sábado, 9 de junho de 2012

A Coluna da Harmonia Na Maçonaria - A Música e suas influências simbólicas e filosóficas - PARTE II


Parte II – Aspectos Filosófico-Místico no uso da Harmonia em Loja


Como vimos na parte um deste trabalho, a harmonia maçônica (ou uso de música durante os rituais maçônicos) revestem-se de dois aspectos: O histórico-simbólico e o filosófico-místico. Examinamos a origem do uso da música, nas antigas civilizações, e como esta prática chegou até a maçonaria, possivelmente a partir de influencias múltiplas (não unitárias). Todavia, devemos considerar que a influência mais importante parece ter sido da Escola Pitagórica, já que temos entendimentos comuns entre a forma como usamos a música (e suas finalidades) na maçonaria e na referida Escola.

Precisamos lembrar que Pitágoras usava a música para fortalecer a união entre os seus discípulos, por entender que a música instruía e purificava a sua mente. Em sua Escola, a música era entendida como disciplina moral por atuar como freio aos ímpetos agressivos dos ser humanos[1]. Importante são os conceitos de Harmonia Cósmica que segundo os gregos representava a qualidade de relação, ordenação e organização dessas dimensões inerentes ao "kosmos". Outros conceitos importantes para os gregos clássicos (e que devemos levar em consideração em nosso estudo pela proximidade com o que a maçonaria apregoa) é o princípio de “arque” (o princípio invisível da Unidade) e a “physis” (principio visível da Unidade) ou o UNO, que se torna o “cosmos” ou o Múltiplo, se articulando através de duas dimensões, ordem e caos. De outra forma, a Harmonia (ou música) serviria (fisicamente) para “colocar ordem no caos”. Se isto for correto, nossa intenção em Loja, ritualisticamente, seria colocar ordem no caos, ou seja, reorganizar as energias do templo de forma a harmonizar o ambiente e, com isso, elevar a níveis superiores a nossa consciência e nosso espírito. Traduzindo, regularizando a “Egrégora” da Loja.

Vamos examinar conceitualmente o que é a Egrégora.

Embora seu exato entendimento ainda esteja longe de um consenso, há um ponto comum: Egrégora é energia. Absurdos neste campo foram produzidos (e hoje rechaçados) como observa Robson Rodrigues da Silva em seu livro “Reflexos da Senda Maçônica”[2]. É o caso, por exemplo, de Eliphas Levi[3] que no século XIX produziu um texto dizendo que “As Egrégoras são deuses...As Egrégoras são espíritos motores e criadores de formas. Nascem da respiração de Deus. Deus dorme na Natureza e o mundo é seu sonho. Dormindo, ele inspira e expira. Sua respiração cria Egrégoras, e há Egrégoras da inspiração e Egrégoras da expiração..[4]. Um primor de abstração, em que pese defendermos que na Maçonaria a Verdade é de livre pensamento.

Como disse impossível falar em Egrégora sem haver referência à energia. Mesmo quando fizermos uma abstração esotérica ou ocultista, no fundo o que sentimos e queremos exprimir é um “estado”, uma “sutil força” que nos direciona para o bem estar ou mal estar, ou seja, uma energia “boa” ou “má”. Quantas vezes sentimos isso ao adentrarmos em um ambiente, nos sentimos confortáveis ou desconfortáveis, mesmo que não tenhamos trocado sequer uma palavra com ninguém que esteja no mesmo ambiente. Mais, quantas vezes nos sentimos confortáveis ou desconfortáveis num ambiente, mesmo não tendo ninguém nele? E quando passamos por um lugar fúnebre (como um cemitério), qual o “estado” que recolhemos?. Apesar de sermos mais ou menos sensitivos (uns em relação aos outros), com certeza meu leitor sabe do que estou falando, mesmo que não tenha nunca estudado nada em relação às ciências ocultas.

Pois bem, no mesmo diapasão, mas em direção oposta, já notaram qual a “energia” que “percebemos” quando nos adentramos numa Igreja? E num Templo Maçônico?. Normalmente sentimos uma coisa “boa”, uma “energia positiva”, um “estado de bem-estar” que nos satisfaz. Mas o que seria exatamente este “estado de bem-estar” de “agradável convivência”?. Entendo que é a Egrégora, ou a energia circundante no ambiente que vibra numa determinada frequência que nos faz “estabilizar” a nossa própria energia corporal. Sentimos isto através dos sentidos sutis e, porque não, em nosso espírito. É o que chamamos de Maçonaria Invisível.

