de compreender o
mundo natural.
b. Surgimento
da Vida: Como um maçom, Albert Pike não tinha um papel central na discussão
científica sobre o surgimento da vida. A questão do surgimento da vida é uma
área de pesquisa científica que envolve biologia, química e geologia, enquanto
Pike estava mais preocupado com questões filosóficas e morais relacionadas à
Maçonaria.
c. Religião:
A Maçonaria, em geral, é uma organização que enfatiza a tolerância religiosa e
não prescreve uma religião específica aos seus membros. Albert Pike escreveu
sobre temas religiosos em sua obra maçônica, enfatizando a ideia de um Ser
Supremo ou Grande Arquiteto do Universo, conceito comum na Maçonaria. Essa
ideia não está alinhada com nenhuma religião específica, mas reconhece a
existência de um princípio divino.
Em resumo, Albert Pike é mais conhecido por
suas contribuições para a Maçonaria e a filosofia maçônica do que por suas
opiniões sobre ciência, o surgimento da vida ou religião em um contexto
estritamente científico ou teológico. Suas visões estavam mais relacionadas à
Maçonaria como uma organização que promove princípios morais e filosóficos, com
ênfase na tolerância religiosa e no reconhecimento de um princípio divino que não
se alinha com nenhuma religião específica.
Um escritor maçônico que abordou a questão da ciência e da
teologia em sua obra é Manly P. Hall[1]. Foi um autor, filósofo e
maçom americano que desempenhou um papel significativo na divulgação da
filosofia e dos ensinamentos maçônicos. Em sua extensa obra, ele explorou
temas relacionados à espiritualidade, simbolismo e a interação entre a ciência
e a espiritualidade.
Em várias de suas palestras e escritos, Manly P. Hall
abordou como a ciência e a espiritualidade podem ser reconciliadas. Ele
argumentava que a ciência e a religião, quando adequadamente compreendidas, não
precisam estar em conflito, mas podem ser vistas como duas maneiras de explorar
a mesma realidade.
Hall também enfatizou a importância do simbolismo na
Maçonaria e em outras tradições esotéricas, argumentando que esses símbolos
podem conter conhecimentos profundos sobre a natureza do universo e a relação
entre o homem e o divino. Ele acreditava que a Maçonaria, em particular, era
uma tradição que preservava antigas verdades espirituais por meio de símbolos e
rituais.
Embora Manly P. Hall não fosse um cientista ou teólogo no
sentido tradicional, suas obras e palestras sobre a relação entre ciência,
espiritualidade e simbolismo exerceram uma influência significativa na
compreensão maçônica desses temas. Suas contribuições continuam a ser estudadas
e debatidas por aqueles interessados na Maçonaria e na filosofia esotérica.
Manly P. Hall não desenvolveu uma teoria científica ou
teológica específica, mas em suas obras e palestras, ele explorou princípios
filosóficos e espirituais que ele acreditava estarem subjacentes às tradições
esotéricas, incluindo a Maçonaria. Seu trabalho foi influenciado por uma
variedade de filosofias e correntes de pensamento, incluindo o esoterismo, o
hermetismo e a tradição platônica. Aqui estão alguns dos fundamentos
filosóficos e espirituais que Manly P. Hall abordou em sua obra:
a. Simbolismo:
Hall enfatizou a importância do simbolismo como uma linguagem que carrega
significados profundos e universais. Ele argumentava que os símbolos, como os
usados na Maçonaria, continham conhecimento espiritual e filosófico que poderia
ser compreendido por aqueles que buscavam a sabedoria esotérica.
b. Unidade
de Todas as Religiões: Hall via uma unidade subjacente em todas as religiões e
tradições espirituais. Ele acreditava que, no cerne de todas essas tradições,
havia um conjunto comum de verdades espirituais que podiam ser descobertas por
meio do estudo e da contemplação.
