Por Irm.´. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)*
Parte I – Conceitos, Aspectos Histórico-simbólico.
Poucos são os estudos acerca da
Coluna de Harmonia em uma Loja Maçônica, em que pese a importância da mesma,
para o desenvolvimento do Ritual e a manutenção ou a movimentação adequada da
Egrégora da Loja.
Neste pequeno trabalho, procuraremos
abordar o aspecto histórico-simbólico e, principalmente, o teor filosófico-místico
do uso da harmonia (música) em nossos trabalhos especulativos. Não será
abordada a questão envolvida no trabalho do Mestre de Harmonia, responsável
pela Coluna, já que desse tema outros artigos já foram escritos e se encontram
disponíveis na internet ou em alguns Livros, como o do Irm.´. Assis Carvalho
(“Cargos em Loja” – Editora A Trolha – 1988).
Antes de tudo, e para nivelar
informações, visitamos o Dicionário Aurélio e encontramos que HARMONIA
significa a disposição bem ordenada entre as partes de um todo; concordância,
consonância ou sucessão agradável de sons; suavidade e sonoridade do estilo;
arte de formar e dispor de acordes; acordo; paz e amizade; proporção, ordem e
simetria, entre outras definições[1].
A Harmonia Maçônica, neste caso, não se
refere a um sentimento ou uma disposição para o equilíbrio sentimental
entre os IIr.´., mas o que resulta da aplicação de sons (músicas) nas sessões
maçônicas e seus símbolos para a filosofia da Arte Real. Trataremos, mais
adiante, dos aspectos filosófico-místicos da aplicação da harmonia em nossas
sessões, no que se respeita aos aspectos “invisíveis”, porém sensitivos do uso
da música em Templo.
Em música, a Harmonia é o campo
que estuda as relações de encadeamento dos sons simultâneos (acordes).
Tradicionalmente, obedece a uma série de normas que se originam nos processos
composicionais efetivamente praticados pelos compositores da tradição europeia,
entre o período do fim da Renascença ao fim do século XIX[2].
Música, por sua vez, (do grego musiké téchne, a arte
das musas) é uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons
e silêncio seguindo uma pré-organização ao longo do tempo.
É considerada por diversos
autores como uma prática cultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma
civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias.
Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada
como uma forma de arte, considerada por muitos como sua principal função.
A criação, o desempenho, o significado e até mesmo a definição de música variam de acordo com a cultura e o contexto social. A música vai desde composições fortemente organizadas (e a sua recriação no desempenho), música improvisada até formas aleatórias.
A música pode ser dividida em gêneros e subgêneros, contudo as linhas divisórias e as relações entre gêneros musicais são muitas vezes sutis, algumas vezes abertas à interpretação individual e ocasionalmente controversas. Dentro das "artes", a música pode ser classificada como uma arte de representação, uma arte sublime, uma arte de espetáculo.
Para indivíduos de muitas
culturas, a música está extremamente ligada à sua vida. A música expandiu-se ao
longo dos anos, e atualmente se encontra em diversas utilidades não só como
arte, mas também como a militar, educacional ou terapêutica (musicoterapia).
Além disso, tem presença central em diversas atividades coletivas, como os
rituais religiosos, festas e funerais.
Há evidências de que a música é conhecida e praticada desde a pré-história.
Provavelmente a observação dos
sons da natureza tenha despertado no homem, através do sentido auditivo, a
necessidade ou vontade de uma atividade que se baseasse na organização de sons.
Embora nenhum critério científico permita estabelecer seu desenvolvimento de
forma precisa, a história da música confunde-se, com a própria história do
desenvolvimento da inteligência e da cultura humana. As civilizações antigas
sempre usaram a musica como energizante e harmonizadora, na teoria dos
estudiosos. Acreditava-se que seu emprego bom e benéfico, a música desempenhava
um papel de mediação entre o céu e a terra, como um canal de comunicação entre
o homem e Deus, e uma chave para liberação das energias do Supremo neste plano[3].
A Mitologia Grega nos ensina que as Musas (de onde provêm a palavra música), deusas protetoras das Artes e das Ciências, eram nove irmãs. A mais bela, porém, era Euterpe[4] inspiradora das Artes Sonoras. Na tradição Cristã, a Padroeira dos músicos é Santa Cecília[5].