Examinemos o que Einstein[5] conclui sobre energia. Segundo o sábio físico (e provou isto) matéria e energia são a mesma coisa. Na realidade são manifestações de uma mesma substância, só se diferenciando pela frequência vibratória de cada uma. Matéria é energia, apenas condensada e tornada visível. Apesar de Einstein nunca ter professado nenhuma religião (era Judeu), e como cientista ter professado mais o método do que o dogma, no final de sua vida em sua obra “Como Vejo o Mundo” no tema religiosidade, procura enfatizar seu ponto de vista do mundo e suas concepções em temas fundamentais à formação do homem, tais como o sentido da vida, o lugar do dinheiro, o fundamento da moral e a liberdade individual. O Estado, a educação, o senso de responsabilidade social, a guerra e a paz, o respeito às minorias, o trabalho, a produção e a distribuição de riquezas, o desarmamento, a convivência pacífica entre as nações são alguns dos temas que ele trata, entre outros.

Interessante é um breve discurso de Albert Einstein:

“O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade e do qual temem o castigo - uma espécie de sentimento exaltado da mesma natureza que os laços do filho com o pai, um ser com quem também estabelecem relações pessoais, por respeitosas que sejam. Mas o sábio, bem convencido, da lei de causalidade de qualquer acontecimento, decifra o futuro e o passado submetidos às mesmas regras de necessidade e determinismo. A moral não lhe suscita problemas com os deuses, mas simplesmente com os homens. Sua religiosidade consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório. Este sentimento desenvolve a regra dominante de sua vida, de sua coragem, na medida em que supera a servidão dos desejos egoístas. Indubitavelmente, este sentimento se compara àquele que animou os espíritos criadores religiosos em todos os tempos”.

Retomando, Egrégora origina-se da palavra grega egregorós que significa vigilante, ou ainda, egregorien que significa vigiar, zelar é como se denomina a entidade criada a partir do coletivo pertencente a uma assembleia.

Segundo as doutrinas que aceitam a existência de egrégoros, estes estão presentes em todas as coletividades, sejam nas mais simples associações, ou mesmo nas assembleias religiosas, gerado pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade.

Assim, todos os agrupamentos humanos possuem seus egrégoros característicos: as empresas, clubes, igrejas, famílias, partidos etc., onde as energias dos indivíduos se unem formando uma entidade (espírito) autônomo e mais poderoso (o egrégoro), capaz de realizar no mundo visível as suas aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade geradora. Em miúdos, um egrégoro participa ativamente de qualquer meio, físico ou abstrato.

Quando a energia é deliberadamente gerada, ela forma um padrão, ou seja, tem a tendência de se manter como está e de influenciar o meio ao seu redor. No mais, os egrégoros são esferas (concentrações) de energia comum. Quando várias pessoas tem um mesmo objetivo comum, sua energia se agrupa e se "arranja" num egrégoro. Esse é um conceito místico-filosófico com vínculos muito próximos à teoria das formas-pensamento, onde todo pensamento e energia gerada têm existência, podendo circular livremente pelo cosmo.

Essa formação se origina por cadeias de pensamento. Partindo da premissa que tudo é composto por “átomos” que são divididos em partículas subatômicas, que o homem sabe existir, seria lógico acreditar que o “pensamento” também pode ser constituído por estas partículas, pois tudo o que existe no Universo é formado por elas. A Física Quântica e mais recentemente a Química Quântica consideram a existência de outras forças no Universo ainda desconhecido pelo homem, mas que agem diretamente sobre ele, e nesse ambiente de convicções e fundamentos científicos, acredita-se na viabilidade da afirmação do “aspecto físico molecular do pensamento” até porque não se conhecem as suas propriedades, mas sim seus efeitos.[6]

Segundo Freud[7], o pensamento sobre si próprio, a construção interior sobre o certo e o errado, configura-se num elemento determinante para a saúde do corpo, e o pensamento agindo diretamente sobre o corpo físico imporá a cura, ou até mesmo a doença, motivo pelo qual é mister conhecer profundamente a força do pensamento.

O pensamento possui uma força real e poderosa que pode condensar a matéria astral solta no ambiente, originando o ser coletivo. As pessoas reunidas num local emitem vibrações idênticas e pensamentos de uma mesma natureza, resultando em um ser verdadeiro que possui vida. A Egrégora acaba recebendo energias e o conhecimento acumulado das pessoas que o formam, passando a ser mais forte que cada um dos membros individualmente. É o que chamamos de força sinérgica do pensamento[8].

O Templo dos Maçons é o berço da Egrégora que uno o corpo presente de todos os Irmãos, sendo o símbolo maior de convergência de seus pensamentos como homens, mas principalmente, como maçons. O maçom precisa estar em segurança (à coberto) e neste instante, começa a brotar em si um sentimento maior, sublime, a mostrar que não é apenas matéria, mas que existe um espírito ligado a uma mente maior, e que pode operar verdadeiras conquistas em seu interior, quando se forma um campo energético que cobre o seu corpo físico, e esse campo energético ou energia vital o une aos demais maçons, formando apenas um único corpo mental, quando a energia mental se funde em pensamentos, em forma de fluxo magnético que circula e atua entre todos os integrantes.