c. Busca
pela Sabedoria Interior: Ele encorajava as pessoas a procurarem a sabedoria
dentro de si mesmas, argumentando que cada indivíduo possui uma centelha divina
e a capacidade de compreender as verdades espirituais por meio da introspecção
e da meditação.
d. Compreensão
da Natureza e do Universo: Hall acreditava que a compreensão da natureza e do
universo era fundamental para a busca da sabedoria. Ele via a ciência como uma
ferramenta importante para explorar os mistérios do mundo natural e integrar
essa compreensão com a espiritualidade.
e. Ética
e Responsabilidade Pessoal: Ele enfatizava a importância da ética e da
responsabilidade pessoal como parte da jornada espiritual. Acreditava que a
busca da sabedoria deveria levar a uma vida moral e ao serviço à humanidade.
Em resumo, Manly P. Hall fundamentou seu trabalho em
princípios filosóficos e espirituais que enfatizavam a busca da sabedoria, a
unidade subjacente a todas as tradições espirituais, o simbolismo como uma
linguagem de significado profundo e a importância da ética pessoal. Suas obras
continuam sendo lidas e estudadas por aqueles interessados na espiritualidade,
na Maçonaria e nas tradições esotéricas.
Nos Graus Superiores da Maçonaria temos algumas explicações
mais aprofundadas sobre ciência, teologia, origem da vida e uma explicação particular
sobre a origem e objetivo do Universo, que não é objeto deste artigo, porquanto
não vamos abordar.
Em suma, os debates filosóficos sobre questões éticas
relacionadas à ciência, como a engenharia genética, a inteligência artificial e
a bioética, provavelmente desempenharão um papel importante no futuro. Os
filósofos buscarão fornecer insights sobre como as crenças religiosas e os
princípios éticos podem guiar nossas decisões em um mundo cada vez mais
científico e tecnológico.
Em última análise, o diálogo filosófico entre ciência e
religião enriquece nossa compreensão das complexas interações entre fé, razão e
conhecimento, e continuará a ser um campo importante de investigação e reflexão
no futuro.
*
* *
SANTOS,
Vanessa Sardinha dos. "Origem da vida"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/biologia/origem-vida.htm. Acesso em 23 de
setembro de 2023.
https://brasilescola.uol.com.br/biologia/origem-vida.htm
Wikipedia
PIKE, Albert –
“Moral e Dogma”;
GLEISER,
Marcelo – “Poeira das Estrelas”
HAWKING, Stephen
– “Uma Breve História do Tempo”;
HALLS, Manly Palmer
– “The Secret Teachings of All Ages: An Encyclopedic Outline of Masonic,
Hermetic, Qabbalistic and Rosicrucian Symbolical Philosophy”
[1] Manly Palmer Hall (18 de março de 1901 - 29 de agosto
de 1990) foi um autor, conferencista, astrólogo, místico e maçom canadense . Ao
longo de sua carreira de 70 anos, ele deu milhares de palestras e publicou mais
de 150 volumes, dos quais o mais conhecido é Os Ensinamentos Secretos de Todas
as Idades (1928). Em 1934 ele fundou a Sociedade de Pesquisa Filosófica em Los
Angeles. Após o sucesso de Os Ensinamentos Secretos de Todas as Idades, Hall
publicou vários livros, os principais dos quais incluíam Os Artífices
Dionisíacos (1936), Maçonaria dos Antigos Egípcios (1937) e Ordens Maçônicas de
Fraternidade (1950). Continuando sua carreira até os setenta anos e além, Hall
proferiu aproximadamente 8.000 palestras nos Estados Unidos e no exterior,
escreveu mais de 150 livros e ensaios e escreveu inúmeros artigos para revistas
. Hall aparece na introdução do filme de 1938, When Were You Born, um mistério
de assassinato que usa a astrologia como ponto-chave da trama. Hall escreveu a
história original do filme (roteiro de Anthony Coldeway) e também é creditado
como narrador.
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