segunda-feira, 31 de julho de 2023

Destino, Casualidade e Causalidade: Uma Exploração Filosófica e na Maçonaria

 



Por M.´. I.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli
Mestre Moshe
33°

Introdução

Desde os primórdios da humanidade, o homem busca entender o universo e seu lugar nele. Questões sobre o destino, casualidade e causalidade sempre estiveram presentes nas reflexões filosóficas, religiosas e científicas. Neste artigo, pretendemos realizar uma análise profunda desses conceitos, suas inter-relações e implicações, utilizando fontes bibliográficas para embasar nossas discussões.

Nascemos com um destino pré-determinado? Nosso DNA traz todas as informações para traçar a linha de nossa vida, desde a hora que nascemos, nossa cor de pele, cabelo, nossa altura, peso, as doenças que vamos ter, que profissões vamos exercer e a hora de nossa morte? Somos predestinados?

Por outro lado, se somos poeiras de estrelas (como afirma a nova Astrobiologia), apenas um arranjo conveniente de átomos, células e moléculas: por que nós?

E se formos uma escultura de um Deus onipresente e onisciente. Vemos na Bíblia este relato:

Em Gênesis 2:7 podemos começar a observar três aspectos no homem:

1º Corpo: “Formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra”
Deus pegou do pó da terra e formou um corpo, porém não era um homem ainda, apenas um boneco. Deus deu ao homem um corpo, pois havia criado um planeta físico para ser governado. Em hebraico, a palavra “terra” (adamah) é parecida com “ser humano” (adam). E a palavra formou, no original é diferente do verbo criar ou fazer, ele é usado especificamente para descrever o que um oleiro faz com o barro.

2º Espírito: “E lhe soprou as narinas o fôlego de vida”
Deus pega aquele boneco e sopra algo dentro dele, concedendo vida, uma vida que saiu de dentro do próprio Senhor. A palavra “fôlego” no hebraico é “neshamah”, a mesma palavra usada para “espírito”, ela significa vento, fôlego vital, inspiração divina, espírito.
“Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. João 4:24.

3º Alma: “E o homem passou a ser alma vivente”.
Quando o Espírito de Deus tocou aquele boneco de terra, foi manifesta a vida na alma e no corpo do homem. O que manifesta a vida no homem é a alma, a sua personalidade. Muitos confundem alma e espírito, mas se tratam de coisas distintas.

Muito bem explicado e conveniente.

Mas e se formos tudo isso junto, ou seja, somos poeiras de estrelas, com consciência (alma e espírito), predestinados “a priori”, mas com livre arbítrio, o que nos leva a sermos resultado de nossas ações, decisões e caminhos que escolhemos?

Não teremos a resposta definitiva, por certo, mas vamos fazer um exercício de investigar a Verdade que é o que nos resta.

 

1. Destino: Uma Força Inexorável?

O destino, frequentemente associado à ideia de predestinação, é um conceito que remonta à antiguidade. A crença em um destino pré-determinado tem raízes em várias culturas e religiões. Muitas vezes, é encarado como uma força inexorável que guia o curso da vida humana e determina o futuro de cada indivíduo.

1.1. Perspectivas Históricas sobre o Destino

Desde os antigos gregos até as filosofias orientais, o destino tem sido objeto de reflexão. Platão, por exemplo, defendia a ideia de que a alma humana está destinada a retornar ao mundo das ideias após a morte. Já na tradição chinesa, o conceito de "Tao" sugere uma ordem cósmica que governa o destino de todas as coisas.

1.2. O Papel da Religião no Conceito de Destino

Em muitas religiões, o destino está intrinsecamente ligado à vontade divina. O debate entre livre-arbítrio e predestinação tem sido um ponto central de divergência entre diferentes doutrinas. Exploraremos as perspectivas de diferentes religiões sobre esse assunto e como elas influenciam a visão de mundo de seus seguidores.

1.3 O Destino como Vontade Divina

Em muitas tradições religiosas, o destino é visto como a vontade de uma entidade superior, seja Deus, deuses ou forças cósmicas. Essa perspectiva sugere que o curso da vida e os eventos futuros são predeterminados, e os seres humanos são meros participantes nesse grande plano divino.

1.4 O Conceito de Destino como Autodeterminação

Por outro lado, algumas correntes filosóficas e espirituais defendem a ideia de que o destino é, em parte, moldado pelas escolhas e ações de cada indivíduo. Essa visão implica no livre-arbítrio, onde as pessoas têm a capacidade de influenciar o curso de suas vidas.

1.5 O Destino como Combinação de Fatores

Uma perspectiva intermediária sugere que o destino é uma combinação complexa de fatores, incluindo eventos aleatórios, decisões pessoais e influências externas. Nessa abordagem, o destino não é totalmente predefinido nem completamente autodeterminado, mas uma teia intrincada de circunstâncias interconectadas.

 

2. Casualidade e Acaso: O Jogo dos Eventos Aleatórios

A casualidade e o acaso são conceitos que desafiam a noção de destino preestabelecido. Essas ideias sugerem que certos eventos ocorrem de forma aleatória, sem qualquer plano ou propósito por trás deles.

