O Livro da Minha Vida Que Não Escrevi
Crônica
Por M.'. I.'. Luis Genaro L. Figoli
G.'. 33°
Dizem que todo mundo carrega dentro de si um livro. Alguns dizem até mais: uma biblioteca inteira. Eu sempre gostei de imaginar que meu livro seria uma obra-prima, algo entre um romance arrebatador e um tratado filosófico, capaz de sobreviver ao tempo e inspirar gerações. Mas aqui estou, com uma prateleira vazia e um título que nunca saiu do esboço: O Livro da Minha Vida Que Não Escrevi .
Talvez a história comece com uma cena dramática – uma criança curiosa descobrindo o mundo em uma pequena cidade, ou uma adolescente sonhadora em busca de algo que nem sabia nomear. Mas a verdade é que eu nunca consegui decidir qual seria o início ideal. Sempre houve uma lacuna entre a vida que vivi e a vida que imaginei, como se as palavras me escapassem quando eu tentava dar forma àquilo que sentia.
Ao longo dos anos, fui acumulando capítulos soltos, frases que anotava em guardanapos e parágrafos que se perdiam em cadernos esquecidos. Houve momentos em que acreditei estar perto de começar de fato. "É hoje!", dizia, sentando-me à mesa com um café fumegante e o coração acelerado. Mas bastava ler a página em branco para que a coragem se esvaísse.
A verdade é que o livro da minha vida talvez nunca tenha sido feito para ser escrito. Ele existe nas memórias que guardo, nos dias que vivi e nos sonhos que deixei escapar. Ele está nas histórias que conto aos amigos, entre risadas e nostalgias, e nas que nunca compartilho, guardadas num canto secreto de mim.
Às vezes penso que, se eu escrevesse esse livro, ele talvez não fosse nada extraordinário. Não haveria heróis de capa vermelha, reviravoltas surpreendentes ou finais épicos. Seria um livro simples, cheio de pausas, de páginas borradas e de capítulos interrompidos pela pressa do cotidiano. Ainda assim, seria meu.
Mas, em dias mais otimistas, gosto de acreditar que ainda há tempo. Quem sabe um dia eu me reunirei coragem para pegar todas essas migalhas de histórias e transformá-las em algo tangível? Quem sabe o livro da minha vida está apenas esperando o momento certo para nascer, assim como uma semente que germina no silêncio.
Enquanto isso, sigo escrevendo aos finais, sem pressa de terminar. Porque talvez o livro da minha vida não precise ser escrito para ser vivido – e, no fim das contas, viver já é a maior de todas as histórias.
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