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GÊNESE MAÇÔNICA
Por Irm.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)*
I - PROLEGÔMENOS SOBRE A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA MAÇONARIA
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o estudo da história, nada
encontramos mais difícil, intrincado e complexo, como a história da Maçonaria.
E este fato é ressaltado pela maioria dos escritores sérios que delas se
ocuparam profanos ou maçons. [1]
Um dos maiores problemas para
desvendar a verdadeira história da Maçonaria é que tanto seus detratores,
quanto seus (alguns) fanáticos seguidores, nada entendiam sobre história
universal, ou seja, não eram verdadeiramente historiadores no sentido
científico da palavra.
Assim, deixaram-se levar por
lendas e conclusões que nada têm de científico já que não baseadas em fontes
confiáveis, primárias que pudessem dar autenticidade aos argumentos.
Dentro desta linha,
encontramos autores que colocam a Maçonaria, por exemplo, que a Instituição
teria sido criada junto à própria Criação do mundo[2],
que os druidas eram maçons[3],
que o patriarca Adão, fiel às instruções recebidas do Altíssimo formou a
primeira Loja com seus filhos[4].
De tudo isso, teria surgido
esta conclusão, sem fundamento algum em qualquer elemento científico ou probatório:
“De acordo com mais de uma centena de
historiadores, a Maçonaria vem de Deus mesmo e começa na época do caos. Deus
criou a Luz. Conseqüência: Deus foi o primeiro Maçom. Contudo, Deus não podia
fazer a Loja sozinho. Deixou este cuidado para Adão.”[5]
Não precisamos passar revista
e aprofundar cada uma destas Teorias sobre a suposta origem da Maçonaria, visto
que se perdem em origens nebulosas ou extravagantes, dignas muito mais em dogma
de fé (que caracteriza uma Religião) do que uma conclusão científica baseada em
documentos e numa cronologia racional, como apregoa a ciência História.
Assim sendo, se adentrar nos
mistérios da Ordem não é tarefa fácil. Separar o que é invencionice do que é
comprovadamente fato histórico, também é tarefa hercúlea, visto que pela sua
natureza, a Maçonaria não deixou muitos documentos escritos para basear-se nas
fontes primárias.
A linha divisória entre o
dogma (de fé, ou seja, o que queremos ou devemos acreditar) e o que pode ser
comprovado com testemunho da história, é muito tênue, aliás, quase
invisível. Aonde começa a história e
onde começa a lenda? E a lenda é fruto da história ou do dogma? O que concluímos
é o que acreditamos, queremos acreditar ou o que devemos acreditar? O que é a
verdade: o que é o que parece ser, ou o que gostaríamos que fosse?
Como vemos, não há uma
definição clara do que seja a real origem da Maçonaria. Mais fácil acredito é descrever
a história dos Maçons, assim denominados. Mas desta forma, limitaremos o campo
de investigação, já que a denominação Maçom, ou Free-Mason, têm uma data
determinada na cronologia da história oficial da Organização.
Mas é certo também, mesmo que
seja difícil precisar, e mais ainda comprovar, a origem da Ordem se perde nas
névoas do tempo, diretamente como Maçonaria ou, indiretamente, como sociedades
iniciáticas que a inspiraram.
Como já disse C.W. Leadbeater [6],
as diversas teorias sobre a origem da Maçonaria podem ser estruturadas
(lato-senso) em quatro escolas de pensamento:
Escola Autentica – que explora
a origem da Maçonaria a partir de registros autênticos ao alcance do
historiador, como atas de Lojas, Decretos, Registros e todo tipo de documento oficial
versando sobre os trabalhos em Lojas.Estes arquivos antecedem um pouco à data
de 1717 (que seria o nascimento da chamada Maçonaria Especulativa), ao passo
que as atas mais primitivas subsistentes de qualquer Loja chamada operativa,
não é anterior a 1598. Assim apontam a origem da Maçonaria a partir das
Corporações medievais e que os elementos especulativos (símbolos e alegorias)
foram enxertados posteriormente em função de diversas influências das
sociedades místicas antigas;
Escola Antropológica – Aplica
as descobertas antropológicas no estudo da história da Maçonaria. Os
antropólogos reuniram uma vasta soma de informações sobre costumes religiosos e
iniciáticos de muitos povos, antigos e modernos, e os investigadores maçônicos
tem encontrado neste campo, muitos de nossos sinais e símbolos, bem como fazem
analogias com os antigos Mistérios e cerimônias empregadas nas atuais Lojas
Maçônicas. Assim, esta escola confere à Maçonaria muito maior antiguidade que
os adeptos da escola autêntica ou histórica.
