domingo, 6 de novembro de 2022

O TABERNÁCULO NO SIBOLISMO DO GR.´. 23° DO REAA

 

O SIMBOLISMO NO 23º GR.∙.

CHEFE DO TABERNÁCULO



Introdução – História e Lenda

De acordo com o Ritual o Grau Vinte e Três foi adotado no sistema de vinte e cinco GGr.´., em 1786, quando Frederico II, da Prússia aumentou para 33 o seu número. Tinha por base a comemoração do Presbiterado de Aarão, e de seus filhos Eliazar e Itamar.

Os CCav.´. deste Gr.´. são os guardadores da entrada do Tabernáculo, onde se conservam as leis e princípios fundamentais da moral universal e as verdades reveladas à razão dos sentidos, pela consciência e pela inteligência.

Não há no desenvolvimento do Ritual nenhum aprofundamento sobre a lenda do Grau, apenas as menções feitas anteriormente.

Todavia precisamos lembrar os personagens histórico-lendáticos mencionados na Instrução.

Na bíblia hebraica e no alcorão, Aarão, ou Arão (palavra que significa "progenitor de mártires" em hebraico possivelmente relacionado com o egípcio "Leão Guerreiro"), foi o irmão mais velho de Moisés (Êxodo 6:20), e um profeta do Deus de Israel servindo como o primeiro sumo sacerdote dos hebreus.

Era filho de Anrão e Joquebede (Êxodo 6:20), da Tribo de Levi (1Crônicas 6:1-3). Era bisneto de Levi.Tinha uma irmã mais velha, Miriã, Êxodo 2:4). Casou com Eliseba, filha de Aminadabe, da Tribo de Judá, que lhe deu quatro filhos, Nadabe, Abiú, Eliazar e Itamar.

Aarão aparece na bíblia quando o Deus de Israel o envia desde o Egito para se reunir com o seu irmão Moisés no Monte Horeb. Tornou-se escolhido por Deus como porta-voz (profeta) de Moisés (que teria problemas de dicção de acordo com a tradição), e serviu como orador junto do Faraó, nas diligências que permitiram a realização do Êxodo e da libertação do povo hebreu do Egito, em direção à Terra prometida.

Seu papel central levou à sua escolha e de sua descendência em perpetuidade como sumo sacerdote dos israelitas quando da constituição do sacerdócio no Tabernáculo, ainda que posteriormente, por covardia, tenha participado de algumas rebeliões contra a autoridade divina, como na criação do bezerro de ouro, ídolo pedido pelos israelitas para guiar-lhes, já que Moisés estaria desaparecido pois estava no Monte Sinai recebendo os Dez Mandamentos.

 Aarão e Moisés não foram autorizados por Deus a entrar em Canaã. A razão alegada é que os dois irmãos apresentaram impaciência em Cades, no último ano de peregrinação no deserto.

Somente Eliazar e Itamar são mantidos na tradição maçônica, como Chefes e guardiões do Tabernáculo. Os outros filhos, Nadabe o primogênito e Abiú foram devorados pelas chamas, por ter deitado fogo profano no turíbulo, passando a função sacerdotal para os irmãos Eliazar e Itamar.

O Tabernáculo vem do latim tabernaculum, "tenda", "cabana" ou "barraca" e designa o santuário portátil onde durante o Êxodo até os tempos do Rei Davi os israelitas guardavam e transportavam a arca da Aliança, a menorá e demais objetos sagrados. Em hebraico se chamava mishkan, "moradia", (local da Divina morada). Também se denominava "Tenda da Reunião". Era composto de três dependências: Átrio Exterior, Santo Lugar e Santo dos Santos ou Santo Santorum onde ficavam o Véu - Cortina que separava o Santo Lugar do Santo dos Santos, a Arca da Aliança que simbolizava a presença de Deus e carregava as Tábuas da Lei - os 10 Mandamentos - a Vara de Aarão, que floresceu e o pote de maná (alimento mandado por Deus no deserto) sendo a peça mais santa do Tabernáculo; e o Propiciatório que era nada mais do que a tampa da Arca, lugar onde o Sumo Sacerdote, uma vez ao ano, no dia da Expiação, aspergia o sangue pela remissão de seus pecados e pelos pecados do povo.