2.1. A Relação entre Casualidade e Probabilidade

A teoria da probabilidade desempenha um papel fundamental na compreensão da casualidade. Devemos explorar como a noção de probabilidade se desenvolveu ao longo do tempo e como ela se aplica a eventos aleatórios em diferentes contextos.

2.2. Casualidade e Determinismo Científico

Na ciência, o determinismo é frequentemente discutido em relação aos eventos naturais e ao comportamento humano. A causalidade é uma peça-chave nessa discussão, e devemos abordar como a física e outras disciplinas científicas lidam com a ideia de causalidade em seus estudos.

2.3 A Natureza Probabilística dos Eventos Aleatórios

A ciência moderna reconhece que existem fenômenos em que a casualidade é governada pela probabilidade. A mecânica quântica, por exemplo, lida com eventos subatômicos imprevisíveis, e a teoria do caos descreve sistemas complexos altamente sensíveis às condições iniciais.

2.4 A Relação entre Casualidade e Determinismo

O determinismo é a ideia de que, dadas as condições iniciais do universo, todos os eventos futuros são fixos e previsíveis. Explorar, por exemplo, como a casualidade se relaciona com o determinismo e como a física e a filosofia lidam com essa interação.

3. Causalidade e Relação de Causa e Efeito

Analisaremos as diferentes teorias sobre a causalidade e como elas moldam nossa compreensão do mundo. A casualidade refere-se à relação de causa e efeito, onde a ocorrência de um evento é resultado direto de outro. No entanto, a questão do acaso, ou seja, eventos que ocorrem sem uma causa determinante, desafia a visão causal do universo.

3.1. A Teoria de Hume sobre Causação

O filósofo escocês David Hume trouxe uma perspectiva única sobre a causalidade. Discutir sua teoria sobre impressões e ideias, bem como sua visão sobre a constância da natureza e a indução causal.

3.2. O Problema da Indução

A indução, que envolve extrapolar conclusões gerais a partir de observações específicas, é uma questão importante na análise da causalidade. Abordar o problema da indução e como ele está relacionado à nossa compreensão do mundo causal.

3.3 O Método Científico e a Causalidade

O método científico é construído sobre a premissa de que as relações de causa e efeito podem ser identificadas e testadas empiricamente. Discutir como a causalidade é essencial na formulação de hipóteses, experimentos e conclusões científicas.

3.4 A Causalidade nas Ciências Sociais

A aplicação da causalidade não se limita apenas às ciências naturais, mas também é relevante nas ciências sociais. Verificar por exemplo como a sociologia, a psicologia e a economia utilizam o conceito de causa e efeito para entender comportamentos e fenômenos humanos.

 

4. Interações Complexas: Como Destino, Casualidade e Causalidade se Entrelaçam – Um roteiro para aprofundamento no estudo.

Embora destinos aparentemente traçados e casualidades aleatórias possam parecer conceitos opostos, há uma interação complexa entre eles. Explorar como essas ideias se entrelaçam e como diferentes perspectivas filosóficas tentam conciliar esses conceitos aparentemente contraditórios.

4.1. Determinismo e Livre-Arbítrio

O debate entre determinismo e livre-arbítrio tem implicações significativas em nossa compreensão do destino e da causalidade. Investigar como diferentes filósofos abordaram esse debate e como ele afeta nossa concepção de responsabilidade moral.

4.2. O Papel do Acaso na Causalidade

A causalidade nem sempre é uma sequência linear e previsível de eventos. Examinar como o acaso pode desempenhar um papel fundamental na causalidade, especialmente em sistemas complexos.

4.1. O Papel da Percepção Humana na Compreensão do Destino

A forma como percebemos o destino é influenciada pela causalidade e pela interpretação dos eventos ao nosso redor. Abordar como as pessoas tendem a atribuir significado a eventos aleatórios e como isso afeta a visão que têm sobre seu destino pessoal.

4.2. A Interseção entre Casualidade e Livre-Arbítrio

O conceito de livre-arbítrio pode coexistir com a casualidade? Discutir como a casualidade, ao mesmo tempo que permite eventos aleatórios, também pode ser vista como parte de um grande padrão causal que envolve nossas escolhas e decisões.

 

5. E NA MAÇONARIA

Não é um tema central no estudo de desenvolvimento na Maçonaria. Na verdade, os temas relacionados a destino, casualidade e causalidade são tocados de forma transversal em diversas Instruções nos mais diversos Gr.´. da Ord.´.

Como um dos principais atributos do maçom é o livre arbítrio, atribuído por Deus (seria o Grande Arquiteto do Universo?) quando expulsa Adão e Eva do Paraíso, aparentemente o GADU teria retirado do Homem a possibilidade de ter um destino predeterminado, pois manda ele “trabalhar” para ganhar a vida e o sustento seu e da sua família:

Diz o Genesis 3 17:19

E ao homem declarou:
17 "Visto que você deu ouvidos à sua mulher
e comeu do fruto da árvore
da qual ordenei a você
que não comesse,
maldita é a terra por sua causa;
com sofrimento você
se alimentará dela
todos os dias da sua vida.

