Parte II – Aspectos
Filosófico-Místico no uso da Harmonia em Loja
Como vimos na parte um deste trabalho,
a harmonia maçônica (ou uso de música durante os rituais maçônicos) revestem-se
de dois aspectos: O histórico-simbólico
e o filosófico-místico. Examinamos a
origem do uso da música, nas antigas civilizações, e como esta prática chegou
até a maçonaria, possivelmente a partir de influencias múltiplas (não unitárias).
Todavia, devemos considerar que a influência mais importante parece ter sido da
Escola Pitagórica, já que temos entendimentos comuns entre a forma como usamos
a música (e suas finalidades) na maçonaria e na referida Escola.
Precisamos lembrar que Pitágoras usava a música para fortalecer a união entre
os seus discípulos, por entender que a música instruía e purificava a sua
mente. Em sua Escola, a música era entendida como disciplina moral por atuar
como freio aos ímpetos agressivos dos ser humanos[1].
Importante são os conceitos de Harmonia Cósmica que segundo os gregos representava
a qualidade de relação, ordenação e organização dessas dimensões inerentes ao
"kosmos". Outros conceitos
importantes para os gregos clássicos (e que devemos levar em consideração em
nosso estudo pela proximidade com o que a maçonaria apregoa) é o princípio de “arque” (o princípio invisível da
Unidade) e a “physis” (principio visível
da Unidade) ou o UNO, que se torna o
“cosmos” ou o Múltiplo, se articulando através de duas dimensões, ordem e caos. De outra forma, a
Harmonia (ou música) serviria (fisicamente) para “colocar ordem no caos”. Se isto for correto, nossa intenção em
Loja, ritualisticamente, seria colocar ordem no caos, ou seja, reorganizar as
energias do templo de forma a harmonizar o ambiente e, com isso, elevar a níveis
superiores a nossa consciência e nosso espírito. Traduzindo, regularizando a “Egrégora”
da Loja.
Vamos examinar conceitualmente o
que é a Egrégora.
Embora seu exato entendimento ainda
esteja longe de um consenso, há um ponto comum: Egrégora é energia. Absurdos neste campo foram produzidos (e hoje
rechaçados) como observa Robson Rodrigues da Silva em seu livro “Reflexos da
Senda Maçônica”[2].
É o caso, por exemplo, de Eliphas Levi[3]
que no século XIX produziu um texto dizendo que “As Egrégoras são deuses...As Egrégoras são espíritos motores e
criadores de formas. Nascem da respiração de Deus. Deus dorme na Natureza e o
mundo é seu sonho. Dormindo, ele inspira e expira. Sua respiração cria Egrégoras,
e há Egrégoras da inspiração e Egrégoras da expiração..”[4].
Um primor de abstração, em que pese defendermos que na Maçonaria a Verdade é de
livre pensamento.
Como disse impossível falar em
Egrégora sem haver referência à energia. Mesmo quando fizermos uma abstração
esotérica ou ocultista, no fundo o que sentimos e queremos exprimir é um “estado”,
uma “sutil força” que nos direciona para o bem estar ou mal estar, ou seja, uma
energia “boa” ou “má”. Quantas vezes sentimos isso ao adentrarmos em um
ambiente, nos sentimos confortáveis ou desconfortáveis, mesmo que não tenhamos
trocado sequer uma palavra com ninguém que esteja no mesmo ambiente. Mais,
quantas vezes nos sentimos confortáveis ou desconfortáveis num ambiente, mesmo
não tendo ninguém nele? E quando passamos por um lugar fúnebre (como um cemitério),
qual o “estado” que recolhemos?. Apesar de sermos mais ou menos sensitivos (uns
em relação aos outros), com certeza meu leitor sabe do que estou falando, mesmo
que não tenha nunca estudado nada em relação às ciências ocultas.
Pois bem, no mesmo diapasão, mas
em direção oposta, já notaram qual a “energia” que “percebemos” quando nos
adentramos numa Igreja? E num Templo Maçônico?. Normalmente sentimos uma coisa “boa”,
uma “energia positiva”, um “estado de bem-estar” que nos satisfaz. Mas o que
seria exatamente este “estado de bem-estar” de “agradável convivência”?.
Entendo que é a Egrégora, ou a energia circundante no ambiente que vibra numa
determinada frequência que nos faz “estabilizar” a nossa própria energia
corporal. Sentimos isto através dos sentidos sutis e, porque não, em nosso espírito.
É o que chamamos de Maçonaria Invisível.
