Por M.´. I.´. Luis Genaro L. Fígoli (Moshe)
Gr.´. 33° REAA
Introdução
Na contemporaneidade, o termo "pós-moderno" muitas
vezes é associado à desconstrução de estruturas tradicionais, desafiando a
filosofia a repensar suas premissas fundamentais. A questão sobre a viabilidade
da filosofia em um mundo pós-moderno não apenas convoca uma reflexão
superficial, mas demanda uma imersão nas raízes da disciplina e uma exploração
mais profunda das maneiras pelas quais ela pode responder aos desafios de um
cenário em constante metamorfose.
A Filosofia Diante da Desconstrução Pós-Moderna: Uma
Reconfiguração Necessária
A desconstrução pós-moderna, marcada pela crítica às grandes
narrativas, instiga a filosofia a abandonar suas certezas e abraçar a fluidez
do pensamento. Jacques Derrida, um dos arquitetos dessa desconstrução, propõe
que a filosofia não se trata de encontrar respostas definitivas, mas de
explorar as complexidades inerentes às estruturas conceituais. Assim, em vez de
debilitar a filosofia, a desconstrução pós-moderna a desafia a se reinventar,
tornando-se uma disciplina mais flexível e sensível às nuances da experiência
humana.
A Filosofia como Diálogo Intercultural: Reconhecendo a
Polifonia de Vozes Filosóficas
A crítica pós-moderna à filosofia tradicional, muitas vezes
acusada de eurocentrismo, aponta para a necessidade de uma abordagem mais
inclusiva. A proposta de um diálogo intercultural, conforme delineado por
pensadores como Kwame Anthony Appiah, impulsiona a filosofia para além das
fronteiras geográficas e culturais. Ao permitir que diversas tradições
filosóficas dialoguem, a filosofia pós-moderna se torna um terreno fértil para
a criação de um conhecimento enriquecido, tecido a partir das múltiplas perspectivas
que compõem a tessitura da experiência humana.
A Filosofia e a Ética da Responsabilidade: Pensando Além
do Indivíduo
Hans Jonas, ao formular a "Ética da
Responsabilidade", propõe uma abordagem ética que transcende o
individualismo, considerando as implicações a longo prazo de nossas ações. Em
um mundo pós-moderno, onde as ramificações éticas se estendem por fronteiras e
escalas globais, a filosofia pode desempenhar um papel crucial na promoção de
uma ética coletiva. A filosofia pós-moderna não apenas nos convida a refletir
sobre nossas ações, mas a considerar o impacto ético de sistemas complexos e
interconectados, chamando-nos a uma responsabilidade mais ampla e consciente.
A Filosofia e a Busca por Sentido em um Mundo
Fragmentado: Um Convite à Autenticidade Existencial
Jean-Paul Sartre, ao afirmar a condenação à liberdade,
destaca a responsabilidade de criar significado em um mundo aparentemente
desprovido de sentido intrínseco. Em um contexto pós-moderno, onde as
estruturas se tradicionais de significado podem parecer frágeis, a filosofia se
torna uma bússola para a busca existencial. Ao invés de oferecer respostas
prontas, a filosofia pós-moderna capacita os indivíduos a se envolverem na
construção ativa de significado, promovendo uma autenticidade existencial que
transcende as limitações das metanarrativas.
Em última análise, a pergunta sobre a possibilidade da
filosofia em um mundo pós-moderno não deve ser vista como uma sentença de morte
para a disciplina, mas como um convite para uma renovação profunda. Ao abraçar
a incerteza, reconhecer a diversidade de perspectivas e abordar questões éticas
complexas, a filosofia pode não apenas sobreviver, mas também florescer em um
mundo pós-moderno. Ela se torna não apenas uma busca por respostas definitivas,
mas um processo contínuo de reflexão, diálogo e engajamento crítico com as
complexidades do mundo contemporâneo. A filosofia persiste como uma ferramenta
essencial para compreender, questionar e dar sentido ao nosso lugar neste vasto
e multifacetado universo pós-moderno.
E na Maçonaria?
As assertivas acima servem também para a Maçonaria. Muito
embora seu modelo filosófico rígido, baseado em Rituais produzidos nos séculos XVII
e XVIII no seu primeiro processo de revisionismo[1] .Um exemplo notável de
revisão na maçonaria ocorreu durante o período conhecido como a "Era da
Iluminação" nos séculos XVII e XVIII na Europa. Durante esse tempo, alguns
maçons e intelectuais influentes buscaram promover ideias iluministas, como a
razão, a liberdade e a igualdade, dentro dos círculos maçônicos. A maçonaria,
que já tinha uma tradição de tolerância religiosa e busca pelo conhecimento,
encontrou espaço para incorporar ideias iluministas em sua filosofia.
