sábado, 28 de outubro de 2023

Somos Todos uma Obra Inédita e Inacabada – Uma perspectiva da obra de Sartre e de Erikson

 

Somos Todos uma Obra Inédita e Inacabada – Uma perspectiva da obra de Sartre e de Erikson

 “Somos condenados a ser livres.”

Jean-Paul Sartre

Por M.´. I.´. Luis Genaro L. Figoli (Moshe)

Grau 33° REAA

 


 Introdução

A ideia de que somos todos uma obra inédita e inacabada é profundamente filosófica e existencial, colocando em questão a natureza humana e nossa busca constante pela autenticidade e pelo desenvolvimento pessoal. Neste artigo, exploraremos essa concepção, analisando-a a partir de perspectivas filosóficas e psicológicas. Vamos abordar a obra "O Ser e o Nada" de Jean-Paul Sartre[1], bem como as teorias do desenvolvimento humano de Erik Erikson, para lançar luz sobre essa fascinante ideia.

 

A Perspectiva Existencialista de Jean-Paul Sartre

O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, em sua obra "O Ser e o Nada", argumentou que somos todos, obras inéditas e inacabadas devido à nossa capacidade de escolher e definir nossa própria existência. Sartre introduziu o conceito de "liberdade radical", que sugere que somos completamente livres para escolher o que fazemos e quem queremos ser. Essa liberdade implica uma responsabilidade esmagadora, pois somos os únicos responsáveis por nossas escolhas e ações.

Para Sartre, a inacabamento da existência humana está intrinsecamente ligada à nossa liberdade de escolher nossos valores, objetivos e identidades. Cada escolha que fazemos molda nossa existência de uma maneira única e imprevisível, tornando-nos obras inacabadas que estão constantemente em processo de se definir. Isso implica que nunca alcançamos um estado final ou uma identidade fixa, pois estamos em constante evolução.

 

Desenvolvimento Humano e Identidade

Erik Erikson[2], psicólogo do desenvolvimento, abordou a questão da identidade ao longo da vida em sua teoria das crises psicossociais. De acordo com Erikson, a vida é uma série de estágios, cada um com uma crise específica que deve ser resolvida para alcançar um desenvolvimento saudável. Essas crises estão relacionadas à identidade e ao processo de se tornar uma pessoa única e autêntica.

Em seu estágio de adolescência, Erikson discute a "crise da identidade versus confusão de papéis". Neste período, os jovens exploram diferentes identidades e papéis, e a resolução bem-sucedida dessa crise leva a uma identidade sólida e um senso de si mesmo. No entanto, essa identidade está longe de ser fixa, pois continuamos a nos desenvolver e evoluir ao longo da vida.

 

Implicações para a Autenticidade e o Crescimento Pessoal

A ideia de que somos obras inéditas e inacabadas tem implicações significativas para nossa busca pela autenticidade e crescimento pessoal. Ela nos lembra que a mudança e a evolução são partes intrínsecas da experiência humana. Portanto, não devemos temer a mudança, mas sim abraçá-la como uma oportunidade para nos tornarmos mais autênticos e alinhados com nossos valores.

Além disso, a noção de que somos obras inacabadas nos encoraja a abraçar a incerteza e a explorar diferentes aspectos de nossa identidade ao longo da vida. Isso nos permite experimentar, aprender e crescer, em vez de nos prendermos a uma identidade rígida que não reflita mais quem somos.

 

A Natureza Complexa da Identidade

Nossa identidade é uma construção complexa que abrange uma variedade de aspectos, incluindo nossa personalidade, valores, crenças, experiências de vida e relacionamentos. Cada um desses elementos contribui para quem somos, e todos estão em constante evolução. Isso significa que, ao longo de nossas vidas, estamos continuamente adicionando novos capítulos à nossa história pessoal.

A perspectiva existencialista de Sartre e a teoria das crises psicossociais de Erikson destacam a importância da autenticidade na formação de nossa identidade. Sartre argumenta que a autenticidade está intrinsecamente ligada à liberdade de escolher nossos valores e ações. Ser autêntico significa assumir a responsabilidade por nossas escolhas e viver de acordo com nossos valores, mesmo quando isso implica confrontar a angústia existencial que pode surgir.

