terça-feira, 9 de maio de 2017

A Gênese Maçônica - O Surgimento da Maçonaria - Parte II



                     A GÊNESE MAÇÔNICA - parte II

Por Irm.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)*


II – O SURGIMENTO DA MAÇONARIA

O misticismo na Pré-História

Para tentarmos estabelecer uma linha confiável de seqüência histórica no surgimento da Maçonaria, precisamos conhecer o aparecimento do misticismo e das religiões no âmbito da civilização humana.

O período pré-histórico, como vimos, é aquele compreendido entre o aparecimento de homídeos dotados de cultura e a descoberta da escrita (aproximadamente 4.000 a.C.), que marca o início do que denominamos história.
A importância dos tempos pré-históricos reside no fato de que nessa época surgiram os rudimentos da tecnologia, da magia, da religião e da arte, além das instituições sociais básicas, como governo, família, comércio, normas de direito e moral. É, também, nesta época, que surgem as primeiras manifestações referentes à mitologia e as idéias filosóficas, que ao lado da religião e da magia, concretizam o misticismo pré-histórico.[1]

O período pré-histórico vai entre 2.000.000 de anos atrás até o quarto milênio a.C., quando foi descoberta a escrita pelos sumerianos[2]·.

No período Paleolítico Inferior (até cerca de 150.000 anos atrás) não há registros de manifestações místicas ou religiosas, nem através de ritos funerários, embora essa seja a época mais nebulosa da pré-história humana.[3]

É no Paleolítico Médio e principalmente no Superior, é que o homem primitivo começa a se interrogar sobe os mistérios da natureza, mas faltam-lhe comunicação e organização em função da intensa luta pela sobrevivência, num ambiente hostil e sem proteção.  E no final deste período, todavia, que surgem as primeiras manifestações de caráter religioso: O Homem de Neanderthal enterravam, com cerimônias, os seus mortos, colocando objetos em seus túmulos, o que mostra, já, a crença em uma vida futura, a qual iria dominar, posteriormente, todas as religiões e todos os sistemas filosóficos de doutrinação moral, como a Maçonaria.[4]

Imagem rupestre encontrada na caverna Trois Frères (França) que mostra um feiticeiro com pele de animal, provavelmente relacionado a um ritual de magia.

Foi no Paleolítico Superior (40.000 a 15.000 a.C.) que surgiram os primeiros desenhos rupestres (ver imagem acima) e esta arte nas cavernas parece ter sido uma manifestação mágica, para assegurar êxito na caça, por exemplo. Também foram os homens deste período que começaram a povoar a América, tendo ocorrido à cerca de 30.000 anos, vindos da Ásia e atravessando a pé o Estreito de Bering no Alaska, numas das glaciações. 

A evolução do misticismo se faz apreciável[5], com ritos funerários, oferendas, rudimentos de magia para cura de doenças, para afastar os inimigos e para propiciar boas caçadas.

No Mesolítico, com duração de 3.000 anos aproximadamente, é considerado uma fase de transição entre os caçadores e os coletores de frutas espontâneas (do período Paleolítico) para os produtores de alimento (do período Neolítico). A principal característica é a adaptação do homem ás florestas que surgem por todo o mundo, após o desaparecimento do gelo proveniente da última glaciação[6]. Além disso, houve um aumento da sedentariedade e o início da domesticação dos animais, sendo que o primeiro a ser domesticado foi o cão.[7] Com relação ao misticismo não houve mudança em relação ao período do Paleolítico Superior.

No Neolítico, que se estende de 12.000 a 4.000 anos a.C., onde houve a época da invenção da escrita, que também e chamado da Idade da Pedra Polida, os homens aprimoraram os instrumentos de pedra, tornando-os mais afiados através do polimento. Surgem as roupas com tecidos (antigamente eram usados peles de animais) adequadas a vários tipos de climas. A realização mais importante, entretanto, é o fato de ter dado início da agricultura (aproximadamente 8.000 a.C.). Continuou domesticando animais e, pelo fato de desenvolver a agricultura, passou a ser mais sedentário fixando residência, desenvolvendo técnicas de construção de moradias de madeira, pedra, tijolo e barro. A partir desse momento passou a se reunir em aldeias e formar tribos. O misticismo religioso foi bastante incrementado neste período, além dos rituais funerários, passou a praticar magia e adorar divindades relacionadas com as forças cósmicas e com os astros visíveis, gerando o politeísmo, pela visão fragmentada que o homem tinha do Universo. Foi nessa época que surgiu, por exemplo, o mito solar, sendo o Sol a fonte de vida (lembrar a importância do sol para a agricultura), passando a ser considerado o maior dos deuses dos homens. Também demonstrar preocupação relativa à morte e a uma vida futura, fato este desenvolvido posteriormente pelos sumerianos e egípcios. Os homens deste período eram mais livres, pois apesar de ter seus mitos e práticas de magia, não viviam sob a égide sacerdotal (que aparece somente nos sumérios, babilônicos, egípcios, persas e hebreus). 

No entanto, foi no Neolítico que teve início aquilo que hoje chamamos de metafísica, tomada como a ciência que trata dos princípios primeiros universais, das coisas de ordem espiritual, relativo a tudo o que é transcendental.

Foi neste período (5.000 a 4.000 a.C.) que surgem as primeiras civilizações urbanas, com estratificação da sociedade, emprego dos metais, uso da escrita e a consolidação do estado e da religião como instituições definidas, embora sem separação entre o Estado e a religião.

É no misticismo dessas antigas civilizações e no caráter religioso das corporações de artesões medievais é que vamos encontrar a base mística iniciática da Maçonaria contemporânea que, embora não sendo uma religião, tem nela, a estrutura de todos os sistemas religiosos já conhecidos pela humanidade.[8]




[1] - Castellani, José – Rito Escocês Antigo e Aceito.
[2] - A Suméria, geralmente considerada a civilização mais antiga da humanidade, localizava-se na parte sul da Mesopotâmia (apesar disto os proto-sumérios surgiram no Norte da Mesopotamia, no atual Curdistão, tal como não eram originalmente semitas, mas sim invadidos por eles via sul proto-árabe), apropriadamente posicionada em terrenos conhecidos por sua fertilidade, entre os rios Tigre e Eufrates. Evidências arqueológicas datam o início da civilização suméria em meados do quarto milénio a.C. Entre 3500 e 3000 a.C. houve um florescimento cultural, e a Suméria exerceu influência sobre as áreas circunvizinhas, culminando na dinastia de Ágade, fundada em aproximadamente 2340 a.C. por Sargão I, sendo que este, ao que tudo indica, seria de etnia e língua semitas, porém na época em que os semitas originais ainda detinham a pureza racial. Depois de 2000 a.C. a Suméria entrou em declínio, sendo absorvida pela Babilônia e pela Assíria. Duas importantes criações atribuídas aos sumérios são a escrita cuneiforme, que provavelmente antecede todas as outras formas de escrita, tendo sido originalmente usada por volta de 3500 a.C.; e as cidades-estado - a mais conhecida delas sendo, provavelmente, a cidade de Ur, construída por Ur-Nammu, o fundador da terceira dinastia Ur, por volta de 2000 a.C.
[3] - Castellani, José – Rito Escocês Antigo e Aceito.
[4] - idem.
[5] - Castellani, José - idem
[6] - Blaney, Geoffrey – Uma Breve História do Mundo
[7] - Castellani, José - idem
[8] - Castellani, José – Rito Escocês Antigo e Aceito.

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