sábado, 23 de setembro de 2023

A ASTROBIOLOGIA, A CIÊNCIA E AS CONCEPÇÕES TEOLÓGICAS SOBRE O SURGIMENTO DA VIDA

 

 



A ASTROBIOLOGIA, A CIÊNCIA E AS CONCEPÇÕES TEOLÓGICAS SOBRE O SURGIMENTO DA VIDA

Escrito por

M.´.I.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)

Grau 33°

 

Em ciência, a gente tem que ver para crer.

 Você observa a natureza, você observa o mundo,

obtém dados sobre como o mundo funciona,

analisa esses dados e entende

Pela fé, você crê para ver.

 A crença vem antes da visão.”

Marcelo Gleiser

 

A busca por respostas sobre a origem da vida é um empreendimento que tem intrigado tanto cientistas quanto filósofos e teólogos ao longo dos séculos. A disciplina da astrobiologia surge como um campo interdisciplinar que procura investigar a possibilidade de vida além da Terra e, por consequência, impacta diretamente nas concepções teológicas sobre o surgimento da vida.

A astrobiologia explora diversos aspectos, desde a compreensão das condições necessárias para a existência de vida até a busca por sinais de vida em outros planetas. A descoberta de exoplanetas em zonas habitáveis tem suscitado debates sobre a probabilidade de vida extraterrestre e suas implicações. Enquanto alguns argumentam que a existência de vida em outros mundos seria uma evidência da diversidade da criação divina, outros questionam se tal descoberta contradiz as narrativas religiosas tradicionais sobre a Terra ser o centro da criação divina.

Nas concepções teológicas, diferentes religiões e tradições têm abordado o tema de maneiras variadas. Algumas interpretações literais de textos sagrados podem entrar em conflito com a ideia de vida extraterrestre, enquanto abordagens mais simbólicas podem permitir uma maior flexibilidade na reconciliação entre fé e ciência. A descoberta de microrganismos extremófilos em ambientes inóspitos na Terra também levanta questões sobre a definição de vida e como ela se relaciona com as crenças religiosas.

É interessante notar que a astrobiologia e as concepções teológicas não precisam ser mutuamente excludentes. Muitos teólogos argumentam que a busca por vida além da Terra pode enriquecer a compreensão da criação divina, destacando a magnitude da obra divina em todo o universo. Além disso, a possibilidade de vida extraterrestre pode desafiar as religiões a repensar suas visões antropocêntricas, promovendo uma reflexão sobre o lugar da humanidade no cosmos.

A interação entre astrobiologia e concepções teológicas sobre o surgimento da vida reflete a constante busca da humanidade por respostas profundas e significativas sobre sua existência. Enquanto a ciência explora o universo físico em busca de pistas, a religião busca dar sentido a essas descobertas à luz de suas crenças espirituais. Em vez de um conflito inevitável, essa interação pode conduzir a diálogos enriquecedores que enriquecem tanto nosso conhecimento científico quanto nossa compreensão espiritual.

I - A ORIGEM DA VIDA (CONCEPÇÕES)

A origem da vida no planeta Terra é, sem dúvidas, um assunto que intriga toda a humanidade. Várias já foram as hipóteses criadas para explicar tal evento, porém até os dias atuais nenhuma foi completamente comprovada. Neste texto abordaremos algumas das principais ideias de gênese da vida.

a.     Criacionismo



De acordo com o Criacionismo, todos os seres vivos surgiram na Terra por meio de uma Criação Divina. Segundo essa ideia, Deus criou todos os seres vivos, incluindo os seres humanos, como está relatado na Bíblia. Essa ideia de origem da vida é uma das mais antigas e até hoje é aceita por muitos fiéis em torno de todo o planeta

Ao contrário do que muitos pensam, as diferentes religiões do mundo elaboraram uma versão própria da teoria criacionista.

a.1 Mitologia grega: A mitologia grega atribui a origem do homem ao feito dos titãs Epimeteu e Prometeu. Epimeteu teria criado os homens sem vida, imperfeitos e feitos a partir de um molde de barro. Por compaixão, seu irmão Prometeu resolveu roubar o fogo do deus Vulcano para dar vida à raça humana.

a.2 Mitologia chinesa: atribui a criação da raça humana à solidão da deusa Nu Wa, que, ao perceber sua sombra sob as ondas de um rio, resolveu criar seres à sua semelhança.

a.3 Criacionismo no cristianismo: O cristianismo adota a Bíblia como fonte explicativa sobre a criação do homem. Segundo a narrativa bíblica, o homem foi concebido depois que Deus criou céus e terra. Também feito a partir do barro, o homem teria ganhado vida quando Deus assoprou o fôlego da vida em suas narinas. Outras religiões contemporâneas e antigas formulam outras explicações, e algumas chegam a ter pontos de explicação bastante semelhantes.

 b. Panspermia



Panspermia é uma hipótese que afirma que a vida no planeta pode ter sido iniciada com base em partículas da vida que chegaram à Terra através do espaço. De acordo com o filósofo grego Anaxágoras, existiam sementes da vida em todo o Universo. Desse modo, a vida pode não ter sido originada aqui, e sim ter chegado ao planeta depois.

Essa ideia criou força no século XIX, quando os químicos Thenard, Vauquelin e Berzelius descobriram compostos orgânicos em amostras de um meteorito. Em 1871, o físico William Thomson propôs que meteoros ou asteroides, ao colidirem com planetas que continham vida, poderiam ter ejetado rochas contendo seres vivos. Assim, rochas contendo vida podem ter trazido ou colaborado com a origem da vida na Terra. De acordo com a teoria da panspermia, a vida pode ter chegado ao planeta por meio de um meteorito.

Fragmentos do meteorito Murchison, por exemplo, contêm mais de 80 aminoácidos diferentes. Além disso, esses fragmentos, que caíram na Austrália em 1969, contêm, além de aminoácidos, outras moléculas orgânicas fundamentais. Caso tenha maior interesse no assunto, leia nosso texto: Panspermia.

c.     Teoria de Oparin e Haldane



De forma independente, os cientistas Oparin e Haldane levantaram uma hipótese que é hoje considerada a mais aceita de origem da vida. Eles propuseram que a atmosfera primitiva da Terra apresentava compostos que sofreram a ação de raios e da radiação ultravioleta, dando origem a moléculas simples. Essas moléculas orgânicas ficavam nos oceanos primitivos, formando uma espécie de “sopa primitiva”.

De acordo com os pesquisadores, a atmosfera primitiva terrestre era composta basicamente por amônia, hidrogênio, metano e vapor d'água. O vapor d'água da atmosfera condensava-se e dava origem a chuvas. A água, ao cair no solo, evaporava-se rapidamente, uma vez que a superfície terrestre ainda era quente, dando início, desse modo, a um ciclo de chuvas. Nesse cenário observava-se ainda descargas elétricas e a radiação ultravioleta do Sol, que fazia com que os elementos atmosféricos reagissem e formassem compostos, os aminoácidos.

A água das chuvas levou esses aminoácidos à superfície terrestre. Esses, ao encontrarem condições favoráveis, começaram a formar estruturas semelhantes a proteínas. Com a formação dos oceanos, essas “proteínas primitivas” foram arrastadas para esses locais e formaram os coacervados, os quais podem ser definidos como agregados de proteínas rodeados por água. Após algum tempo, esses coacervados tornaram-se estáveis e mais complexos.

A ideia de Oparin-Haldane foi posteriormente testada pelos pesquisadores Miller e Urey, em 1953. Eles criaram um experimento em que foi possível simular as condições da Terra primitiva. O resultado foi impressionante, tendo sido eles capazes de produzir aminoácidos e outros compostos orgânicos. Desse modo, ambos concluíram que moléculas orgânicas podiam ser geradas de maneira espontânea em condições equivalentes às da Terra primitiva.

Entretanto, posteriormente, descobriu-se que a atmosfera primitiva provavelmente não era um ambiente como o sugerido por Oparin e Haldane. Ainda assim, mesmo considerando as novas descobertas para as características da atmosfera da Terra primitiva, foi possível produzir moléculas orgânicas.

