Somos Todos uma Obra Inédita e Inacabada – Uma perspectiva
da obra de Sartre e de Erikson
Jean-Paul Sartre
Por M.´. I.´. Luis Genaro L. Figoli (Moshe)
Grau 33° REAA
A ideia de
que somos todos uma obra inédita e inacabada é profundamente filosófica e
existencial, colocando em questão a natureza humana e nossa busca constante
pela autenticidade e pelo desenvolvimento pessoal. Neste artigo, exploraremos
essa concepção, analisando-a a partir de perspectivas filosóficas e
psicológicas. Vamos abordar a obra "O Ser e o Nada" de Jean-Paul
Sartre[1], bem como as teorias do
desenvolvimento humano de Erik Erikson, para lançar luz sobre essa fascinante
ideia.
A
Perspectiva Existencialista de Jean-Paul Sartre
O filósofo
existencialista Jean-Paul Sartre, em sua obra "O Ser e o Nada",
argumentou que somos todos, obras inéditas e inacabadas devido à nossa
capacidade de escolher e definir nossa própria existência. Sartre introduziu o
conceito de "liberdade radical", que sugere que somos completamente
livres para escolher o que fazemos e quem queremos ser. Essa liberdade implica
uma responsabilidade esmagadora, pois somos os únicos responsáveis por nossas
escolhas e ações.
Para Sartre,
a inacabamento da existência humana está intrinsecamente ligada à nossa
liberdade de escolher nossos valores, objetivos e identidades. Cada escolha que
fazemos molda nossa existência de uma maneira única e imprevisível,
tornando-nos obras inacabadas que estão constantemente em processo de se
definir. Isso implica que nunca alcançamos um estado final ou uma identidade
fixa, pois estamos em constante evolução.
Desenvolvimento
Humano e Identidade
Erik Erikson[2], psicólogo do
desenvolvimento, abordou a questão da identidade ao longo da vida em sua teoria
das crises psicossociais. De acordo com Erikson, a vida é uma série de
estágios, cada um com uma crise específica que deve ser resolvida para alcançar
um desenvolvimento saudável. Essas crises estão relacionadas à identidade e ao
processo de se tornar uma pessoa única e autêntica.
Em seu
estágio de adolescência, Erikson discute a "crise da identidade versus
confusão de papéis". Neste período, os jovens exploram diferentes
identidades e papéis, e a resolução bem-sucedida dessa crise leva a uma
identidade sólida e um senso de si mesmo. No entanto, essa identidade está
longe de ser fixa, pois continuamos a nos desenvolver e evoluir ao longo da
vida.
Implicações
para a Autenticidade e o Crescimento Pessoal
A ideia de
que somos obras inéditas e inacabadas tem implicações significativas para nossa
busca pela autenticidade e crescimento pessoal. Ela nos lembra que a mudança e
a evolução são partes intrínsecas da experiência humana. Portanto, não devemos
temer a mudança, mas sim abraçá-la como uma oportunidade para nos tornarmos
mais autênticos e alinhados com nossos valores.
Além disso,
a noção de que somos obras inacabadas nos encoraja a abraçar a incerteza e a
explorar diferentes aspectos de nossa identidade ao longo da vida. Isso nos
permite experimentar, aprender e crescer, em vez de nos prendermos a uma
identidade rígida que não reflita mais quem somos.
A
Natureza Complexa da Identidade
Nossa
identidade é uma construção complexa que abrange uma variedade de aspectos,
incluindo nossa personalidade, valores, crenças, experiências de vida e
relacionamentos. Cada um desses elementos contribui para quem somos, e todos
estão em constante evolução. Isso significa que, ao longo de nossas vidas,
estamos continuamente adicionando novos capítulos à nossa história pessoal.
A
perspectiva existencialista de Sartre e a teoria das crises psicossociais de
Erikson destacam a importância da autenticidade na formação de nossa
identidade. Sartre argumenta que a autenticidade está intrinsecamente ligada à
liberdade de escolher nossos valores e ações. Ser autêntico significa assumir a
responsabilidade por nossas escolhas e viver de acordo com nossos valores,
mesmo quando isso implica confrontar a angústia existencial que pode surgir.
