O SIMBOLISMO NO 23º
GR.∙.
CHEFE DO TABERNÁCULO
De acordo com o Ritual o Grau Vinte e Três foi adotado no
sistema de vinte e cinco GGr.´., em 1786, quando Frederico II, da Prússia aumentou
para 33 o seu número. Tinha por base a comemoração do Presbiterado de Aarão, e
de seus filhos Eliazar e Itamar.
Os CCav.´. deste Gr.´. são os guardadores da entrada do
Tabernáculo, onde se conservam as leis e princípios fundamentais da moral universal
e as verdades reveladas à razão dos sentidos, pela consciência e pela
inteligência.
Não há no desenvolvimento do Ritual nenhum aprofundamento
sobre a lenda do Grau, apenas as menções feitas anteriormente.
Todavia precisamos lembrar os personagens histórico-lendáticos
mencionados na Instrução.
Na bíblia hebraica e no alcorão, Aarão, ou Arão (palavra
que significa "progenitor de mártires" em hebraico possivelmente relacionado
com o egípcio "Leão Guerreiro"), foi o irmão mais velho de Moisés
(Êxodo 6:20), e um profeta do Deus de Israel servindo como o primeiro sumo
sacerdote dos hebreus.
Era filho de Anrão e Joquebede (Êxodo 6:20), da Tribo de
Levi (1Crônicas 6:1-3). Era bisneto de Levi.Tinha uma irmã mais velha, Miriã,
Êxodo 2:4). Casou com Eliseba, filha de Aminadabe, da Tribo de Judá, que lhe
deu quatro filhos, Nadabe, Abiú, Eliazar e Itamar.
Aarão aparece na bíblia quando o Deus de Israel o envia
desde o Egito para se reunir com o seu irmão Moisés no Monte Horeb. Tornou-se
escolhido por Deus como porta-voz (profeta) de Moisés (que teria problemas de
dicção de acordo com a tradição), e serviu como orador junto do Faraó, nas
diligências que permitiram a realização do Êxodo e da libertação do povo hebreu
do Egito, em direção à Terra prometida.
Seu papel central levou à sua escolha e de sua descendência
em perpetuidade como sumo sacerdote dos israelitas quando da constituição do
sacerdócio no Tabernáculo, ainda que posteriormente, por covardia, tenha
participado de algumas rebeliões contra a autoridade divina, como na criação do
bezerro de ouro, ídolo pedido pelos israelitas para guiar-lhes, já que Moisés
estaria desaparecido pois estava no Monte Sinai recebendo os Dez Mandamentos.
Somente Eliazar e Itamar são mantidos na tradição maçônica,
como Chefes e guardiões do Tabernáculo. Os outros filhos, Nadabe o primogênito
e Abiú foram devorados pelas chamas, por ter deitado fogo profano no turíbulo,
passando a função sacerdotal para os irmãos Eliazar e Itamar.
O Tabernáculo vem do latim tabernaculum, "tenda", "cabana" ou
"barraca" e designa o santuário portátil onde durante o Êxodo até os
tempos do Rei Davi os israelitas guardavam e transportavam a arca da Aliança, a
menorá e demais objetos sagrados. Em
hebraico se chamava mishkan,
"moradia", (local da Divina morada). Também se denominava "Tenda
da Reunião". Era composto de três dependências: Átrio Exterior, Santo
Lugar e Santo dos Santos ou Santo Santorum onde ficavam o Véu - Cortina que
separava o Santo Lugar do Santo dos Santos, a Arca da Aliança que simbolizava a
presença de Deus e carregava as Tábuas da Lei - os 10 Mandamentos - a Vara de
Aarão, que floresceu e o pote de maná (alimento mandado por Deus no deserto)
sendo a peça mais santa do Tabernáculo; e o Propiciatório que era nada mais do
que a tampa da Arca, lugar onde o Sumo Sacerdote, uma vez ao ano, no dia da
Expiação, aspergia o sangue pela remissão de seus pecados e pelos pecados do
povo.