Ainda há menção dos Levitas, denominação dadas a todos os Irmãos que integram este Grau. Na tradição judaica, um levita ("unido") é um membro da tribo de Levi. Quando Josué conduziu os israelitas na terra de Canaã, os levitas foram a única tribo israelita que recebeu cidades, mas não foram autorizados a ser proprietários de terra "porque o Senhor Deus de Israel é sua herança" (Deuteronômio 18:2). A Tribo de Levi servia deveres religiosos particulares para os israelitas e tiveram responsabilidades políticas também. Em troca, as tribos das terras eram esperadas a dar o dízimo para os Levitas. O profeta Moisés e seu irmão o sacerdote Aarão, foram ambos levitas, daí o Grau vinte e três denominar os integrantes da Loja de tal forma.

 

 A moral e o significado da Lenda do Grau

 

Além dos aspectos histórico-lendáticos apresentados pelo Grau, com relação ao Tabernáculo (cuja decoração da Loja pretende imitar), das personagens bíblicas Moises, Aarão, Eliazar e Itamar, na Instrução do Garu vemos o desenvolvimento da interpretação e a moral do Grau.

O Tabernáculo, segundo o Ritual, num profundo significado, simboliza o Universo no qual Seus habita como a alma no corpo do Homem. Assim, nosso corpo seria o nosso Tabernáculo a abrigar nossa essência divina que é nossa alma. Desenvolve-se assim, a necessidade do cuidado do nosso corpo, protegido pelos Guardiões do Tabernáculo, num permanente e incessante digladiar com nossos defeitos e vícios, que não alcançam nunca a nossa alma.

Por outro lado, o fogo do incenso sempre ardendo significa a continua misericórdia e bondade de Deus e aquele zelo que devemos ter ao gênero humano, o qual jamais deve extinguir-se ou debilitar no coração de um Chefe do Tabernáculo.

Também as cores do Avental do Grau nos trazem significados:

O branco, a candura, inocência e pureza que são indispensáveis aos Levitas;

O Verde, a perfeição infinita;

A púrpura e a violeta. A Majestade e o Poder daquela Divindade a quem os Levitas dedicavam o seu serviço, ou seja, Deus.

Escondido em meio ao Juramento, encontramos uma outra simbologia da moral do Grau de extrema importância: A oposição às arbitrariedades da Justiça e propagar e defender as leis do Habeas Corpus.

Por não encontramos maiores detalhes no Ritual, socorremo-nos de Rizzardo Da Camino, que em seu livro “REEA de 1 ao 33°”, nas páginas 265 a 276, nos apresenta um interrogatório que parece ter sido suprimido dos atuais Rituais do Grau, que dariam sentido mais claro para o que se pretende jurar:

INTERROGATÓRIO: Pergunta: Que dizeis da Instituição de Moisés?

Resposta: Uma escola de governo para instruir os privilegiados garantindo o freio de qualquer abuso.

P: E qual foi o defeito primordial daquela Instituição?

R: Que somente o temor a Deus detinha os ambiciosos, Porém, como eles se consideravam Ministros de Deus, eram impunes às suas próprias falhas.

P: Acreditais capaz de se consolidar, um governo que não garante a conduta de seus agentes e não lhes ponha cobro?

R: Não, Grande sacrificador; até os usurpadores mais cruéis procuraram guardar aparências de justiceiros; sabem que o povo não suporta a tirania e para contornar seu despotismo, criaram Tribunais para o julgamento dos que praticam arbitrariedades; infelizmente, porém, sempre surgem os abusos.

P: Que conceito fazeis da prisão em flagrante?