Erikson, por sua vez, enfatiza a importância de encontrar um senso de identidade verdadeira ao longo da vida. Cada estágio de desenvolvimento traz novas oportunidades e desafios para explorar e desenvolver nossa identidade, desde a infância até a velhice. Isso ilustra a ideia de que a identidade é uma jornada contínua, com cada estágio oferecendo a oportunidade de revisitar e redefinir quem somos.

 

A Influência da Sociedade e da Cultura

Além dos fatores individuais, a sociedade e a cultura desempenham um papel fundamental na formação de nossa identidade. A sociedade fornece uma estrutura na qual desenvolvemos nossos papéis sociais, nossa moral e nossas crenças. No entanto, essa influência externa nem sempre está alinhada com nossa busca por autenticidade.

A pressão social, as expectativas culturais e as normas podem criar conflitos internos, desafiando nossa capacidade de ser autênticos. Portanto, a jornada para se tornar uma obra inédita e inacabada envolve muitas vezes reconciliar as influências externas com nossos valores e desejos internos. Isso exige uma constante reflexão e autoconhecimento para determinar qual parte de nossa identidade é verdadeiramente nossa e qual parte é moldada pela sociedade.

 

Resiliência e Crescimento

Uma obra inédita e inacabada implica uma abordagem de crescimento contínuo e resiliência. Aceitar que somos inacabados nos dá permissão para cometer erros, aprender com eles e crescer. Essa abordagem nos ajuda a superar desafios e adversidades, pois reconhecemos que somos capazes de nos adaptar e evoluir.

A noção de inacabamento também nos incentiva a buscar novas experiências e oportunidades de aprendizado. A vida está cheia de possibilidades, e cada experiência pode contribuir para nossa jornada de autodescoberta. A exploração de novos horizontes, a exposição a diferentes perspectivas e o desenvolvimento de novas habilidades contribuem para enriquecer nossa identidade e torná-la mais completa.

Conclusão

A ideia de que somos todos uma obra inédita e inacabada é uma reflexão profunda sobre a natureza humana e a busca pela autenticidade. Jean-Paul Sartre nos lembra que somos livres para escolher nossas identidades e que cada escolha que fazemos nos molda de maneira única. Erik Erikson adiciona que o desenvolvimento da identidade é um processo contínuo ao longo da vida. Essas perspectivas nos encorajam a abraçar a mudança e a explorar nossa identidade em constante evolução.

Em última análise, somos obras inacabadas que estão sempre em processo de se definir. Devemos abraçar essa jornada e aproveitar a oportunidade de crescer, evoluir e buscar a autenticidade em nossas vidas.

 

Referências Bibliográficas:

Sartre, Jean-Paul. (1943). "O Ser e o Nada." Editora Vozes.

Erikson, Erik H. (1968). "Identidade: Juventude e Crise." Editora Artes Médicas.



[1] Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de junho de 1905 – Paris, 15 de abril de 1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra. Repeliu as distinções e as funções problemáticas e, por estes motivos, se recusou a receber o Nobel de Literatura de 1964.[2] Sua filosofia dizia que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter uma "essência" que suceda à existência.[3] Ele também é conhecido por seu relacionamento aberto que durou cerca de 51 anos (até sua morte) com a filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir.

[2] Erik Homburger Erikson (Frankfurt, 15 de junho de 1902 — Harwich, 12 de maio de 1994) foi um psicólogo do desenvolvimento e psicanalista alemão-americano conhecido por sua teoria sobre o desenvolvimento psicológico dos seres humanos. Ele cunhou a expressão crise de identidade. Apesar de não ter diploma universitário, Erikson atuou como professor em instituições proeminentes, incluindo Harvard, Universidade da Califórnia, Berkeley, e Yale. Uma pesquisa da Review of General Psychology, publicada em 2002, classificou Erikson como o 12º psicólogo mais eminente do século XX.

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