Vale salientar também que a atmosfera primitiva poderia ser redutora em pequenas porções, como aquelas perto de aberturas de vulcões. Experimentos realizados nessas condições também geraram aminoácidos.

d.     Alimentação do primeiro ser vivo: hipóteses autotrófica e heterotrófica

Além de compreender como os seres vivos surgiram, os cientistas também buscam saber como esses sobreviveram em um ambiente tão remoto. Muito se discute ainda se o primeiro ser vivo era autotrófico ou heterotrófico, sendo possível observar muita discordância entre os autores de livros didáticos nesse sentido. Veja a seguir essas duas hipóteses:

Hipótese heterotrófica: afirma que o primeiro ser vivo não era capaz de produzir seu próprio alimento. Desse modo, esses primeiros seres alimentavam-se de moléculas orgânicas que estavam presentes no meio. Os que defendem essa ideia afirmam que os seres vivos primitivos seriam muito simples e incapazes de produzir seu próprio alimento. Provavelmente esses organismos extraiam energia dos alimentos por meio da realização da fermentação.

Hipótese autotrófica: afirma que os primeiros seres vivos eram capazes de produzir seu próprio alimento. Os autores que sustentam essa ideia acreditam que a Terra não possuía moléculas orgânicas suficientes para alimentar esses primeiros seres. Entretanto, vale destacar que provavelmente os primeiros organismos conseguiram obter seu alimento pelo processo de quimiossíntese, que não necessita de energia luminosa, como a fotossíntese. Na quimiossíntese os seres vivos produzem moléculas orgânicas utilizando a energia química.

 

II - EXPLOREMOS MAIS OS CONCEITOS:

1.     Astrobiologia:

A astrobiologia é uma disciplina científica que explora a possibilidade de vida em outras partes do universo, além da Terra. Ela engloba várias áreas, como a astronomia, biologia, química e geologia, para entender as condições necessárias para a existência de vida e procurar por sinais de vida em outros planetas, luas e exoplanetas. A astrobiologia também explora ambientes extremos na Terra, como fontes termais e ambientes subterrâneos, para entender a diversidade da vida e como ela poderia se manifestar em condições diferentes das encontradas em nosso planeta.

Um dos mais influentes Astrofísicos brasileiros, que atua nos EUA, explica que sim, existe uma fronteira entre ciência e religião, mas não, não é necessário haver um conflito entre ambas, conhecido por seu trabalho de divulgação da ciê Gleiser sustenta uma postura de demarcação entre ciência e religião sem que por isso haja conflito entre ambas.

O método científico, propõe Gleiser, caracteriza-se pelas evidências empíricas sobre as quais ele se apoia. O cientista não pode acreditar em algo simplesmente porque ele deseja — ele deve fundamentar sua opinião em dados empíricos.

Gleiser ainda argumenta que a “guerra” entre ciência e religião é fabricada: nos EUA, aproximadamente 40% dos cientistas dizem acreditar em Deus de alguma maneira. Portanto, a crença religiosa não entra necessariamente em conflito com a atividade científica: para esses cientistas, a ciência ajuda a revelar a beleza da Criação. Essa complementaridade é perturbada apenas quando esquecemos do propósito de cada uma dessas atividades.

2.     Concepções Teológicas:

As concepções teológicas sobre o surgimento da vida variam de acordo com as diferentes religiões e interpretações de textos sagrados. Para algumas tradições religiosas, como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, a criação da vida é vista como um ato divino, geralmente retratado em narrativas religiosas como o Livro do Gênesis. Essas interpretações literais podem entrar em conflito com as descobertas científicas, como a evolução das espécies proposta por Charles Darwin.

No entanto, muitos teólogos adotaram uma abordagem mais simbólica e metafórica para a criação, permitindo uma conciliação entre a fé e a ciência. Eles veem as narrativas religiosas como expressões profundas da relação entre a humanidade e o divino, em vez de descrições literais de eventos históricos. Isso abre espaço para interpretar as descobertas científicas, como a evolução, como parte do plano divino.