O conceito de Harmonia como o conhecemos hoje surge,
indubitavelmente, com os gregos, especificamente em Pitágoras, mas também em
Heráclito, Nicômaco e Platão, dentre outros. Tanto Platão como Aristóteles
discutem os efeitos morais da música em suas várias obras. Resgatar essa origem é importante porque é o
conceito grego antigo que permeia a noção de Harmonia tal como ela foi
compreendida pela tradição musical europeia, em sua práxis e teoria. Para os
gregos a "arkhé" (princípio invisível da unidade) e a "phýsis"
(princípio visível da unidade) - o Uno,
se torna o "kosmos" - o
Múltiplo, se articulando através de duas dimensões, ordem e caos. Esse
jogo dos opostos é a fonte da Harmonia Cósmica, dado que ela, a Harmonia,
representa a qualidade de relação, ordenação e organização dessas dimensões
inerentes ao "kosmos". Pitágoras
usava a música para fortalecer a união entre os seus discípulos, por entender
que a música instruía e purificava a sua mente. Em sua Escola, a música era
entendida como disciplina moral por atuar como freio aos ímpetos agressivos dos
ser humanos (não é diferente do conceito utilizado na Maçonaria, pressupondo-se assim que há influencia direta da Escola Pitagórica neste sentido). A partir da descoberta tradicionalmente creditada a Pitágoras da
relação matemática dos intervalos musicais, a harmonia (e a música como sua
principal manifestação) passou a ser considerada como o princípio que
organizava a transição do número absoluto, a Unidade, para os números diversos,
a Multiplicidade, através da concordância entre os princípios opostos de ordem
e caos. É dai que surge o conceito de Harmonia das Esferas, tão característico
dos pitagóricos. E este pensamento pode ser rastreado claramente nas praticas
composicionais e teóricas da Harmonia europeia. Quando Riemann[6],
na definição citada acima, diz "leis" e "logicamente
racional", ele reflete claramente essa cosmovisão grega, ainda que possa
estar desprovida de seu caráter metafísico mais evidente. Harmonia na visão
grega seria a qualidade cósmica que daria ordem e sentido ao jogo entre o caos,
as dissonâncias, e a ordem, as consonâncias, vencendo sempre e afirmando-se
necessariamente, a ordem ou consonância. Quando começamos a entender a harmonia
na sua dimensão técnica e "artesanal", tal como na teoria de Riemann, não podemos nos esquecer de que
toda a sua construção reflete esse modo antigo de pensamento, que dá um caráter
natural e necessário as construções e normas harmônicas. Arnold Schoenberg[7]
foi o primeiro a contestar essa visão de "legal" e "logicamente
racional", para ver a Harmonia (enquanto teoria) mais como um compêndio
das praticas dos compositores históricos (mas mesmo ele acaba cedendo ao
caráter cósmico da ordem harmônica quando postula a conquista dos materiais da
série harmônica pela estruturação histórica dos acordes. A diferença nesse caso
é sua contestação do principio cósmico da dualidade e sua resolução ao
princípio do Um (phýsis) ou série
harmônica como repositório de todas as possibilidades harmônicas. Desse modo
haveria para Schoenberg apenas "phýsis",
sendo que a ordem e caos eram apenas definíveis historicamente e não
ontologicamente) [8].
Está historicamente mais do que claro (constam nas Escrituras), que no Templo de Salomão e, anteriormente, na Tenda do Rei Davi, para as cerimônias de Louvor, eram tocados vários instrumentos e, por determinação de Davi, o cântico, seja isolado ou em coral, era acompanhado de música[9]. Ainda alude São Paulo sobre um instrumento musical confeccionado em bronze; é de se supor que esse instrumento seria equiparado a um “sino”, instrumento de percussão de fácil manejo. Também é de se supor que esses sinos se contavam às dezenas, se não milhares[10].
Imaginemos apenas, se todos esses
instrumentos fossem acionados ao mesmo tempo, pode-se imaginar a intensidade
que ecoaria nos templos. Apesar de as Escrituras não relacionar ou referir o
uso desses instrumentos com relação ao Templo de Zorobabel e de Herodes[11],
não duvidamos, seguindo a tradição hebraica, que a manifestação musical seria
sobejamente empregada.
Conhecido é o amor que Salomão
dedicava a Jeová, deveriam refletir-se também nos cânticos de louvores, e é
muito provável, que a tradição continuou como mostra o Velho Testamento[12].
Mas como pode ter chegado a
música, ou a harmonia, na Maçonaria?
Nos primórdios da Maçonaria
Especulativa quando os maçons se reuniam em Tabernas, na Inglaterra, não há
registro de que se se utiliza fundo musical nas Sessões, mas pode se supor com
razoável assertividade que em se tratando de tabernas, deveria haver a
disposição algum músico ou cantor, como era comum acontecer naquele então.
A Maçonaria das Tabernas tinha o
significado de “encontros dos Irmãos” pois o vocábulo “Taberna” significa “abrigo”
ou “oficina”[13],
ou ainda, mais genericamente, “encontro
dos amigos”. É evidente, no dizer de Da
Camino, que pelo fato da Maçonaria encontrar-se incipiente, as Tabernas que
as acolhiam não apresentavam nenhuma sinalização específica, porém o “Cisne e a
Harpa” poderiam ter significado para a Ordem. É de se supor que componentes da
“Compagnie des Musiciens” fossem “Free-Massons”, e isso sugere que a
harmonia musical, desde o início, fazia parte do cerimonial maçônico.