O mais recente revisionismo ocorreu no século XIX, pelo advogado,
militar, maçom e escritor dos Estados Unidos, Albert Pike[2]. Em 1855 começou a
organizar o Rito Escocês e terminou o trabalho em apenas dois anos, em 1857. O
trabalho foi visto como perigosamente rápido e pediu-se que ele levasse mais
tempo, revendo o ritual. Mas o empenho garantiu que ele fosse investido do grau
33 em 1858 e um ano depois foi eleito Soberano Grande Comendador da jurisdição
do sul do Rito Escocês em 1859. A revisão do rito foi interrompida pela Guerra
Civil Americana, além disso o Supremo Conselho, que tinha sede em Charleston,
mudou sua sede para Washington, DC em 1870. Em 1871 publica seus estudos sobre
todos os graus do Rito Escocês no livro intitulado Moral e Dogma do Rito
Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria, ou simplesmente Moral e Dogma, tendo tido
várias revisões e republicações até a edição oficial definitiva, em 1884. A
implantação pratica dos estudos foi executada de imediato servindo até para
outros Supremos Conselhos.
O século XXI, em especial com o avanço da ciência, a IA, a
mudança de comportamento da sociedade, as alterações nos princípios e valores
do ser humano, vão trazer (não tenho dúvida), uma necessidade de revisão da
filosofia maçônica (mantidos os princípios basilares de moral e ética), mas em
especial no que se refere à forma como transmitimos a docência maçônica em
nossas Lojas. A queda de membros na América do Norte e na Europa atesta o
desinteresse (talvez) das pessoas em relação à Ordem, pela multiplicação de informações
(e até revelação) dos seus segredos na internet.
Uma simples consulta ao Google com o termo “Maçonaria”, traz
6.180.000[3] páginas com informações sobre
o tema. Uma das primeiras páginas traz o indefectível título “Fique por dentro
dos segredos da Maçonaria” (não vou colocar o link por razões óbvias)
desfilando uma série de informações sobre a Ordem. Se procurar um pouco mais,
lá estão t.´. s.´. e p.´. que são os verdadeiros segredos que deveriam ter ficado
à c.´. dentro de uma Loj.´..
Tenho mais de 30 anos na Ordem. Ultimamente tenho feito este
debate com II.´. e em geral os mesmos são refratários em relação ao tema. Não
acham que a modernidade possa afetar a Ordem, já que ela preexiste há mais de
300 anos (como Instituição formal) e já passou por vários momentos difíceis
como na época da Inquisição, na implantação do Comunismo e na ascensão do Nazismo
e Fascismo com a Segunda Grande Guerra. Também sofreu (em menor medida) com a
Monarquia na Europa do século XVII e XVIII, sendo que, no Brasil, foi proibida
em 1808 quando da vinda do Imperador “carola” Dom João VI. Em 1822 foi
permitido o seu funcionamento até ser proibida novamente por Dom Pedro (após
ter sido iniciado, recebido os 33 graus e ter sido eleito Gr.´. M.´.).
Enfim, mantenho aberta esta discussão que me parece sadia e importante
para o futuro de nossa Ordem. Como somos livres pensadores, as mudanças só
ocorrerão se a maioria dos II.´. estiverem de acordo.
*
* *
Bibliografia Sugerida:
1. Jacques
Derrida:
"A Gramatologia"
"A Desconstrução na
Filosofia Contemporânea"
2. Kwame
Anthony Appiah:
"Coso Cosmopolitanism:
Ethics in a World of Strangers"
"In My Father's House:
Africa in the Philosophy of Culture"
3. Hans
Jonas:
"O Princípio
Responsabilidade: Ensaio de uma Ética para a Civilização Tecnológica"
"The Imperative of
Responsibility: In Search of an Ethics for the Technological Age"
4. Jean-Paul
Sartre:
"O Ser e a Nada"
"Existencialismo é um
Humanismo"
5. Michel
Foucault:
"Vigiar e Punir"
"Microfísica do Poder"
6. Jean-François
Lyotard:
"A Condição
Pós-Moderna"
"O Inumano: Considerações
sobre o Tempo"
[1]
Na maçonaria, o termo "revisionismo" pode se referir a tentativas de
reinterpretar ou reformular certos aspectos dos rituais, símbolos ou filosofia
maçônica. Essas tentativas podem ter origens diversas e serem influenciadas por
mudanças culturais, sociais, filosóficas ou mesmo políticas.
[2]
Albert Pike (29 de dezembro de 1809, Boston — 2 de Abril de 1891, Washington).