3.     A Astrobiologia e a Teologia:

O diálogo entre astrobiologia e concepções teológicas é uma área em constante evolução. Enquanto algumas pessoas veem a ciência e a religião como duas perspectivas inconciliáveis, muitos especialistas e pensadores argumentam que esses campos podem se complementar e enriquecer mutuamente. A busca por vida extraterrestre pode inspirar novas reflexões sobre o propósito da criação, a diversidade da vida e a posição da humanidade no cosmos.

Além disso, a descoberta de exoplanetas em zonas habitáveis e a pesquisa de ambientes extremos na Terra podem lançar luz sobre a resiliência da vida e a variedade de formas que ela poderia assumir. Essas descobertas podem levar a uma compreensão mais ampla da complexidade da existência e da maravilha do universo, tanto do ponto de vista científico quanto espiritual.

Em última análise, a interação entre a astrobiologia e as concepções teológicas sobre o surgimento da vida é um lembrete poderoso de que a busca pelo conhecimento e a exploração da espiritualidade podem coexistir de maneira harmoniosa, enriquecendo nossa compreensão do mundo ao nosso redor e do nosso lugar nele.

4.     O Diálogo entre a Ciência e a Religião

O diálogo entre ciência e religião é uma questão complexa que tem uma história longa e diversificada, e continua a evoluir à medida que avançamos para o futuro.

a.     História do Diálogo:

A história do diálogo entre ciência e religião é repleta de momentos de tensão e cooperação. Na Idade Média, por exemplo, a Igreja Católica desempenhou um papel fundamental na preservação e tradução de textos científicos clássicos. No entanto, também houve episódios de conflito, como o julgamento de Galileu Galilei no século XVII, quando suas descobertas astronômicas foram consideradas heréticas pela Igreja.

No século XIX, com o advento da teoria da evolução de Charles Darwin, houve um novo conflito entre ciência e religião. Alguns setores religiosos se opuseram vigorosamente à ideia de evolução, enquanto outros buscaram integrar a teoria da evolução em suas crenças, argumentando que a evolução era o método divino de criação.

b.     Tendências Atuais:

Hoje em dia, o diálogo entre ciência e religião continua, mas de maneira mais complexa e matizada. Muitos cientistas e religiosos procuram encontrar maneiras de reconciliar suas crenças religiosas com as descobertas científicas. Por exemplo, teólogos e filósofos da religião exploram como a teoria do Big Bang se relaciona com a ideia de criação divina.

Além disso, algumas religiões, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, têm tradições teológicas que acomodam bem a ciência, enquanto outras, como o criacionismo literal, ainda estão em conflito direto com certas áreas da ciência.

c.     O Futuro do Diálogo:

O futuro do diálogo entre ciência e religião é incerto, mas parece que a tendência é para uma maior compreensão e colaboração. À medida que a ciência avança e desvenda mais mistérios do universo, as religiões podem continuar a adaptar suas interpretações para acomodar essas descobertas.

Por outro lado, a ética e os valores também desempenham um papel importante nesse diálogo. À medida que a tecnologia avança, questões éticas relacionadas à engenharia genética, inteligência artificial e outras áreas da ciência emergem, e as religiões podem fornecer orientação moral nesses debates.

O diálogo entre ciência e religião, enfim, é uma questão em constante evolução, que reflete as mudanças na sociedade, na ciência e nas crenças religiosas. O futuro desse diálogo dependerá de como as partes envolvidas abordam questões complexas e desafiadoras à medida que avançamos no entendimento do mundo que nos rodeia.