Ainda há menção dos Levitas, denominação dadas a todos os
Irmãos que integram este Grau. Na tradição judaica, um levita
("unido") é um membro da tribo de Levi. Quando Josué conduziu os
israelitas na terra de Canaã, os levitas foram a única tribo israelita que
recebeu cidades, mas não foram autorizados a ser proprietários de terra
"porque o Senhor Deus de Israel é sua herança" (Deuteronômio 18:2). A
Tribo de Levi servia deveres religiosos particulares para os israelitas e
tiveram responsabilidades políticas também. Em troca, as tribos das terras eram
esperadas a dar o dízimo para os Levitas. O profeta Moisés e seu irmão o sacerdote
Aarão, foram ambos levitas, daí o Grau vinte e três denominar os integrantes da
Loja de tal forma.
Além dos aspectos histórico-lendáticos apresentados pelo
Grau, com relação ao Tabernáculo (cuja decoração da Loja pretende imitar), das
personagens bíblicas Moises, Aarão, Eliazar e Itamar, na Instrução do Garu
vemos o desenvolvimento da interpretação e a moral do Grau.
O Tabernáculo, segundo o Ritual, num profundo significado,
simboliza o Universo no qual Seus habita como a alma no corpo do Homem. Assim,
nosso corpo seria o nosso Tabernáculo a abrigar nossa essência divina que é
nossa alma. Desenvolve-se assim, a necessidade do cuidado do nosso corpo,
protegido pelos Guardiões do Tabernáculo, num permanente e incessante digladiar
com nossos defeitos e vícios, que não alcançam nunca a nossa alma.
Por outro lado, o fogo do incenso sempre ardendo significa
a continua misericórdia e bondade de Deus e aquele zelo que devemos ter ao
gênero humano, o qual jamais deve extinguir-se ou debilitar no coração de um
Chefe do Tabernáculo.
Também as cores do Avental do Grau nos trazem significados:
O branco, a candura, inocência e pureza que são
indispensáveis aos Levitas;
O Verde, a perfeição infinita;
A púrpura e a violeta. A Majestade e o Poder daquela
Divindade a quem os Levitas dedicavam o seu serviço, ou seja, Deus.
Escondido em meio ao Juramento, encontramos uma outra
simbologia da moral do Grau de extrema importância: A oposição às arbitrariedades
da Justiça e propagar e defender as leis do Habeas Corpus.
Por não encontramos maiores detalhes no Ritual,
socorremo-nos de Rizzardo Da Camino, que em seu livro “REEA de 1 ao 33°”, nas páginas 265 a 276, nos apresenta um
interrogatório que parece ter sido suprimido dos atuais Rituais do Grau, que
dariam sentido mais claro para o que se pretende jurar:
INTERROGATÓRIO:
Pergunta: Que dizeis da Instituição de Moisés?
Resposta: Uma escola de
governo para instruir os privilegiados garantindo o freio de qualquer abuso.
P: E qual foi o defeito
primordial daquela Instituição?
R: Que somente o temor
a Deus detinha os ambiciosos, Porém, como eles se consideravam Ministros de
Deus, eram impunes às suas próprias falhas.
P: Acreditais capaz de
se consolidar, um governo que não garante a conduta de seus agentes e não lhes
ponha cobro?
R: Não, Grande
sacrificador; até os usurpadores mais cruéis procuraram guardar aparências de
justiceiros; sabem que o povo não suporta a tirania e para contornar seu
despotismo, criaram Tribunais para o julgamento dos que praticam
arbitrariedades; infelizmente, porém, sempre surgem os abusos.
P: Que conceito fazeis
da prisão em flagrante?