R: Naqueles tempos a prisão preventiva era desconhecida; ao colhido em flagrante delito se o apresentava aos Juízes que ouvidas as partes, sentenciava e o condenado podia apelar ou não aos Tribunais superiores. Porém, se não ocorresse o flagrante, o sentimento instintivo da Justiça o considerava inocente enquanto não se pronunciasse o Tribunal. Na Grécia, Juízes de primeira instância condenaram Sócrates à morte, que continuou em liberdade, sem fugir; sua confiança na Justiça, porém, o levou à morte.Em Roma sucedeu o mesmo; os filhos de Anco Márcio fugiram, homiziando-se em Suessa Promelia, cidade fora do alcance da Justiça Romana, para não sofrer o castigo pela morte do rei sucessor; ninguém impediu aquela fuga porque ainda, não haviam sido julgados.

P: Dizei Irmão, se as Autoridades podem hoje em dia, decretar a prisão preventiva, correndo o risco de constituir uma arbitrariedade judicial?

R: Sim, Grande Sacrificador, porque a perda da Liberdade ou o encarceramento, além de constituir uma escravidão temporal, acarreta sofrimento de todo gênero, físicos e morais; deixa ao desamparo a família e dificulta ao acusado a busca de provas de sua inocência. O risco de se prender a um inocente e mantê-lo detido até o julgamento, jamais apagará as consequências que advirão, mormente, as que refletem em sua família e seu patrimônio.

P: E para corrigir possíveis erros judiciais, não acreditais a necessidade de Leis que reparem o mal feito e que puna o caluniador?

R: A aplicação dessas Leis seria muita difícil e o resultado não cobriria o prejuízo moral.

P: Se nem a consciência, nem o temor a Deus, nem a apelação aos tribunais podem nos salvar dos abusos, arbitrariedades e erros da autoridade, o que dizer da Justiça tardia?

R: A aplicação do que garante a Magna Carta da Ingla¬terra e que consta quase em todas as Constituições: o instituto do habeas-corpus.

P: Que se entende, Irmão, o instituto do habeas-corpus?

R: Essa Lei, Irmão, cujo nome equivale a "posse da própria pessoa", foi inspirada pelos Maçons gildenses e fildenses para depois, penetrar na Inglaterra. Através dela toda súdito inglês, preso por qualquer motivo, adquiria o direito de impetrar por ele ou por outrem, a um dos Juízes da Nação, um Decreto de habeas-corpus, em virtude do qual, o carcereiro era obrigado a apresentar o impetrante à autoridade judiciária e esclarecer a causa da prisão; ouvido o preso sob juramento, era posto em liberdade imediatamente, se julgada arbitrária a prisão; caso não aceitasse o Juiz totalmente a palavra do preso, lhe impunha uma fiança antes de soltá-lo, fiança, geralmente, paga em dinheiro pelo próprio Impetrante ou alguém por ele.

P: Que opinais, Irmão, sobre a fiança?

R: A fiança é um instituto imperfeito, se considerarmos a facilidade do rico em pagá-la e a impossibilidade do pobre; porém, sendo o pobre homem de bem, sempre surgirá quem pague por ele.

Outra polêmica levantada por Irmãos como Nicola Aslan e José Castellani, para citar apenas autores brasileiros, é em relação ao fato de ter sido Frederico II da Prussia o autor dos Rituais dos Graus Superiores da Maçonaria, e principalmente, quem estabeleceu os trinta e três graus.