5.     Visão Filosófica:

A relação entre ciência e religião tem sido um tema central na filosofia da religião e na filosofia da ciência. Os filósofos buscam entender como essas duas áreas do conhecimento se relacionam e se complementam, ou se entram em conflito.

a.  Agostinho de Hipona (354-430): Agostinho, também conhecido como Santo Agostinho, teve uma influência significativa na filosofia da religião. Ele argumentou que a fé e a razão podem coexistir, mas a fé deve estar acima da razão. Para ele, a razão é importante para compreender o mundo material, enquanto a fé é necessária para compreender as verdades espirituais.

b.     Tomás de Aquino (1225-1274): Aquino, um teólogo e filósofo, desenvolveu a ideia de que a razão e a fé não estão em conflito, mas podem complementar-se mutuamente. Sua obra "Summa Theologica" explora como a filosofia aristotélica pode ser usada para explicar e compreender os ensinamentos religiosos.

c.     Immanuel Kant (1724-1804): Kant abordou a questão da relação entre ciência e religião de uma maneira diferente. Ele propôs a ideia de que a religião é uma questão de fé prática, não de conhecimento teórico. Ele argumentou que a moralidade e a religião são domínios separados da experiência humana.

d.     Ian Barbour (1923-2013): Barbour, um físico e teólogo, é conhecido por seu trabalho em ética e religião na era científica. Ele cunhou o termo "diálogo construtivo" para descrever a interação entre ciência e religião, argumentando que eles podem se influenciar de maneira positiva.

e.     Albert Einstein (1879-1955), o renomado físico teórico, tinha uma visão complexa sobre a relação entre ciência e religião. Sua posição geralmente é descrita como sendo não religiosa ou deísta. Aqui estão alguns pontos chave sobre a posição de Einstein em relação a esses dois domínios:

Deísmo: Einstein acreditava em um Deus que estava ligado à ordem e à harmonia do universo, mas sua concepção de Deus era mais impessoal e deísta do que a de uma divindade pessoal envolvida em assuntos humanos. Ele muitas vezes se referia a Deus como "o Espírito Superior" ou "o Deus de Spinoza", em referência ao filósofo Baruch Spinoza, que também tinha uma visão deísta da divindade.

Religião Organizada: Einstein era crítico em relação à religião organizada e às instituições religiosas. Ele via muitas formas de religião como dogmáticas e limitadoras da liberdade de pensamento. No entanto, ele respeitava a espiritualidade pessoal e a busca individual por significado.

Ciência e Religião: Einstein via a ciência e a religião como duas abordagens diferentes para compreender o mundo. Ele acreditava que a ciência lida com questões empíricas e verificáveis, enquanto a religião se concentra nas questões de significado e moral. Ele argumentava que esses dois domínios não eram mutuamente excludentes, mas complementares. Para ele, a religião fornecia um senso de admiração e maravilha que inspirava a investigação científica.

Ética: Einstein enfatizava a importância da ética e da responsabilidade humana. Ele acreditava que a ciência deveria ser usada para o benefício da humanidade e que a moralidade era fundamental para a nossa sobrevivência.

A posição de Einstein sobre ciência e religião pode ser resumida como uma crença em um Deus deísta, uma crítica à religião organizada, e a visão de que ciência e religião abordam diferentes aspectos da experiência humana. Sua perspectiva influenciou o debate sobre a relação entre esses dois domínios e continua sendo objeto de discussão e estudo até hoje.

f.   Stephen Hawking (1942-2018): O renomado físico teórico e cosmólogo, tinha uma visão claramente secular e ateísta sobre a relação entre ciência e religião. Ele expressou suas opiniões em várias ocasiões e em seu livro "Uma Breve História do Tempo". Aqui estão alguns pontos chave sobre a posição de Hawking em relação a esses dois domínios:

Ateísmo: Hawking se descreveu como um ateu. Ele argumentava que não via evidências convincentes para a existência de um Deus ou uma divindade, e considerava a crença em Deus como uma questão de fé pessoal, não de base científica. Ele afirmava que a ciência poderia explicar o universo sem a necessidade de recorrer a uma entidade divina.

Origem do Universo: Hawking fez contribuições significativas para nossa compreensão da origem do universo, como a teoria do Big Bang e os conceitos de buracos negros. Ele argumentava que a ciência oferecia explicações naturalistas para a criação do universo, eliminando a necessidade de uma criação divina.

Filosofia da Ciência: Hawking era conhecido por sua abordagem rigorosa e cética em relação à filosofia da ciência. Ele muitas vezes destacava a importância de testar as teorias científicas por meio de observações e experimentos, em oposição a especulações filosóficas.

Ética e Responsabilidade Humana: Embora Hawking fosse cético em relação à religião, ele enfatizava a importância da ética e da responsabilidade humana. Ele argumentava que, como seres racionais, temos a responsabilidade de cuidar do planeta e de nossos semelhantes, independentemente de crenças religiosas.

Em resumo, a posição de Stephen Hawking sobre a relação entre ciência e religião era claramente ateísta e secular. Ele via a ciência como o meio mais confiável para compreender o universo e argumentava que a crença em Deus era uma questão de fé pessoal, não de evidência científica. Suas opiniões influenciaram o debate sobre ateísmo e religião no contexto da ciência e continuam sendo objeto de discussão e reflexão.

Sua análise é decepcionantemente fraca em pontos muito críticos. O Big Bang, ele argumenta, foi a consequência inevitável das leis da física. “Porque existe uma lei como a gravidade, o universo pode e irá criar a si mesmo do nada.” No entanto, Hawking parece confundir lei com a agência (agency) ou força energia. Leis em si não criam nada. Elas são meramente uma descrição do que acontece sob certas condições. A Lei da Gravidade “explica” porque uma bola chutada, faz uma elipse e acaba caindo na terra, atraída por ela (segundo a física uma massa maior, atrai uma massa menor). Mas não explica um passo atrás: por quê existe uma “lei” da gravidade. Fruto do acaso? Aliás, não somente esta lei, mas todas as outras.

g.     Charles Darwin (1809-1882): o renomado naturalista que desenvolveu a teoria da evolução por seleção natural, teve um impacto significativo nas discussões sobre ciência e teologia durante e após sua vida. Sua teoria trouxe desafios consideráveis para as concepções teológicas tradicionais da criação e da origem da vida. Aqui estão alguns pontos importantes sobre Darwin e sua influência na relação entre ciência e teologia:

 

Teoria da Evolução: A teoria da evolução de Darwin, apresentada em sua obra "A Origem das Espécies" em 1859, postulava que as espécies evoluem ao longo do tempo por meio de um processo de seleção natural. Isso implicava que a diversidade da vida na Terra poderia ser explicada sem recorrer a um ato de criação divina. A ideia de que as espécies mudam gradualmente ao longo das gerações desafiou as interpretações literais de textos religiosos que descreviam a criação em um curto período de tempo.

Conflito Inicial: A teoria de Darwin provocou um conflito inicial entre a ciência e a teologia. Muitos líderes religiosos e crentes viram a evolução como uma ameaça às suas crenças religiosas tradicionais. O debate mais notável ocorreu com a Igreja Católica, que inicialmente condenou a teoria, mas posteriormente acomodou a evolução em sua doutrina, argumentando que a evolução era compatível com a ideia de um Deus criador.

Reconciliação Teológica: Com o tempo, algumas interpretações religiosas adaptaram-se à teoria da evolução. A teologia da criação evolucionista, por exemplo, argumenta que Deus utilizou a evolução como meio de criar e diversificar a vida. Isso permitiu que muitas pessoas reconciliassem suas crenças religiosas com as descobertas científicas de Darwin.

Questões Éticas e Morais: Darwin também contribuiu para o pensamento sobre ética e moral. Ele argumentava que a moralidade humana poderia ser compreendida em termos de evolução, como comportamentos que promovem a sobrevivência e o sucesso reprodutivo. Isso influenciou as discussões sobre ética secular, destacando a importância da cooperação e da empatia na sociedade humana.

Charles Darwin e sua teoria da evolução desempenharam um papel central na relação entre ciência e teologia. Sua teoria inicialmente gerou conflitos, mas também levou a esforços para reconciliar a ciência com as crenças religiosas. A evolução continua sendo um tópico importante no diálogo entre a ciência e a teologia, à medida que as interpretações religiosas continuam a se adaptar às descobertas científicas.

