quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

ESTAMOS NA CAVERNA DE PLATÃO?

Por:

M.`.I.´. Luis Genaro L. Figoli (Mestre Moshe)

33°


Imagine um grupo de pessoas acorrentadas em uma caverna, desde o nascimento, sem jamais terem visto a luz do sol. Elas estão posicionadas de forma que só conseguem olhar para a parede à sua frente. Atrás delas, há uma fogueira e, entre a fogueira e os prisioneiros, pessoas passam carregando objetos que projetam sombras na parede. Para essas pessoas acorrentadas, as sombras são a única realidade que conhecem. Elas não sabem que há um mundo lá fora, um mundo de cores, formas e luz genuína. Essa é a essência do Mito da Caverna, descrito por Platão em sua obra A República, uma alegoria que atravessa séculos e continua a ressoar em nossa sociedade.

Agora, olhemos para a modernidade. Será que realmente saímos da caverna ou apenas trocamos suas sombras por outras?

Hoje, as sombras não são mais projetadas em uma parede de pedra, mas em telas que carregamos no bolso. Vivemos em um mundo onde a informação nos é constantemente entregue, mas será que estamos enxergando a verdade ou apenas reflexos dela? Redes sociais, algoritmos, notícias manipuladas, filtros de realidade: tudo isso forma as novas sombras que consumimos sem questionar. Assim como os prisioneiros da caverna, aceitamos essas projeções como realidade absoluta.

Na caverna moderna, somos bombardeados por imagens idealizadas de vidas perfeitas, corpos esculturais, opiniões prontas e verdades fabricadas. Cada postagem no Instagram, cada vídeo viral no TikTok ou manchete sensacionalista no Twitter é uma nova sombra projetada que consumimos avidamente. E, como os prisioneiros de Platão, nos acostumamos tanto a essas sombras que esquecemos que existe algo além delas.

Mas o que acontece quando alguém tenta sair dessa caverna? O que acontece quando uma pessoa decide questionar, investigar e buscar a luz? Assim como no mito, a saída é dolorosa. A luz do sol — ou a verdade, nesse caso — cega, ofusca e incomoda. É mais fácil permanecer na caverna, confortável com as sombras que já conhecemos. Quem tenta enxergar além muitas vezes se torna alvo de zombaria ou descrédito — afinal, é mais cômodo acreditar no que sempre acreditamos do que encarar o desafio de reconstruir nossa visão de mundo.

E há outro ponto importante: mesmo que alguém consiga escapar e alcançar a luz, o que acontece quando ela tenta voltar para a caverna? No mito, Platão descreve que os prisioneiros rejeitam o relato de quem viu o mundo lá fora. Preferem as sombras, pois é o que conhecem. No mundo moderno, não é diferente. Quem tenta questionar as narrativas dominantes, desmascarar as ilusões ou propor reflexões profundas muitas vezes é tratado como louco, conspiracionista ou idealista ingênuo.

Estamos, então, presos em uma nova caverna de Platão, mas agora as correntes são invisíveis. Elas são feitas de distrações constantes, superficialidade, polarização e da ilusão de que temos acesso irrestrito à verdade. No entanto, essa verdade é cuidadosamente moldada por interesses econômicos, políticos e sociais. O algoritmo decide o que vemos, e nós acreditamos que escolhemos.

A questão que Platão nos deixou há mais de dois mil anos permanece viva: como podemos nos libertar? A resposta não é simples, mas talvez o primeiro passo seja reconhecer que estamos na caverna. Precisamos aprender a questionar o que consumimos, buscar fontes diversas, sair de nossas bolhas e, acima de tudo, desenvolver o pensamento crítico. É um caminho difícil e solitário, mas essencial para quem deseja enxergar o mundo como ele realmente é.

Portanto, a caverna de Platão não é apenas uma alegoria filosófica distante. Ela é um reflexo do mundo em que vivemos. A pergunta que fica é: você está disposto a sair da caverna ou prefere continuar assistindo às sombras?

Bibliografia:

Platão, A República. 

Nenhum comentário: