O
Simbolismo no 13º Gr.∙.
O Cavaleiro do Real Arco
Introdução
O Cavaleiro do Real Arco, no Rito Escocês, é
o maçom que é elevado ao Grau 13. Os
trabalhos do Gr.´., como diz o Ritual, “são
dirigidos com base nos ensinamentos recebidos nos GGr.∙. imediatamente
inferiores... para se conseguir a liberdade religiosa e no aperfeiçoamento da instrução
dos povos, bem como, num profundo exame das noções da idealística compatível
com as necessidades da Justiça e do
progresso”.
Devemos estudar neste Gr.∙. o meio de
demonstrar que a Maçonaria harmoniza a honra com o dever.
O Grau do Real Arco era tão importante para
a Maçonaria que no Act of Union [Ato
de União] firmado entre as duas Grandes Lojas rivais – que deram origem a
Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1813 – ficou estabelecido um solene Landmark:
"A Maçonaria Antiga e Pura consiste apenas de três graus, a saber:
o Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo a Suprema Ordem do Sagrado Real
Arco."
Este Landmark jamais foi alterado e até
hoje, nenhum outro grau foi reconhecido oficialmente pela Grande Loja Mãe e
todo rito, sistema ou grau adicional da Maçonaria não pode conferir seus graus
a um Mestre Maçom até que ele tenha recebido o Grau do Real Arco. Naturalmente,
é como deveria ser, porque nenhum homem se torna Mestre Maçom completo até que
ele tenha encontrado a Palavra e ela somente pode recebida no Real Arco.
A decoração da Loja evoca um subterrâneo sem
portas e janelas, cuja comunicação com o exterior é uma pequena abertura
quadrangular na abóbada, na forma de escotilha, que se atinge por uma escada,
com tampa que representa uma pesada pedra mármore, em cujo centro se vê presa
uma grande argola de ferro. Por dentro as paredes são brancas e o pavimento
formado de quadrados brancos e pretos. No centro da Loja, sob um pedestal de
forma quadrangular, ergue-se uma pirâmide transparente, de três faces, em cada
uma das quais está inscrito o tetragrama
hebraico
o nome do Grande Arquiteto do Universo. A abóbada está sustentada por nove
arcos, nos quais estão inscritos os nove prováveis nomes de Deus.
O presidente representa Salomão, o 1° Vig.∙. evoca Hiram,
R.∙. de T.∙., o 2 Vig.∙. evoca Adonhiram,
o G.∙. Tes.∙. representa Joahben e o
G.∙. Sec.∙. interpreta Stolkin.
O Gr.∙. evoca a procura pela Palavra Perdida, simbolizando o poder
místico que o Verdadeiro Nome de Deus
possui. A Palavra Perdida é o chamado
Nome Inefável,
cujo conhecimento é capaz de dotar o seu detentor de um poder semelhante ao Demiurgo
que fez o homem, segundo as tradições gnósticas e cabalísticas.
Apesar do no Gr.∙. ser enfocada uma
filosofia de fundo moral, parece-nos muito importante destacar o conteúdo
esotérico, pois este revela uma profunda sabedoria iniciática. Este conteúdo
iniciático repousa como visto, na alegoria do Nome Inefável de Deus, ressaltando que a verdadeira sabedoria está
contida no conhecimento de seu Verdadeiro
Nome.
Por isso que os trabalhos do Gr.∙. são
introduzidos pela leitura em Êxodo, Cap. 6:2-7, nos quais o Senhor promete a
Moisés a liberdade do povo de Israel, escravizado pelos Egípcios, mas não lhes
revela o nome verdadeiro, apesar das súplicas de Moisés.
2 Falou mais Deus a Moisés, e disse: Eu sou o
SENHOR.
3 E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o
Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, o SENHOR, não lhes fui perfeitamente
conhecido.
4 E também estabeleci a minha aliança com eles, para
dar-lhes a terra de Canaã, a terra de suas peregrinações, na qual foram
peregrinos.
5 E também tenho ouvido o gemido dos filhos de
Israel, aos quais os egípcios fazem servir, e lembrei-me da minha aliança.
6 Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou o
SENHOR, e vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, e vos livrarei da
servidão, e vos resgatarei com grandes juízos.
O iniciado (em número mínimo de três) faz a
profissão de fé dos graus anteriores, repetindo as virtudes anteriores e os
trabalhos realizados em cada um deles, salientando que depois de tudo isso,
está apto a conhecer o Verdadeiro Nome de
Deus. É por isso que se afirma que o objetivo do Gr.∙. é o conhecimento do Nome Inefável, segundo o qual, pela tradição
cabalística, confere ao seu detentor a verdadeira Gnose.
E a Gnose se fundamenta na Lenda de Enoch.
Lenda do Grau
Rizzardo da Camino
nos relata a lenda:
As Sagradas Escrituras assim se referem a respeito de Enoque:
“E coabitou Caim com sua mulher, ela concebeu e deu à luz a Enoque.
Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu
filho" (Gênesis 4:17)
“Jarede viveu 162 anos e gerou a Enoque". (Gênesis 5- 17)
"Andou Enoque com Deus, e já não era, porque Deus o tomou para
si" (Gênesis 5:24)
"Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte: não foi achado
porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de
ter agradado a Deus". (Hebreus, 11:5)
A nossa personagem teria sido filho de Jarede e não de Caim; segundo a
tradição, viveu no ano 3740 antes da Era Vulgar, e cujo nome significa, em
hebraico: "O que muito viu, o que muito sabe", também é conhecido dos
muçulmanos com o nome de Adris que significa "sábio".
As profecias e maravilhosos relatos de Enoque em que o povo acreditava
cegamente, assim, como seus devaneios e venturosos sonhos estão registrados nas
Sagradas Escrituras antigas, vez que nas da atualidade omitem o livro que leva
seu nome.
Durante um desses sonhos, conheceu o verdadeiro nome de Deus, que lhe
foi proibido de pronunciar, e em outro sonho, foi-lhe mostrado o cataclisma que
em breve assolaria a Humanidade, com o nome de Dilúvio.
Enoque, então, decidiu preservar de catástrofe o verdadeiro Nome de
Deus, fazendo-o gravar em uma pedra triangular de ágata, em certos caracteres
místicos.
Nada se conhecia a respeito da pronúncia daquele Nome, a não ser ele
Enoque, por tê-lo ouvido do próprio Deus, que o traçou em hieróglifos
misteriosos.
Fez Enoque gravar em duas Colunas, sendo uma de mármore e outra de
bronze, os princípios em que se baseavam as ciências e artes da época a fim de
que, também, passassem para a posteridade.
Após, fez Enoque construir um templo debaixo da terra, consistindo em
nove abóbodas, sustentadas por nove arcos, depositando na mais profunda, o
Delta de ágata e na entrada da primeira, duas Colunas, fechando a entrada com
uma grande pedra quadrangular, provida de possante argola de metal no seu centro
para que pudesse ser removida.
Advindo o Dilúvio, todos os habitantes da Terra sucumbiram, exceto Noé e
sua família que passaram a constituir a única espécie humana.
Das Colunas gravadas por Enoque, apenas a de bronze chegou à
posteridade, pois a de mármore foi destruída pelas águas.
Nenhum ser humano podia pronunciar o Nome verdadeiro de Deus, antes que
fosse revelado a Moisés, no Monte Sinai.
O legislador do povo hebreu mandou fazer uma grande medalha de ouro,
gravada com o Nome Inefável, colocando-a na Arca da Aliança, tendo, antes, o
cuidado de revelar seu significado ao seu irmão Arão.
Em uma batalha contra o rei da Síria, em que caíram feridos os que a
guardavam, perdeu-se a Arca, ficando abandonada na mata.
No entanto, ninguém podia aproximar-se dela sem que um leão que guardava
sua chave, o atacasse e o destroçasse.
Mas numa oportunidade em que o Grande Sacerdote dos Levitas, acompanhado
de seu povo, dirigiu-se ao local onde estava a Arca, com o propósito de
reavê-la, notaram que a fera vinha ao seu encontro, mansamente entregando-lhe a
chave que trazia em sua boca, permitindo que a Arca fosse dali removida.
Esse leão significa para nós o emblema do pensamento que se rebela
contra a força, porém permite a entrada da Verdade.
A divisa do Grau 13: In Ore Leonis Verbum Inveni quer dizer: "Achei
a palavra na boca do leão", o que indica que devemos proclamar a Verdade e
mantê-la como principal qualidade de um povo civilizado.
Na época de Samuel apoderaram-se da Arca os filisteus, fundiram a
medalha de ouro, construindo com ela um ídolo Para adoração dos pagãos.
Ficou, novamente, perdido o nome de Deus, para todos, exceto para os
reis de Israel, que tradicionalmente, o pronunciavam e sabiam o depósito
sagrado feito por Enoque, ainda que desconhecessem o lugar onde o Delta estava
oculto.
Transcorreram os anos. Davi, rei de Israel, concebeu o projeto da
construção do Templo de Jerusalém e seu filho Salomão o executou.
Antes, porém, de consagrar o Templo à Glória do Grande Arquiteto do
Universo, quis fazer um esforço supremo para localizar o Triângulo escondido
por Enoque.
Com tal objetivo, escolheu três Mestres de sua maior confiança cujo
valor e perseverança havia demonstrado em muitas outras ocasiões, incumbindo-os
de pesquisarem a respeito.
Chamavam-se esses três Mestres Eleitos: Adoniram, Stolkin e Joabem, os
quais, após penosas viagens e grandes estudos, lograram descobrir a Abóboda em
que o Sagrado Delta estava guardado,
Desde então a representação gráfica inscrita, representando o Nome
verdadeiro do Grande Arquiteto do Universo.
Porém, não sabemos pronunciá-lo, porque as águas do Dilúvio destruíram a
Coluna de Mármore em que Enoque gravara o Código para decifração daquele Nome
Inefável e como devia ser pronunciado por lábios humanos.
Essa lenda consta no Manuscrito Graham,
de 1726. O próprio Anderson já se refere, em suas Constituições, sobre o
noaquismo da velha Maçonaria, que segundo ele, teria sido originada na
construção da Torre de Babel. Por isso ele diz “um maçom é obrigado a observar a lei moral como um verdadeiro noaquita”.
Importante salientar, que na maçonaria, as referências à Lenda de Enoque são
anteriores as de Hiram.
Esta lenda, que já fez parte da Bíblia, é na
verdade um escrito apócrifo, provavelmente produzido por um escritor gnóstico
do Século I, filósofo judeu de Alexandria.
O Livro
de Enoque e O Livro dos Segredos de
Enoque, ambos de inspiração gnóstica, grandemente conhecido pela sua versão
em etíope e mais tarde as traduções gregas dos capítulos I-XXXII, XCVII-CI e
CVI-CVII, bem como de algumas citações importantes feitas por Georgius Syncellus, o autor bizantino. A
Epístola de Judas cita um trecho
desta obra. Em Qumram (Manuscritos do mar
Morto), foram encontrados na Gruta 4, sete importantes cópias que foram
atestadas pela versão Etíope. Estas cópias embora que não idênticas na
totalidade foram encontradas em conjunto com cópias do Livro dos Gigantes referenciadas no capítulo IV do Livro de Enoch. As
cópias de Qumram foram catalogadas
com as referências 4Q201-2 e 204-12 e fazem parte da herança deixada pela
comunidade Nazarita do Mar Morto, em Engedi. O Livro de Enoque também é chamado de Primeiro Livro de Enoque. Existem outros dois livros chamados de
Segundo Livro de Enoque e Terceiro Livro de Enoque, considerados de menor
importância.
No Livro dos Segredos, Enoque fala de anjos
rebeldes, de como Deus criou o Mundo, tirando o visível do invisível, descreve
a geografia do mundo divino e das “terras intermediárias”, de como era Adão (o
homem do céu) antes de vir para a terra, etc; bem como a forma pela qual o
homem pode recuperar o estado divino que perdeu em consequência do pecado de
Adão.
É no Livro de Enoch e não no Livro dos Segredos, que encontramos a
Lenda do Gr.∙. 13°.
A moral e o significado da Lenda do Grau
Como diz o próprio Ritual,
“consiste a Moral do Cav.∙. do Real Arco
em inteirar-se de que, por maiores que sejam os contratempos e as dificuldades,
não devem jamais deter qualquer Irm.∙., nem mesmo afastá-lo do caminho da
Perf.∙.”.
O ensinamento iniciático do Gr.∙. é claro.
Ele nos afirma que há uma chave, uma palavra, um verbo a partir do qual todas
as coisas se constroem. Como diz Anatalino “essa
palavra, esse verbo é o Inefável Nome de Deus, o verdadeiro e único princípio,
imutável, incriado, de onde tudo se originou e para onde tudo um dia retorna”.
Diz o Evangelho de São João (1:1- )
1 No princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com
Deus.
3 Todas as coisas foram feitas
por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 Nele estava a vida, e a vida
era a luz dos homens.
5 E a luz resplandece nas
trevas, e as trevas não a compreenderam
O Verbo estava desde o início com Deus, e
nada do que foi feito foi realizado sem Ele, e tudo o que foi feito, foi
realizado por Ele. Ele Era. Por isso Ele disse “Eu Sou”. Mas todo verbo é uma
potência a ser desenvolvida. E todo verbo não tem significado se não tiver
acompanhado do predicado. E o predicado é o Cosmos.
O Verbo, transmitido ao homem na forma do
seu espírito, o fez criação terrestre. E como o homem aprendeu a articular “eu
sou” teve também de perguntar a si mesmo “o que?”. E foi para responder essa
pergunta “eu sou o que?” que ele também se viu obrigado a construir um
predicado para si mesmo (a razão). Essa é a diferença entre os homens e outras
espécies de animais.
Por isso é que “ser é verbalizar”. Ser é dar sentido à existência. Estar vivo é
ser vivo. Estar feliz não é ser feliz. Ser é um estado de perfeita organização
interior que não pode ser afetado com nenhum acontecimento exterior.
Assim, a instrução do Gr.∙. se refere às
viagens que o iniciado tem que fazer, a exemplo dos três Mestres, para
encontrar a Palavra Sagrada. Simbolicamente, essas viagens equivalem a uma
descida dentro de si mesmo a fim de liberar o que existe no interior. Novamente
encontramos a evocação gnóstica e alquimista, do “conhece-te a ti mesmo”, como
forma de encontrar a pedra mística ou filosofal, que representa aquela energia
que fará o homem se integrar com a divindade.
*
* *
Bibliografia:
Da
Camino, Rizzardo: Os Graus Inefáveis do 4° ao 14°;
Da
Camino, Rizzardo: A Loja de Perfeição de 1° ao 33°;
Anatalino,
João: Conhecendo A Arte Real: A Maçonaria e suas Influências Históricas e
Filosóficas;
Pike, Albert - Morals and Dogma of the Ancient
and Accepted Scottish Rite of Freemasonry
Ritual
do Grau;
Bíblia
Sagrada;
Wikipédia
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