sábado, 16 de outubro de 2010

E nasce mais uma Loja: "Luighi Rossetti" no Oriente de Águas Claras em Viamão/RS

EVENTOS

Dizem que um homem se completa quando tem um filho, escreve um livro e planta uma árvore.

Para um maçom, além dessas três conquistas, agrega-se mais uma: participar da fundação de uma Loja Maçônica.

A maçonaria, em termos quantitativos, vêm decrescendo nas últimas décádas. Nos anos 50 eramos mais de 6 milhões em todo o mundo. Hoje somos um pouco mais de 3 milhões, sendo que só nos EUA residem mais de 1,5 milhão.

Se é verdade de que nossa maior obrigação é sermos construtores sociais, buscando através de nossa filosofia, moral, ética e constumes, transformar a nossa sociedade em uma humanidade mais justa e perfeita, a admissão de novos membros para a Ordem e, principlamente, a fundação de novas Lojas é uma das mais relevantes missões de um bom maçom. Por outro lado precisamos ocupar espaços, numa estratégia de levar nossa mensagem à sociedade.

Somos o útimo repositório (conjuntamente com a ordem Rosacruz) dos antigos e milenares mistérios e filosofias ocultas, voltadas ao crescimento do "homem-moral" e do "homem-espiritual" que, como dizemos, tem como meta sermos "construtores sociais" e participar ativamente da re-ligação (religião, religare) do homem caído ao Divino.

É com essa honra que participei da reunião de fundação de uma Loja no Oriente de Àguas Claras, Distrito de Viamão, no RS.

Segundo a história, no século XVIII o território do atual Rio Grande do Sul já deixara de ser apenas uma zona de passagem entre Laguna e Colônia do Sacramento. A riqueza de seus campos já fizera com que colonizadores aqui se fixassem. E entre esses, inclusive um dos integrantes da frota de João de Magalhães, Cosme da Silveira, que já em 1725 se teria localizado em terras do atual município de Viamão.

Em 1741, Francisco Carvalho da Cunha estabelece-se nos campos de Viamão, no sítio chamado Estância Grande, onde ergueu a capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Com a vinda de elementos açorianos, a quem foram doadas várias sesmarias, o povoamento recebeu grande impulso.

Elevada à categoria de freguesia em 1747, por ocasião da invasão castelhana (1766) se instalava nela a sede do governo da capitania. E em 1880 desmembra-se de Porto Alegre para tornar-se vila e sede do município. A importância histórica e social de Viamão iniciou quando foi sede das primeiras estâncias de criação de gado.

Os grandes rebanhos de gado e cavalos, que existiam na campanha do Rio do Prata, transitavam por Viamão para serem comercializados em Laguna (SC). A partir de 1732, O Rio Grande de São Pedro - como era conhecido o Rio Grande do Sul - passou a atrair colonizadores que se radicaram na região de Viamão.

O município, portanto, foi um dos primeiros núcleos de povoamento do Estado (formado por lagunenses, paulistas, escravos e portugueses). Só a apartir de 1752 chegaram os primeiros casais de imigrantes açorianos, que desembarcaram na região de Itapuã. Esses açorianos são os mesmos que colonizaram a região dos Porto dos Casais, atual capital do Estado. Além de Porto Alegre, a população de Viamão originou cidades como Santo Amaro, Triunfo, Rio Pardo, Taquari e as cidades do litoral norte.

Os habitantes primitivos foram os índios mbyá-guaranis e kaingangs. Em 1763, a cidade recebeu o governo do RS, que tinha a sede na Vila do Rio Grande, e que transferiu devido à invasão do estado pelos espanhóis. Viamão se conservou sede do governoaté 1773.

Nesta época, a sede foi transferida para Porto dos Casais (atual Porto Alegre). Viamão também foi palco de operações militares na época farroupilha. Até hoje, restos de embarcações farrapas repousam no fundo das águas do Guaíba, em Itapuã, no canal a Ilha do Junco e o Morro da Fortaleza. A origem do nome Viamão é muito controversa.