Erikson, por
sua vez, enfatiza a importância de encontrar um senso de identidade verdadeira
ao longo da vida. Cada estágio de desenvolvimento traz novas oportunidades e
desafios para explorar e desenvolver nossa identidade, desde a infância até a
velhice. Isso ilustra a ideia de que a identidade é uma jornada contínua, com
cada estágio oferecendo a oportunidade de revisitar e redefinir quem somos.
A
Influência da Sociedade e da Cultura
Além dos
fatores individuais, a sociedade e a cultura desempenham um papel fundamental
na formação de nossa identidade. A sociedade fornece uma estrutura na qual
desenvolvemos nossos papéis sociais, nossa moral e nossas crenças. No entanto,
essa influência externa nem sempre está alinhada com nossa busca por
autenticidade.
A pressão
social, as expectativas culturais e as normas podem criar conflitos internos,
desafiando nossa capacidade de ser autênticos. Portanto, a jornada para se
tornar uma obra inédita e inacabada envolve muitas vezes reconciliar as
influências externas com nossos valores e desejos internos. Isso exige uma
constante reflexão e autoconhecimento para determinar qual parte de nossa
identidade é verdadeiramente nossa e qual parte é moldada pela sociedade.
Resiliência
e Crescimento
Uma obra
inédita e inacabada implica uma abordagem de crescimento contínuo e
resiliência. Aceitar que somos inacabados nos dá permissão para cometer erros,
aprender com eles e crescer. Essa abordagem nos ajuda a superar desafios e
adversidades, pois reconhecemos que somos capazes de nos adaptar e evoluir.
A noção de
inacabamento também nos incentiva a buscar novas experiências e oportunidades
de aprendizado. A vida está cheia de possibilidades, e cada experiência pode
contribuir para nossa jornada de autodescoberta. A exploração de novos
horizontes, a exposição a diferentes perspectivas e o desenvolvimento de novas
habilidades contribuem para enriquecer nossa identidade e torná-la mais
completa.
Conclusão
A ideia de
que somos todos uma obra inédita e inacabada é uma reflexão profunda sobre a
natureza humana e a busca pela autenticidade. Jean-Paul Sartre nos lembra que
somos livres para escolher nossas identidades e que cada escolha que fazemos
nos molda de maneira única. Erik Erikson adiciona que o desenvolvimento da
identidade é um processo contínuo ao longo da vida. Essas perspectivas nos
encorajam a abraçar a mudança e a explorar nossa identidade em constante
evolução.
Em última
análise, somos obras inacabadas que estão sempre em processo de se definir.
Devemos abraçar essa jornada e aproveitar a oportunidade de crescer, evoluir e
buscar a autenticidade em nossas vidas.
Referências
Bibliográficas:
Sartre,
Jean-Paul. (1943). "O Ser e o Nada." Editora Vozes.
Erikson,
Erik H. (1968). "Identidade: Juventude e Crise." Editora Artes
Médicas.
[1]
Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de junho de 1905 – Paris, 15 de
abril de 1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como
representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de
desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou
causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra. Repeliu as distinções
e as funções problemáticas e, por estes motivos, se recusou a receber o Nobel
de Literatura de 1964.[2] Sua filosofia dizia que no caso humano (e só no caso
humano) a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe, depois
se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por
isso sem ter uma "essência" que suceda à existência.[3] Ele também é
conhecido por seu relacionamento aberto que durou cerca de 51 anos (até sua
morte) com a filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir.
[2]
Erik Homburger Erikson (Frankfurt, 15 de junho de 1902 — Harwich, 12 de maio de
1994) foi um psicólogo do desenvolvimento e psicanalista alemão-americano
conhecido por sua teoria sobre o desenvolvimento psicológico dos seres humanos.
Ele cunhou a expressão crise de identidade. Apesar de não ter diploma
universitário, Erikson atuou como professor em instituições proeminentes,
incluindo Harvard, Universidade da Califórnia, Berkeley, e Yale. Uma pesquisa
da Review of General Psychology, publicada em 2002, classificou Erikson como o
12º psicólogo mais eminente do século XX.