Examinemos o que Einstein[5]
conclui sobre energia. Segundo o sábio físico (e provou isto) matéria e energia são a mesma coisa. Na realidade são manifestações de uma
mesma substância, só se diferenciando pela frequência vibratória de cada uma. Matéria
é energia, apenas condensada e tornada visível. Apesar de Einstein nunca ter
professado nenhuma religião (era Judeu), e como cientista ter professado mais o
método do que o dogma, no final de sua vida em sua obra “Como Vejo o Mundo” no
tema religiosidade, procura enfatizar seu ponto de vista do mundo e suas
concepções em temas fundamentais à formação do homem, tais como o sentido da
vida, o lugar do dinheiro, o fundamento da moral e a liberdade individual. O
Estado, a educação, o senso de responsabilidade social, a guerra e a paz, o
respeito às minorias, o trabalho, a produção e a distribuição de riquezas, o
desarmamento, a convivência pacífica entre as nações são alguns dos temas que
ele trata, entre outros.
Interessante é um breve discurso
de Albert Einstein:
“O espírito científico, fortemente armado
com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue
da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam
benignidade e do qual temem o castigo - uma espécie de sentimento exaltado da
mesma natureza que os laços do filho com o pai, um ser com quem também estabelecem
relações pessoais, por respeitosas que sejam. Mas o sábio, bem convencido, da
lei de causalidade de qualquer acontecimento, decifra o futuro e o passado
submetidos às mesmas regras de necessidade e determinismo. A moral não lhe
suscita problemas com os deuses, mas simplesmente com os homens. Sua
religiosidade consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das
leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os
pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não
ser seu nada irrisório. Este sentimento desenvolve a regra dominante de sua
vida, de sua coragem, na medida em que supera a servidão dos desejos egoístas.
Indubitavelmente, este sentimento se compara àquele que animou os espíritos
criadores religiosos em todos os tempos”.
Retomando, Egrégora origina-se da
palavra grega egregorós que significa
vigilante, ou ainda, egregorien que
significa vigiar, zelar é como se denomina a entidade criada a partir do
coletivo pertencente a uma assembleia.
Segundo as doutrinas que aceitam
a existência de egrégoros, estes
estão presentes em todas as coletividades, sejam nas mais simples associações,
ou mesmo nas assembleias religiosas, gerado pelo somatório de energias físicas,
emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade.
Assim, todos os agrupamentos
humanos possuem seus egrégoros característicos: as empresas, clubes, igrejas,
famílias, partidos etc., onde as energias dos indivíduos se unem formando uma
entidade (espírito) autônomo e mais poderoso (o egrégoro), capaz de realizar no
mundo visível as suas aspirações transmitidas ao mundo invisível pela
coletividade geradora. Em miúdos, um egrégoro participa ativamente de qualquer
meio, físico ou abstrato.
Quando a energia é
deliberadamente gerada, ela forma um padrão, ou seja, tem a tendência de se
manter como está e de influenciar o meio ao seu redor. No mais, os egrégoros
são esferas (concentrações) de energia comum. Quando várias pessoas tem um
mesmo objetivo comum, sua energia se agrupa e se "arranja" num
egrégoro. Esse é um conceito místico-filosófico
com vínculos muito próximos à teoria das formas-pensamento,
onde todo pensamento e energia gerada têm existência, podendo circular
livremente pelo cosmo.
Essa formação se origina por cadeias de pensamento. Partindo
da premissa que tudo é composto por “átomos” que são divididos em partículas subatômicas,
que o homem sabe existir, seria lógico acreditar que o “pensamento” também pode
ser constituído por estas partículas, pois tudo o que existe no Universo é
formado por elas. A Física Quântica e mais recentemente a Química Quântica consideram
a existência de outras forças no Universo ainda desconhecido pelo homem, mas
que agem diretamente sobre ele, e nesse ambiente de convicções e fundamentos
científicos, acredita-se na viabilidade da afirmação do “aspecto físico molecular do pensamento” até porque não se conhecem
as suas propriedades, mas sim seus efeitos.[6]
Segundo Freud[7], o
pensamento sobre si próprio, a construção interior sobre o certo e o errado,
configura-se num elemento determinante para a saúde do corpo, e o pensamento
agindo diretamente sobre o corpo físico imporá a cura, ou até mesmo a doença,
motivo pelo qual é mister conhecer profundamente a força do pensamento.
O pensamento possui uma força
real e poderosa que pode condensar a matéria astral solta no ambiente,
originando o ser coletivo. As pessoas reunidas num local emitem vibrações idênticas
e pensamentos de uma mesma natureza, resultando em um ser verdadeiro que possui
vida. A Egrégora acaba recebendo energias e o conhecimento acumulado das
pessoas que o formam, passando a ser mais forte que cada um dos membros
individualmente. É o que chamamos de força sinérgica do pensamento[8].
O Templo dos Maçons é o berço da
Egrégora que uno o corpo presente de todos os Irmãos, sendo o símbolo maior de
convergência de seus pensamentos como homens, mas principalmente, como maçons.