6.     E a Maçonaria:

Entre os autores maçônicos o debate também se deu em vários níveis. Albert Pike (1809-1891) , como uma figura proeminente na Maçonaria do século XIX, não é amplamente conhecido por suas opiniões sobre ciência, o surgimento da vida ou religião em um sentido acadêmico ou científico. Em vez disso, seu foco principal estava na Maçonaria e na filosofia maçônica. É importante ressaltar que as opiniões expressas por Albert Pike não representam uma autoridade na ciência ou na teologia, mas refletem suas visões pessoais e filosofia maçônica. Aqui estão algumas ideias gerais que podem ser associadas a Albert Pike em relação a esses temas:

a.     Ciência: Pike, em sua obra "Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry," aborda questões filosóficas e morais, mas não se concentra especificamente na ciência. No entanto, a Maçonaria em geral valoriza a busca pelo conhecimento e pelo entendimento, o que pode ser considerado um paralelo à ênfase na ciência como uma forma de compreender o mundo natural.

b.     Surgimento da Vida: Como um maçom, Albert Pike não tinha um papel central na discussão científica sobre o surgimento da vida. A questão do surgimento da vida é uma área de pesquisa científica que envolve biologia, química e geologia, enquanto Pike estava mais preocupado com questões filosóficas e morais relacionadas à Maçonaria.

c.     Religião: A Maçonaria, em geral, é uma organização que enfatiza a tolerância religiosa e não prescreve uma religião específica aos seus membros. Albert Pike escreveu sobre temas religiosos em sua obra maçônica, enfatizando a ideia de um Ser Supremo ou Grande Arquiteto do Universo, conceito comum na Maçonaria. Essa ideia não está alinhada com nenhuma religião específica, mas reconhece a existência de um princípio divino.

Em resumo, Albert Pike é mais conhecido por suas contribuições para a Maçonaria e a filosofia maçônica do que por suas opiniões sobre ciência, o surgimento da vida ou religião em um contexto estritamente científico ou teológico. Suas visões estavam mais relacionadas à Maçonaria como uma organização que promove princípios morais e filosóficos, com ênfase na tolerância religiosa e no reconhecimento de um princípio divino que não se alinha com nenhuma religião específica.

Um escritor maçônico que abordou a questão da ciência e da teologia em sua obra é Manly P. Hall[1]. Foi um autor, filósofo e maçom americano que desempenhou um papel significativo na divulgação da filosofia e dos ensinamentos maçônicos. Em sua extensa obra, ele explorou temas relacionados à espiritualidade, simbolismo e a interação entre a ciência e a espiritualidade.

Em várias de suas palestras e escritos, Manly P. Hall abordou como a ciência e a espiritualidade podem ser reconciliadas. Ele argumentava que a ciência e a religião, quando adequadamente compreendidas, não precisam estar em conflito, mas podem ser vistas como duas maneiras de explorar a mesma realidade.

Hall também enfatizou a importância do simbolismo na Maçonaria e em outras tradições esotéricas, argumentando que esses símbolos podem conter conhecimentos profundos sobre a natureza do universo e a relação entre o homem e o divino. Ele acreditava que a Maçonaria, em particular, era uma tradição que preservava antigas verdades espirituais por meio de símbolos e rituais.

Embora Manly P. Hall não fosse um cientista ou teólogo no sentido tradicional, suas obras e palestras sobre a relação entre ciência, espiritualidade e simbolismo exerceram uma influência significativa na compreensão maçônica desses temas. Suas contribuições continuam a ser estudadas e debatidas por aqueles interessados na Maçonaria e na filosofia esotérica.

Manly P. Hall não desenvolveu uma teoria científica ou teológica específica, mas em suas obras e palestras, ele explorou princípios filosóficos e espirituais que ele acreditava estarem subjacentes às tradições esotéricas, incluindo a Maçonaria. Seu trabalho foi influenciado por uma variedade de filosofias e correntes de pensamento, incluindo o esoterismo, o hermetismo e a tradição platônica. Aqui estão alguns dos fundamentos filosóficos e espirituais que Manly P. Hall abordou em sua obra:

a.     Simbolismo: Hall enfatizou a importância do simbolismo como uma linguagem que carrega significados profundos e universais. Ele argumentava que os símbolos, como os usados na Maçonaria, continham conhecimento espiritual e filosófico que poderia ser compreendido por aqueles que buscavam a sabedoria esotérica.