Nicola Aslan no seu Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia[1], no verbete Frederico II, O Grande (1712-1786), diz o seguinte:

 “A ratificação da Constituição do Supremo Conselho do REAA, no dia 01/05/1786, por Frederico II da Prussia, não passa de uma invenção do Ir.´. Frederico Dalcho, que a lançou num discurso em 08/12/1802. Este fato foi completamente desmentido pela Grande Loja Mãe Nacional dos Três Globos Terrestres, de Berlim, em carta data de 17/08/1833 dirigida ao Irm.´. Marconnay, em resposta à solicitação que este Maçom lhe fizera em sua correspondência de 25/05/1833, à respeito daquele monarca no Rito Escocês. Naquela data, 01/05/1786, Frederico estava no seu castelo de Potsdam, atacado de gota, caduco e absolutamente cansado da vida. Faleceu três meses e meio depois, em 17/08/1786

Já Castellani no seu clássico “O Rito Escocês Antigo e Aceito[2]” é bastante enfático em relação ao tema:

“E foi nos EUA que surgiu a maior empulhação, o maior logro da história do escocesismo: a invenção de que nos Altos Graus foram criados pelo rei da Prussia, Frederico II. Na realidade, aos 25 graus criados pelo Conselhos dos Impreadores, os maçons americanos, sob, provavelmente a inspiração de Morin, acrescentaram mais oito, criando o sistema de trinta e três graus. Reunidos, então, na cidade de Charleston, no estado da Carolina do Sul, fundaram a 31 de maio de 1801, o Supremo Conselho do Rito Escocês, concentrando em suas mãos todo o poder administrativo dos Altos Graus. Esse Supremo Conselho só se tornou conhecido pelo restante da Maçonaria mundial, a partir de 04 de dezembro de 1802, quando expediu uma circular comunicando o fato, enaltecendo o sistema dos 33 graus e atribuindo a sua organização – em maio de 1786 – ao rei Frederico II da Prússia. Se isso houvesse realmente ocorrido nessa data, que é a da publicação, segundo os americanos, da Constituição e dos Regulamentos do Supremo Conselho – é no mínimo estrenho que só se tivesse conhecimento do fato em 1802”.

Esta versão é refutada, além desses autores brasileiros, por autores estrangeiros como Findel, Linday, Marconnay, Rebold, Thory, Ragon, Clavel, Cordier, entre outros.

Um fato ponderável”, diz o Ven.´. Irm.´. William Almeida de Carvalho,33°[3]para essa mitologização foi a certeza de que os EUA, à época em que se criaram os 33 graus, não eram nenhuma potência maçônica, como vieram a se tornar posteriormente. Necessitavam, portanto, de um forte aval para legitimar o Supremo Conselho de Charleston para que não caísse no ridículo, Seria como se hoje a Nigéria pretendesse criar um novo rito para a maçonaria mundial. Nada melhor, então, do que um rei europeu, um déspota esclarecido, com nítida simpatia pela maçonaria, tornar-se o autor das Constituições de 1786”.

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Bibliografia:
Da Camino, Rizzardo: A Loja de Perfeição de 1° ao 33°;Ed. Madras, 2006.

Gervásio de Figueiredo, Joaquim – Dicionário de Maçonaria.

PACHECO JR, Walter – Uma Visão Global dos 33 Graus do REAA. Ebook

VENEZIANI COSTA, Wagner - Uma visão global dos 33 graus do R E. A. A. http://cidademaconica.blogspot.com.br/2007/07/uma-viso-global-dos-33-graus-do-r-e-a.html

ALMEIDA DE CARVALHO, WILLIAM – Frederico II da Prússia e as Grandes Constituições de 1786. http://www.freemasons-freemasonry.com/6carvalho.html

CASTELLANI, José – O Rito Escocês Antigo e Aceito – Cadernos de Estudos Maçônicos, Ed. Trolha, Londrina-PR, 1988)

Ritual do Grau;

Bíblia Sagrada

Wikipédia



[1] Vol II ed. Artenova, Rio de Janeiro, 1974, p. 438

[2] CASTELLANI, José – O Rito Escocês Antigo e Aceito – Cadernos de Estudos Maçônicos, Ed. Trolha, Londrina-PR, 1988, P.58

[3] ALMEIDA DE CARVALHO, WILLIAM – Frederico II da Prússia e as Grandes Constituições de 1786. http://www.freemasons-freemasonry.com/6carvalho.html

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