A Harmonia Maçônica, em definitivo, com a aplicação de música adequada a cada fase do ritual, tem por objetivo manter a Egrégora funcionando num fluxo vibratório adequado, mesmo quando cessam as palavras, a circulação e até, os próprios pensamentos.

Para finalizar, devemos considerar que em toda peça musical há três componentes principais: Ritmo, Melodia e Harmonia. O Ritmo liga-se ao Corpo Físico do Homem e influencia a dança e os movimentos. A Melodia liga-se à Alma e induz à emoção e aos sentimentos. A Harmonia conduz à Espiritualidade. Por esse motivo, nos rituais da Maçonaria usamos a música clássica em que predomina a Harmonia sobre a Melodia e o Ritmo[9].

Evite-se música rítmica e compassada nos trabalhos litúrgicos, assim como a música cantada, pois distrai, desvia a atenção, e conduz a pensamentos diversificados e extra templo, ao passo que a música clássica, descompassada, concentra e ajuda a unificar os pensamentos para a constituição da força coletiva que toda Loja possui, pelo conjunto de seus obreiros[10].

É recomendável que se utilize um repertório musical com peças de autores maçônicos, como o foram Mozart, Boieldien, Haydn, Sibelius, Liszt, Cherubini, Carlos Gomes, entre outros.[11]

Bibliografia:
Goulart Jaques, Walnyr – Uma Loja Simbólica REAA;
Da Camino, Rizzardo – O Maçom e a Intuição;
Espósito dos Santos, Amado e outros  - Manual Completo de Lojas Maçônicas;
D´Elia Junior, Raymundo -  Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz;
Queiroz, Álvaro de – Os Símbolos Maçônicos;
Carvalho, Assis – Cargos em Loja;
Guimarães, José Francisco – Aprendiz, Conhecimentos Básicos da Maçonaria
Rodrigues da Silva, Robson – Reflexos da Senda Maçônica;
Dyer, Colin – O Simbolismo na Maçonaria
Wikipédia


[1] - Auto citação - ver Parte I deste trabalho, página 3
[2] - Rodrigues da Silva, Robson – Reflexos da Senda Maçônica Pág. 97
[3] - Eliphas Lévi, nome de baptismo Alphonse Louis Constant, (8 de fevereiro de 1810 - 31 de Maio de 1875) foi um escritor francês, e ocultista. O seu pseudónimo "Eliphas Lévi," sob o qual ele publicava seus livros, resultou de pretender ter neles um pseudónimo de origem hebraica associando-o mais facilmente a outros cabalistas famosos.
[4] - Rodrigues da Silva, Robson – Reflexos da Senda Maçônica Pág. 97 (citação)
[5] - Albert Einstein ([Ulm, 14 de março de 1879 — Princeton, 18 de abril de 1955]) foi um físico teórico alemão radicado nos Estados Unidos. É conhecido por desenvolver a teoria da relatividade. Recebeu o Nobel de Física de 1921, pela correta explicação do efeito fotoelétrico; no entanto, o prémio só foi anunciado em 1922. O seu trabalho teórico possibilitou o desenvolvimento da energia atômica, apesar de não prever tal possibilidade.
[6] - D´Elia Junior, Raymundo – Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz.
[7] - Sigismund Schlomo Freud (Příbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939), mais conhecido como Sigmund Freud, foi um médico neurologista judeu-austríaco, fundador da psicanálise. Freud nasceu em Freiburg, na época pertencente ao Império Austríaco; atualmente a localidade é denominada Příbor, na República Tcheca.
[8] - Sinergia ou sinergismo deriva do grego synergía, cooperação sýn, juntamente com érgon, trabalho. É definida como o efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função. Quando se tem a associação concomitante de vários dispositivos executores de determinadas funções que contribuem para uma ação coordenada, ou seja, o somatório de esforços em prol do mesmo fim, tem-se sinergia. O efeito resultante da ação de vários agentes que atuam de forma coordenada para um objetivo comum pode ter um valor superior ao valor do conjunto desses agentes, se atuassem individualmente sem esse objetivo comum previamente estabelecido. O mesmo que dizer que "o todo supera a soma das partes".
[9] - Espósito dos Santos, Amado e outros – Manual Completo para Lojas Maçônicas.
[10] - Goulart Jaques, Walnyr – Uma Loja Simbólica REEA
[11] - Espósito dos Santos, Amado e outros – Manual Completo para Lojas Maçônicas
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