b.     Unidade de Todas as Religiões: Hall via uma unidade subjacente em todas as religiões e tradições espirituais. Ele acreditava que, no cerne de todas essas tradições, havia um conjunto comum de verdades espirituais que podiam ser descobertas por meio do estudo e da contemplação.

c.     Busca pela Sabedoria Interior: Ele encorajava as pessoas a procurarem a sabedoria dentro de si mesmas, argumentando que cada indivíduo possui uma centelha divina e a capacidade de compreender as verdades espirituais por meio da introspecção e da meditação.

d.     Compreensão da Natureza e do Universo: Hall acreditava que a compreensão da natureza e do universo era fundamental para a busca da sabedoria. Ele via a ciência como uma ferramenta importante para explorar os mistérios do mundo natural e integrar essa compreensão com a espiritualidade.

e.     Ética e Responsabilidade Pessoal: Ele enfatizava a importância da ética e da responsabilidade pessoal como parte da jornada espiritual. Acreditava que a busca da sabedoria deveria levar a uma vida moral e ao serviço à humanidade.

Em resumo, Manly P. Hall fundamentou seu trabalho em princípios filosóficos e espirituais que enfatizavam a busca da sabedoria, a unidade subjacente a todas as tradições espirituais, o simbolismo como uma linguagem de significado profundo e a importância da ética pessoal. Suas obras continuam sendo lidas e estudadas por aqueles interessados na espiritualidade, na Maçonaria e nas tradições esotéricas.

Nos Graus Superiores da Maçonaria temos algumas explicações mais aprofundadas sobre ciência, teologia, origem da vida e uma explicação particular sobre a origem e objetivo do Universo, que não é objeto deste artigo, porquanto não vamos abordar.

 

Em suma, os debates filosóficos sobre questões éticas relacionadas à ciência, como a engenharia genética, a inteligência artificial e a bioética, provavelmente desempenharão um papel importante no futuro. Os filósofos buscarão fornecer insights sobre como as crenças religiosas e os princípios éticos podem guiar nossas decisões em um mundo cada vez mais científico e tecnológico.

Em última análise, o diálogo filosófico entre ciência e religião enriquece nossa compreensão das complexas interações entre fé, razão e conhecimento, e continuará a ser um campo importante de investigação e reflexão no futuro.

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SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "Origem da vida"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/origem-vida.htm. Acesso em 23 de setembro de 2023.

https://brasilescola.uol.com.br/biologia/origem-vida.htm

Wikipedia

PIKE, Albert – “Moral e Dogma”;

GLEISER, Marcelo – “Poeira das Estrelas”

HAWKING, Stephen – “Uma Breve História do Tempo”;

HALLS, Manly Palmer – “The Secret Teachings of All Ages: An Encyclopedic Outline of Masonic, Hermetic, Qabbalistic and Rosicrucian Symbolical Philosophy”



[1] Manly Palmer Hall (18 de março de 1901 - 29 de agosto de 1990) foi um autor, conferencista, astrólogo, místico e maçom canadense . Ao longo de sua carreira de 70 anos, ele deu milhares de palestras e publicou mais de 150 volumes, dos quais o mais conhecido é Os Ensinamentos Secretos de Todas as Idades (1928). Em 1934 ele fundou a Sociedade de Pesquisa Filosófica em Los Angeles. Após o sucesso de Os Ensinamentos Secretos de Todas as Idades, Hall publicou vários livros, os principais dos quais incluíam Os Artífices Dionisíacos (1936), Maçonaria dos Antigos Egípcios (1937) e Ordens Maçônicas de Fraternidade (1950). Continuando sua carreira até os setenta anos e além, Hall proferiu aproximadamente 8.000 palestras nos Estados Unidos e no exterior, escreveu mais de 150 livros e ensaios e escreveu inúmeros artigos para revistas . Hall aparece na introdução do filme de 1938, When Were You Born, um mistério de assassinato que usa a astrologia como ponto-chave da trama. Hall escreveu a história original do filme (roteiro de Anthony Coldeway) e também é creditado como narrador.

 

 

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