II – O SURGIMENTO DA MAÇONARIA
O misticismo na Pré-História
Para tentarmos estabelecer uma
linha confiável de seqüência histórica no surgimento da Maçonaria, precisamos
conhecer o aparecimento do misticismo e das religiões no âmbito da civilização
humana.
O período pré-histórico, como
vimos, é aquele compreendido entre o aparecimento de homídeos dotados de
cultura e a descoberta da escrita (aproximadamente 4.000 a.C.), que marca o
início do que denominamos história.
A importância dos tempos
pré-históricos reside no fato de que nessa época surgiram os rudimentos da
tecnologia, da magia, da religião e da arte, além das instituições sociais
básicas, como governo, família, comércio, normas de direito e moral. É, também,
nesta época, que surgem as primeiras manifestações referentes à mitologia e as
idéias filosóficas, que ao lado da religião e da magia, concretizam o
misticismo pré-histórico.[1]
O período pré-histórico vai
entre 2.000.000 de anos atrás até o quarto milênio a.C., quando foi descoberta
a escrita pelos sumerianos[2]·.
No período Paleolítico
Inferior (até cerca de 150.000 anos atrás) não há registros de manifestações místicas
ou religiosas, nem através de ritos funerários, embora essa seja a
época mais nebulosa da pré-história humana.[3]
É no Paleolítico Médio e
principalmente no Superior, é que o homem primitivo começa a se interrogar sobe
os mistérios da natureza, mas faltam-lhe comunicação e organização em função da
intensa luta pela sobrevivência, num ambiente hostil e sem proteção. E no final deste período, todavia, que surgem
as primeiras manifestações de caráter religioso: O Homem de Neanderthal
enterravam, com cerimônias, os seus mortos, colocando objetos em seus túmulos,
o que mostra, já, a crença em uma vida futura, a qual iria dominar, posteriormente,
todas as religiões e todos os sistemas filosóficos de doutrinação moral, como a
Maçonaria.[4]
Imagem rupestre encontrada na
caverna Trois Frères (França) que mostra um feiticeiro com pele de animal,
provavelmente relacionado a um ritual de magia.
Foi no Paleolítico Superior
(40.000 a 15.000 a.C.) que surgiram os primeiros desenhos rupestres (ver imagem
acima) e esta arte nas cavernas parece ter sido uma manifestação mágica, para
assegurar êxito na caça, por exemplo. Também foram os homens deste período que
começaram a povoar a América, tendo ocorrido à cerca de 30.000 anos, vindos da
Ásia e atravessando a pé o Estreito de Bering no Alaska, numas das glaciações.
A evolução do misticismo se faz apreciável[5],
com
ritos funerários, oferendas, rudimentos de magia para cura de doenças,
para afastar os inimigos e para propiciar boas caçadas.
No Mesolítico, com duração de
3.000 anos aproximadamente, é considerado uma fase de transição entre os
caçadores e os coletores de frutas espontâneas (do período Paleolítico) para os
produtores de alimento (do período Neolítico). A principal característica é a
adaptação do homem ás florestas que surgem por todo o mundo, após o
desaparecimento do gelo proveniente da última glaciação[6].
Além disso, houve um aumento da sedentariedade e o início da domesticação dos
animais, sendo que o primeiro a ser domesticado foi o cão.[7]
Com relação ao misticismo não houve mudança em relação ao período do
Paleolítico Superior.
No Neolítico, que se estende
de 12.000 a 4.000 anos a.C., onde houve a época da invenção da escrita, que
também e chamado da Idade da Pedra Polida, os homens aprimoraram os
instrumentos de pedra, tornando-os mais afiados através do polimento. Surgem as
roupas com tecidos (antigamente eram usados peles de animais) adequadas a
vários tipos de climas. A realização mais importante, entretanto, é o fato de
ter dado início da agricultura (aproximadamente 8.000 a.C.). Continuou
domesticando animais e, pelo fato de desenvolver a agricultura, passou a ser
mais sedentário fixando residência, desenvolvendo técnicas de construção de
moradias de madeira, pedra, tijolo e barro. A partir desse momento passou a se
reunir em aldeias e formar tribos. O misticismo religioso foi bastante
incrementado neste período, além dos rituais funerários, passou a praticar magia
e adorar divindades relacionadas com as forças cósmicas e com os astros
visíveis, gerando o politeísmo, pela visão fragmentada que o homem tinha do
Universo. Foi nessa época que surgiu, por exemplo, o mito solar, sendo o Sol a
fonte de vida (lembrar a importância do sol para a agricultura), passando a ser
considerado o maior dos deuses dos homens. Também demonstrar preocupação relativa
à morte e a uma vida futura, fato este desenvolvido posteriormente
pelos sumerianos e egípcios. Os homens deste período eram mais livres, pois
apesar de ter seus mitos e práticas de magia, não viviam sob a égide sacerdotal
(que aparece somente nos sumérios, babilônicos, egípcios, persas e hebreus).
No
entanto, foi no Neolítico que teve início aquilo que hoje chamamos de metafísica,
tomada como a ciência que trata dos princípios primeiros universais,
das coisas de ordem espiritual, relativo a tudo o que é transcendental.
Foi neste período (5.000 a
4.000 a.C.) que surgem as primeiras civilizações urbanas, com estratificação da
sociedade, emprego dos metais, uso da escrita e a consolidação do estado e da
religião como instituições definidas, embora sem separação entre o Estado e a
religião.
É no misticismo dessas antigas
civilizações e no caráter religioso das corporações de artesões medievais é que
vamos encontrar a base mística iniciática da Maçonaria contemporânea que,
embora não sendo uma religião, tem nela, a estrutura de todos os sistemas
religiosos já conhecidos pela humanidade.[8]
[1]
- Castellani, José – Rito Escocês Antigo e Aceito.
[2] - A
Suméria, geralmente considerada a civilização mais antiga da humanidade,
localizava-se na parte sul da Mesopotâmia (apesar disto os proto-sumérios
surgiram no Norte da Mesopotamia, no atual Curdistão, tal como não eram
originalmente semitas, mas sim invadidos por eles via sul proto-árabe),
apropriadamente posicionada em terrenos conhecidos por sua fertilidade, entre
os rios Tigre e Eufrates. Evidências arqueológicas datam o início da
civilização suméria em meados do quarto milénio a.C. Entre 3500 e 3000 a.C.
houve um florescimento cultural, e a Suméria exerceu influência sobre as áreas
circunvizinhas, culminando na dinastia de Ágade, fundada em aproximadamente
2340 a.C. por Sargão I, sendo que este, ao que tudo indica, seria de etnia e
língua semitas, porém na época em que os semitas originais ainda detinham a
pureza racial. Depois de 2000 a.C. a Suméria entrou em declínio, sendo
absorvida pela Babilônia e pela Assíria. Duas importantes criações atribuídas
aos sumérios são a escrita cuneiforme, que provavelmente antecede todas as
outras formas de escrita, tendo sido originalmente usada por volta de 3500
a.C.; e as cidades-estado - a mais conhecida delas sendo, provavelmente, a
cidade de Ur, construída por Ur-Nammu, o fundador da terceira dinastia Ur, por
volta de 2000 a.C.
[3]
- Castellani, José – Rito Escocês Antigo e Aceito.
[4]
- idem.
[5]
- Castellani, José - idem
[6]
- Blaney, Geoffrey – Uma Breve História do Mundo
[7]
- Castellani, José - idem
[8]
- Castellani, José – Rito Escocês Antigo e Aceito.
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