O maçom precisa estar em segurança (à coberto) e neste instante, começa a
brotar em si um sentimento maior, sublime, a mostrar que não é apenas matéria,
mas que existe um espírito ligado a uma mente maior, e que pode operar verdadeiras
conquistas em seu interior, quando se forma um campo energético que cobre o seu
corpo físico, e esse campo energético ou energia vital o une aos demais maçons,
formando apenas um único corpo mental, quando a energia mental se funde em
pensamentos, em forma de fluxo magnético que circula e atua entre todos os
integrantes.
A Harmonia Maçônica, em
definitivo, com a aplicação de música adequada a cada fase do ritual, tem por
objetivo manter a Egrégora
funcionando num fluxo vibratório adequado, mesmo quando cessam as palavras, a
circulação e até, os próprios pensamentos.
Para finalizar, devemos
considerar que em toda peça musical há três componentes principais: Ritmo,
Melodia e Harmonia. O Ritmo liga-se ao Corpo Físico do Homem e influencia a
dança e os movimentos. A Melodia liga-se à Alma e induz à emoção e aos
sentimentos. A Harmonia conduz à Espiritualidade. Por esse motivo, nos rituais
da Maçonaria usamos a música clássica em que predomina a Harmonia sobre a
Melodia e o Ritmo[9].
Evite-se música rítmica e
compassada nos trabalhos litúrgicos, assim como a música cantada, pois distrai,
desvia a atenção, e conduz a pensamentos diversificados e extra templo, ao
passo que a música clássica, descompassada, concentra e ajuda a unificar os
pensamentos para a constituição da força coletiva que toda Loja possui, pelo
conjunto de seus obreiros[10].
É recomendável que se utilize um
repertório musical com peças de autores maçônicos, como o foram Mozart,
Boieldien, Haydn, Sibelius, Liszt, Cherubini, Carlos Gomes, entre outros.[11]
Bibliografia:
Goulart Jaques, Walnyr – Uma Loja Simbólica REAA;
Da Camino, Rizzardo – O Maçom e a Intuição;
Espósito dos Santos, Amado e outros - Manual Completo de Lojas Maçônicas;
D´Elia Junior, Raymundo -
Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz;
Queiroz, Álvaro de – Os Símbolos Maçônicos;
Carvalho, Assis – Cargos em Loja;
Guimarães, José Francisco –
Aprendiz, Conhecimentos Básicos da Maçonaria
Rodrigues da Silva, Robson –
Reflexos da Senda Maçônica;
Dyer, Colin – O Simbolismo na
Maçonaria
Wikipédia
[1]
- Auto citação - ver Parte I deste trabalho, página 3
[2]
- Rodrigues da Silva, Robson – Reflexos da Senda Maçônica Pág. 97
[3]
- Eliphas Lévi, nome de baptismo Alphonse Louis Constant, (8 de fevereiro de
1810 - 31 de Maio de 1875) foi um escritor francês, e ocultista. O seu
pseudónimo "Eliphas Lévi," sob o qual ele publicava seus livros,
resultou de pretender ter neles um pseudónimo de origem hebraica associando-o
mais facilmente a outros cabalistas famosos.
[4]
- Rodrigues da Silva, Robson – Reflexos da Senda Maçônica Pág. 97 (citação)
[5]
- Albert Einstein ([Ulm, 14 de março de 1879 — Princeton, 18 de abril de 1955])
foi um físico teórico alemão radicado nos Estados Unidos. É conhecido por
desenvolver a teoria da relatividade. Recebeu o Nobel de Física de 1921, pela
correta explicação do efeito fotoelétrico; no entanto, o prémio só foi
anunciado em 1922. O seu trabalho teórico possibilitou o desenvolvimento da
energia atômica, apesar de não prever tal possibilidade.
[6]
- D´Elia Junior, Raymundo – Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz.
[7]
- Sigismund Schlomo Freud (Příbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro
de 1939), mais conhecido como Sigmund Freud, foi um médico neurologista
judeu-austríaco, fundador da psicanálise. Freud nasceu em Freiburg, na época
pertencente ao Império Austríaco; atualmente a localidade é denominada Příbor,
na República Tcheca.
[8]
- Sinergia ou sinergismo deriva do grego synergía,
cooperação sýn, juntamente com érgon, trabalho. É definida como o
efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários
subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função. Quando se tem a
associação concomitante de vários dispositivos executores de determinadas
funções que contribuem para uma ação coordenada, ou seja, o somatório de
esforços em prol do mesmo fim, tem-se sinergia. O efeito resultante da ação de
vários agentes que atuam de forma coordenada para um objetivo comum pode ter um
valor superior ao valor do conjunto desses agentes, se atuassem individualmente
sem esse objetivo comum previamente estabelecido. O mesmo que dizer que "o
todo supera a soma das partes".
[9]
- Espósito dos Santos, Amado e outros – Manual Completo para Lojas Maçônicas.
[10]
- Goulart Jaques, Walnyr – Uma Loja Simbólica REEA
[11]
- Espósito dos Santos, Amado e outros – Manual Completo para Lojas Maçônicas