18Ela lhe dará espinhos e ervas daninhas,
e você terá que alimentar-se
das plantas do campo.

19Com o suor do seu rosto
você comerá o seu pão,
até que volte à terra,
visto que dela foi tirado;
porque você é pó,
e ao pó voltará".

 Mas o estranho, é que o Homem já havia sido constituído para o trabalho, como diz Genesis 2 15: “Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.” Independentemente desta aparente contradição (não o é, mas não vou tratar disto aqui), o fato que a partir de sua expulsão do Paraíso, além do trabalho, foi dado ao homem o livre arbítrio. Talvez, na minha conclusão, neste momento passa de uma situação de predeterminismo (bastava não provar da árvore do bem e do mal), para uma situação de causalidade, ou seja, passamos a ser fruto de nossas ações e as suas consequências.

Inegável que o Iluminismo influenciou decisivamente a Maçonaria. Aliás, talvez tenha sido a sua grande impulsionadora como filosofia. A separação da Religião e do Estado, os princípios Universais do Homem, a queda da Monarquia Absolutista como legado de “deus” (minúsculo propositalmente), a democracia, a moral, a ética, o resgate da filosofia antiga e sua modernização: foram fenômenos que além de ter varrido o mundo, forjaram uma nova sociedade (ocidental) que conhecemos até hoje. A Maçonaria renasceu, cresceu e se reproduzir na esteira destes primados do Iluminismo e absorveu, em sua filosofia, não apenas seus princípios como os adaptou às antigas tradições de civilizações que não mais existiam.

Albert Pike, no século XIX, foi uns dois grandes reformadores da moderna maçonaria. No livro "Morals and Dogma", Albert Pike discute várias questões filosóficas, mas não há uma seção específica ou citação direta que aborde o livre-arbítrio de forma exclusiva. No entanto, é possível inferir suas visões sobre o assunto com base em suas crenças maçônicas e suas reflexões sobre a natureza humana. O tema principal naquele momento histórico era a liberdade humana e o viver moral e ético. E foi nisto que ele baseou toda sua obra.

A Maçonaria, em geral, enfatiza o livre-arbítrio como um princípio fundamental, permitindo que seus membros tenham a liberdade de escolher suas crenças, ações e caminhos em busca da virtude e do aprimoramento pessoal. Pike provavelmente apoiaria essa ideia, considerando a importância da liberdade individual na busca do autoaperfeiçoamento e do conhecimento.

Por outro lado, há referência nas “Leis Herméticas”[1], num total de sete (colecionadas entre os séculos I a III da nossa era), há a chamada Lei de Causa e Efeito: "Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nada escapa à Lei", lembrando-nos, claramente, que os antigos já imaginavam que éramos fruto de um processo de desenvolvimento de causa/efeito. Hoje somos o que somos, não porque o destino estabeleceu, ou porque Deus nos abençoou ou nos puniu (até também), mas porque tomamos decisões que nos levaram até aqui.

Conclusão

Em suma, o destino, a casualidade e a causalidade são conceitos complexos que têm desafiado a mente humana ao longo da história. Enquanto o destino pode ser visto como uma força que guia nossas vidas, a casualidade traz imprevisibilidade e surpresa. A causalidade, por sua vez, é o fio condutor que conecta esses conceitos e nos permite dar sentido ao mundo em que vivemos.

Embora cada conceito seja importante em sua própria medida, é a interação entre eles que nos possibilita explorar a natureza da existência humana e sua relação com o universo. À medida que continuamos a investigar esses temas, somos lembrados de que o conhecimento humano é uma jornada constante em busca de compreensão e significado.

Ao longo deste artigo, exploramos profundamente os conceitos de destino, casualidade e causalidade, desde suas origens históricas até suas implicações filosóficas e científicas. Nossa jornada nos levou a compreender que esses conceitos aparentemente díspares estão intrinsecamente relacionados e moldam nossa visão do mundo e nosso lugar nele.

O destino, em sua predestinação aparente, interage com o acaso, criando uma trama complexa de eventos. Enquanto isso, a causalidade, como a linha que conecta os pontos, nos ajuda a dar sentido a essas interações e a encontrar padrões em meio ao aparente caos.

No entanto, mesmo com todo o conhecimento adquirido, muitas questões permanecem sem respostas definitivas. O mistério do destino, a imprevisibilidade do acaso e a complexidade da causalidade são elementos essenciais que nos impulsionam a continuar buscando compreender o universo e nossas vidas dentro dele.Parte superior do formulário

 

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[1] Hermes Trismegisto (em latim: Hermes Trismegistus; "Hermes, o três vezes grande") é uma figura mítica de origem sincrética. Essa figura mítica indica o deus Thoth dos antigos egípcios, considerado o inventor das letras do alfabeto e da escritura, escrita dos deuses, e portanto, revelador, profeta e intérprete da divina sapiência e do divino logos. Quando os gregos tiveram conhecimento desse deus egípcio, descobriram que apresentava muitas analogias com seu deus Hermes, intérprete e mensageiro dos deuses, e o qualificaram com o adjetivo “Trismegisto” que significa “três vezes grandíssimo”.


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