Uma das versões é a de que, a certa altura do Rio Guaíba, pode-se avistar cinco afluentes (rios Jacuí, Caí, Gravataí, Taquari e dos Sinos), que formam uma mão espalmada. Daí a frase: "Vi a mão". Conforme alguns, seria originário do nome "ibiamon", que significa "Terras de Ibias" (pássaros).

Outros afirmam que seria uma passagem entre montes, o que chamavam de via-monte. E existe ainda o relato de que teria como origem o antigo nome da província de Guimarães, em Portugal: Viamara.

Um interessante registro histórico encontra-se no livro "Viagem ao Rio Grande do Sul" do biólogo francês Aguste de Sant-Hiliere (1770-1859), que entre Junho de 1820 e Janeiro de 1821, percorreu o RS e registrou pormenorizadamente a sua viagem e descobertas, nos dando um fiel retrato de nossa terra de antanho.

Na página 44 do referido Livro, marca a passagem em 19 de Junho de 1820, por Morro Grande e Àguas Claras a caminho da Vila de Viamão:

"Passando Morro Grande, o terreno vai ficando mais arenoso, as pastagens muito secas e quase por toda a parte reduzidas a um capim rasteiro. Constantemente aparecem capões onde as árvores pouco crescidas, carregadas de líquens e divididas desde a base em numerosos ramos, relembram as árvores espessas dos nossos jardins ingleses. Vi, em certos pontos, encostas baixas e arredondadas, muito pouco elevadas, às quais dão o nome de lombas. Como são mais secas que as vár zeas (vargem), o capim aí tem vigor, e as vacas que se habituam a pastar nas lombas só dão cria de dois em dois anos, en quanto nas várzeas o fazem anualmente. Durante os dias passados, não encontrei um só regato; informaram-me, entretanto, da existência de muitos na região por mim visitada, mas desaparecidos pela seca, sem precedentes, deste ano. Hoje, con tudo, atravessei o que se chama arroio das Águas Claras, por que efetivamente é de uma rara limpidez."

Com o crescimento de Porto Alegre, o aumento da violência e da necessidade de estar próximo ao verde que o ser humano tem, fez com que se desenvolvessem condominios na região de Águas Claras e hoje é uma importante região com mais de 20.000 habitantes, uma importante empresa cervejeira e um povo disposto à emancipação política e administrativa, do município mãe de Viamão.

Estamos com isso contribuindo com este povo trabalhador, numa terra que teve participação ativa na revolução e guerra farroupilha, e uma região marcada pela história de nossa pátria gaúcha. Não é a toa que foi escolhido como nome da mais nova Loja, um dos heróis de dois mundos, o italiano (genovês), carbonário e maçom Luighi Rossetti (1800-1840), amigo e companheiro de Giussepe Garibaldi, combatente da Revolução Farroupilha, que teria morrido em luta na localidade.

No livro "Memórias de Garibaldi" de Alexandre Dumas (1802-1870), o mesmo escritor de "O Conde de Monte Cristo" e dos "Tres Mosqueteiros", que se debruça na suposta auto-biografia de Garibaldi, conta na página 136, a morte de Rosseti:

"Em Setenbrina, foi assassinado o meu dileto Rossetti. Derrubado do cavalo após haver realizado portentos, gravamente ferido, coagido a render-se, ele preferiu finar-se na luta a entregar sua espada. Mais uma lacinante chaga em meu coração. Mais de uma vez fui ouvido evocando o nome de Rossetti, e é sabida a estima que lhe dedicava. Que seja-me concedido, agora, a despeito da impotência de minhas palavras , redizer à Itália o que tantas vezes já disse: Oh, Itália, mãe! Acabamos de perder, eu, um dos meus mais caros irmãos; tu, um dos teus mais generosos filhos!."