Existem muitos textos
informativos sobre eruditos maçons que, tanto pelo canto quanto pela música, se
destacaram na sociedade, sendo eles Maçons, isso nos conduz, não como
suposição, mas como certeza, que naquelas reuniões em tabernas existiam lapsos
musicais.
Na verdade alguns expoentes da
Renascença (até meados de 1700) e, posteriormente no período clássico (1800 a
1900) nos legaram uma série de músicas específicas para uso em Loja, como é o
caso de Wolfgang Amadeus Mozart[14]. Mozart
escreveu muitas músicas para a Maçonaria que são conhecidas em alemão como “Die Freimaurermusick”. Antes da
iniciação e com 11 anos já musicou o poema maçônico An die Freude. A sua maior obra maçônica é a “ Flauta Mágica”, obra
repleta de símbolos do ritual maçônico e o seu “Requiem”[15].
Ainda há dezenas de outros autores
clássicos maçons, como podemos identificar no excelente livro de Gerard Gefen, “Lês Musiciens et la Franc-Maçonnerie”, autores
estes dos séculos XVI e XVIII.
Por tudo isto, podemos concluir
que a harmonia ou a música, tem acompanhado as nossas Sessões desde a Maçonaria
Operativa e tendo passado para o desenvolvimento dos trabalhos já na
Especulativa até nossos dias. Examinaremos na Parte II deste trabalho, as
razões filosófico-místicas do uso sonoro em nossas Lojas.
Antes de fecharmos este capítulo,
precisamos dizer que a Joia do Mestre de Harmonia é a Lira, instrumento de
cordas dos mais antigos que se tem notícia, hoje em desuso, mas continua sendo
o símbolo da Música universal.
Na Parte II deste trabalho,
passaremos a estudar a influência filosófico-mística do uso da Harmonia
Maçônica e a formação da Egrégora.
*É M.´.I.´. da Loj.´. Simb.´. Palmares do Sul nº 213 no RS juridicionada
à G.´.L.´.M.´.R.´.S.´., Gr.´. 14°, membro da Loj.´. de Estudos e Pesquisas
Acácia do Litoral. Publicou mais de 50 artigos sobre Maçonaria.
Bibliografia:
Goulart Jaques, Walnyr – Uma Loja Simbólica REAA;
Da Camino, Rizzardo – O Maçom e a Intuição;
Espósito dos Santos, Amado e outros - Manual Completo de Lojas Maçônicas;
D´Elia Junior, Raymundo -
Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz;
Queiroz, Álvaro de – Os Símbolos Maçônicos;
Carvalho, Assis – Cargos em Loja;
Guimarães, José Francisco – Aprendiz, Conhecimentos Básicos
da Maçonaria.
[1]
- D´Elia Junior, Raymundo - Maçonaria 100 instruções de Aprendiz
[2]
- Wikipédia - Harmonia
[3]
- Goulart, Jaques – Uma Loja Simbólica REAA;
[4]
- Euterpe, a Doadora de Prazeres foi uma das nove musas da mitologia grega, as
filhas de Zeus e Mnemósine, filha de Oceano e Tétis. Era a musa da Música. No
final do período clássico, foi nomeada a musa da poesia lírica e usava uma
flauta. Alguns consideram que tenha inventado a aulos ou flauta-dupla, mas a
maioria dos mitólogos dá crédito a Marsyas.
[5]
- Espósito dos Santos, Amado e outros – Manual
Completo para Lojas Maçônicas.
[6]
- Karl Wilhelm Julius Hugo Riemann (18 de julho de 1849, GroßMehlra próximo à
Sondershausen – 10 de Julho de 1919, Leipzig) foi um musicólogo, historiador da
música e pedagogo musical alemão.
[7]
- Arnold Franz Walter Schönberg, ou Schoenberg, (Viena, 13 de setembro de 1874
— Los Angeles, 13 de julho de 1951) foi um compositor austríaco de música
erudita e criador do dodecafonismo, um dos mais revolucionários e influentes
estilos de composição do século XX.
[8]
- Wikipédia - Harmonia
[9]
- Da Camino, Rizzardo – O Maçom e a Intuição
[10]
- Idem
[11]
- Lembrar que o Templo de Zorobabel e de Herodes foram uma reconstrução
sucessiva à destruição do Templo original de Salomão. Para maiores informações
ler Kevin L. Gest “Os Segredos do Templo de Salomão”.
[12]
Ver por exemplo: I Crônicas 15:19 ao 24
[13]
- Wikipédia
[14]
- Wolfgang Amadeus Mozart, batizado Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus
Mozart; Salzburgo, 27 de janeiro de 1756 – Viena, 5 de dezembro de 1791) foi um
prolífico e influente compositor austríaco do período clássico. Teria iniciado
na Maçonaria em Setembro de 1784.
[15]
A Música Maçônica de Mozart – pesquisado na Internet
Um comentário:
Quando eu nasci eu chorava e você sorria.Depois eu vou sorrir e você chorar...A vida é assim...A música é diferente.ela nasci e vai fluir eternamente...
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