R: Naqueles tempos a
prisão preventiva era desconhecida; ao colhido em flagrante delito se o
apresentava aos Juízes que ouvidas as partes, sentenciava e o condenado podia
apelar ou não aos Tribunais superiores. Porém, se não ocorresse o flagrante, o
sentimento instintivo da Justiça o considerava inocente enquanto não se
pronunciasse o Tribunal. Na Grécia, Juízes de primeira instância condenaram
Sócrates à morte, que continuou em liberdade, sem fugir; sua confiança na
Justiça, porém, o levou à morte.Em Roma sucedeu o mesmo; os filhos de Anco
Márcio fugiram, homiziando-se em Suessa Promelia, cidade fora do alcance da
Justiça Romana, para não sofrer o castigo pela morte do rei sucessor; ninguém
impediu aquela fuga porque ainda, não haviam sido julgados.
P: Dizei Irmão, se as
Autoridades podem hoje em dia, decretar a prisão preventiva, correndo o risco
de constituir uma arbitrariedade judicial?
R: Sim, Grande
Sacrificador, porque a perda da Liberdade ou o encarceramento, além de
constituir uma escravidão temporal, acarreta sofrimento de todo gênero, físicos
e morais; deixa ao desamparo a família e dificulta ao acusado a busca de provas
de sua inocência. O risco de se prender a um inocente e mantê-lo detido até o
julgamento, jamais apagará as consequências que advirão, mormente, as que
refletem em sua família e seu patrimônio.
P: E para corrigir
possíveis erros judiciais, não acreditais a necessidade de Leis que reparem o
mal feito e que puna o caluniador?
R: A aplicação dessas
Leis seria muita difícil e o resultado não cobriria o prejuízo moral.
P: Se nem a
consciência, nem o temor a Deus, nem a apelação aos tribunais podem nos salvar
dos abusos, arbitrariedades e erros da autoridade, o que dizer da Justiça
tardia?
R: A aplicação do que
garante a Magna Carta da Ingla¬terra e que consta quase em todas as
Constituições: o instituto do habeas-corpus.
P: Que se entende,
Irmão, o instituto do habeas-corpus?
R: Essa Lei, Irmão,
cujo nome equivale a "posse da própria pessoa", foi inspirada pelos
Maçons gildenses e fildenses para depois, penetrar na Inglaterra. Através dela
toda súdito inglês, preso por qualquer motivo, adquiria o direito de impetrar
por ele ou por outrem, a um dos Juízes da Nação, um Decreto de habeas-corpus,
em virtude do qual, o carcereiro era obrigado a apresentar o impetrante à
autoridade judiciária e esclarecer a causa da prisão; ouvido o preso sob
juramento, era posto em liberdade imediatamente, se julgada arbitrária a
prisão; caso não aceitasse o Juiz totalmente a palavra do preso, lhe impunha
uma fiança antes de soltá-lo, fiança, geralmente, paga em dinheiro pelo próprio
Impetrante ou alguém por ele.
P: Que opinais, Irmão,
sobre a fiança?
R: A fiança é um
instituto imperfeito, se considerarmos a facilidade do rico em pagá-la e a impossibilidade
do pobre; porém, sendo o pobre homem de bem, sempre surgirá quem pague por ele.
Outra polêmica levantada por Irmãos como Nicola Aslan e
José Castellani, para citar apenas autores brasileiros, é em relação ao fato de
ter sido Frederico II da Prussia o autor dos Rituais dos Graus Superiores da
Maçonaria, e principalmente, quem estabeleceu os trinta e três graus.
Nicola Aslan no seu Grande Dicionário Enciclopédico de
Maçonaria e Simbologia[1],
no verbete Frederico II, O Grande (1712-1786), diz o seguinte:
“A ratificação da Constituição do Supremo Conselho do REAA, no dia
01/05/1786, por Frederico II da Prussia, não passa de uma invenção do Ir.´.
Frederico Dalcho, que a lançou num discurso em 08/12/1802. Este fato foi
completamente desmentido pela Grande Loja Mãe Nacional dos Três Globos
Terrestres, de Berlim, em carta data de 17/08/1833 dirigida ao Irm.´.