A morte em Viamão, como relata Alexandre Dumas, se deu em função de uma retirada ao cerco de Porto Alegre. Naquele ano, a situação do exército republicano se agravava todos os dias. As necessidades se acentuavam bem como os recursos. Os combates em Taquari e de São José do Norte haviam desmantelado a infantaria. As supremas necessidades facilitaram a deserção e a população, como ocorre em guerras duradouras, passou a fatigar-se com a mesma. Fez-se sentir o sentimento de que era chegada a hora de concluir o conflito. Dentro deste quadro, as lideranças imperais passaram a fazer propostas para um acordo (armistício) que, apesar de vantajosas para os republicanos, foram rejeitadas por seus líderes. A recusa acabou recrudescendo o descontentamento nas esferas mais sacrificadas do exército farrapo e do povo. Houve então a decisão de abandonar o cerco e a retirada.

A divisão de David Canabarro , na qual tomavam parte dos marujos, foi designada para iniciar o movimento e abrir os caminhos da serra, ocupados pelo General Labatut, francês ao serviço do Imperador. Bento Gonçalves com o restante do exército farrapo, viria a seguir, componda a retagurda. A guarnição Setembrina (nome dado à Vila de Viamão pelos farrapos em função da data do início da revolução Farroupilha) deveria acompanhar Bento Gonçalves e retira-se por último, porém não pode fazer o referido movimento, pois fora atacada pelo temido Moringue (Francisco Pedro Buarque de Abreu, primeiro e único barão do Jacuí, (Porto Alegre, 1811 — Porto Alegre, 7 de julho de 1891), também chamado Chico Pedro ou Moringue (Mouringue ou Muringue), foi um militar brasileiro, a serviço do exército imperial durante a Revolução Farroupilha).

Nesta luta na Vila Setembrina, no dia 23 de novembro de 1840, tombou lutando o ideólogo republicano e bravo companheiro Luighi Rossetti.

O letrado e culto, Luighi Rossetti havia cursado direito, redigia muito bem e era mazzinista por convicção, unindo-se a Garibaldi desde o primeiro dia que encontraram-se no Rio de Janeiro. Tão logo chegou ao Rio Grande do Sul, suas qualidades foram imediatamente aproveitadas pelos farroupilhas, que o encarregaram da redação confecção do jornal "O Povo", òrgão de divulgação oficial da República Riograndense. Durante o período que circulou, este jornal teve 160 edições, das quais Luighi Rossetti foi o redator principal. Ali foram noticiados os feitos dos exércitos republicanos e as doutrinas libertárias que o movimento republicano preconizava.

Diz Elmar Bones em sua obra LUIGHI ROSSETTI - O EDITOR SEM ROSTO (L&PM - 1996), que era através deste jornal, às vêzes com edições precárias, que circulavam as idéias novas, que solapavam o poder dos reis e da aristocracia. A burguesia emergente acenava ao povo com bandeiras como a igualdade, liberdade, fraternidade. Os jornais circulando de mão em mãos, distribuídos pelas militâncias, traduziam esses conceitos para a realidade concreta. Luighi Rossetti foi um escritor que não deixou nenhum obra escrita, porém, as cartas que escreveu a Domingos Jose de Almeida, o poderoso Ministro das Finanças da Republica Riograndense, a Giovanni Batista Cuneo e outros seus amigos e superiores, resgataram o profundo conhecimento ideológico à causa republicana.

Nestas cartas e artigos, Rossetti pregou o liberalismo como forma de derrubada do poder absolutista monárquico e propagandeou uma revolução republicana para todo o Brasil. Sonhava com uma confederação de repúblicas independentes. Por graça destes meios de comunicação, exercendo suas funções, registrou seus pensamentos e seus atos, que ora solicitava ajuda, emitia conselhos, conspirava e também lutava. Diz este autor, que Rossetti é um pouco mais que um nome, sem rosto. De sua figura não ficou um único bico-de-pena.

Nos 160 números do jornal "O Povo", órgão oficial da revolução, seu nome aparece duas ou três vezes, e por razões que nada têm a ver com o jornal como, por exemplo, numa publicação de "ordem do dia" em que o Cel. Teixeira Nunes elogia a conduta do tenente Luighi Rossetti na tomada de Laguna.

Parabéns aos fundadores, à comunidade de Águas Claras, à G.´.L.´.M.´. do Estado do RS, e a todos os maçons sem fronteiras, por mais um elo nesta corrente fraternal.


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