AMOR
E FELICIDADE NA MAÇONARIA – Concepções Filosóficas
Irm.`. Luis Genaro Ladereche Fígoli (Moshe)*
M.´. I.`.
Toda
filosofia natural trabalha em função de duas dimensões, a curiosidade e a miopia.
Toda a existência humana (de
aproximadamente 200.000 anos) está marcada pela evolução desta espécie, a
partir dessas duas premissas. A
curiosidade, que nos leva a fazer as perguntas básicas de nossa existência: O
que é a vida, de onde viemos, para onde vamos e o que fazemos aqui?; bem como a
noção clara (inicialmente da filosofia natural – precursora da ciência – e da
própria ciência atual) de que o que nos olhos “enxergam” e nossos sentidos
“sentem” são meros reflexos de uma realidade maior. Na maçonaria,
entendemos essa realidade maior, como a Verdade, ou a busca da Verdade.
É o
que chamamos de Realidade visível. Os cinco sentidos são integrados no cérebro
e criam uma sensação de realidade. A realidade “vista” é ínfima em relação ao
que está acontecendo em torno de nós. Somos os únicos seres multicelulares, que
têm a noção da existência. Evoluímos de estruturas simples (uni moleculares)
que permearam durante mais de 3 bilhões de anos na terra. Num determinado
momento, como veremos a seguir, por algum motivo, iniciou-se o processo de
agregação molecular que resultou em seres mais complexos, chegando até nós. Se
colocarmos a existência da terra (os 3,5 bilhões de anos) numa escala de 24
horas, a humanidade teria aparecido no último segundo do dia 31 de dezembro.
Somos muito, mas muito novos na ocupação deste planeta!!! Como já disse, somos os únicos seres com vida que têm
noção da existência, que tem consciência e que são cognitivamente inteligentes.
Mas o
que é a vida? Qual a energia que move nossa vida?
Entendo
que a energia que move a vida é a alegria ou a felicidade. E a
felicidade é um estado determinado pelo amor.
É
muito comum sermos avaliados através de números: Assim salários, metas,
resultados, fatias de mercado, servem como parâmetro de indicar se vivemos bem
ou não. Mas vida que vale a pena é muito mais que isso.
A vida
vale a pena se você consegue sorrir. A vida valeu a pena pelos abraços, pelos
apertos de mão, pelos gestos de carinho, pelas sensações boas que você tenha
tido ao longo do dia. Nada disso se presta para mensuração numérica.
As
boas sensações têm sido reunidas AO LONGO DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO, por detrás
da palavra AMOR.
Assim,
parece verdadeiro que a vida vivida com AMOR tem mais graça. Sem amor a vida e
arrastada, cinza, em preto e branco. E é precisa esperar a semana inteira para
que um novo entediante final de semana, separe a desgraça da semana anterior
com a nova semana.
Amor
nada tem a ver com a vontade. Amor foge de nosso controle. O Amor não é uma
questão moral. Sim, porque moral é INTELIGÊNCIA À SERVIÇO DA VIDA. Existe MORAL
toda vez que decidimos uma alternativa, toda vez que descartamos uma
possibilidade de vida que decidimos não viver.
MORAL
É ESCOLHA, é DECISÃO RACIONAL.
O AMOR
não, o amor é SENTIMENTO. Fenômeno de nosso corpo que se presta à contemplação.
Surge sem que tenhamos decidido e vai embora sem que nada possamos fazer.
AMOR e
MORAL não tem nada a ver. No entanto, é fácil perceber que na hora de
utilizarmos a inteligência para escolher a vida o amor é a grande referência.
Já que não ama, faz como se amasse. A Moral é uma imitação do comportamento de
quem ama.
AMAR é
diferente de GENEROSIDADE. Quem ama se doa. Generosidade é uma imitação do
amor. O generoso é aquele que dá sem amar. Somos todos generosos um dia. Mas
quem ama dá por amor, sem precisar pensar, sem precisar escolher, assim é o
comportamento amoroso.
Também,
FIDELIDADE é uma espécie de imitação do comportamento amoroso. Quem ama é fiel.
Não precisa de uma regra MORAL para não trair a confiança do ser amado. Quem
ama não trai.
Mas de
que AMOR estamos falando?
Qual é
o AMOR a que se refere nos Ritual, quando pergunta o VM: O que é Maçonaria
Irm.´. Chanceler?., e este responde: “É
uma Instituição que tem por objetivo fazer FELIZ a humanidade, pelo AMOR....”
Vejamos:
1 - Fazer
FELIZ a Humanidade;
2- O instrumento é o AMOR.
2- O instrumento é o AMOR.
Muitos
pensadores se dedicaram a decifrar esse enigma que existe apenas nos seres
humanos. Somente nós somos dotados deste sentimento do amor. Os animais agem
por instinto, os vegetais por uma programação genética que os faz nascer,
crescer, se reproduzir e morrer.
Três
grandes Mestres se dedicaram a nos decifrar o AMOR, de maneira diferente ao
longo do tempo:
O primeiro é PLATÃO (428 a 347
a.C)
que foi um filósofo da Grécia Clássica, pai fundador da nossa maneira de
pensar. Platão definiu AMOR como EROS. Quem vaia apresentar e definir esse amor
é Sócrates, personagem principal do Platonismo. Enquanto Platão escrevia os
Diálogos, era Sócrates que apresenta a versão que considera correta. Esta
definição se encontra no mais famoso dos “diálogos”, chamado “O Banquete”, que
traz a genialidade irritantemente simples de Platão:
“AMAR é DESEJAR”
Nos
amamos o que desejamos. Amamos enquanto e na intensidade que desejamos. A má
notícia é que se o desejo acabou e porque o amor acabou também. Amor e desejo
são a mesma coisa. Então cabe uma indagação: Se Eros é desejo, desejo é o que??