Escola Mística – Perquire os
mistérios da Ordem à luz do plano para o despertar espiritual e o desenvolvimento
interior do homem. Estes pensadores, analisando suas próprias experiências
espirituais declaram que os graus da Ordem são símbolos de certos estágios da
consciência, que têm que ser despertados ao iniciado individual se ele aspira
conquistar os tesouros do espírito. Como esta escola está mais interessada na
interpretação do que na pesquisa histórica propriamente dita, e não sendo
objeto deste trabalho a interpretação dos mistérios da Ordem, não nos
ocuparemos demasiadamente nela.
Escola Oculta – Um dos seus
principais postulados, segundo Leadebeater[7],
é a eficácia sacramental do cerimonial maçônico, quando devidamente executado.
Define a Maçonaria através do estudo e conhecimento do lado oculto da natureza,
por meio dos poderes existentes em todos os homens, ainda que adormecidos em
boa parte da humanidade.
Esses poderes, segundo seus adeptos, poderiam ser
despertados e treinados em cada iniciado, por longa e cuidadosa disciplina e
meditação. Como também nesta escola, a investigação histórica não é o tema
central, não nos ocuparemos, por ora, da mesma.
Independente da escola de
pensamento, achar um fio condutor que ligue definitivamente o passado da Ordem
com o nosso presente, parece um exercício de extrema dificuldade, senão (quase)
impossível.
Mas a investigação científica
moderna têm nos ajudado sobremaneira a separar o joio do trigo, ou seja,
identificar o que é místico e lendário, do que é realmente fato histórico.
Neste sentido, podemos afirmar com certeza absoluta que a Maçonaria se
desenvolveu em dois momentos claramente definidos:
a)
A Maçonaria Operativa, antes de 1717;
b)
A Maçonaria Especulativa, depois de 1717.
O problema reside em
determinar, quando operativa, a partir de que momento a Maçonaria como Ordem
Iniciática começou a operar. Se nas corporações de ofício medievais, se na
construção do Templo de Salomão, se nas “Guildas”
Alemãs, se nos “Collegia” Romanos, se
nas Corporações de “Compagnonnage”
(Companheiros) Franceses, se nos talhadores de pedra alemães, etc. Ou ainda, se
a Maçonaria surgiu com o próprio homem, como romanticamente, alguns maçons
insistem em afirmar.
Como neste trabalho não
queremos nos afastar do fato histórico, com base científica, precisamos
analisar preliminarmente alguns conceitos e definições sobre história e sobre a
evolução do homem na terra, e tentarmos traçar assim, uma linha mais o menos
lógica do desenvolvimento da Maçonaria.....(segue)
[1]
- Aslam, Nicolas – A Maçonaria Operativa
[2]
- Idem, citando J. Marques-Riviere – Historia da Franco Maçonaria Francesa
[3]
- Idem, citando Dr Jorge Oliver – The Antiquities of Freemasonary
[4]
- Idem, citando Marcos Bedarride – “Da Ordem Maçonica de Misraim, desde a sua
vocação até nossos dias, de sua antiguidade, de suas lutas e de seus
progressos.”
[5]
- idem , citando Moreau – Considerações sobre a Franco Maçonaria
[6]
- Leadebeater, C.W. – Pequena História da Maçonaria
[7]
- Idem
Um comentário:
Irmão Genaro!
Gostei muito desta primeira parte. Vou seguir apreciando a continuação.
Parabéns!!!
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