Marconnay, em resposta à solicitação que este Maçom lhe fizera em sua
correspondência de 25/05/1833, à respeito daquele monarca no Rito Escocês.
Naquela data, 01/05/1786, Frederico estava no seu castelo de Potsdam, atacado
de gota, caduco e absolutamente cansado da vida. Faleceu três meses e meio
depois, em 17/08/1786”
Já Castellani no seu clássico “O Rito Escocês Antigo e
Aceito[2]” é
bastante enfático em relação ao tema:
“E foi nos EUA que
surgiu a maior empulhação, o maior logro da história do escocesismo: a invenção
de que nos Altos Graus foram criados pelo rei da Prussia, Frederico II. Na
realidade, aos 25 graus criados pelo Conselhos dos Impreadores, os maçons
americanos, sob, provavelmente a inspiração de Morin, acrescentaram mais oito,
criando o sistema de trinta e três graus. Reunidos, então, na cidade de
Charleston, no estado da Carolina do Sul, fundaram a 31 de maio de 1801, o Supremo
Conselho do Rito Escocês, concentrando em suas mãos todo o poder administrativo
dos Altos Graus. Esse Supremo Conselho só se tornou conhecido pelo restante da
Maçonaria mundial, a partir de 04 de dezembro de 1802, quando expediu uma
circular comunicando o fato, enaltecendo o sistema dos 33 graus e atribuindo a
sua organização – em maio de 1786 – ao rei Frederico II da Prússia. Se isso
houvesse realmente ocorrido nessa data, que é a da publicação, segundo os
americanos, da Constituição e dos Regulamentos do Supremo Conselho – é no
mínimo estrenho que só se tivesse conhecimento do fato em 1802”.
Esta versão é refutada, além desses autores brasileiros,
por autores estrangeiros como Findel, Linday, Marconnay, Rebold, Thory, Ragon,
Clavel, Cordier, entre outros.
“Um fato ponderável”,
diz o Ven.´. Irm.´. William Almeida de Carvalho,33°[3] “para essa mitologização foi a certeza de que
os EUA, à época em que se criaram os 33 graus, não eram nenhuma potência
maçônica, como vieram a se tornar posteriormente. Necessitavam, portanto, de um
forte aval para legitimar o Supremo Conselho de Charleston para que não caísse
no ridículo, Seria como se hoje a Nigéria pretendesse criar um novo rito para a
maçonaria mundial. Nada melhor, então, do que um rei europeu, um déspota
esclarecido, com nítida simpatia pela maçonaria, tornar-se o autor das
Constituições de 1786”.
*
* *
Bibliografia:
Da Camino, Rizzardo: A Loja de Perfeição de 1° ao 33°;Ed. Madras, 2006.
Gervásio de Figueiredo, Joaquim –
Dicionário de Maçonaria.
PACHECO JR, Walter – Uma Visão Global dos
33 Graus do REAA. Ebook
VENEZIANI COSTA, Wagner
- Uma visão global dos 33 graus do R E. A. A. http://cidademaconica.blogspot.com.br/2007/07/uma-viso-global-dos-33-graus-do-r-e-a.html
ALMEIDA
DE CARVALHO, WILLIAM – Frederico II da Prússia e as Grandes Constituições de
1786. http://www.freemasons-freemasonry.com/6carvalho.html
CASTELLANI,
José – O Rito Escocês Antigo e Aceito – Cadernos de Estudos Maçônicos, Ed.
Trolha, Londrina-PR, 1988)
Ritual do Grau;
Bíblia Sagrada
Wikipédia
[1]
Vol II ed. Artenova, Rio de Janeiro, 1974, p. 438
[2]
CASTELLANI, José – O Rito Escocês Antigo e Aceito – Cadernos de Estudos
Maçônicos, Ed. Trolha, Londrina-PR, 1988, P.58
[3]
ALMEIDA DE CARVALHO, WILLIAM – Frederico II da Prússia e as Grandes
Constituições de 1786. http://www.freemasons-freemasonry.com/6carvalho.html