Desejo
é a FALTA. Desejo é a busca do que faz falta, é a energia que opera a buscar o
que não temos, o que não somos, do que não conseguimos fazer ainda. Agora na
definição Platônica completa:
“Você ama o que deseja e deseja o que não têm”.
E quando tem, não deseja mais, então, não ama mais.
Na
Maçonaria é EROS está presente. Digo que sim. A estruturação do Rito em graus é
uma forma de fomentar o DESEJO de crescimento na escala até chegar ao topo da
pirâmide. Desejamos o próximo nível, dispendemos energia para isso, amamos o
nosso trabalho para chegar a ele. Uma vez que lá estamos, deixamos de ter
desejo por esse nível, e nos interessa o próximo, e assim sucessivamente. O
DESEJO é uma forma de traçar objetivos, que alcançados, deixam de ser
interessantes, para efeitos de dispender energia nele. Desejo é a Falta.
A
vida erótica, essa mesma que você passa o tempo inteiro perseguindo coisas que
não têm, não é vida que vale a pena, pelo menos do ponto de vista de ser isso
sozinho. Esta vida parece ser um saco sem fundo, sempre desejaremos o que não
temos, vivendo numa busca indefinida e eterna na frustração.
O segundo pensador foi
ARISTÓTELES (384 a 322 a.C.), discípulo de Platão e
fundador do Liceu, professor de Alexandre O Grande, pai fundador da ciência,
não concorda com Eros. O Amor não pode ser só isso, não pode ser só desejo. A
vida desejante é infeliz.
O
amor de Aristóteles é pelo que você já tem, pelo que você já conseguiu, pela
performance que você já consegue ter, pela vida que você consegue ter. O amor é
pelo mundo que está exatamente diante de cada um de nós, quando o mundo alegra.
Ele
chama de Philia é o amor ALEGRIA.
Amor pelo que já se tem e nos faz bem.
“ALEGRIA é a passagem para um estado mais potente do próprio ser”.
Definido
por ESPINOZA (1632), alegria seria um estado de potência de agir. É uma energia
que te anima, e esta energia oscila. Esta energia também foi caracterizada por
outros pensadores: Nietzsche de “Vontade de Potência”, Bergson de “Elã Vital”,
Freud de “Libido”.
Para
vivermos com ALEGRIA, precisamos nos encantar com o que fazemos. Somos
indivisíveis de nós mesmos. Precisaremos conviver conosco mesmo durante toda a
nossa existência, portanto, precisamos nos entender, nos compreender, nos
encantar.
Não podemos nos divorciar de nós mesmos. Quem mais nos acompanha
durante a vida, somos nós mesmos. É o que filosofia se chama “A TRANSCENDÊNCIA DO EGO”. Nós somos
dois: Nós mesmos e a consciência que temos de nós. Nós somos o espetáculo mais
frequente para nós mesmos. Para que a vida tenha alguma chance de valer a pena,
é muito importante que você consiga se encantar com o que faz, afinal de
contas, o que você mesmo faz é a atividade com a que você mais convive. Se
detestarmos o que fazemos, é muito provável que a nossa vida seja a maior parte
de tempo TRISTE, e tristeza é quando nossa “potência de agir” estiver em baixa.
No grau zero, significa a morte.
Por
isso Aristóteles, quando perguntado sobre qual seria a fórmula para atingir a
felicidade (ALEGRIA) ele respondeu:
“Conhece-te a ti mesmo”
Para finalizar, o terceiro
grande Mestre foi Jesus de Nazareno (3 a.C. a 30 d.C.). O
Amor de Cristo é mais sofisticado, porque não é nem o desejo, nem a alegria de
quem ama. Por isso Jesus chamará de “Ágape”. Ágape é amor ao próximo. É o amor pela
humanidade. Se o amor de Jesus é por qualquer um, não pode ser a alegria de
quem ama, pois nem todos nos alegram, aliás o mundo tende a nos aborrecer.
Também não pode ser EROS, porque não desejamos qualquer um.
Em
Ágape o que importa é o amado. E o amante fará de tudo pela alegria do amado,
reduzir o sofrimento do próximo.
Na
Maçonaria, tenho certeza, que cada um de vocês estará recordando situações em
que perceberam que poderiam proporcionar alegria para alguém, e não
economizaram esforços, foram além dos protocolos, foram além do que era
esperado para diminuir a tristeza, para diminuir o sofrimento, para
proporcionar um sorriso a pessoas que muitas vezes você não sabia sequer o
nome.
Por
isso, a fórmula Maçônica de felicidade pode ser:
“Deseje
demais o que te faz falta, porque a vida não vai ser boa na derrota e na
frustração. Mas perceba que o desejo não basta. Permita-se a alegria. Consiga-se
alegrar com o que você já tem, e sobretudo perceba, que depois de uma conquista
alegradora, se você não tiver com quem se alegrar, a sua alegria durará muito pouco,
morrerá pela solidão. Por isso, preocupe-se em proporcionar a alegria de que
está em volta, para que a sua própria alegria e felicidade possa durar um pouco
mais. ”
Fonte:
- Inspirado na Palestra
do Prof. CLOVIS DE BARROS FILHO, Youtube;
-
Wikipédia;
- “O Banquete”
Platão;
-
Princípios de Filosofia – Diversos Autores
* Mestre Instalado, Gr.`. 25, obreiro da B.´.A.´.R.´.L.´.S.´. Rosa dos Ventos n° 76, Or.´. de Osório/RS, juridionado à G.´.L.´.R.´.G.´.S.´.
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